RESENHA CRÍTICA - A ESCOLA DE GRAMSCI

Por IVONE CORTINA | 18/12/2017 | Filosofia

UFMS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO: FILOSOFIA

LICENCIANDA: IVONE CORTINA

RESENHA CRÍTICA – A ESCOLA DE GRAMSCI.

NOSELLA, Paolo. A Escola de Gramsci. 3ª Edição. São Paulo, Cortez, 2004

  1. CREDENCIAL DO AUTOR:

Paolo Nosella, nasceu na Itália, onde se licenciou em Filosofia.  Hoje integra o corpo docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Nove de Julho de São Paulo (UNINOVE). 

  1. INTRODUÇÃO:

O livro é constituído de quatro partes, conforme o momento político-teórico em que Gramsci estava inserido. Sendo eles referentes às questões educacionais e escolares: 1ª parte: Escritos durante a 1ª Guerra Mundial (1914 - 1918); 2ª parte: Escritos do Pós-Guerra (1919 – 1920); 3ª parte: Escritos durante a ascensão do fascismo (1921 – 1926); 4ª parte: Escritos do Cárcere (1926 – 1937).O presente buscará fazer uma síntese entre essas quatro partes.

  1. DESENVOLVIMENTO

Parte I: A Escola do Trabalho (A 1ª Guerra, 1914 – 1918).

Essa parte se divide em quatro capítulos, A Escola “desinteressada” do trabalho, A Universidade Popular, Uma Associação de Cultura, o Grito doPovo – Uma Revista de Cultura e Pensamento. Gramsci percebe a importância desse momento histórico e mostra seu interesse pelas questões culturais formativas dos futuros dirigentes, os quais deveriam ter visão ampla, complexa, “desinteressada”( profunda, universal e coletiva). Gramsci propõe assim a escola “desinteressada” do trabalho, contrária à cultura absorta e burguesa, pois a burguesia tinha total menosprezo pelo trabalho e também pela cultura, sendo assim a escola era tida como profissionalizante, imediatista e utilitária. Gramsci rejeita qualquer aviltamento cultural e escolar com vistas a resguardar ou ajudar os pobres, pois a eles necessitam de igualdade de condições para estudar. Gramsci toma partido em favor do método historicista, isto é, vivificar e recriar a ciência. Ele avança na estratégia de valorização e engajamento dos intelectuais, respeitando seus modos tradicionais de trabalhar, de estudar e pensar, e assim formarem uma categoria politicamente orgânica. Gramsci sustenta a importância de se ter um ambiente cultural abastado, orgânico, democraticamente participativo, motivando a ler e escrever, contrário a burguesia e o jornal dirigido por Gramsci, “O grito do Povo”, torna-se uma referência político-cultural importante.

Parte II : A Escola de Quadros (O pós-guerra, 1919-1921)

Essa parte se divide em dois, O Ordine Nuovo-Uma tendência e uma revista e Ordine Nuovo – uma escola.

Após a guerra, os soldados vivenciaram a solidariedade dolorosa da classe proletária, ouviram diferentes posições políticas e esperavam que seus sacrifícios lhes valessem bons empregos, aposentadorias e terras. Porém diante da falta de valorização dos mesmos, houve a revolta e o descontentamento no mundo do trabalho. Gramsci juntamente com Tasca, Togliatti e Terracini, organizam uma revista de cultura socialista, e o mesmo abandona os termos ideológico-educativoe elabora uma proposta de política nacional com base nos conselhos de fábrica. Esse era o ponto de partida na concepção gramsciana, o trabalho industrial moderno, a fábrica. Expressa sua histórica oposição ao burocratismo, autoritarismo e se põe como defensor da produção, da grande indústria. Sua idéia era de educar a partir da realidade do trabalhador e não de doutrinas e enciclopédias. Gramsci e seu grupo tinham o objetivo de formar os intelectuais do futuro, políticos de produção. A escola aqui se inspira no trabalho industrial moderno, esclarecendo e reforçando a concepção de vida, para elevar a potencialidade operativa. Em síntese a escola do trabalho de Gramsci é a união, comunhão de corações e mentes de trabalhadores em prol do viver.

Parte III – A Escola de Partido (Ascensão do Fascismo, 1921 – 1926)

Nessa parte, têm-se a seguinte divisão, Frente única, A escola por Correspondência e Desagregar o Bloco Intelectual. Nesse período da história, a indústria metalúrgica passou por momentos difíceis e o Movimento nacionalista fascista se destaca com Mussolini e esse não perdoará Gramsci e seu grupo de não compartilhar de suas artimanhas políticas. Gramsci trabalhava incansavelmente para dar sentido nessa nova política. Para ele o fascismo representava a expressão política intensa e internacional do imperialismo econômico e aplicava o termo filisteu mesquinhos aos socialistas e ele se solidarizava com o sofrimento dos homens. Mediante isso ele via a necessidade dos operários e os camponeses se unirem e sem solidarizassem. E para por em prática essa importante política, era necessário a criação de escola por correspondência, com o objetivo de formar organizadores e difusores, pautada na formação profunda, não doutrinária. E de agora em diante Gramsciterá em suas questões a relação política entre os trabalhadores do norte da Itália e os camponeses do sul , desenvolvendo o seu conceito de hegemonia. Desse modo, Gramsci propõe uma escola imediatista e politicamente “desinteressada” e se preocupa com a seqüela negativa dessa formação “desinteressada”, a volta da legalidade. Entretanto, Gramsci que sempre criticou o dogmatismo, agora procura compreender e tem que o melhor tipo de escola é aquela que prega, usa de oratória que tem instrutor e não a de correspondência. Esse importante pensamento de Gramsci, fez com que se motivasse pelos assuntos de cultura, a formação dos intelectuais na sociedade e acaba elaborando um tratado sobre os intelectuais.

Parte IV – A escola da liberdade Industrial (Cárcere, 1927-1937)

                Nessa última etapa do livro, Nosella retrata a vasta obra escrita por Gramsci quando esteve preso no cárcere, como as cartas e os cadernos, que continham a síntese de seu pensamento. As cartas apresentavam um estilo mais jornalístico e os cadernos se constituem e um gênero literário-científico. Gramsci nesses seus escritos retrata a escola que ele pensa que deveria ser de três graus fundamentais e, por conseguinte ser dividida em cursos. Quanto ao curso de filosofia, essa deveria fundamentar-se em um sistema filosófico concreto, hegeliano.O método de ensino precisaria ser a valorização das experiências do grupo coletivamente, e assim como num círculo cada um ensinaria o outro elevando o seu nível cultural. Gramsci se preocupa também pelo emprego de línguas no desenvolvimento cultural, para que os homens sejam educados tanto cientificamente como culturalmente, porém informa que os princípios educativos não podem ser aplicados de forma mecânica e rejeita qualquer profissionalização antes dos 16-18anos. E quanto aos cadernos, Gramsci define o conceito de Senso Comum, pensar difuso do ambiente social e de Hegemonia. Quanto à escola utilitária, deve-se inspirar na escola “desinteressada”.

            CONCLUSÃO

            Gramsci dialogou com as principais correntes filosóficas da Europa em sua época, principalmente com a Italiana. Contribui para o materialismo histórico e dialético e entendeu a filosofia como uma maneira de individuo e grupos sociais conceberem a realidade e por ela se enveredarem. E assim nesse seu pensamento resultou a mal comentada assertiva de que ”[...] todos os homens são filósofos (GRAMSCI, 1999, p. 93), qualquer ser humanoconceba um mundo por sua própria autonomia.A característica marcante do marxismo Gramsci, é a formação econômica que não é determinada pelo movimento da estruturamas sim na base material e estrutura social. Para Gramsci a organização do trabalho e a organização da cultura, sendo essa organicamente ligada pelo poder dominante, formariam a base da nova cultura. Gramsci valoriza o homem, pois esse existe antes do operário. Quanto aos intelectuais, esses não podem ser determinados pelo trabalho que desempenham, mas sim pela liderança técnica e política de um determinado grupo.

È notório afirmarmos quão importante conhecer os métodos propostos e a leitura dos mesmos em cada período da história, conforme ressalta Nosella.