Relação entre serviço social e a comunicação "o comportamento ideológico da mídia, em relação à questão social".

Por Gustavo Fernando Gonçalves dos Santos | 25/03/2012 | Sociedade

1 – INTRODUÇÃO

Aspira-se com este trabalho certa compreensão sobre as mazelas da sociedade brasileira, com enfoque meramente opinativo do atual momento em que se vive por influências dos grandes meios de comunicação privados e seu aparato estrutural capaz de alcançar e refletir a vida dos brasileiros com visão exclusivamente comercial, que para isso pende para lados que possam além de conquistar seus objetivos, se manter no cenário das comunicações. Alerta-se que os desenvolvimentos aqui sugeridos partem de não especialistas em Teoria da Comunicação.

Abordaremos alguns resultados de um mini projeto de pesquisa sobre o comportamento ideológico da mídia televisiva, seu conflito com as emissoras comunitárias, e que conseqüência gera a questão social. O tema, que aqui se pretende levantar, são idéias que contribuam para Serviço Social e sua conexão com o universo midiático. Este universo pode representar ferramentas que são capazes de educar e socializar informações, disseminar conhecimentos indispensáveis ao reconhecimento pelos Poderes Públicos das demandas da população, a efetiva participação destes no processo decisório que envolve a valorização da comunicação.

Entretanto, uma reflexão sobre a estrutura midiática se faz necessário. Sua comunicação privada é revestida de caráter político, de estratégias ideológicas de manutenção das estruturas de poder. Esta estrutura é globalizada, e possuem clara dimensão político-ideológica, na qual visa construir, no inconsciente coletivo dos indivíduos, o consenso favorável ao modelo socioeconômico vigente, conhecido por Neoliberalismo. Compreender a complexidade dessa hegemonia é fundamental para possibilitar mobilização social. Nisto, o assistente social tem seu projeto ético-político, de desvendar esta realidade, bem como buscar instrumentos contra-hegemônicos.

Já as emissoras comunitárias são necessariamente administradas pela comunidade, seja de rádio ou qualquer uma das modalidades de televisão. O espaço da comunicação é um direito assegurado pela Constituição brasileira.

2 – ANÁLISES DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

 

A democracia reconhece as diferenças e com elas constrói-se a cidadania.

Etimologicamente, a palavra ideologia foi criada por Tracy, no séc. XIX, e significa ciência das idéias.  Entretanto, para Marx, ideologia consiste em uma visão do mundo, isto é, produto de uma época, especificamente de grupos sociais, estratos e classes, expressando os seus interesses, a sua atividade e o seu papel histórico; sua função é legitimar, justificar e contribuir, ou para a manutenção da ordem social existente, ou para a sua transformação. Atualmente, Ideologia designa um conjunto mais ou menos coerente de idéias e de crenças que influenciam os grupos ou que legitimam as respectivas formas de ação na sociedade.

Tal conceito expõe o quanto à mídia tem um papel decisivo em comunicar sua ideologia na sociedade. O acesso aberto e ilimitado da comunicação em qualquer de suas formas mostram dois lados da moeda, o primeiro informações capazes de incentivar novas idéias, o outro é o da cultura potencialmente capitalista.

Da veiculação, a mídia exerce relações de produção constituídas pelo regime de propriedade dos meios de produção - capitais, terras, ferramentas, máquinas, matérias-primas e tudo o que possa ser suscetível de ser usado para fins produtivos. No capitalismo, segundo Marx, essas relações são relações de classe, “proprietários e não proprietário”.

Com o advento da televisão, dava-se inicio ao fundamento “Aldeia Global”, articulado por Marshall Macullan[1].

No Brasil, as atividades da Rede Globo surgem em 1965, marca a transformação da televisão brasileira, se constituindo um grande marco da indústria cultural. Entre os programas mais vistos pela população nos meados de 1970, 10 eram desta emissora.

