Relatório Ler e Escrever- 2008

Por Dayse Cristina Araújo da Cruz | 02/01/2011 | Educação

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE EDUCAÇÃO





RELATÓRIO DE ESTÁGIO: LER E ESCREVER




Professores coordenadores: Valdir Barzotto e Emerson de Pietri
Nome: Dayse Cruz
Escola de realização do estágio: EMEF Clemente Pastore




São Paulo/
2008



INTRODUÇÃO ...........................................................................................................2

ATIVIDADES...................................................................................................3

1.1.1DESCRIÇÃO......................................................................................................3

1.2. ANÁLISE...............................................................................................................7

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................9

3. REFERÊNCIAS................................................................................................10































INTRODUÇÃO


Este relatório tem por objetivo descrever, comentar e analisar as atividades ministradas em uma sala de 1ª série do Ciclo I da E.M.E.F. Clemente Pastore no último bimestre de 2008, de acordo com o programa Ler e Escrever, com o intuito de repensar, mais do que como o professor ensina, seus métodos, como o aluno aprende, como constrói suas hipóteses na escrita e as relações que estabelecem entre ela e a fala.
Assim, para que essa análise fosse possível, esse relatório traz uma descrição das atividades observadas e aplicadas em sala e junto a ela a forma como os educandos receberam essas atividades (alguns deles), também intenta realizar uma análise dessas atividades, com os resultados de observações das reações dos alunos a elas e a experiência obtida no estágio, como fator rico para a formação profissional e acadêmica.





















1.ATIVIDADES

1.1 DESCRIÇÃO


Nesse relatório, farei um apanhado geral das atividades ministradas durante este último bimestre do ano de 2008.
Utilizaram pela ultima vez a ficha com "Registros de Contos". A estória ouvida foi a dos "Três porquinhos" que, como sempre, foi seguida da observação das ilustrações do livro. Nesse dia foi necessário que estabelecessem (professora e alunos) um acordo de silêncio para a leitura, pois havia muito barulho dos alunos na sala de aula. Perguntou-se se já haviam escutado tal estória, suas impressões da mesma e depois, a leitura ia sendo acompanhada da interpretação da professora.
Na hora da leitura, cerca de 50% da sala fazia alguma outra atividade paralela à estória, não olhavam para o livro e para a professora contando sobre o texto, mas isso não significou que não estavam prestando atenção. Um exemplo foi dado por um aluno que desenhava no caderno enquanto seguia a leitura e, quando a professora fez algum questionamento sobre o livro, ele respondeu de imediato.
Como de costume, pintaram a cor referente à opinião pessoal e conversamos um pouco sobre a estória que acabavam de ouvir.
Em virtude do contexto da estória- a construção de casas pelos porquinhos- cada um deveria escrever na lousa o nome de algum objeto, componente que deveria haver em uma suposta casa que estaríamos montando. Alguns escreviam sozinhos e outros precisavam ser "lembrados" das letras e silabas que compunham sua palavra escolhida. Somente um aluno teve que recobrir uma palavra em pontilhado por ainda não ter desenvolvido senso de lateralidade, organização e conhecimento das letras do alfabeto (que esqueça rapidamente quando ensinado).
Dentre algumas palavras que os alunos escreveram sozinhos estão:

*1-VOGÃO 2- PI 3-SOFA 4-PAPETE 5- PRATUS
↓ ↓ ↓ ↓ ↓
FOGÃO PIA SOFÁ TAPETE PRATOS

*Os dados acima foram colhidos de alunos diferentes.
Também fora passada na lousa uma lista de palavras escritas com "RR". Lemos juntos e foi explicada a diferença entre o uso (pela fonética) de um R e dois nas palavras. Uma outra atividade foi um ditado temático, no mesmo formato que as sondagens, que consistia na enumeração 1-4 (palavras) + 1 (frase) em folha de sulfite. As palavras ditadas e a frase, respectivamente eram: BRIGADEIRO, BEIJINHU, BOLACHA E BIS e "EU COMI BRIGADEIRO NA FESTA".
Observando a escrita de alguns alunos, pude verificar que um escrevera a frase de tal forma:
E CU PICADE O NA FETA
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Eu Comi Brigadeiro Na Festa

