Resenha - Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos inicias do ensino fundamental

Por Francisco dos Santos Silva | 01/11/2017 | Educação

RESUMO:

O artigo discute a possibilidade e a importância de aprender a geografia nos primeiros anos do ensino fundamental com base na leitura do mundo e da vida e do espaço em que se vive. Defende a necessidade de iniciar uma alfabetização cartográfica considerando as questões geográficas ensinadas nos primeiros anos escolares como uma das formas de contribuir com essa alfabetização infantil.

A OBRA:

A autora a divide em: Panorama Geral; O pedagógico e/na geografia; Alfabetização e alfabetização espacial; Como ler o mundo da vida? O olhar espacial; A leitura da paisagem; Escala de análise; O estudo do lugar; Os conceitos; As habilidades; A cultura; A cartografia na leitura do espaço.

PONTOS PRINCIPAIS DA OBRA:

Uma maneira de ler o mundo é compreender o espaço, o meio em que vivemos, não apenas o espaço físico, mas o meio social também. Pois é sabido que as modificações na paisagem natural é resultado da vida em sociedade do homem. Dessa forma, a geografia, numa perspectiva crítica, leva-nos a compreender o espaço como resultado da vida em sociedade.

Certamente o ensino de geografia deve levar o estudante à capacidade de fazer análise cartográfica, que inicia com o reconhecimento das paisagens; desde a rua à cidade. Contudo, a autora questiona o modo como o ensino de geografia vem sendo tratado na escola. Ensina partindo da própria criança (do eu), de sua casa, expandindo para espaços mais distantes, isto é, segue-se uma sequência linear por níveis espaciais. Esse modo fragmentado de tratar o espaço desconsiderando a complexidade espacial e social não dá conta dos novos paradigmas educacionais.

Para superar o método tradicional o mais recomendado é um trabalho interdisciplinar, abordando eixos temáticos, fazendo uma contextualização do teórico com o concreto, o real, isto é, interligar os conteúdos curriculares de geografia com a realidade dos sujeitos envolvidos no processo educativo.

Certamente aprendemos desde o ventre materno e quando nascemos aprendemos a conhecer o mundo na medida em que nele vivemos. Assim a criança aprende a ler o mundo (o espaço a sua volta) vivendo e explorando. Portanto a autora rejeita o ensino tradicional, totalmente abstrato, pautado meramente na leitura de mapas, dos livros didáticos. Ao contrário, propõe uma metodologia da “leitura do espaço”. Isso envolve conhecer concretamente os espaços que cercam a criança: rua, o bairro, os problemas reais que acontecem nos bairros (como o lixo), as relações sociais, o funcionamento desse espaço.

Fica claro que só é possível ler o mundo, quando se faz uma leitura que parta do concreto para o abstrato. A criança deve aprender a ler os espaços, o que inclui analisar e pensar sobre os mesmos, ou seja, compreender todos os fenômenos que nele está inserido: social, político, naturais, etc. O que nos leva à paisagem, pois esta envolve a relação do homem com a natureza, ação deste sobre aquela. Portanto, ler uma paisagem é conhecer a história que envolve o povo daquele espaço, a cultura, etc.

A autora defende o estímulo à curiosidade da criança para que a ação docente possa partir dos interesses de descoberta da própria criança (centros de interesses). Pode-se partir de “temáticas”, situações problemas, tudo pautado na realidade concreta.

Quanto aos conceitos, estes são formados a partir do “processo de reconhecimento da realidade que é vivida cotidianamente” (p.  ). Assim a criança forma conceitos, mas isso somente é possível com a aquisição de certas habilidades que são e devem ser desenvolvidas desde cedo.

Outro ponto é a cultura, cada região possui uma cultura específica e é importante conhecer e respeitar essa diversidade. O estudo da parte (de uma região), que diz respeito a seus aspectos culturais e espaciais, ajuda a compreender o todo. Pois conforme a autora “as ideias universais só se concretizam nos lugares, e não no global, no geral” (p.  ).

Daí a importância de se estudar os lugares a partir da perspectiva do próprio lugar, ou seja, dos que nele habitam.

Callai destaca o fato de que é necessária uma “alfabetização cartográfica” para aprender geografia. A criança deve ser capaz de representar o espaço em que vive, e mais, compreender essa representação. Dessa forma será capaz de fazer uma leitura de mundo.

Para tanto, o professor, deve realizar atividades como desenhar mapas de lugares inerentes ao convívio da própria criança, entre outras.

FONTE RESENHADA:

CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos inicias do ensino fundamental. Cad. CEDES [online]. 2005, vol.25, n.66, pp.227-247. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32622005000200006.

A AUTORA:

Callai é Doutora em geografia e professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências (mestrado) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). E-mail: jcallai@unijui.tche.br