Relato de um professor em início de carreira
Por CRISTIANO SANTANA | 01/08/2010 | EducaçãoA educação no Brasil é uma verdadeira mentira! E se faz verdadeira a frase: "os professores fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem". De quem será a culpa? Dos professores ou dos alunos? A culpa é dos dois! Os professores andam sobrecarregados com salas cheias de alunos em que a maioria não está nem aí para melhorar e nem para acompanhar o seu próprio desempenho. E os professores ficam sem saída de como cuidar dos alunos problemáticos numa sala que não destingue as individualidades de cada um. Complicadíssimo cuidar desse problema diariamente! Outro problema são os assuntos que não interessa a maioria dos alunos. Independente do docente ser um bom ou mal profissional, os livros didáticos são péssimos, pois a abordagem dos assuntos são apáticos, desinteressastes e, principalmente, longe do cotidiano dos alunos. É difícil fala, por exemplo do México, da Ásia ou da América Central de maneira atraente. Como cuidar disso frente a ameaça dos profissionais da educação em perder a qualidade do seu serviço junto ao alto desinteresse do aluno? Os profissionais dessa área estão sumindo e prova disso é a veiculação de um comercial de TV do governo federal chamando telespectadores a serem profissionais nessa área.
Lecionar em escola pública é uma pura ilusão. A amizade do aluno com o seu professor é pura falsidade. É um jogo do aluno conquistar o seu professor amistosamente a extrema irrealidade que existe nessa relação. É muito desanimador saber que alunos que se aproximam de você possui segundas intenções de conseguir uma boa nota no final de cada semestre. Aconselha-se que o profissional dessa área entre de "cara amarrada", como se não quisesse ser amigo de nenhum aluno. Se o professor deixar caminho livre para o aluno fazer o que deseja, o planejamento do professor será um desastre, não se concretiza. A verdade é que os alunos têm somente o interesse de conquistar a boa nota sem ver o que de verdade aprendeu ou consertar os seus erros em atividades e provas. A desmotivação para os profissionais dessa área fica mais evidente e gritante sem que eles mesmos consigam resolver esse problema. Participando de algumas conversas entre professores nos intervalos das aulas, somente ouvia reclamações da turma "a" ou "b" pela falta de educação, respeito e comportamento. Nessa escola existem profissionais que estão a dez anos e não consigo imaginar como conseguiram essa vitória frente a tantos desafios diários com os seus alunos. Somente consigo enxergar o grande amor do professor pelo que faz, pois o amor, o desejo de superação, de fica feliz e até se surpreender com o resultado de alguns dos seus alunos pode acalmar o coração depois de tanta batalha em favor da boa atenção e educação dada aos seus alunos.
Outro motivo para sobrecarregar a vida do professor é a função administrativa que ele tem para desempenhar ao preencher faltas e presenças, corrigir provas e passar as notas para o diário além do planejamento a ser realizado para inúmeras turmas.
Então, qual será o futuro desse profissional em enfrentar desafios cada vez maiores e desestimulantes. Há outro problema maior: a substituição do profissional da educação pelo computador no ensino à distância. Mais um ato de sua desvalorização da sua carreira. Podemos comparar esse profissional a um disco de vinil? A uma máquina de datilografar? Ou ainda, comparando a profissionais extintos, como o sapateiro, o costureiro e tantos outros? É muito preocupante o futuro desse profissional tão importante para qualquer sociedade, mas tão desvalorizado. Quem é o culpado por essa situação? Podem-se ter respostas, mas a solução na prática é impossível de se realizar e o sistema educacional e suas metodologias arcaicas desde a Ditadura deixam esses profissionais sem exercer melhor sua criatividade, ficando ligados aos assuntos do livro não importando a que região o aluno venha a pertencer.
Existem sempre dois pesos: a qualidade e a quantidade no ensino, mas que dependem do ponto de visto de quem interessa os dados estatísticos e argumentos. Como resolver a qualidade da educação? Como oferecer qualidade no serviço do professor? E a infra-estrutura das antigas escolas? São de acústica antiga na qual o profissional se encontra em extrema desvantagem ao desafio de conseguir a melhor escuta por parte dos seus alunos.
Ser professor é um profissional que vive em constante desafio com o seu trabalho e consigo mesmo. A profissão te deixa angustiado, estressado, ansioso e algumas vezes pode-se achar incapaz de resolver problemas do dia-a-dia. Ser professor é ter sempre a incerteza que algo não vai indo bem. É um labirinto que algumas vezes te faz voltar pelo mesmo caminho ou até voltar ao início para se resolver um problema que não foi orientado muito bem por você. Quem adora desafio ser professor é uma boa, além, claro, de trocar ideias, gostar de falar e de se relacionar o tempo todo com inúmeras pessoas de diferentes tipos.
