RELATÓRIO: REALIDADE PERCEBIDA NO ASSENTAMENTO LAGOA DO MINEIRO

Por Eugênio Pereira da Silva | 25/04/2017 | Geografia

RESUMO:

Este artigo trata de relatos vivenciados na aula de campo no Assentamento Lagoa do Mineiro em Itarema-CE. O objetivo é  descrever a realidade vivenciada no assentamento, saindo de uma visão apenas de leitura e vivendo a realidade do objeto estudado. Para tanto, foi realizado ao longo do semestre letivo, aulas sobre a questão agrária e sobre o MST junto a disciplina de Geografia Agraria sob orientação da Professora Dra. Aldiva Diniz, e para finalizar o semestre foi realizado a visita de campo no dia 01 de Março de 2016. Utilizando de dados qualitativos e quantitativos para entender a realidade de um assentamento. A partir disso, constatou-se que os moradores vivenciaram e vivenciam um processo histórico de desafios, conquistas e lutas pela terra e pelo bem estar da comunidade.

INTRODUÇÃO:

O presente artigo buscará entender como se dá o processo de lutas pela terra. Sabemos que a mídia hegemônica demoniza todos os movimentos sociais que buscam a melhoria de vida para a população carante, principalmente aqueles que não tem terras, mas que buscam os seus diretos, podemos citar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terras, MST, que é um dos principais movimentos atuantes nos dias de hoje. A partir da análise do que nos é imposto pela mídia e o que realmente é verdade nasceu a ideia de buscar conhecer e entender e se aprofundar no estudo da realidade das comunidades. Levando em conta que estamos cursando a disciplina de geografia agrária, esse é o momento ideal para repensar o que sabemos sobre essa questão, a questão agrária que está ao nosso lado e não conhecemos. Sabemos que a geografia é uma disciplina que nos permite isso, nos permite pensar e repensar nossa realidade.

A metodologia utilizada para realização desse trabalho foi de leituras de autores que estudam essa temática ( isso se deu durante todo o semestre) e a ida ao campo, visita ao Assentamento Lagoa do Mineiro, à Escola de Ensino Médio Francisco Araújo Barros, conversas com a Diretora e professores da mesma, além de um dos momentos mais significativos da aula de campo, a visita a casa da Dona Chiquinha, tudo isso em Itarema-CE

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, a segunda parte traz estudos referentes a pesquisa. A terceira seção traz relatos vistos e percebidos na aula de campo, através de comentarios e fotografias. Finalizo esse artigo apresentando as considerações finais. 

  1. BREVE HISTÓRICO DE LUTAS

O problema da má distribuição de terras no Brasil veio desde a colonização por parte dos portugueses, através da ocupação, exploração e criação de leis que favoreciam uma pequena minoria. Com a divisão de terras surgiram os grande latifundiários brasileiros e logo após essa desigualdade foi ainda mais evidenciada com a criação das sesmarias e da lei de terras de 1850. Durante todo processo de de colonização os proprietários das sesmarias transformaram-se em grandes proprietários de terras, surgindo aí a elite colonial da época. As sesmarias foi a primeira divisão territorial do Brasil, sendo criada para que as terras fossem cultivadas, pois perceberam que o solo brasileiro era fértil, vale lembrar que para obter posses através da sesmarias era necessário que o individuo fosse branco, católico e tivesse bom poder aquisitivo. Foi criado também a concessão de terras que era um direito hereditário, mas não poderiam vender ou comprar novas terras.

Em 1850 a Coroa sofre pressões inglesas para substituir a mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado, e em decorrência da inevitável abolição criou-se a Lei Nº601 de 1850 com intuito de implantar a propriedade privada das terras.

Através desse breve resumo do processo de ocupação de terras, podemos perceber que as leis foram criadas para uma minoria que já tinha poder aquisitivo, o negro continuava sem direito a terra, sem direito a nada. Percebe-se que a Lei de Terras foi criada,principalmente, para impedir o acesso a terra pois beneficiou apenas os ricos da época. Segundo STEDILE(2005) a lei de terras é também a “mãe” das favelasnas cidades brasileiras.

Muitos anos se passaram, 516 anos, estamos vivenciando o capitalismo,  percebemos que algumas coisas continuam do mesmo jeito, o que mudou foram apenas as formas de serem praticadas, a desiqualdade na distribuição de terras, a escravidão, dentro outros. 

  • MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E CAMPONESA 

Passamos por diversos modos de produção, estamos agora vivendo o capitalismo, baseado na busca pelo lucro e poder, mas diante dessa realidade podemos encontrar os camponêses que lutam, buscam e vivenciam um estilo de vida diferente, baseados  na luta pela igualdade de terras e de outros direitos que deveriam ser de todos e não de uma minoria.

Oliveira, ao se referir ao modo de produção capitalista e ao trabalhador, afirma;

 As relações capitalistas de produção são baseadas no processo de separação dos trabalhadores dos meios de produção, ou seja, os trabalhadores devem aparecer no mercado como trabalhadores livres de toda a propriedade, exceto de sua própria força de trabalho. 

Percebe-se aí o real interesse do capitalismo, a única utilidade do  trabalhador é servir de trabalhador braçal, que faça o “serviço pesado” e que não faça parte do próprio meio de produção. Ainda segundo Oliveira, os trabalhadores devem estar no mercado livres dos meios de produção, mas proprietários de sua força de trabalho, para vendê-la ao capitalista. A partir daí podemos perceber que o trabalhador é tido como uma mercadoria, pois com sua força de trabalho consegue produzir mercadorias que  proporcionam lucros ao capitalista.

Vemos que a realidade da produção camponêsa é diferente do capitalismo, o camponês não busca o lucro, não usa a terra como recursos para lucrar, o que se usa da natureza é apenas o necessário para subsistência, a produção camponêsa tem se mostrado ser um símbolo de resistência, pois, sua produção é apenas para o autoconsumo, garantindo alimentos para a comunidade e não se submetendo aos mandos e desmandos da expansão do agronegócio.

Seguindo essa noção de diferenças entre produção capitalista e produção camponêsa,  Oliveira(2007) afirma;

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