A burguesia continuamente se amparou dos seus meios de comunicação de massas para reproduzir-se como classe dominante, utilizando estruturas, lícitos e ilícitos, para resguardar seus interesses. Por outro lado, uma comunicação contra-hegemônica sempre esteve presente nas organizações políticas das classes trabalhadoras.   

 

 

3 – ANÁLISES DA OPINIÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

 

Em pesquisas nas páginas (sites) da Internet, no PLT, procurou-se averiguar questões que pudessem identificar a dimensão dos meios de comunicação em massa como classe dominante, hegemonia que dita padrões para modificar ou transformar a questão social. Foi constatado o quanto emissoras de televisão privada, como a Rede Globo principalmente, exerce por meios de suas forças produtivas, domínio cultural sobre a sociedade brasileira. Suas ferramentas e métodos compreendem habilidades, técnicas, tecnologias, instrumentos que determina um só padrão, um modo que a maioria das emissoras de televisão copia. Assim, seus artistas, trabalhadores, são tão conscientes que estão dentro dos lares que agem com cortesia – Boa noite!.

Suas tecnologias privadas permitem fixar os preços das informações, pois irrigam a alienação, possibilitando o risco de subtração de outras fontes informativas que favoreçam a opinião pública, ou seja, produzem uma uniformidade absoluta na produção do consentimento humano.

 

 

4 – ESTUDO DE CASO: ARGUMENTOS IDEOLÓGICOS

 

Vale advertir que a mídia televisiva se baseia em corrente comercial por traz dos bastidores, pouco a pouco essa ignora os conceitos morais que não podem ser exigidos pela sociedade, por falta de conhecimento, e nem o Estado esta sensível a essa sedução mercantil, pois os que o representam estão mais interessados que o capitalismo funcione do que a saúde dos telespectadores e dos que serão a nova geração futura.

A desculpa das emissoras quanto a respeito deste fato que corrompe ainda mais a natureza do ser humano é a globalização das informações sejam elas sadias ou contaminadas e, se o Estado questiona por causa da pressão de alguns atentos, se vitimam de censura governamental, empurrando conceitos próprios na sociedade.

As realidades nos meios de comunicação atual mostram que o programa que vem a acrescentar algo de relevância para a população não tem sido priorizado, pois são apresentados na grande maioria das vezes no horário em que as pessoas não conseguem acompanhar, mas por outro lado, os programas que apresentam alto índice de violência e sensualidade são priorizados nos horários titulados “nobre”, em que uma gama da população inclusive as crianças e adolescentes são feitos vítimas pelo seu alto grau de curiosidade que é normal para quem esta nesta fase primordial, que é a descoberta daqueles que os envolvem.

A conquista de uma lei que regulamenta as rádios comunitárias foi uma conquista do povo.

                        Foi preciso muita garra, muita energia, muita resistência, e muita teimosia para suportar esta luta. Graças aqueles que fazem as verdadeiras rádios comunitárias a lei foi aprovada. Sabemos que existem muitas disfarçadas, querendo se passar por comunitárias. A resistência constrói o país.

Embora seja um direito outorgado pela Constituição brasileira e já
exista uma Lei para as rádios comunitárias (9.612/98) o Governo
continua utilizando uma lei ultrapassada, a 4.117/62, para fechar
emissoras, levar equipamentos e prender pessoas. Tudo isso é ilegal.

As emissoras comerciais, seja de rádio ou TV, adotaram um padrão que visa, unicamente, o lucro dos patrões. O ouvinte não passa de um
consumidor; um ser manipulado para consumir produtos, seja um carro do
ano, uma geladeira, ou as teses neoliberais do presidente modernista.
Não existe compromisso com a sociedade. O compromisso dessas emissoras
é sempre e em primeiro lugar com o capital, jamais com o trabalho.

