MERCADO MUNICIPAL DE ALMENARA: o olhar científico a partir do cotidiano

Por James Jesuino de Souza | 20/02/2017 | Adm

 Relato de Experiência - artigo foi utilizado no final do curso de Educação Cientítica em espaços não formais pela UFMG em 2015. Carga horária de180 h.

MERCADO MUNICIPAL DE ALMENARA: o olhar científico a partir do cotidiano

SOUZA, James Jesuíno de. [1]

 

RESUMO

 

 

Este relato de experiência foi um trabalho pesquisa de campo realizado no Mercado Odilon Souza Santana Municipal de Almenara, Minas Gerais, pelos alunos do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Tancredo Neves, quando ali trabalhei com a disciplina de Filosofia. O mesmo visa apresentar como se dá a pesquisa empírica seguindo a metodologia de catalogação de dados na tentativa de se verificar quais os produtos naturais mais vendidos no mercado e saber qual a média da renda obtida pelos vendedores (barraqueiros) estes durante um mês.

 

Palavras-Chave: Mercado Municipal, pesquisa científica, catalogação de dados,

 

  1. Introdução

 

            Este é um trabalho foi realizado com os alunos da turma do 2º ano da Escola Estadual Tancredo Neves, situada no Município de Almenara – MG, no primeiro semestre do ano de 2015. A proposta surgiu porque na época eu participava do curso de Educação Científica: educação não formal de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Assim, o trabalho procurava mostrar que é possível se fazer ciência em espaço que não sejam formais (academia científica) desde que se dê o trato adequado. Decidi juntos com os alunos a fazer pesquisa empírica com os alunos no Mercado Municipal do município supracitado, para que os alunos pudessem partir da vivência (prática) para a teoria, perpassando assim pelos teóricos da Filosofia que tratavam do tema (John Locke, David Hume e Francis Bacon).  

Nosso foco da pesquisa se deu por vários fatores, um deles porque queria demonstrar aos alunos que seria possível se experienciar que é possível se fazer ciência a partir do cotidiano mesmo quando se trata de conteúdo de um saber tão abstrato como a Filosofia. E o intuito era também contribuir para que os alunos sanassem os seguintes questionamentos: qual a finalidade de estudar Filosofia? Para que serve? E muitas vezes eu enquanto professor me via em situações embaraçosas se limitando a responder algo que talvez não respondesse a totalidade do que seja esse saber milenar.

            No século XVII com Francis Bacon, David Hume e John Locke surgiu a corrente filosófica chamada empirismo (esta corrente evidencia que o saber se forma pelo acúmulo de experiências sensíveis que o ser humano adquire ao longo da vida). Nesse sentido como desnaturalizar o olhar dos alunos para uma realidade do nosso cotidiano? Sem saber o que seria os alunos utilizaram o método indutivo empirista que consistiu em entrevistas junto aos vendedores de verduras nas bancas do mercado municipal.

            Em sala de aula o ponto de partida foi evidenciar qual a função da educação filosófica ou qualquer outro saber. Assim e chegamos à conclusão de que é ter olhar científico sobre a realidade. Nesse sentido evidencie aos alunos o que é pesquisa científica e como esta ocorre, para posteriormente apresentar aos mesmos que o empirismo advindo da Filosofia contribuir e muito para nos situarmos como sujeitos da produção do conhecimento, ou seja sistematizando o saber, isso o torna científico. Posteriormente apresentei aos mesmos como o empirismo influenciou o Positivismo de August Comte, em de como a ciência tornou-se domínio da natureza, os alunos aos poucos perceberam que aprender fazendo torno o aprendizado mais significativo.

            Nesse sentido, o trabalho perpassou pelas definições do que seria empirismo, positivismo e principalmente como se fazer ciência para se ter um olhar desnaturalizado da realidade que nos cerca.

Assim, os objetivos foram de fornecer o instrumento teórico e metodológico para que, ao final da disciplina, o discente tivesse capacidade para assimilar, compreender e explicar o que é ciência, empirismo e como se estabelece a metodologia científica; além de estabelecer relações, diferenças e similitudes entre o conhecimento científico e outras modalidades de conhecimento como o senso comum.

 

  1. Episteme ou Conhecimento

           

            Ao estudarmos Filosofia um dos temas principais que a mesma se debruça é sobre a teoria do conhecimento. Investigar as condições do conhecimento para saber a veracidade do mesmo. Desde os gregos antigos esta já era uma preocupação que movia a Filosofia de modo especial com os Pré-Socráticos como nos afirma Marcondes (2007) “Os pré-socráticos procuraram desenvolver formas de explicação da realidade natural independente do apelo das forças sobrenaturais (...) por visar explicar, entender os fenômenos por si mesmo”. Assim, a busca da arkhé (origem primeira das coisas) foi o primeiro passo para se fazer conhecimento.