Esse aluno, nos últimos tempos, tem falado algumas palavras como fanho, exemplo: a palavra aqui= ai (som nasal).
Durante alguns minutos de um dia de aula assistiram a um DVD de estórias, todas as que haviam ouvido ao longo do ano e registrado. Essas eram bem curtas e superficiais, das quais eles diziam não ter gostado após seu término. Foi interessante observar que o aluno com Síndrome de Willians, que raramente presta atenção em alguma atividade (e não realiza nenhuma atividade escrita proposta, só rabisca) permaneceu atento durante toda a exibição, mesmo sendo "inquieto", mal emitira os sons que costuma emitir para tentar se comunicar.
Outro fato interessante observado em sala foi que um aluno que faz cópias de livros por conta própria em casa me disse que não conhecia as letras de um livro que tinha tentado copiar em casa, que até conseguia fazer a cópia, mas que não entendia o que estava copiando. Quando vi o livro, pude notar que havia letras de forma maiúsculas e minúsculas, e, justamente as ultimas, ele dizia não conhecer, fato que se deve também por não terem sido trabalhadas em sala. Como ele recebeu um silabário que continha as equivalências entre os tipos de letras, lhe mostrei cada uma e ele voltou a copiar os textos do livro.

História do Natal
Devido a uma duvida que surgiu na sala de aula ( sobre qual a relação entre camelos e o Natal, por causa de uma atividade que colocava o camelo como "componente" do natal) a professora decidiu então contar a história do natal para os alunos, visto que, ao questionarmos sobre seus conhecimentos acerca desse, observamos que, segundo o que disseram, só sabiam que o Natal servia para receber presentes. Assim, ouviram a história da vida de Jesus e um menino propôs que todos sentassem no chão para ouvir, mas a professora não concordou. Dois alunos diziam: "Eu sou Deus" e "Eu sou Jesus", a princípio não estavam dando muita atenção, mas, quando viram a ilustração de Jesus no livro, se espantaram juntos e exclamaram: Nossa, Jesus! E se concentraram mais na leitura.

Descrição das provas
A prova no anexo 1 foi explicada antes de ser entregue aos alunos, como de costume, mas também foi seguida de orientações individuais, quando solicitadas. Mesmo assim ainda houve dificuldade de compreender que se tratavam de contas de subtração, e não adição.
Destaco aqui a forma de resolução usada pela professora para explicar o processo
de subtração: "Põe o número menor na cabeça e conta até o número maior com os dedos, e o que tiver na mão, no final, será o resultado"


Ou então deveriam fazer a conta desenhando bolinhas ou riscos no canto do caderno.
Na prova no anexo 2, observamos que os resultados de todas as contas de adição variam de 2-4 e estavam referidos na parte superior da folha. Estes deveriam ser "identificados" no diagrama porém não ficou claro para alguns que circularam todos os números que compunham as contas.
O anexo 3 também foi aplicado como prova. Na realização desta, pelo fato da coluna com as letras se localizar na parte central, sendo que a maioria das palavras começavam com essas letras, os alunos confundiam-se quando as palavras não começassem com a letra referida( como o H, I, N), pois achavam que necessariamente isso deveria acontecer.














1.2ANÁLISE

Análise das atividades e experiência do estágio:

