Representações sociais dos professores de nível um sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras

Por IVO NETO | 03/04/2010 | Educação

Representações sociais dos professores de nível um sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras utilizando as aulas de Educação Física no ensino da educação infantil: um estudo de caso em uma escola municipal do Estado da Bahia.

Ivo Nascimento Neto

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Esse estudo é de cunho qualitativo, classificado como teórico-empirista que trás com problemática:durante a utilização das aulas de Educação Física quais as representações sociais dos professores de nível um, de uma escola municipal do Estado da Bahia sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras?Essas concepções sobre os jogos e brincadeiras são instrumentos que balizam e trazem desdobramento a sua prática pedagógica? Para tanto foi necessário o diálogo com alguns autores da área (VYGOTSKY, 1984; KISHIMOTO, 1997; MERISSE, 1997; OLIVEIRA; 1992, MINAYO, 1994 e 1996; SPINK, 1993 e; FRANCO, 2004), bem como coleta de dados do grupo delimitado para pesquisa de campo. O objetivo deste estudo foi Investigar as Representações sociais dos professores de nível um sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras utilizando as aulas de Educação Física na educação infantil em uma escola municipal do Estado da Bahia, mapeando as concepções desses professores dos conteúdo/conhecimento dos jogos e brincadeiras, compreendendo os nexos destas concepções com a prática pedagógica adotada e as políticas de educação do sujeito no Brasil: utilizamos como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e a observação participativa. A população envolvida foram professoras da educação infantil de nível um (sem formação). Com base na coleta de dados, este trabalho investigou proposta significativa sobre a representação social, das professoras com relação aos jogos e as brincadeiras. Conclusões: Os resultados encontrados indicam que a produção da representação ocorre por influência de fatores advindos da escola e da própria experiência. Os resultados apontam, também, fatores característicos do ambiente escolar, tais como, o jeito escolar de ensinar e os embates entre os saberes e os atores cotidianos. Ao olhar dos integrantes do grupo pesquisado, os sentidos dados às atribuições que perfazem o papel dos jogos e brincadeiras, sugerem, então, uma legitimidade frágil.

Palavras-chave: Representação social, Educação Física e jogos e das brincadeiras.

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Introdução

1. O encontro com a problemática da pesquisa

Este trabalho tem como foco a educação infantil, que tornou recente sua legitimação sendo reconhecida sua importância no processo de formação humana na instituição escolar.

Apesar de recente legitimação, via Lei Diretrizes e Bases 9.394/96 – LDB/96,

Educação infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos: físico, psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e da comunidade (Art. 29, p. 27).

a área da educação física não é de agora que debruça aos estudos e intervenções nessa faixa etária.Estudos do desenvolvimento humano apontam a necessidade de uma atenção via acompanhamento especializado a fim de propiciar um aumento das possibilidades e potencialidades de movimento humano. Esse aumento aqui citado não se refere a um aumento da performance, mas um aumento das possibilidades de um se-movimentar mais refletido criticamente. Contudo, garantia total e irrestrita, não se pode dar quanto a essas possibilidades e potencialidades já que outros fatores também influenciam nesse desenvolvimento global.

Seguindo a possibilidade de nortear um olhar mais aprofundado de estudo nessa área de formação humana esse trabalho acadêmico de propõe acompanhar e contribuir nesse segmento que é a educação infantil

Este estudo tem como principio investigar as concepções dos conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras, que vêm sendo trabalhado na educação destas crianças, tendo como referência à compreensão dos jogos e das brincadeiras como experiência fundante para o desenvolvimento infantil.

Anossa ansiedade para a escolha desse objeto de estudo, decorreu-se da convivência com crianças da creche Santa Casa de Misericórdia da Bahia, localizada na cidade de Saldador. Outro destaque que trago é que existem poucas publicações, com relação á Educação Física na Educação Infantil, no em tanto essas poucas publicações são em decorrência da educação infantil ter sido legitimada a partir da LDB. 9.394/96 e isso foi, mais um motivo que me despertou para pesquisa este objeto de estudo.

A produção teórica da Educação Física, para a faixa etária de zero a seis anos e suas intersecção com o espaço educativo como creches e pré-escolas, caracteriza-se atualmente pela carência de pesquisa e estudos específicos para menino e meninas de pouca idade [...] (SAYÃO, 2002, p.48).

