Reprodução dos Vegetais e suas Interações sociais numa aula de Ciências no 5 ano do Ensino fundamental
Por GISEIDE MARIA FERREIRA DOS SANTOS | 19/04/2011 | EducaçãoREPRODUÇÃO DOS VEGETAIS E SUAS INTERAÇÕES SOCIAIS NUMA AULA DE CIÊNCIAS NO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Giseide Maria Ferreira dos Santos1; Nileide Araujo de Andrade2 Zélia Jófili³
RESUMO
A intervenção foi realizada na Escola Sagrado Coração de Jesus com alunos da 4ª série (5º ano) numa aula de Ciências sobre "reprodução dos vegetais". Freire afirma "A leitura do mundo precede à leitura da palavra", com objetivo de analisar as interações dos sujeitos numa abordagem interdisciplinar e contextualizada. Encontramos 16 alunos com dificuldades de escrita, desinteresse pelo conteúdo programático oriundos de diversos sistemas de Ensino, faixa etária entre 11 e 16 anos, e comprometida capacidade leitora. Buscando dinamizar, motivar e contribuir Vygotsky. "A instrução somente é boa quando vai adiante do desenvolvimento, quando desperta e traz à vida aquelas funções que estão em processo de maturação ou na zona de desenvolvimento proximal" através do levantamento dos conhecimentos prévios dos aprendentes.
Palavras-chave: Interação; Ciências;Aprendizagem
INTRODUÇÃO
A proposta pedagógica do Programa Se liga fundamenta-se no Método Dom Bosco: Uma experiência com mais de 40 anos, de reconhecido sucesso com jovens e adultos em todo o país, e que se baseia em duas orientações do educador Paulo Freire.Contextualização para a compreensão crítica do significado da leitura.Uso de palavras-chave para promover a contextualização.
O Se liga é tecnologia para corrigir o fluxo escolar dos alunos na faixa etária de 9 a 14 anos, com defasagem idade/série, sem o domínio da capacidade leitora coerente com sua faixa etária, não alfabetizada no tempo adequado, ou seja, nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, que devem ser alfabetizados num período de um ano, com um programa estruturado de 42 aulas. O Instituto Ayrton Senna mantém esse Programa de Correção de Fluxo não é tarefa simples e muito menos um trabalho isolado ou individual; trata-se de uma decisão política, municipal ou estadual, a ser desenvolvida pelas redes de ensino. O conteúdo vivenciado foi a reprodução dos vegetais e a formação do fruto, trabalhado em sala de aula por alunos entre 10 e 14 anos da Escola Sagrado Coração de Jesus pertencente a rede pública do estado de Pernambuco. A aula de Ciências propõe atividades que os alunos sejam capazes de interagir como sujeitos sociais no objeto de estudo, no conhecimento prévio a partir da intervenção dos professores/pesquisadores.
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1.Aluna Especial do mestrado deEnsino de Ciências pela UFRPE, Professora da rede pública e da Universidade Vale do Acaraú ?UVA,PE.giseidesantos@yahoo.com.
2.Mestranda em Ensino de Ciências pela UFRPE, Professora da rede pública Estadual do Amapá.nileide18andrade@bol.com.br.
3.Doutora Professora da UFRPE e UNICAP.jofili@ded.UFRPE.br.
Nesse contexto, o sujeito, o objeto físico e o meio social são determinantes na estruturação do conhecimento a partir da concepção interacionista e sócio-interacionista de Vygotsky e Piaget. A idéia dessa intervenção nos chamou a atenção, que a presença concreta dos objetos em atividades didática, podemos fazer comparações com outros objetos abstratos numa seqüência lógica e de raciocínio a qualquer conteúdo.
Ocorre sempre no ensino que é um processo contínuo da aprendizagem. Até agora, vimos esse processo no segmento de leitura, discussão, explicação, atitude, procedimento e socialização em sala de aula que é um espaço privilegiado. Ao propormos a aula de Ciências nessa turma sabíamos que os alunos apresentavam defasagem idade/série, não alfabetizados. O nosso objetivo ao apresentar esta prática de Ensino é proporcionar a possibilidade da construção do conhecimento sobre o reino dos vegetais, com a presença do professor, mediador numa abordagem interdisciplinar.
METODOLOGIA
O texto foi retirado do livro didático, porém mais abrangente, contemplava as dificuldades pertinentes ao 5º ano sobre a reprodução dos vegetais. Assim sendo, foi feita a leitura do texto sobre frutos, nesse momento a motivação do professor se deparava com a dificuldade na leitura dos materiais entregues aos aprendentes. Enquanto um pesquisador fazia a leitura, observava-se que o entendimento não era homogêneo, o outro pesquisador intercedeu com apresentação de cartazes, exemplares de frutos e novamente foi feita a leitura, identificando as palavras-chave .Ao fazer as interações de entendimento mediado pelo professor,os alunos que conseguiram ler o texto motivaram os demais a participarem, só então os questionamentos, as inquietações vieram à tona, ou seja, "o ser só aprende com o outro" Vygotsky. Voltando ao texto, encima do conteúdo programado, para que os alunos exemplificassem, para avançar na compreensão das situações interativas entre objeto e o sujeito, o que foi lido, fazendo relação com o seu cotidiano. Isso quer dizer que, estes conhecimentos são objetos da aprendizagem dentro e fora da Escola.
