REPÚBLICA À BRASILEIRA
Por Renato Ladeia | 14/04/2021 | Crônicas
Essa data me faz lembrar da escola primária, em São Caetano do Sul, no Grupo Escolar Padre Luiz Capra. Lá nos reuníamos no pátio e cantávamos o Hino Nacional depois de um discurso da diretora ou de algum convidado. Ninguém sabia exatamente o que era república, mas apenas que havia terminado a monarquia, que também, não sabíamos o que era de fato.
O herói da proclamação da república era um general que havia participado da Guerra do Paraguai e era monarquista. Apesar da pressão dos republicanos (civis e militares), ele resistiu a assumir a liderança do movimento. Consta nos anais da história que ele estava com uma forte gripe no dia quinze de novembro de 1889 e foi arrancado da cama e colocado em um cavalo para dar o “Grito da República”. Não havia povo na praça, pois não havia um movimento popular organizado contra a monarquia. O povo até gostava do velho imperador bonachão e ainda não entendia o sentido da República.
Com a proclamação o estado foi declarado laico, ou seja, a igreja deixou de ser vinculada ao estado e criou-se a obrigação de registro civil para casamentos, nascimentos e mortes. Acabou-se a monarquia hereditária e o dirigente da nação seria eleito pela maioria da população alfabetizada, maior de 18 anos e do sexo masculino. As mulheres não ganharam nada com a república e continuaram a ser consideradas pessoas incapazes, como as crianças. No Império o voto era censitário, ou seja, só votava quem dispunha de uma renda razoável e propriedades. Por sorte a escravidão ficou extinta um ano antes.
Com a república o voto continuou sendo aberto. O voto secreto só depois da revolução de 1930. Durante a República Velha a pessoa declarava em alto e bom som, a sua preferência eleitoral, ficando a mercê de quem anotava o voto. Por isso a corrupção eleitoral era generalizada. Quando ganhava a oposição, a eleição era considerada nula, convocando-se novas para confirmar a vitória dos candidatos da situação. Em 1930 todos acreditavam que o Getúlio Vargas venceria as eleições, mas foi derrotado pelo candidato da situação ou da chamada política do café com leite.
De 1930 a 1937 o país viveu sob uma ditadura disfarçada, mas depois do golpe do Estado Novo a ditadura foi declarada até 1945. Em 1945 tivemos um novo golpe militar e a restauração da república democrática. O povo elegeu um presidente general que comandou o país até 1950, quando Getúlio voltou ao poder pelo voto direto.
Em 1964, uma nova interrupção da democracia, com o golpe militar extinguiu as eleições diretas para governadores e presidente. O congresso era convocado apenas para oficializar a eleição dos generais e não tinha voz ou poder.
Com a Nova República voltamos à democracia, mas carregando todos os vícios das velhas e arcaicas repúblicas: mandonismo, corrupção, patrimonialismo, currais eleitorais etc. Com muitos partidos políticos (que não são partidos de verdade, mas agremiações políticas para usufruir as benesses do estado), o presidente precisa usar os recursos públicos para favorecer os caciques políticos, como o rei fazia com a nobreza nas monarquias.
Para resumir, o ideal de república continua distante dos brasileiros. Nossos governantes moram em palácios e com todas as mordomias dignas da nobreza enquanto parte do povo ainda pede pão. Só está faltando uma Maria Antonieta para, ironicamente, dizer: “Por que não comem brioches?” E a república? Ora, a res-pública... os recursos (res) não são de todos, mas de alguns.