"Mais do Mesmo", um novo desafio está prestes a começar.
Depois de terminado o contrato de período de dois meses, terei a oportunidade de dar continuidade na mesma escola pública. Nesse momento depois de tantos desafios, já se saber dançar no ritmo dos alunos e porque não dos outros professores.
Uma estratégia que os professores sempre usam é o recurso dos seminários. Mas deve-se lembrar que estes alunos estão em formação e o resultado de quando se aplica seminários, como por exemplo, para séries da 7ª, 8ª ou até mesmo das séries do ensino médio não se consegue o desejado. Apenas o que se vê é leitura do tema solicitado pelo professor sem nenhum argumento crítico. Não são todas, mas as laranjas podres estragam as boas que se encontram no mesmo cesto.
Uma situação desagradável que pode acontecer é o desentendimento com o aluno, geralmente aquele que gosta de chamar a atenção seja por brincadeira ou mesmo discutindo em um tom agressivo com o seu professor. O professor deve ser extremamente paciente, pois haverá inúmeros momentos que poderá perdê-la. É importante lembrar-se de se ter ética em qualquer situação desagradável que venha acontecer. Pode-se ter essa situação: a fala de um aluno indisciplinado pode chegar a ter exageros onde numa situação inicial o professor não conseguiu o desejado, ou seja, professor pede por educação que a aluna se retire devido a sua indisciplina este, porém não é atendido. O que acontece é do professor usar-se da sua força para retirá-la pegando-a pelo ombro e levando-a até a porta da sala de aula. Perante essa situação o educador pode não se sair bem, pois a aluna contará aos pais e amigos e sua imagem não será bem quista. Deve-se ter ética mesmo que o profissional não se sinta confortável em situações de desagrado. Caso isso venha acontecer a melhor solução é de haver o entendimento dos dois lados através do pedido de desculpas. O controle de alunos perante a fala do professor é um desafio diário. Conheço professores que conseguem manter esse controle, mas qual o segredo? Não sei como professores fazem essa mágica. Quero muito aprender e conseguir dominar essas pimentas em forma de gente.
A experiência em sala de aula é muito importante, mas podendo conhecer certas atitudes de alunos indisciplinados e evitar momentos desagradáveis na prática isso será ótimo para o melhor desempenho do educador. Há alunos terríveis como aqueles que vão embora sem o professor mandar isso causa uma revolta muito grande quando observamos que os outros o acompanha. Cadê a autonomia e poder do professor? São os motivos do aluno contra os motivos do professor. Não sei que palavras posso direcionar aos alunos nessas situações. Fazer a repressão verbal é o mesmo que nada. Qual é o ponto fraco do aluno? A nota? Apenas isso? Não sei mais o que fazer, mesmo assim quero superar as dificuldades e aprender com elas. Sei que a dor nos faz sentir a razão e passar por isso será um ensinamento para toda a vida.
Momentos finais: a recuperação
As últimas chances estão lançadas nas provas de recuperação sejam elas semestrais ou finais. É nesse momento que alunos desesperados se humilham em frente do seu professor. Alunos estes são aqueles, em sua maioria, que não prestam atenção as aulas e tira a atenção dos colegas através de suas brincadeiras. A palavra que mais se ouvi é "ajuda" sendo para aquela nota que falta alguns décimos ou mesmo para fazer milagres. Esses milagres o professor pode avaliar o seu aluno pelo comportamento ou pela sua própria demonstração em querer aprender algo. Mesmo assim esse critério que o educador toma para avaliar certos alunos pode cair por terra, ou seja, não servirão para nada. Acontece que alunos com mais de três disciplinas não poderão ir para a recuperação final e são esses alunos que irão chorar, pegar no seu pé, se ajoelhar enfim, fazendo de tudo para não perder o ano ou mesmo para não apanhar de sua mãe. É a realidade principalmente em alunos de escolas públicas. Por isso essa afirmação é válida, mesmo para aquele profissional empenhado: a educação é uma farsa! Queira ou não ela é assim infelizmente. Alunos de escola pública são decadentes e sua situação piora. A recuperação da educação brasileira somente poderá ser resolvida na próxima geração? Existe ou não há culpados? Que situação cabulosa e muito chata e quase impossível de resolvê-la. Como professor que mesmo assim acredita na boa educação frente a tantos desafios, sempre serei otimista, pois a base de todo o desenvolvimento de um país será na área da educação e todo estrategista governamental sabe disso.