RESENHA: A CABEÇA BEM FEITA

Por Fabiana Monteiro Torres Prado | 27/09/2017 | Educação

Fabiana Monteiro Torres Prado[1]

Prof. Dr. Eduardo Vicente do Prado[2]

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento; tradução Eloá Jacobina, 3.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. P. 128.

            Edgar Morin, filósofo francês e presidente da Associação “por um Pensamento Complexo”, em Paris (França), possui um trabalho acadêmico centrado na questão da complexidade. A cabeça bem-feita é uma obra polêmica deste autor polêmico.

            No prefácio, Edgar Morin exibe o polêmico contexto em que foi escrito este livro, que em algum nível, supor ser um Emílio ou Da educação como feito por Jean-Jacques Rousseau. 

            Entretanto, este livro é divido em nove capítulos, onde, é um conjunto compacto e muito articulado de textos independentes, cuja unidade está na discussão de ideias e conceitos, a partir dos quais o autor propõe os caminhos para repensá-lo das reformas de ensino.

            No primeiro capítulo o autor enfatiza a necessidade de uma reforma do pensamento, isto é, à inadequação grave entre os saberes separados e fragmentados, e que todo conhecimento fragmentado nos leva a hiperespecialização. Propõe que se quebre com o modelo de “superespecialização” das disciplinas proposto por teóricos como Descartes, para acabar com o confinamento e o desaparecimento do saber. Conforme o autor relata a necessidade que cada indivíduo enxergue além da sua função, numa perspectiva global, centrada na complexidade “tecido junto”. Sendo preciso adquirir a aptidão de organizar os conhecimentos e o pensamento. Entretanto o autor exibe três desafios: Desafio cultural, segundo desafio são estudos sociológicos; e o terceiro trata-se da responsabilidade enquanto cidadãos, que sofre desgaste devido à consciência de fragmentação das áreas, perdendo a noção global do senso de solidariedade, visando apenas o seu lado. 

            A partir do segundo capítulo, para que as pessoas não utilizem a sua cabeça com inutilidade, precisando despertar junto a cada individuo a importância do desenvolvimento de uma inteligência geral, que permita uma análise tanto dos problemas que afetam um campo específico quanto daqueles que surtem efeito numa área global. Como Morin diz, que “a esse novo espírito científico será preciso acrescentar a renovação do espírito da cultura das humanidades”, nos mostrando que precisamos ter uma educação para uma cabeça bem-feita, para que possamos acabar com a divisão das culturas e responder aos desafios da globalidade e da complexidade na vida social, política, cultural, nacional e mundial.

            Então no terceiro capítulo, Morin abordar a formação de uma cabeça bem-feita diante da complexidade da condição humana, argumentando que não depende apenas das ciências humanas, mas também de todas as outras ciências renovadas, para nos entendermos diante da imensidão inter-galáxias em que vivemos.

            Neste quarto capítulo, o autor fala que a "educação, trata-se de transformar as informações em conhecimento e o conhecimento em sapiência", que o ensino não pode exaltar somente a transmissão de conhecimentos sem sentido ao aluno, e sim ensiná-lo a pensar e a aprender por si mesmo, ou seja, transformar esse conhecimento que adquire em sapiência. Por isso ele entende que "literatura, poesia, cinema, psicologia, filosofia deveriam convergir para tornarem-se escolas da compreensão". Sendo que, o conjunto entre todas essas ciências e artifícios que o indivíduo encontra o “saber viver” e mais que isso, aliá, associa e constrói o conhecimento aprendido na escola.

            No quinto capítulo, o autor discutiu sobre a importância da conscientização para a incerteza que segundo o próprio é um passo importante para a “cabeça bem feita”. Entretanto, há três princípios de incerteza de acordo com Morin, a cerebral, física e o e, epistemológico.

            É abordado no sexto capítulo, Morin diz a importância de “ser cidadão”, que representa a identidade nacional, isso é, ter o sentimento democrático, solidário e responsável. Também se define o conceito de estado nação. Relatando que o patriotismo, ou mitologia matripatriótica é semelhante a uma religião, onde os anseios, as cerimônias, a adoração, o culto aos objetos a definem, logo deve ser pensado numa visão não somente privada a uma localidade, mas globalizada, universalizada.

            No que tange o sétimo capítulo, mostra-se a mudança que deve acontecer em três degraus, o ensino primário, secundário e a universidade. Mostrando que os alunos tem a capacidade de ir além do que lhe foi ensinado, de se auto questionar. Que os professores os preparem para a vida e o envolvam na ideia de complexidade. E por fim, organizar os conhecimentos.

            Então, no oitavo capítulo, o autor reforça a ideia da relação mútua entre o conhecimento das partes e o conhecimento do todo. Mostrando a importância de conceber a necessidade de organização do pensamento, compreendendo a totalidade de relações e reações o qual o conhecimento está submetido.

            Em seu último capítulo o autor fala todas as ideias já citadas durante esta obra, destacando em especial o ensino o atual, um reflexo da sociedade, e a sociedade um reflexo do ensino. Sendo que o problema é o rompimento com esse paradigma é preciso agir trazendo uma nova perspectiva de ensino, mesmo que a escola esteja representada como um local fechado e burocratizado. Todavia, para interferir nessa problemática o indivíduo já deve preparar-se intelectualmente de acordo com as teorias da complexidade. É preciso, desenvolver um pensamento certo através da reorganização do pensamento.

COMENTÁRIO CRÍTICO

            Apesar de ser um livro escrito há uma década, o assunto abordado é muito atual. Entretanto, traz uma significativa contribuição, tendo em vista que propõe a superação da visão pedagógica da herança positivista, no qual o conhecimento é desprovido de uma visão de totalidade, reducionista e mecânica da apreensão dos conceitos.

Infelizmente, a educação continua com um ensino departamentalizado e descontextualizado, formando alunos que não sabem relacionar a teoria com a prática do dia a dia, que não sabem questionar o que é ensinado. E que os professores tem que esta preparada para estas mudanças e adéqua a elas, passando as informações e instigar os alunos a pensar amplamente.

Nota-se que a não existe lugar para pré-conceitos, para a descontextualização, para a falta de discussão, para o egocentrismo.

 Necessita-se de uma reforma do pensamento de cada pessoa para fazer a mudança.

[1] Graduada em Administração pela Faculdade de Viçosa. Aluna da Universidade Franca, MBA- Gestão Estratégica e Licenciatura em Matemática, 2014 e 2017.

[2] Professor orientador da Univiçosa, Doutor.

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