A Educação infantil é uma área de pesquisa que vem se consolidando nos últimos anos (principalmente a partir da LDB/96). Esta consolidação vem possibilitando a ampliação do conhecimento sobre os profissionais que atuam na área e a compreensão da formação que tiveram, bem como também tem servido para melhor compreender as brincadeiras das crianças, suas formas de expressão e os espaços destinados aos cuidados e educação.

No cotidiano desses espaços, o que se deriva é uma concepção assistencialista (compensatória), em que, os professores são tidos como cuidadores, em que a preocupação maior gira, em atender as necessidades básicas das crianças como: "alimentar a criança, a proporcionar higiene tais como escovar os dentes, a dar banho agasalhar entre outros cuidados". Segundo (kramer, 2003, p. 26),

Cinco fatores são em geral, apresentados como responsável pela expansão da educação infantil nos últimos anos bem, como por seu caráter compensatório: os de ordem sanitária e alimentar; os que dizem respeito à assistência social.

Outro ponto em destaque é que por parte dos cuidadores, existe uma outra preocupação maior, que é a de propiciar atividades pedagógicas para essas crianças tais como: ensinar a desenhar,colar papel e recortar, mostrar as letras e os números pois neste espaço escolar há também uma forte valorização para o desenvolvimento intelectual.(Olivera,1992, p.65)

Além disso, ocorre muitas vezes equívoca acerca do que seria uma atividade educativa realizada na creche. Por vez tal atividade é inadequadamente pensada como parecido com a escola de primeiro grau tradicional, sendo proposto treino de grafismo como forma de exercitação da coordenação motora, ou memorização dos nomes das cores [...].

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Para (KISHIMOTO, 2001) referendando mais uma vez valores relacionados às atividades didáticas, predominando o modelo escolar conservador, marginalizando o brincar, expressão, criatividade, liberdade e o espaço de iniciativa da criança.

Com isso enfoca-se somente o desenvolvimento de atividades "intelectuais" (leitura, raciocínio lógico – matemático), esquecendo de possibilitar o desenvolvimento integral da criança. Está prática está sustentada numa perspectiva dualista de ver o homem, entre tanto não possibilita a formação de outras dimensões na criança, bem como a afetiva emocional, socialização e a expressão ao movimento, que ficam subjugados em segundo plano.

Encontramos nas abordagens sobre o tema, na literatura que trata do desenvolvimento infantil e seu processo educativo, que as atividades lúdicas (jogos e brincadeiras) propiciam a criança criar, imaginar, conviver no coletivo além de desenvolver o raciocínio lógico-matemático, lingüístico verbal, expressão e comunicação corporal (RCNEI,1998; KISHIMOTO, 2001).

Através do jogo a criança forma conceitos, selecionar idéias, estabelecer relações lógicas integra percepção fazem estimativas competitiveis com o seu crescimento físico e o que è mais importante socializa-se. Segundo o (Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil Brasil 1998). "No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando" (p, 7).

Embora o estado da arte sobre o tema estudado aponte para as perspectivas descritas acima, o que percebemos, no espaço concreto da educação infantil, é que o jogo, brinquedo e a brincadeira, dentro da organização do trabalho pedagógico do professor estão em segundo plano e quando são utilizadas assumem apenas uma de suas dimensões, recreação.

Segundo (KISHIMOTO, 2001), a perspectiva recreativa do jogo significa restringe as possibilidades da utilização da experiência lúdica como princípios fundamentais para o desenvolvimento infantil, com tudo percebe-se a importância da utilização dessa prática como ferramenta pedagógica. Principalmente nas aulas de Educação Física, que ao longo de sua historia sofreu varias transformações.

Com isso passo a apresentar a problemática deste estudo: durante a utilização das aulas de Educação Física quais as representações sociais dos professores de nível um (magistérios), de uma escola municipal do Estado da Bahia sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras?Essas concepções sobre os jogos e brincadeiras são instrumentos que balizam e trazem desdobramento a sua prática pedagógica? Para tratar da problemática exposta, por perceber as necessidades diante do quadro situacional da participação dos educandos, frente às políticas sociais e educacionais, bem como, de pensar sobre o processo educativo e conseqüentemente discutir a prática pedagógica dos professores, traçamos o seguinte objetivo:Investigar as Representações sociais dos professores de nível um (magistérios) sobre conteúdo/conhecimento dos jogos e das brincadeiras utilizando as aulas de Educação Física na educação infantil em uma escola municipal do Estado da Bahia, mapeando as concepções desses professores dos, conteúdo/conhecimento dos jogos e brincadeiras, compreendendo os nexos destas concepções com a prática pedagógica adotada e aspolíticas de educação do sujeito no Brasil.