Após a leitura dos textos e as explicações, nossa intervenção partiu para os frutos presentes na aula. Mamão e abacate foram os exemplares que os alunos descreveram, relacionaram cores sabores, números de sementes, características externas e internas, entenderam como surgiram a partir de semelhanças de árvores. Nesse contexto a relação da leitura científica entrelaçada com o conhecimento ( senso comum) do aluno, teorizou os conhecimentos presentes no momento, ajudando-os na construção de novos conceitos.
No momento seguinte, cortamos as frutas, retornando a leitura do texto sobre a parte interna dos frutos. Os alunos formaram grupos para a contagem das sementes do mamão. Ao contar as sementes notamos que eles contavam as sementes preocupados com o total exato e recontavam para ter certeza. Se aprendizagem é ação do sujeito que aprende e pratica, para Paulo Freire, esse processo realizado pelos sujeitos que aprendem em interação professor e alunos em comunhão, é assumida com toda força transcendendo o espaço escolar (BECKER, 2002).
DISCUSSÃO DOS DADOS
Os temas trabalhados foram à reprodução e formação do fruto no procedimento discursivo e de atividades, que os alunos respondem o que entendem.Analisamos duas questões.Com suas palavras descreva a reprodução dos vegetais. Como devem ser consumidas as frutas?
Essas questões geraram um conflito entre os alunos.
Como responder, se eu não sei ler?
Pudemos observar a influência de um aluno sobre os demais na leitura e as respostas foram socializadas, com linguagem diferenciada, modo de escrever. Sendo assim, afirma Vygotsky (1989) "Nós procuramos conhecer o pensamento dos alunos pela fala e escrita". Houve identificação nas respostas com o diferencial dos alunos que conseguiram usar a linguagem escrita e outros a oralidade. Ao analisar as respostas dos alunos, não destacamos os erros de escrita e deficiência de leitura, mas a construção de pensamento, de frases, a permanência do conhecimento prévio, senso comum como ferramenta instrumentalizadora na composição do texto. Porém, Delizoicov e Miller se preocupam com a alfabetização científica, nas séries iniciais no ensino de Ciências Naturais do Ensino Fundamental.
Tentamos com nossa intervenção fazer esta ponte de alfabetizar naquele momento, com a temática científica, sabemos que a interdisciplinaridade está presente nesse contexto. Algumas respostas das questões indicam que os alunos conhecem a informação pelo texto apresentado na fala do professor.
Aluno A: - Pelo beija-flor
Aluno B: - Pelo beija-flor que se leva o néctar de um pé para outro.
Essas respostas atendem a questão um, foram de acordo com a pergunta e pela assimilação do conhecimento explicado pelo professor. Foram respostas diretas, somente um dos alunos conseguiu conectar o seu pensamento de fala e escrita. Em outra questão sobre como devem ser consumidas as frutas. As respostas mais veementes:
Aluno C: - Lavar
Aluno D: - Lavar as frutas
Aluno E: - Lavar bem direitinho as frutas
Nessas respostas, os alunos mostraram um conhecimento do hábito de higiene, quando vão consumir o alimento, o fruto foi uma generalização consensual nas respostas de como devemos fazer com as frutas antes de serem consumidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, todas as questões e respostas das atividades foram de acordo ao que foi perguntado. Isto quer dizer, que não é determinante, nem definitivo, através dessa intervenção plantamos um conhecimento a mais, porque o que interessa ao programa é o letramento dos alunos. Transcrevemos a fala dos alunos, naquele momento influenciado pela leitura do texto e o contato com os frutos que eles tiveram acesso no Ensino tanto na contagem das sementes como na teoria da reprodução dos vegetais. Iniciamos a aula com a organização da sala pelos alunos, apresentados os atores sociais de forma que gerasse confiança e bem estar no ambiente, Paulo Freire na contextualização para a compreensão crítica do significado da leitura e uso de palavras-chave.
Essas dificuldades estavam na linguagem escrita, vocabulário inerente ao senso comum sem domínio de leitura gerando insegurança nos aprendentes de participar nas dinâmicas propostas pelos pesquisadores, mas à medida que as interações se estabilizavam, as trocas ocorriam, as respostas surgiam, gerando motivação na sala de aula, fazendo com que os aprendentes externalizassem com maior clareza suas colocações. Como no processo de desenvolvimento humano perpetuado e garantido nas relações sociais (Vygotsky), o nível de ...desenvolvimento dos alunos ao responder a atividade, pode ser auxiliado por outros alunos já alfabetizados, caracterizado pelo momento em que as relações sociais foram promovidas.
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