            Desse modo ao longo da História a Filosofia se debruçou em querer saber o que seja a episteme. Que pode ser definido como ramo do saber que se deleita sobre os problemas filosóficos relacionados ao conhecimento. Já o conhecimento pode-se denominar como a uma espécie de consciência de conhecer, ou seja, da busca das verdades. Assunto, que desde os gregos antigos é tão instigante, e que tem movimentado a filosofia há séculos. Já em Platão o significado da palavra episteme é melhor compreendido se comparado com seu a doxa, a qual o filósofo denominou de “opinião” o qual o seu significado se aproxima a senso-comum; essa opinião conotação de um conhecimento mal elaborado, ou ainda cheio de pré-conceitos no sentido estrito da palavra. Desse modo, doxa pode ser compreendido como o conhecimento que expressa não à verdade, mas sim determinado ponto de vista, apenas parcial, mais relaciona com a subjetividade do que necessariamente com a averiguação dos fatos.

            Do ponto de vista, o de que a escola é o lugar da busca do saber científico, a preocupação deste artigo se pautou em procurar demonstrar para os alunos as definições acerca do que venha a ser conhecimento sistematizado e como se processa cada etapa, haja vista que o artigo surgiu não apenas como resultado do curso de Educação Científica, mas da prática da sala de aula ao estudarmos Empirismo e Positivismo.

            Segundo Aranha e Martins (2003) “O ato de conhecer é a relação que se estabelece entre a consciência de quem conhece e o objeto a ser conhecido”. Nesse caso em que nos debruçamos por meio deste curso em procurar fazer um conhecimento científico a partir da nossa realidade nos cabe fazer um paradigma o de romper com a “ideia de ciência que talvez nós estejamos mais acostumados (...) a uma certa visão tradicional constantemente encontrada na mídia não-especializada ou em declarações públicas de autoridades” Galvão (2015).

            O fato é que tanto para os gregos antigos como nos dias atuais fazer ciência ou conhecimento epistemológico é passar por etapas, ou processos, que vai desde a hipótese até ao seu resultado final. Nesse sentido, coube falar como os alunos o que seja problematização e no nosso caso como ela se estabeleceria

 

  1. O que é pesquisa

 

            Para Demo (2011) “pesquisa é atividade científica pela qual descobrimos a realidade. Partimos do pressuposto que a superficialidade não se desvenda na superfície”. Nesse caso como estamos trabalhando diretamente como um objeto que modifica-se constantemente que é a sociedade especificamente os feirante, cabe o olhar da Sociologia sobre nosso objeto de pesquisa aquilo que denomina-se de olhar desnaturalizado, ou seja como nos dize Demo (2011) desvendar o que está além da superfície, além do rasante. Já para Gil (2007, p. 17), pesquisa é definida como o (...) procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos.  No nosso caso descobrir qual a renda média por mês de cada dono de banca com a venda dos alimentos e posteriormente saber quais são os alimentos mais vendidos pelos feirantes (projeto atrelado ao Pacto pela Educação).

            Desse ponto de vista cabe a nós professores e alunos imaginarmos a pesquisa como um processo interminável, processual e não algo estanque principalmente em se tratando de pesquisa de campo como é a nossa em que os informantes podem muitas vezes omitir os dados por vergonha ou por medo. Contudo para se fazer pesquisa além de termos o objeto a ser pesquisado também devemos partir da problematização

 

  1. Problematização:

 

            Para Lakatos e Marconi (2001, p. 99), todo projeto de pesquisa deve responder às “[...] clássicas questões: o que? Por que? Para que, e para quem? Como, com que, quanto? [...]”, às quais acrescentamos outras: onde? Nesse sentido nosso problema em questão inicial foi procurar saber quanto recebe em média por mês cada um dos vendedores do mercado (aqueles que possuem bancas), posteriormente atrelado ao trabalho do Pacto pela Educação que evidenciou uma pesquisa sobre os alimentos também estamos buscando catalogar quais são os alimentos mais vendidos no mercado municipal de Almenara. A pesquisa inicialmente está voltada para os alunos mesmo no intuito de que eles mesmos aprenda a fazer ciência a partir do cotidiano.

           

  1. O que é conhecimento empírico

 

            Embora o empirismo, como concepção de ensino seja bastante utilizada pelos educadores, muitas das vezes os alunos não conseguem perceber de que método se trata e onde está sua origem. Nesse sentido, desmistificando as falas dos alunos “de que a filosofia não serve para nada” porque não tem uma práxis, uma das preocupações foi a de fundamentar o empirismo como sendo uma corrente de pensamento advindo da Filosofia e não de outras áreas do saber. E consequentemente como esta corrente está associada ao Positivismo método utilizado na Sociologia.

