Religião e Criminalidade

Por Luíza Fernandes Carvalho Silva | 28/11/2016 | Religião

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
 
Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
 
Curso de Ciências Econômicas
 
Luíza Fernandes Carvalho Silva
 
RELIGIÃO E CRIMINALIDADE
Belo Horizonte

2016

            Há muito o Brasil protagoniza recordes sobre criminalidade massiva; estudos acerca da disparidade social identificam tal fator como um dos motivadores principais às mazelas resultantes da violência vivida no país. Como pode ser verificado através do artigo assinado por Robson Sávio Souza (2005), “Religião e criminalidade: da cultura da morte à cultura da paz e do perdão”, a falta de equivalente oportunidade aos brasileiros desencadeia no desemprego e nas condições precárias de vida, resultando na criminalidade como sobrevivência e saída ao caos social: neste aspecto, o tráfico de drogas ocupa um espaço cada vez maior e, como consequência, financia o uso indiscriminado de armas de fogos e seu contrabando, alimentando assim um conflito social sem precedentes e cada vez mais recorrente.

- No mundo, 1,6 milhões de pessoas morreram em 2000 vítimas de violência, sendo 55% decorrentes de homicídio e conflitos armados, vitimando jovens de 15 a 29 anos;

- No Brasil esta margem é mais baixa, sendo vítimas jovens de 14 a 25 anos, homens negros e moradores de aglomerados urbanos;

- 40 mil pessoas morrem por ano em nosso país;

- 60% destes homicídios concentram-se no Sudeste;

- 70% deles são decorrentes do uso de armas de fogo ilegais;

- em 2012 o Brasil ocupa o 4º lugar entre os principais países exportadores de armas de fogo segundo a última edição da Pesquisa de Armas Leves (Small Arms Survey23).

De acordo com o autor, enquanto os governos gastam milhões no combate ao círculo vicioso da violência, acabam por negligenciar as demais necessidades básicas de sua população tais como saúde, educação, condições de higiene e saneamento, geração de emprego etc. O gargalo social, por sua vez, aumenta: a falta de oportunidade equivalente à toda população, gera desemprego; esta parcela de pessoas, por sua vez, acaba marginalizada socialmente e identifica em atividades como o tráfico de drogas uma possibilidade de emergir. A isto soma-se o contrabando de armas de fogo para manutenção do esquema de tráfico e, consequentemente, seu uso indiscriminado, promovendo cada vez mais a violência e a violação dos direitos básicos.

O aumento estarrecedor da criminalidade no Brasil desencadeia, segundo Souza (2005), na crescente aparição dos casos de homicídio, acabando com a vida de 40 mil brasileiros a cada ano, ultrapassando os índices de mortes por motivo de violência em países em guerra. Suas vítimas, jovens – de 14 a 25 anos –, em sua maioria de raça negra, são moradores de aglomerados urbanos denominados favelas e correspondem – 60% de seus casos – à moradores de cidades da região Sudoeste do Brasil. Diferente do que parece ser, esta parcela da população não se encontra em conflito civil, mas em uma guerra social não-declarada expressa, cada vez, mais através do tráfico de drogas. Como consequência, o uso deliberado de armas de fogo provoca cada vez mais vítimas: segundo a Organização Não Governamental “Viva Rio”, de 8 milhões de armas de fogo no Brasil, 3 milhões são ilegais, sendo que 70% dos casos de homicídios identificados pelo país têm nestas armas ilegais seus motivadores.

A análise 10 anos mais tarde do “Mapa da Violência 2016 – Homicídios por armas de fogo no Brasil”, um estudo de Julio Jacobo Waiselfisz (2015), evidencia que pouco se conteve no que diz respeito ao uso indiscriminado das armas de fogo no país. O Brasil ocupa o 4º lugar entre os principais países exportadores de armas de fogo segundo a última edição da Pesquisa de Armas Leves (Small Arms Survey23); tal colocação é sustentada por duas vertentes principais, uma de defesa, outra contraria: a primeira justifica no uso de arma de fogo a segurança que a população não encontra, fazendo deste um instrumento de representatividade contra a criminalidade. O outro lado, por sua vez, sugere que estas armas administradas por uma população sem preparo potencializa os riscos de homicídios por motivos banais e acidentais.

As condições precárias de moradia, somadas ao menor acesso à educação, a falta de emprego e infraestrutura urbana precária acabam por resultar em um quadro de violência sistêmica sustentado pela desordem social e, consequentemente, criminalidade. A disparidade social acaba por vitimar cada vez mais jovens no Brasil que, condicionados pelo meio em que vivem – bolsões de pobreza – recorrem à criminalidade para amenizar tal exclusão ou acabam sendo vítimas da mesma por fazerem parte de seu contexto social. O perfil dessas pessoas, de acordo Waiselfisz (2015), é predominantemente masculino, jovem e negra, mantendo os preceitos do estudo anteriormente apresentado por Souza (2005).

Retomando à discussão “Religião e criminalidade: da cultura da morte à cultura da paz e do perdão”, diante de uma representativa taxa de mortalidade por arma de fogo onde, de um estudo realizado em 26 regiões do país, 11 delas se destacaram pelo aumento gradativo no número de vítimas, pôde-se inferir a importante e emergencial contenção da desordem social. Esta, identificada pelo autor como origem da exacerbação da violência, contabiliza hoje para o Brasil números de mortes similares aos de países em guerra. Os custos gerados para contenção da violência, de acordo com o artigo, correspondem a 13,4 milhões de reais por ano, deixando de ser direcionados às áreas básicas e de sobrevivência. Tal déficit potencializa a segregação social que, por sua vez, resulta na criminalidade como em um círculo vicioso.

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