Em contrapartida uma emissora comunitária se estabelece em duas correntes. A primeira é o conselho dirigente, formado por representantes
da comunidade. A segunda é a programação, que deve ser voltada para os
interesses da comunidade, com todas as diferenças segundo uma postura ética e política que construa a cidadania e o exercício da democracia.

São diversos aspectos que difere as emissoras comerciais das emissoras comunitárias. As emissoras comunitárias não são de empresários ou de partidos, pertencem à coletividade, todos têm direito a voz.

 Lastimável que com tantas qualidades, as emissoras comunitárias percam espaços para as emissoras privadas, que alienam seus ouvintes, esses só escutam o que é peculiar ao seu comércio, ficam sensibilizados pelo clima criado, por meio de sentimentos, o que favorece a recepção das mensagens. As gravadoras determinam a programação das rádios comerciais e assim o gosto do público, fazendo com que o povo compre aquilo que elas querem.

Uma emissora comunitária não pode ser sensacionalista. Ela deve estar consciente que faz parte da comunidade e, portanto, o que fizer está fazendo por si, pelos seus integrantes.

No final do século XX, surge a possibilidade da população produzir e ter acesso à informação, isto é, por meio das rádios e televisões comunitárias.
São quatro as formas de se exercer a democracia na comunicação; a primeira são as Rádios Comunitárias depois de desgastantes batalhas contra o Governo e a
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT); a segunda são as Televisões Comunitárias em Sinal Aberto; a terceira são as Televisões a Cabo Comunitárias e; a quarta são as Radiodifusões Públicas.

[...] “Depois de 40 anos de sacanagens contra o povo brasileiro, a concessionária do serviço público de radiodifusão denominada TV Globo, da família Marinho, está empenhada agora em parecer uma emissora boazinha, preocupada com as manifestações culturais do povo, interessada em projetos sociais, e aberta ao diálogo com a sociedade. Um de seus projetos é envolver estudantes e professores e aplacar, nas universidades, a visão crítica sobre a verdadeira história da Rede Globo” [2].

Porém são poucas as pessoas que conseguem visualizar o comércio sombrio que foca mais a promoção pessoal de alguns do que realmente contribui para a justiça comum, que não vise o consumo desacertado de futilidades da moda e sim o bem estar e o consumo consciente, que enxergue também a possibilidade e potencial em todas as pessoas, beneficiando o todo e não a singularidade de uma pequena classe.

A Constituição brasileira de 1988, no seu art. 5, positiva pontos sociais de direitos fundamentais da pessoa humana, porém, com políticas que envergonham o próprio texto e os contextos da coletividade, a sociedade sofre nas mãos de seus representantes que, em troca de favores com a classe econômica (burguesia), perpetuam no Poder por meio de seus Partidos Políticos.

 

5 – CONCLUSÃO

A relação entre Serviço Social e comunicação pode ser abordada sob vários ângulos. Atualmente, precisamos ultrapassar os limites da mera interatividade entre o público e os meios de comunicação para processar conhecimentos, analisar cenários, estabelecer nexos entre os discursos políticos e as práticas sociais. Tais análises são essenciais para a compreensão, no âmbito do Serviço Social e das Ciências Sociais em geral, da chamada questão social e das profundas desigualdades sociais que marcam o contexto mundial e particularmente o Brasil. Ficou demonstrado o papel primordial que as Comunicações devem exercer para a ampliação do horizonte das conquistas sociais por Liberdade, Justiça social, Democracia e Equidade. As vanguardas das classes trabalhadoras em todo o mundo passaram também a valer-se de instrumentos de comunicação como forma de combater a hegemonia burguesa e de instituir canais de interlocução com suas bases, com vistas à afirmação de uma nova hegemonia na sociedade[3].

Em uma sociedade dividida em classes, os interesses antagônicos são evidentes e conseqüentes, destarte, as grandes redes de comunicação estão nas mãos de certa classe muito mais favorecida, sendo esta a burguesia (detentores privados dos meios de produção). Os meios pelo qual as tecnologias da comunicação e informação são veiculadas, e estes meios com todo o seu aparato, chegam até o receptor marcado de intenções ou influências de quem a veicula, seja na manutenção, seja de transformação.

