RELIGIÃO E COMÉRCIO

Por Cilas Emilio de Oliveira | 06/10/2014 | Crônicas

RELIGIÃO E COMÉRCIO Sem duvida, a religião sempre esteve ligada aos fatores que movem a matéria. Desde seu surgimento ela vem trazendo em seu contexto estreita ligação com o "reino de Midas". Nos tempos dos reis esta era a forma adotada. Eles mesmos tinham que bater continência aos mandos da religião, estando sempre ligados aos sacerdotes. Estes, por sua vez, transmitiam aos monarcas e ao povo os desígnios da divindade, a qual estava submissa a religião professada. Seguindo essa norma, com algumas modificações, ao longo do tempo os poderes religiosos e materiais se mesclaram, formando uma unidade quase indivisível. Tão acentuada foi essa união, que a religião passou a abarcar os proventos da matéria, anexando-os aos seus domínios. Desse "casamento" surgiu um dos maiores patrimônios que se tem conhecimento. Vigorando até próximo à idade moderna, chegou-se a um patamar expressivo, que ainda hoje existe um símbolo intocável desse regime que marcou épocas. Porque aludirmos a esse fato? Simplesmente porque, depois de certo tempo, aquele domínio arrefeceu-se sobremaneira, que a matéria passou a ditar normas de comportamento dos povos. Surge então o comércio, a forma de transação que, sem dúvida, tomou o lugar prioritário da religião, passando a mover o mundo. Querem exemplos? As primeiras manifestações das datas que a religião tem como centro de sua fé, quem as anuncia com bastante antecedência? O comércio sem dúvida! Aquele significado expressivo da fé cedeu seu lugar ao tilintar de moeda, a mola mestra das transações comerciais. Natal, Páscoa, Dias das Mães, Corpos Cristis e outras efemérides, são datas lembradas em primeira instância pelo mercantilismo que, diga-se de passagem, fincou âncoras nos oceanos da religião. Tudo obedece aos seus mandos, aos seus desígnios. Criaram-se meios eficientes de comunicação, visando expandir fronteiras, levando os produtos a todos os rincões. Hoje, enquanto a amnésia religiosa faz pacientes, líderes religiosos e o povo entrarem em coma - porque a religião na forma conhecida desde longos tempos vem perdendo terreno a olhos vistos - o mundo mercantilista move montanhas, tomando dianteira até nos meios religiosos, como dissemos. Não mais seria a divindade da religião que determina. Não mais o primeiro lugar na vida do povo. Como exemplo, a busca frenética continua até nos meios religiosos modernos, quando há buscas do poder aquisitivo, de bens, de conforto e terapias que algumas alas religiosas propiciam. É o poder mercantilista ditando norma, fazendo naufragar a nau da religião, na sua forma tradicional e dominante.