RELIGIÃO E RAZÃO
Por SILNEY DE SOUZA | 20/07/2009 | PsicologiaRELIGIÃO E RAZÃO
A história humana tem demonstrado que o tema "religião" vem sendo tratado pelos diversos povos e pelas diversas culturas, tendo como um dos pilares de sustentação o conceito da fé.
Como não é possível às diversas linhas e correntes religiosas, provarem os seus conceitos e as suas teorias de uma forma que seja aceita por todos, utilizando-se de provas científicas e/ou irrefutáveis, a fé e os dogmas acabam por ganhar papel de destaque e de importância no processo de convencimento e de domínio do ser humano pelo próprio ser humano.
Estranho verificar que apesar deste contexto, o dogma é definido como uma verdade absoluta, definitiva, imutável, infalível, inquestionável e "absolutamente segura sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida".
Apenas a título de referência, a Igreja Católica apresenta o número de quarenta e três como sendo o número dos seus principais dogmas, subdivididos em 8 categorias diferentes.
Não é, sinceramente, a minha função aqui questionar ou realizar qualquer juízo de valor sobre os dogmas religiosos, mas apenas refletir sobre alguns daqueles conceitos que permeiam a formação religiosa da sociedade até os dias atuais, frente à luz da razão.
A título de exemplo, realizemos, em conjunto, algumas reflexões:
1) A existência de Deus não é uma questão de fé. – Vou basear a minha afirmação tomando por base a Doutrina Espírita que define Deus a partir do princípio da causalidade segundo o qual Deus constitui o fundamento que torna possível o mundo e os seres. O sentimento inato de sua existência, que trazemos no coração, é a marca do obreiro em sua obra. "Ora, vede a obra e procurai o autor", sentenciou o espírito da Verdade. Deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, é eterno, único, imutável, imaterial, soberanamente justo e bom. Em nossa consciência, estão inscritas as suas leis infinitamente perfeitas. A partir deste conceito, Deus deixa de ser tão somente uma questão de fé, para revelar-se, de forma racional, na Inteligência que rege as formas da natureza. Observe que em “O Livro dos Espíritos” Kardec pergunta aos Espíritos “Que” é Deus e não “Quem”.
2) Deus não criou os Anjos e os Demônios. – Não existem seres privilegiados pela Criação. Fomos todos criados simples e ignorantes. No entanto, caminhamos todos à perfeição. Deus nos proporciona os meios de atingí-la, com as provas da vida corpórea. É por meio das inúmeras reencarnações que nos depuramos e atingimos gradualmente a evolução do Espírito. Sem o mecanismo da reencarnação permaneceríamos estacionários. Assim como os anjos, o diabo também não existe. O termo utilizado, “diabo”, é a uma mera representação alegórica do mal, que resume em si todas as mazelas dos Espíritos imperfeitos. Os chamados demônios, nada mais são que Espíritos ignorantes e imperfeitos, ainda distantes do bem, que se comprazem em induzir ao erro àqueles que com eles se afinizam em sentimentos e ideias. Repetindo; por meio do processo de reencarnações sucessivas, onde temos a oportunidade de aprendermos e nos aprimorarmos pouco a pouco, caminhamos todos, pelos nossos esforços, à perfeição.
3) Jesus não é Deus, nem tampouco morreu na Cruz para nos salvar – Se não há privilégios na Criação, então Jesus não foi criado por Deus, em sua origem, como um ser que já surgiu “iluminado”. Certamente, ele, assim como nós, teve que passar por todos os estágios da evolução até alcançar, por esforço e mérito próprios o estágio evolutivo que o conhecemos. Ao seu lado e em coordenação direta com as leis divinas, uma infinidade de outros espíritos de luz são os responsáveis pelos rumos de nosso planeta. Morrendo na Cruz, Cristo nos deu um exemplo extremo de amor ao próximo, mas parece que muito pouca gente compreendeu o significado. Cristo é o exemplo a ser por nós seguido. Não há “livramento” sem esforço próprio. Somos os únicos capazes de salvarmos a nós mesmos, por meio do nosso progresso moral e intelectual. Como ? Praticando a Reforma Moral em sua plenitude e sub – julgando dentro de nós os pais de todos os nossos males, quais sejam o Orgulho e o Egoísmo. Como nos ensinou o próprio Cristo: “Não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?”
4) Deus não castiga- Como pode Deus ser ao mesmo tempo “soberanamente justo e bom” e por outro lado castigar seus filhos ? Deus nada faz, nada permite, que não tenha uma finalidade inteligente. Não precisamos também de intermediários para com ele conversarmos. Ninguém melhor do que nós mesmos para colocar o que sentimos, o que precisamos. O nosso contato com Ele é direto, a possibilidade de conversar com Deus está aberta 24 horas por dia. Basta faze-lo com honestidade e elevação de propósitos. Ninguém possui escritura pública para venda de locais pré-determinados no Céu. Nunca paramos de trabalhar. O Pai obra e sempre! Trabalhamos em prol do bem enquanto desencarnados e encarnados estamos nesse planeta de provas e expiações, que em muitos momentos se assemelha a um hospital e em outros a uma escola justamente para o nosso aprendizado. Sofremos, isso sim, a reação, o efeito dos nossos atos e sofremos as conseqüências daqueles que não estão alinhados com as leis divinas. A semeadura é livre, porém a colheita é certa. Muita atenção para o que andamos semeando!
5) Fora da Caridade não há Salvação – Fé e Caridade são filhas do amor. No entanto, o próprio Cristo nos ensinou que a caridade é mais importante que a própria fé. Não podemos amar a Deus sem amar o próximo e nem amar a Deus sem praticar a caridade com o próximo. E quando praticamos a caridade, não estamos só ajudando ao próximo, mas estamos também nos ajudando. A verdadeira caridade deve ser praticada com amor e humildade sem esperar reconhecimento ou algo em troca.
Em futuros artigos estarei colocando outras reflexões.