O Assistente Social é o profissional que tem como objeto central da sua ação compreender as “questões sociais”. O enfoque do profissional da Assistência Social deve pautar-se no papel ético, no compromisso político deste com a democratização do acesso, democratização da participação e a criação de meios para a classe trabalhadora a àquilo que é produzido no seio da sociedade como direito de todos.

Grande parte da ira violenta das pessoas nos lares se origina de aspectos individuais como o consumo desenfreado. Contudo, na pressão do dia a dia, faltam refeições mínimas diárias, trabalho decente, acesso a uma educação saudável, atendimento médico que priorize a vida, necessidades básicas para a dignidade humana.

De fato, a falta é o resumo do que se desrespeita, a omissão destas questões complacentes é vislumbrada pelos os detentores de mandatos que se omitem para permanecerem no poder com exploração e dominação, sendo supridos pelas relações produtivas do capital privado.

Conclui-se que a violência está não só no ato físico propriamente dito e sim em dimensões tão complexas pela barganha mundial que tem como deus o lucro financeiro que despreza e subestima uma sociedade vulnerável e alienada, seja pela falta de conhecimento, seja pela falta de meios para adquiri-lo.

No conflito capital x trabalhadores, é que o assistente social se legitima, se posiciona, propagando iniciativas válidas no uso de uma comunicação clara e atraente, contribuindo para o direito de cidadania elementar, por princípios que vincule a construção de uma nova ordem societária, sem dominação – exploração de classe, etnia e gênero, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática, posicionando-se em favor da equidade e justiça social, defendendo a democracia, enquanto riqueza socialmente produzida, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras, contribuindo para o bem-estar social e econômico, de acordo com padrões que garantam a dignidade humana[4]

[...] a mídia torna disponíveis formas de experiências que são totalmente novas, independente de terem sido gradualmente separadas (ou não) do fluxo normal da vida cotidiana. Quem quer que veja a televisão hoje, com uma freqüência moderada, já deve ter assistido a inúmeras mortes naturais ou violentas (tanto simuladas quanto reais), terá visto crianças morrendo de fome ou de epidemias, terá presenciado guerras, conflitos e supressões de demonstrações públicas, que ocorrem em partes diferentes do mundo. Terá visto assassinatos, golpes de Estado, revoluções e contra-revoluções – terão visto estes e muitos outros eventos desdobrando-se diante deles em suas TVs, eventos que não poderiam ter sido vistos pela maioria das pessoas antes do advento da TV[5].

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

ESCOLA SECUNDÁRIA DE ALBERTO SAMPAIO. Notas de Apoio à Disciplina de Sociologia. A Ideologia. Disponível em: <http://www.esas.pt/dfa/sociologia/ideologi.html>. Acesso em: 04 maio 2011.

 

relações de produção. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-05-05]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$relacoes-de-producao>. Acesso em: 04 maio 2011.

 

SALES, Mione Apolinário; RUIZ, Jefferson Lee de Souza (Orgs.). Mídia, Questão Social e Serviço Social. – 2. ed. – São Paulo: Cortez, 2009. 405p.

 

TV LATA. Disponível em:<http://www.tvlata.org/tvcomunitaria>. Acesso em: 14 jun 2011.

 

Código Civil Brasileiro (art. 3 e 4). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

 

THOMPSON, J. B. A Mídia e a Modernidade: Uma história social da mídia. Petrópolis: Vozes, 2004. 264 p.

 

 

 


[1] In: Oliveira (2000, p.22)

 

[2] Por. Hamilton Octavio de Souza, 19/5/2005, no Brasil de Fato

 

[3] (Cf. Braz, 2009)

 

[4] (Cf. Araújo, 1998 e Varela, 1999)

 

[5] Thompson (2004, p. 197)