Religiosidade secular

Por Ascendino Roberto dos Santos | 06/03/2011 | Crônicas

Acredito que deva facilitar muito a vida "conseguir" acreditar num desses deuses institucionalizados oriundos da fase monoteísta do povo hebraico. Sabe? Poder acreditar, seguramente, que estamos sendo espiados com a finalidade de saber se somos merecedores de algo melhor guardado para depois de batermos as botas. Melhor ainda quando temos a certeza que estamos fazendo tudo certinho e, portanto, já ter garantindo o ingresso para a área vip pós-morte.
Eu digo "conseguir" por que acreditar no modelo de religiosidade que observo me exige muito boa vontade, exige abandonar o mais simplório bom senso (nem irei mencionar rigor de análise mais crítico). Esse modelo a que me refiro me pede para acreditar num deus totalmente formalista, burocrático - para começar. Conheço um bocado de pessoas que ao irem para as missas ou cultos com a freqüência exigida pelos padres ou pastores, por cumprirem seus compromissos com suas ordens religiosas sente-se aliviados, superiores, prontos para dar sermões moralistas nos à-toa. Sua religiosidade está restrita a sua fidelidade com a ordem a qual depositaram sua fé. As pessoas... Ora as pessoas, conviver com elas é um mal inevitável. Eles possuem uma religiosidade que não consigo entender, pois não resulta em uma conduta melhor para com o outro do que aquela que o restante dos pobres condenados a fogueira eterna praticam. Esses crentes fervorosos estão ai no mundo arrotando seus discursos afundados em hipocrisia aos desafortunados ateus e à-toas. Penso que as boas pessoas são boas independe no que acreditam. Elas até podem ser encontradas entre esses crentes, mas sua conduta é algo da sua índole, da forma como ela ver e, por decorrência, trata as pessoas.
Não sei no que acredito se é que acredito em algo além do que vejo, mas o pré- requisito para uma instituição religiosa ter o meu respeito, a minha atenção é o nível da sua preocupação real com a prática humana: a relação entre os sujeitos, esta sim é a verdadeira moeda de compra para seja lá o que for de prêmio divino - caso ele exista. Fundamentos ritualistas, formalismo, discursos não me sensibilizam a menos que sejam um complementam a única coisa que realmente vale: o modo como tratamos uns aos outros. E, por favor, não venham armados "da palavra" como se isso fosse um princípio de autoridade inegável ? isso é medieval. A autoridade está na pratica social e só nela. O resto é HIPOCRISIA.
O site Adherents mantêm o levantamento do números de religiosos e também de não religiosos a partir de publicações no mundo inteiro. É incrível que o mundo é ainda um lugar ocupado, predominantemente, por pessoas religiosas. No entanto, violento, cada vez mais individualista ? bem, talvez algum fanático venham dizer que as mazelas do mundo é fruto exclusivo da parcela dos não religiosos. Mas será que isso não pode ser explicado, pelo menos em parte, por uma religiosidade como já foi dita meramente formalista, burocrática ? digamos secularmente funcional.
Nesse mesmo site a Suécia aparece como o país mais ateu do mundo 47% da população se diz ateu. Não sei se a Suécia é o país mais pacífico do mundo, mas a sua conduta nos principais conflitos bélicos da história recente e o fato de hoje ele não fazer parte de nenhuma aliança militar é muito significativo. No extremo oposto poderíamos colocar o USA, um país extremamente religioso e quanto a sua postura bélica... bem, dispensa comentários.