            De acordo com Aranha e Martins (2003) o Empirismo é a doutrina filosófica segundo a qual todo o conhecimento, com exceção do lógico e do matemático, deriva da experiência. Os empiristas negam a existência de ideias inatas, admitindo que a mente esteja vazia antes de receber qualquer tipo de informação; consideram que o conhecimento só é válido dentro dos limites da observação. Desse ponto de vista o empirismo também se aproxima do positivismo corrente do conhecimento empregada por August Comte que afirma ser o saber um conjunto de doutrinas de caracterizado sobretudo pelo impulso de uma orientação cientificista ao pensamento filosófico, em que a ciência se preocupa com o progresso do conhecimento.

 

  1. Metodologia empregada

 

            A metodologia utilizada sendo empregada para esta abordagem e foi a de caso hipotético dedutivo, com a formulação de questionários fechados, (os quais após concluídos) foram para aos mãos do professor de Matemática que estabeleceu uma análise do valor de ganho mensal dos vendedores de verduras, frutas do mercado municipal. Estes dados foram posteriormente analisados e tabulados em percentagem a partir dos dados coletados, visando o embasamento teórico do assunto a ser discutido.

O trabalho visou contribuir para uma aprendizagem significativa dos alunos nas disciplina Filosofia, utilizando-se do método científico de cunho empirista, estabelecido por Bacon, Locke e Hume que segue os seguintes passos: 1) fazer observações e experimentos que lhe fornecem informações controladas e precisas; 2) essas informações registradas sistematicamente, foram eventualmente divulgadas, para a comunidade escolar tivesse acesso e questionasse o método ou seja tipo se faz na academia. Foi escolhido um dia da semana para que os alunos explicassem para a comunidade escolar como fizeram o trabalho.

 

  1. Coleta e análise de dados

            Partimos do princípio de que os vendedores do mercado ganhavam em média de R$ 1000,00 a R$ 1.500,00, mas será que isso de fato era verdade? Após o questionamento lançado fomos para a prática com pranchetas e canetas. Em três sábados visitamos os 80 vendedores do mercado, os alunos sistematicamente instruídos de como deveriam abordar os ouvintes iniciaram com perguntas simples, de quais verduras eram mais vendidas, de quanto em média custava cada uma, até chegar a pergunta motivadora da pesquisa. Quanto ele recebia por final de semana e consequentemente por mês.

Ao todo tínhamos 5 equipes de 5 alunos, ao todo 25 pesquisadores. Ao final da pesquisa com a contribuição do professor de Matemática que ajudou na tabulação dos dados não apenas a média de quanto recebiam salarialmente, mas quantos por cento (%) ganhavam de fato o valor estimado por nós no início da pesquisa. Dos 80 pesquisados descobriu-se que nem todos eram moradores de Almenara, segundo que a média salarial que recebiam variava entre R$ 900,00 a R$ 1.300,00, sendo que 30 deles diziam receber média de R$ 900,00, uns 10 pesquisados R$ 950,00, 20 deles em média de R$ 1000,00 e os demais variavam entre R$ 1.100,00 a R$ 1.300,00. A princípios já tínhamos desmitificado que não arrecadavam o valor que hipoteticamente achávamos que ganhavam. Por conseguinte descobriu-se outros fatores, que haviam atravessadores que vendiam produtos advindos da Bahia e por fim que nem todos eram produtos orgânicos, embora essas ultimas análises não fossem nosso objetivo.

 

  1. Considerações Finais

 

            O trabalho foi de grande valia, pois levou os alunos a perceberem o valor da formação do conhecimento científico que está embasado, sobretudo na pesquisa de campo. Por conseguinte, a importância para as aulas de Filosofia, pois puderam agregar saber empírico, e perceber que teoria e prática pode ser possível até nos saberes abstratos. E de que é possível termos um olhar desnaturalizado do cotidiano a partir de acontecimentos ou fenômenos que nos cercam que até então não tínhamos voltado nosso olhar crítico, mas que na medida em que nos propomos a fazer ciência inclusive algo banal aos olhos de um ser comum pode ser estudado, com isso foi possível estudarmos, empirismo, ciência, indutivismo e por fim positivismo comtiano. Embora nem sempre seja possível partirmos da prática, mas que teoria e prática caminham juntas.

 

  1. Referencial

 

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia – Martins Fontes São Paulo 2003.

 

ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria Helena P. Filosofando, 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003.

DEMO, P. Introdução à metodologia ciência. 3º ed. São Paulo: Atlas, 2011.

 

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

 

LAKATOS, Eva Maria; MARCINI, Marina de Andrade. Metodologia a do trabalho cientifica. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2001.

 

 

GALVÃO, Afonso. Considerações sobre o conceito de ciência. Disponível em Acesso em 13/05/2015.

 

[1] Professor EBTT, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. Graduado em Filosofia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CES/JF, Especialista em Ensino de Filosofia no Ensino Médio pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM.