RELAÇÕES INTERNACIONAIS - O REALISMO CLÁSSICO NA ÓTICA DA SOCIEDADE ATUAL...

Por DIEGO PEIXOTO DOS SANTOS | 14/11/2016 | Política

RELAÇÕES INTERNACIONAIS - O REALISMO CLÁSSICO NA ÓTICA DA SOCIEDADE ATUAL: PERSPECTIVAS E QUESTIONAMENTOS

Diego Peixoto dos Santos

RESUMO

O pensamento realista sempre acompanhou o homem, antes mesmo de tais ensinamentos serem escritos ou discutidos pelos grandes filósofos e pensadores da vida humana de maneira pessimista.

O ser humano, desde seu início, unindo – se em pequenas sociedades com o objetivo de caçar animais maiores, direcionavam seus esforços coletivos para um bem maior, a satisfação de um desejo social comum, culminando no bem-estar individual daqueles que compunham o grupo.

Passando pela Idade Antiga, a sociedade medieval viu a aurora dos Estados nacionais, embrião político do que conhecemos como Estado.

Este, em sua amplitude, tem como objetivo principal o cumprimento das vontades e anseios daqueles que depositam sua fé em seu governante, pois o ser humano, em um determinado momento necessita dormir, descansar...mas o Estado nunca descansa, nunca dorme, tendo a capacidade de prover a segurança e o bem-estar de sua população durante todo o tempo.

Porém, se cada Estado envida esforços para manter a sua estabilidade interna, como podemos imaginar, em uma ótica realista, o ambiente internacional, no tocante às relações entre os Estados? Este questionamento é amplamente discutido e analisado por pensadores do Realismo Clássico, como Thomas Robbes, Tucídides e Maquiavel. Cada um deles, em sua época e sociedade, analisam o ser humano e seus anseios, e nos auxiliam a compreender comportamentos da sociedade atual.

 

  1. INTRODUÇÃO

A vida do homem em sociedade, desde seu início em pequenos grupos populacionais, passando pelos grandes impérios multiétnicos até os Estados nacionais como conhecemos hoje, é e sempre foi repleta de conflitos, atritos e animosidades, tanto na esfera pessoal quanto choque entre coletividades.

Aceitar diferenças, conviver com as mesmas e, acima de tudo, submeter - se à elas é difícil, ainda mais quando se luta diariamente para expor e fazer valer seus interesses e pontos de vista. Por isso, criou - se no ceio da humanidade juntamente com o conceito de sociedade, a coletividade e a aceitação de um ideal maior do que o individualismo, no intuito de se obter proteção mútua.

Thomas Hobbes (1588 - 1679), em seus pensamentos sobre o "estado de natureza" do homem, afirmou que inicialmente o ser humano é dotado de sentimentos ruins e voltado para o caos e para a guerra. Nesse meio, não há indústria, agricultura, artes, medicina, nem qualquer forma de progresso. O homem luta continuamente por seus interesses, não se importando com seu vizinho. Porém, em um determinado momento, estaria disposto a depositar sua devoção a uma entidade maior, capaz de o proteger continuamente, no momento em que aquele dorme, descansa...o Estado.

Ainda sobre Hobbes, quando se alcança a estabilidade dentro de um determinado Estado e, aceitando que outros Estados também o façam, entramos no famoso "dilema de segurança", pois criamos um ambiente de instabilidade internacional, onde cada Estado deve atuar de maneira a garantir os interesses, estabilidade, segurança e bem-estar de sua população, a despeito dos interesses de outros Estados vizinhos.

Dentro desses ensaios narrados por um dos maiores pensadores realistas da história, contextualiza - se a sociedade atual em que vivemos, com seus conflitos étnicos no continente africano, religiosos no embate sangrento entre o islamismo extremista e o cristianismo, político entre as grandes potências em busca de dominação e projeção global, econômico separando os países desenvolvidos dos subdesenvolvidos, dentre outros que recentemente levantam bandeiras que transcendem o conceito de Estado e figuram em pequenas minorias - grupos ativistas de liberdade sexual, uso de drogas e outras reivindicações.

Logo, pensar e refletir sobre Thomas Hobbes, Tucídides, Nicolau Maquiavel, Morgenthau e outros filósofos da Escola Realista não seria uma prática que se encaixaria apenas no âmbito da teoria, mas auxiliaria no correto entendimento do perfil do homem que vive em uma sociedade sem fronteiras, globalizada, que por muitas vezes assiste ao imperialismo das grandes potências de maneira passiva e sem perspectiva de mudança - afinal, impor uma vontade a outros grupos faz parte da política externa de um Estado nacional, pois ao realizar tal imposição, reflete os interesses de seu povo aos demais, demonstrando força - sendo, na maioria das vezes, inundado culturalmente economicamente por grandes potências que acabam fazendo de países subdesenvolvidos seu "depósito de cultura de massa e mercado consumidor".

