REPÚBLICA E CIDADANIA: PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA

Por ANDERSON BRUNO DA SILVA OLIVEIRA | 16/03/2009 | História

José Murilo de Carvalho começa seu comentario salientando o leitor da diversidade intelectual no Brasil no fim do império, neste período as idéias não tinham cunho nacionais, todas as ideologia que inflamaram o espírito republicano eram importadas da Europa, o maior problema disto era não absorver por completa as idéias, os pensamentos ideológicos europeus, era absorvido pelos intelectuais brasileiros em partes, isso fazia com que as idéias fossem distorcidas, como diz José Murilo: ... "Misturavam-se e combinavam-se das maneiras mais esdrúxulas na boca e na pena das pessoas mais inesperada."

Outro fator importante mostrado pelo autor é a o grande avanço burguês no Rio de Janeiro, com isto fica notório o esvaziamento dos sentimentos românticos abolicionista, não existia mais a imagem de uma republica utópica, leal, sonhada por idealistas republicanos, o que existe é uma burguesia política crescente, um Rio de Janeiro inflamado por ganâncias capitalistas, o renovo tão sonhado pelos criadores da republica tinha chegado ao seu óbito e dado lugar ao câncer social chamado capitalismo. Tais sentimentos tinham esquecido o sufrágio universal, o formato das eleições não mudara em nada, apenas 2% da população votava, essa restrição era justificada pelo analfabetismo e a renda financeira. Dentro desta realidade histórica, fica bem claro a existência de dois tipos de cidadão no começo da republica, o cidadão ativo e o inativo, o primeiro é detentor de direitos políticos e direitos civis, ou seja, este cidadão tinha o direito de voto, ele era o cidadão completo, esse estrato social era composto é lógico por burgueses e grandes latifundiários, o resto da população, melhor, o povo, aquele que sempre fica as margens das decisões políticas, era alienado dos direitos políticos, este era o cidadão inativo. Com relação a este fato o autor diz: "No império e na republica foram excluído os pobres (seja pela renda, seja pela exigência da alfabetização)"; bom, de quem era a obrigação de alfabetizar de melhorar a renda? Cidadão é o sujeito que goza de direitos civis e políticos, então quem era os moradores de cortiços, os de pequena renda, os analfabetos, quem era este povo? Eu respondo era nada.

A republica fez muito pouco pela população brasileira, o autor completa este pensamento assim: "Algumas mudanças, como a eliminação do Poder Moderador, do Senado Vitalício e do Conselho de Estado e a introdução do federalismo, tinham sem duvida inspiração democratizante na medida em que buscavam desconcentrar o exercício do poder. Mas não vindo acompanhada por expansão significativa da cidadania política, resultaram em entregar o governo mais diretamente nas mãos dos setores dominantes, tanto rurais e urbanos." Neste comentário fica claro para quem existia a republica, esta republica era discriminatória, ilegal e hipócrita, ela foi desleal para seus conceitos base, cadê John Stuart Mill e Robespierre, as idéias destes homens contagiaram mesmo que falsamente os vitoriosos da republica, eles não faltaram com lealdade apenas conosco, mas também com os pensadores da republica.

Mas no Brasil não existe apenas traidores da republica, existe também traídos, um exemplo disto foi Silva Jardim, ele inflamado pelos pensamentos de Robespierre e pelo positivismo, pretendia com a ajuda do povo instala uma ditadura republicana, mesmo que nunca tenha explanado seu pensamento de forma sistemática, José Murilo explanando a situação de Silva Jardim ao ver a republica capitalista, fala do fim de sua vida: "Desiludido, como outros radicais, com a republica, que não era a de seus sonhos, foi para a Europa, onde morreu em 1891, caindo no Vesúvio."; este personagem da história do Brasil tinha uma concepção sobre cidadania de modo rousseauniano, ele enxergava o povo com uma identidade abstrata e homogênea, que podia defender interesses comuns.

Os movimentos republicanos eram formados por inúmeros estratos sociais, nele estava o abolicionista, o militar, o comerciante, o fazendeiro e outros; a idéia de pátria e cidadania era diferentes entre eles, cada um tinha uma postura, este foi o fator mais importante para o resultado da falsa republica, o que estava faltando no Brasil era consenso de opinião, a mistura das idéias acabou dando em nada, o que aconteceu no Brasil foi de forma remota semelhante a Revolução Francesa, falando no âmbito político, a mistura desses pensamentos empobreceu a republica, o positivismo, socialismo, anarquismo, o liberalismo entre outros, nenhuma dessas linhas de pensamento conseguiu equilibrar os conceitos de pátria e de cidadania, este foi o assassino da republica do Brasil.sobre esse díspar político e social José Murilo afirma: "O positivismo era pela ampliação dos direitos sociais, mas negava os meios de ação política para conquistá-los,tanto os revolucionários quantos os representativos. O Anarquismo negava legitimamente à ordem política, a qualquer ordem política, não admitindo, portanto,a idéia de cidadania, a não ser no sentido amplo de fraternidade universal. Restava os socialista democráticos, os únicos a propor a ampliação dos direitos políticos e sociais dentro das premissas liberais."

Esta republica é um retrato do passado do Brasil, Brasil colônia de exploração, Brasil sem identidade, um povo sem história própria, um povo que se espelha em reflexo alheio. Os conceitos de cidadania e pátria eram relativos, dependia da cabeça do governante, esta republica foi uma inverdade ideológica foi a republica da burguesia e não do proletariado, indignação inflama os nossos corações cidadãos e patriota, a indignação contra os "vitoriosos da republica" que não foram verdadeiros com suas pregações, pois as raízes cancerígenas da hipocrisia já esta tinha arraigados os seus pensamentos. José Murilo de Carvalho é feliz em sua narrativa sobre a falsa cidadania existente nos primeiros anos da republica, fica para nos meditarmos: Onde está a cidadania?

Anderson Bruno da Silva Oliveira
Estudante e professor de História - FAMASUL
13 de março de 2009