Uma das observações feitas no estágio foi a de que, mesmo não mantendo contato visual com o professor (o que praticamente todos querem exigir),as crianças, em alguns casos, prestam sim atenção no que se está falando, pois, como o exemplo dado, quando foi solicitada alguma informação esta foi dada de imediato, e vários casos observados demonstram a mesma conclusão. Ou seja, mesmo não aparentando interesse no que está sendo explicitado, eles acompanham isso, da sua forma, o que leva a pensar se é realmente necessário que o aluno preste uma "atenção absoluta" no professor, como se isso fosse garantir-lhe aprendizado.
O que incomoda era observar que ainda há alunos que não adquiriram noção de organização básica, tanto de caderno, mochilas e não possuem a grafia coordenada. Parecem carecer de um tratamento mais particularizado, intenso, pois alguns não tiveram um conhecimento ou familiarização prévia com a escola e, para intensificar essa não adaptação, entraram posteriormente na 1ª série (não estavam na sala desde o inicio do ano letivo).
Os exemplos de equivalência entre as silabas das palavras que escreviam nos mostram que, realmente, para cada silaba registram algum símbolo, ou uma letra (que a silaba contém ou não), ou uma silaba mesmo, entre outros. Como no caso da palavra PIA que o aluno escreveu "PI", parece que, para ele, o "i" tem mais força e, portanto, foi o que registrou após o "p".
Outro fator interessante que lustra a relação que eles estabelecem entre a fala e a escrita é que, quando se dita alguma palavra para que escrevam, eles repetem cada silaba dessa palavra em voz alta e lentamente, representado assim: Ex. bolacha boo- laa- chaa. Isso ocorre mesmo quando não escrevem a palavra corretamente, mas mostra a construção de suas hipóteses de escrita, sempre atribuindo às silabas alguma grafia.
Na frase do ditado, o aluno mostra seguir o som vocálico na escrita, mas não observa as consoantes tal como as vogais, mesmo registrando algumas intercaladas:


Quando escreve:

      
 
P I C A D E O = B R I G A D E I R O
       

Observamos que usa as mesmas vogais da palavra "brigadeiro" e, de certa forma, até na ordem correta, mas as consoantes apresentam-se de forma errada. Isso ocorre também quando o mesmo aluno escreve a palavra "festa":

    
 
F E T A (aluno) = F E S T A
 
    
























2.CONSIDERAÇÕES FINAIS


Em virtude de ser fim de bimestre, ano letivo, foram ministradas poucas aulas no período de novembro a dezembro. Por esta razão, o relatório careceu de mais informações pois a pesquisa em sala ficou impossibilitada.
Mas com as informações coletas, ao refletir sobre prática docente, aprendizado do educando, espaço escolar, políticas educacionais e demais fatores que permeiam o sucesso/ fracasso escolar, tais como social e econômico por exemplo, foi reafirmado no que consiste a educação, o que é necessário para que se construa uma educação de qualidade. Muitas vezes em sala, o professor não consegue superar os problemas que permeiam a vida de seus alunos, sendo que esses os atingem fortemente e muitas vezes passam a ser o que vai "decidir" a vida escolar desses alunos.
Uma alfabetização de qualidade se dá sim com a observância da forma como o aluno aprende, que vai variar em cada um, o que incumbe ao professor dessa etapa um papel de pesquisador, pois, com sondagens e outros tipos de avaliações pode-se pensar em estratégias diferenciadas de ensino, como foi feito na classe em que o estágio foi realizado, mas isso, a meu ver, só foi possibilitado, naquele momento, em virtude da minha presença na sala, e creio que de forma geral com os outros alunos-pesquisadores deve ter ocorrido o mesmo.
Isso por que, diante da rotina escolar, o professor acaba não tendo tempo suficiente para tentar agir sobre a dificuldade de alguns alunos como necessário, e, com o aluno-pesquisador, a carga fica amenizada e se pode pensar estratégias de intervenção no ensino-aprendizado, tanto pela experiência do professor, como pela inovação muitas vezes trazidas pelo graduando.
De forma geral, sinto que os aluno necessitam de mais espaço para "construírem suas hipóteses", o que é tão complexo, como diz Emilia Ferreiro (1.989), pois, ao entranharem a representação do mundo, as crianças passam por dificuldades conceituais, parecidas às da construção do sistema de representação, assim, ela "reinventa esses sistemas". Assim, podemos perceber a natureza das dificuldades com relação à escrita, visto que, enquanto estamos "reproduzindo" o que já existe, o que aprendemos, eles estão tendo que "construir" tudo novamente.
O que devemos buscar, cada vez mais, são formas de ensino, aprendizado, como experiências para que a defasagem e fracasso deixem o cenário escolar.
3.REFERÊNCIAS


FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. Editora Cortez e Autores Associados, 14ª edição. 1.989.