Em síntese, pode - se afirmar com propriedade que várias questões delicadas que flagelam a sociedade atual encontram não só explicação prática, mas embasamento teórico e doutrinário em pensamentos de filósofos que viveram há anos atrás mas que, mesmo não sendo contemporâneos aos avanços tecnológicos de hoje, viviam também em sociedades conflitantes, pois o homem foi, é e sempre será um ser propício à guerra e ao conflito.

Dentro dessa ótica realista, este tema "O estudo do pensamento realista na sociedade atual" vem trazer à tona questões recentes de disputas de poder e conflitos de ideias que permeiam o homem no século XXI à luz de pensadores que foram e até hoje são referência do pensar e agir do homem em sociedade, e, além disso, definem em seus discursos filosóficos o comportamento dos Estados em sua política externa, nos tornando possível traçar vários perfis da política mundial que se apresentam nos dias de hoje, pois o ser humano está fadado a conviver em sociedade desde seu nascimento ao fim de sua existência.

Para contextualizar, podemos traçar um paralelo com dois discursos de pensadores que se perpetuam pela história: em seus estudos, o estrategista militar Carl Von Clausewitz (1780 - 1831) afirmou que, "a guerra é a continuação da política por outros meios"; já nos pensamentos do filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.), "O homem é por natureza um animal político".

Partindo das duas afirmações, podemos concluir que se o ser humano é por natureza um ser dotado de política - pois a política nada mais é do que a relação em sociedade - e a guerra configura - se como a continuação da política por outros meios, Clausewitz e Aristóteles, separados por mais de dois mil anos de história, convergem de maneira aterradora para Thomas Hobbes, quando este diz que "a condição do homem é a condição da guerra".

  1. O REALISMO CLÁSSICO

O realismo, em sua concepção fundamental, encaixa - se em quatro fundamentos básicos, sem os quais não seria possível seu estudo como escola das Relações Internacionais: (1) a visão pessimista da natureza humana, sempre agressiva e em constante estado de guerra; (2) afirmação de que as relações internacionais são, em síntese, conflitantes, em que pese os conflitos internacionais serem resolvidos sempre em beligerância; (3) maximização da segurança nacional e da subsistência do Estado; (4) incredulidade com relação à existência de um progresso comparável ao da vida política nacional no contexto internacional.

O ser realista é caracterizado por preocupar - se com sua existência em um ambiente de competitividade entre seres humanos, almejando sempre o seu bem - estar a despeito dos outros ao seu redor. Deste modo, o ser realista busca, continuamente, estar em posição dominante, e nunca dominado, pois o domínio por outro homem restringe sua liberdade e sua natureza. Logo, o homem realista esforça -  se para sempre estar em posição de liderança, sobrepujando aos demais por exemplos e ações, argumentos e capacidade cognitiva ou até mesmo pela força. Tal prática não é diferente entre as relações entre países.

Desde as civilizações primitivas, desde o momento em que os homens se uniram em comunidades, sempre existiu a figura do líder sobre os liderados, o alfa sobre seu grupo, o dominante sobre os recessivos. Tanto na Mesopotâmia quanto na Babilônia, do império de Carlos Magno à Escandinávia nórdica, o ser realista do homem sempre se fez presente, e se faz ao longo do tempo, o que nos leva a afirmar que essa atitude do ser humano é e sempre foi universal.

Tal ponto de vista pessimista da natureza humana está bastante evidenciado na teoria realista de Hans Morgenthau (1965;1985), provavelmente o principal pensador realista do século XX. Para ele, "homens e mulheres possuem um desejo pelo poder", fato que se apresenta notoriamente na política e, em particular, na política internacional: " A política é uma luta de poder sobre os homens e quaisquer que sejam seus objetivos finais, o poder é seu objetivo imediato e as formas de adquiri-lo, mantê-lo e demonstrá-lo determinam a técnica da ação política" (Morgenthau 1965:195).

Tucídides, Maquiavel e Hobbes também pensam assim. Para eles, a obtenção do poder é o objetivo central da política, e no âmbito internacional não é diferente, logo, a política internacional é retratada como uma "política de poder": um palco de guerras e conflitos constantes no qual as mesmas aspirações de segurança e defesa dos interesses nacionais de cada Estado se repetem várias vezes.

Dessa maneira, o realismo interpreta a política mundial tomando por base um pressuposto de anarquia internacional, na qual não existe um sistema de autoridade maior, predominante e setorial no ceio da política externa entre países. O Estado é o principal ator da política internacional, a qual não configura outra coisa se não a relação de interesses entre Estados. No realismo, outros atores, como a Organização das Nações Unidas, se tornam sem importância.

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