Digo isso por que a construção das práticas pedagógicas pelos professores tem que ser pautada em uma constante reflexão dentro da escola para lidar com a heterogeneidade do campo vasto da Educação Física. A materialização deste ponto de vista é uma situação que pode trazer implicações para a formação do professor que no âmbito de sua atividade profissional vai confrontar-se com o trabalho na educação infantil na rede regular de ensino, instrumentalizando-se de ferramentas que contribuem para eliminar de sua prática a exclusão, a segregação e o estigma desse sujeito.

Ao analisar as Representações Sociais a partir de diversos autores clássicos: Marx, Durkheim e Weber (MINAYO, 1994), pontuada as diferenças entre os autores, a autora aponta o levantamento das representações sociais como instrumento importante para a pesquisa nas Ciências Sociais.

Com este estudo pretendemos contribuir para a área da Educação Física e demais campo de educação pelo seu caráter interdisciplinar e pela transversalidade do tema discutido em todo o cenário educacional nacional e internacional, com temáticas que expressam as relações do desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Para tanto adotamos como referência teórico-metodológica de base para este estudo a teoria das Representações Sociais sustentadas por (MOSCOVICI (2001), (MINAYO, 1994A, 1994B e 1996; SPINK, 1993 E; FRANCO, 2004).

Focalizando a teoria das Representações Sociais

Este estudo tem como referência e perspectiva de pesquisa dentro das teorias da Representação Social de Moscovici, uma abordagem que compreende as representações sociais enquanto forma de discurso proveniente de uma prática social de sujeitos socialmente situados, histórico e culturalmente (MINAYO, 1994 e 1998; SPINK, 1993 e; FRANCO, 2004). Neste sentido as representações sociais são fenômenos que mesmo representados a partir de um conteúdo cognitivo, imagens, discurso, conceitos, categorias, teorias, precisam ser, como expressos por (SPINK,1993), entendidos a partir do seu contexto de produção. De acordo com esse pensamento (FRANCO, 2004) reforça a necessidade da contextualização ou "análise contextual" dos sujeitos onde está inserida a Representação Social. Só a partir delas o pesquisador poderá mapear, compreender e superar arealidade e apreendê-las num contexto socialmente construído.

Para Weber apud (MINAYO,1994) não são as idéias, mas os interesses materiais e ideais que governam diretamente a conduta do homem. Com isso o autor alerta para a necessidade de se conhecer, em cada caso, seu contexto e os fatores que contribuem para determinar cada fato social. Portanto, ao estudar as representações necessitamos perceber que "em primeiro lugar, é indispensável conhecer as condições de contexto em que os indivíduos estão inseridos mediante a realização de uma cuidadosa 'análise contextual' (Franco, 2004; p. 2)". Isso porque se entende que as representações sociais são historicamente construídas e estão estreitamente vinculadas aos diferentes grupos socioeconômicos, culturais e étnicos que as expressam por meio de mensagens, e que nos reflete diferentes atos e nas diversificadas práticas sociais.

É necessário compreender e considerar que as Representações Sociais refletem condições contextuais dos sujeitos que as elabora. Seu pensamento advém de uma situação que expressam sua condição sócio-econômica, bem como, cultural. Daí a necessidade de buscarmos conhecer o sujeito concreto, sua história de vida, condições de existência social e educacional. É preciso levar em conta as Representações como manifestações de sujeitos históricos para uma efetiva apreensão da realidade concreta.

No que se refere ao pensamento marxista (MINAYO,1994), apresenta como Marx vê os elementos por ele tratado, "consciência e matéria". Para esse autor, a vida material precede o mundo das idéias, numa relação dialética onde "as circunstâncias fazem os homens, mas os homens fazem as circunstâncias". Com isso podemos perceber que as idéias expressas pelo pensamento marxistas não são rígidas a ponto de tornar-se mecânica na determinação das condições materiais sobre a consciência humana. Com isso, o princípio dialético serve como referência para compreender os processos de construção social do conhecimento.

Segundo (MINAYO, 1996), a pesquisa é a atividade básica das ciências, sendo sempre uma tentativa de aproximação da realidade que nunca se esgota. Concordando com a autora, considero que a perspectiva da abordagem dialética é a mais adequada para os fins desta investigação. Esta perspectiva abarca o sistema de relação que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito e também suas representações sociais, constituídas por suas vivências plenas de significados. O processo social é aqui entendido tanto por suas determinações múltiplas, sempre históricas, quanto por transformações promovidas pelo sujeito.

Vimos assim, marcos teóricos advindos das tradições marxistas e compreensivas, numa tentativa de maior e melhor aproximação aos complexos fenômenos humanos, desta feita, não reduzidos a um único registro fragmentário. Para (Minayo,1996; p.86), citando Demo, a metodologia dialética privilegia: a contradição e o conflito predominando sobre a harmonia e o consenso; o fenômeno da transição, da mudança, do vir-a-ser sobre a estabilidade; o movimento histórico; e a totalidade e a unidade dos contrários. (FRANCO, 2004) afirma a valorização das representações sociais como categoria analítica, apontado que significa efetuar um corte epistemológico que contribui para o enriquecimento e aprofundamento dos velhos e já desgastados paradigmas das ciências psicossociais. Sendo assim, "não apenas para a educação, mas, de uma maneira mais ampla, para a sociedade do conhecimento, a abordagem e a realização de pesquisas sobre representações sociais podem ser consideradas ingredientes indispensáveis para a melhor compreensão dessa sociedade (Franco, 2004; p.1).

As representações Sociais para as Ciências Sociais "apresentam-se como categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questinando-a" (Minayo, 1994; p.89). Com isso elas são elaborações mentais construídas sócios e historicamente, que expressam uma prática social e histórica da humanidade, numa relação dinâmica, complexa e explicativa que dê conta de compreendendo a dinâmica das relações sociais na sua provisoriedade e em sua configuração histórica.

O caminho teórico-metodológico para apreensão do real

Este é um trabalho qualitativo segue um modelo classificado como teórico-empírico (MINAYO, 1994), onde será necessário buscar elementos norteadores que permita colocar a temática estudada na fronteira da produção do conhecimento acumulado e diante do grau de conhecimentos que se encontra na realidade, bem como investigar os elementos presentes na prática social em que o grupo pesquisado está inserido. Segundo (TRIVINOS, 1987), os instrumentos de investigação na pesquisa científica representam a "teoria em ação", é a partir do método e de sua apropriação do objeto de estudo que o pesquisador terá seus passos apoiados.

Esta pesquisa decorre de um estudo de caso que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados (Gil, 2002).

Inicialmente e durante todo o processo será feito um estudo sobre o marco teórico relativo ao tema, buscando identificar e se apropriar do estado da arte e de suas evidências. É nesta relação dialética entre apropriação do quadro teórico e o confronto com o campo empírico que buscaremos elaborar os fundamentos: perguntas e questionamentos, para a compreensão da realidade do campo empírico, bem como investigar as particularidades do campo empírico que superam ou retrocede a teoria acumulada. Para tanto, utilizaremos com referência para a delimitação das referências teóricas do tema a produção do conhecimento vinculada em periódicos, livros textos, artigos, dissertações e teses acumuladas na área.

Paralelo ao delineamento da produção do conhecimento teórico será feito um estudo de campo. Para o estudo de campo seguimos o referencial de (Minayo, 1999), que busca garantir a honestidade do pesquisador com o campo empírico, como também com a comunidade científica.

Como instrumentos de investigação, estaremos fazendo uso de duas estratégias para a abordagem ao campo empírico: a entrevista e a observação participante, para tanto também será apresentado aos professores um termo de consentimento que expressa os objetivos do estudo, os instrumentos de investigação e seus fins acadêmicos e cientifico.

A entrevista e a observação participante entram como estratégias neste processo de aproximação com o campo empírico, a escolha destes instrumentos é plausível ao reconhecê-los como importantes ferramentas para a apreensão das representações dos atores sociais previstas no objeto de pesquisa. Essa escolha esta diretamente ligada aos pressupostos teórico-metodológicos subjacentes a este trabalho. A população do presente estudo foi composta por professores de nível um (magistérios) que trabalha com a educação infantil, utilizando aulas de Educação Física e empregando os jogos e brincadeiras. Esses professores não têm formação acadêmica. Para a composição da amostra foram selecionados os 04 professores da escola.A pesquisa foi feita no município de Pedrão-BA, em uma escola da rede municipal, chamado "Dia Zezé", onde estuda 400 crianças de 4 a 7 anos e trabalham 4 professores do nível um (magistérios). A referida escola é a maior escola municipal da cidade que tem educação infantil, é importante ressaltar que duas delas estão cursando a faculdade de pedagogia e estão no quinto semestre.

A escolha do local do estudo foi proposital e arbitraria. Entendemos que devemos realizar pesquisa nas escolas da rede pública, porque acreditamos que devemos dar retorno ao setor, já que estamos participando de um programa de uma Universidade pública.

Na interpretação dos dados, utilizamos à análise do discurso, para através do discurso e do texto proveniente do grupo estudado compreender as condições de produção e as significações a eles atribuídas, pois as representações expressas pelos professores através de afirmações, opiniões, atitudes, gestos e crenças estão inseridas num contexto de produção falante, ouvinte, história de vida, condições materiais, contexto histórico-social e balizadas pelos mecanismos ideológicos que os sustentam.

Considerações finais

A análise de discurso, de acordo como (MARQUES, 2001), busca explicitar o modo como o discurso produz sentidos, ou seja, considera o funcionamento do discurso na produção do sentido, explicitando o mecanismo ideológico que o sustenta.A escolha desta abordagem de análise e interpretação dos dados da pesquisa se constitui no princípio estabelecido de compreender as representações, logo os discursos, dos sujeitos da pesquisa inseridos em seu contexto de produção, histórico e cultural (MINAYO, 1994; e; FRANCO, 2004). Marques citando Orlandi expressa que a idéia deste autor é, de que a Análise do Discurso tem como objetivo compreender criticamente e refletir sobre com o texto funciona, os sentidos que produz, o situando como objeto lingüístico-histórico (MARQUES, 2001).

Outro aspecto que encontramos em Marques (2001), que nos conduz a opção por esta abordagem, representa as relações entre sujeito e sentido que ela estabelece. Para esta autora a teoria determina que "o sujeito do discurso representa uma forma-sujeito historicamente determinada", o sujeito ao expressar uma opinião, julgamento, ação, fala comportamento e atitudes, retoma sentidos preexistentes, construídos em suas relações sociais e históricas, entretanto é por ser construído historicamente que está passível de mudança, de construção de outros sentidos e significados.

De acordo com alguns autores a representação social são elaborações mentais construídas sócios e historicamente, que expressam uma prática social e histórica da humanidade, numa relação entre seres humanos dinâmica, complexa e explicativa. Percebemos que nos discursos a um interesse em buscar esses conhecimentos seja ele através de um troca com outras pessoas, ou em fontes que permitam o acesso a esses conteúdo. Em alguns momentos durante a ação pedagógica vimos fragilidades. Além de mostrar aqueles inerentes às aulas de Educação Física, que dizem respeito as suas particularidades, tais como, espaço-tempo da aula, material didático, conteúdo específico de ensino e tipo de atividade. Ressalvamos, nesse ponto, o reconhecimento da possibilidade de tensões cotidianas, particularmente, vividas em cada um do espaço escolar pesquisado.

Portanto, não apenas para a educação, mas, sobre tudo de uma maneira mais ampla, para a sociedade do conhecimento, a abordagem e a realização de pesquisas sobre representações sociais podem ser consideradas ingredientes indispensáveis para a melhor compreensão dessa sociedade (Franco, 2004).

Os resultados encontrados indicam que a produção da representação ocorre por influência de fatores advindos da escola e da própria experiência. Os resultados apontam, também, fatores característicos do ambiente escolar, tais como, o jeito escolar de ensinar e os embates entre os saberes e os atores cotidianos.

As informações coletadas revelam categorias de conteúdos compondo a representação social do professor sobre os jogos e brincadeiras vivenciados em aulas de Educação Física na Educação Infantil.

Ao olhar dos integrantes do grupo pesquisado, os sentidos dados às atribuições que perfazem o papel dos jogos e brincadeiras, sugerem, então, uma legitimidade frágil.Tal condição deixa dúvidas quanto ao reconhecimento de sua especificidade e de seu potencial pedagógico como disciplina escolar. Realidade que pode ser transformada a partir de nova relação entre representação e prática, processo que deve ser engendrado na escola.

Apesar de não ser um processo simples. Tal possibilidade encontra nas ações coletivas empreendidas no interior da escola, permeadas pela característica tensão cotidiana, um caminho bastante significativo. Entendemos essas ações coletivas como tempos-espaços peculiares do ambiente escolar que devem ser ocupados, também, pelos professores de Educação Física. A Educação Física, enquanto disciplina do currículo obrigatório da educação básica, tem que ter presença garantida em diversos espaços em que seu campo permite e em especial no contexto da educação infantil

Referências

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