Relação da Deficiência Visual com a Prática de Atividades Físicas e Esportivas

Por Joao Oliveira | 01/11/2008 | Educação

O QUE É DEFICIÊNCIA VISUAL

Segundo GHORAYEB, Nabil. (2004) Deficiência visual é a falta do sentido da visão, ou seja, é a perca total ou parcial da visão fazendo com que o portador da deficiência acabe dependendo de recursos para sua locomoção e aprendizagem.

A deficiência visual pode ser caracterizada por congênita ou adquirida.

Congênita – Quando o individuo nasce com a deficiência, ou seja, ele não forma conceitos.

Adquirida – Quando no decorrer da vida a pessoa acaba adquirindo a deficiência, mais ou menos por volta dos 3(Três) anos de idade, pois a partir desta idade a criança já tem percepção e já forma imagens.

A resposta visual pode ser leve, moderada, severa ou profunda. (cegueira). O indivíduo com baixa visão ou visão subnormal é aquele que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo após tratamento e/ou correção óptica convencional, sendo assim também considerado como um deficiente visual.

FATORES DE RISCO

Histórico familiar de deficiência visual por doenças de caráter hereditário.

Diabetes, hipertensão arterial e outras doenças sistêmicas.

Não realização de cuidados pré-natais e prematuridade.

Não imunização contra rubéola da população feminina em idade reprodutiva, o que pode levar a uma maior chance de rubéola congênita e conseqüente acometimento visual.

DIAGNÓSTICO

Pode ser detectado através de exames feitos por um oftalmologista que pode lançar mão de exames subsidiários. Nos casos em que a deficiência visual está caracterizada, deve ser realizada avaliação por oftalmologistas especializados em baixa visão, que fará a indicação de auxílios ópticos especiais e orientará a sua adaptação.

ALGUNS TIPOS DE DEFICIENCIA VISUAL

Segundo GHORAYEB, Nabil (2004) Astigmatismo É uma deficiência visual, causada pelo formato irregular da córnea ou da cristalina formando uma Imagem em vários focos, que se encontram em eixos diferenciados.

Daltonismo (Também chamado de discromatopsia ou discromopsia) é uma perturbação da percepção visual caracterizada pela incapacidade de diferenciar todas ou algumas cores.

Miopia É o nome alternativo ou popular dado ao erro de refração da luz no olho cujo nome técnico é hipometropia que acarreta uma focalização da imagem antes desta chegar à retina. Uma pessoa míope consegue ver objetos próximos com nitidez, mas os distantes são visualizados como se estivessem desfocados.

Baixa Visão - Quando o deficiente visual é privado, em parte (segundo critérios pré-estabelecidos) ou totalmente da capacidade de ver. Baixa visão (ou visão subnormal) é o comprometimento do funcionamento visual em ambos os olhos, mesmo após correção de erros de refração comuns com uso de óculos, lentes de contato ou cirurgias oftalmológicas.

Estrabismo - Estrabismo é um tipo de alteração ocular que desalinha os olhos para direções diferentes e representa a perda do paralelismo dos olhos. Ele é causado pelo desalinhamento dos músculos oculares. O desvio dos olhos pode ser constante e sempre notado.

CLASSIFICAÇÕES QUANTO A DEFICIÊNCIA VISUAL


 Há várias classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e os fins que se destinam. Para GHORAYEB, Nabil. (2004) elas surgem para que as desvantagens decorrentes da visão funcional de cada indivíduo sejam minimizadas, pois apesar das pessoas com deficiência visual possuírem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, que interferem de forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo. Desta maneira as classificações são definidas sob os aspectos: Legais, Médicos, Educacionais e Esportivos.

A- Classificação Legal


 Abaixo seguem as leis federais que surgiram no segmento da Constituição de 1988, a chamada Constituição Cidadã, que estabeleceu uma condição de igualdade entre as pessoas, de acordo com as características de cada um, e como tal, as pessoas com deficiência, o pleno exercício da cidadania e da integração social. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DESPORTO PARA CEGOS (2003).

Leis no âmbito do desporto 10.264 (Lei Piva) e 9.615 (lei Pelé), de 16 de julho de 2001.

A lei 10.264, conhecida como Lei Piva foi sancionada pelo ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, estabelecendo que 2% da arrecadação bruta das loterias federais do país sejam repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (85%) e Comitê Paraolímpico Brasileiro (15%).

Lei Nº 7.853, de 24 de Outubro de 1989.

 Dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da pessoa portadora de deficiência - corde. Institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do ministério público, define crimes, e dá outras providências.

Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996.

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.


B - Classificação Médica


Segundo o texto da ACSM (American College of Sports Medicine) (1997) citado por Fugita (2002) a cegueira pode ser definida como:

Cegueira por acuidade: Significa possuir visão de 20/200 pés ou inferior, com a melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20 pés ou 6,096 metros, o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros (ou seja, 1/10 ou menos que a visão normal), onde 1pé = 30,48 cm.

Cegueira por campo visual: Significa ter um campo visual menor do que 10° de visão central - ter uma visão de túnel.

Cegueira total ou "não percepção de luz": É a ausência de percepção visual ou a inabilidade de reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho.


C- Classificação Esportiva


B1:
Ausência total da percepção da luz em ambos os olhos, ou alguma percepção da luz, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão em qualquer distância ou sentido.

B2: Da habilidade de reconhecer a forma de uma mão até uma acuidade visual de 2/60 metros e/ou um campo visual inferior a 5º de amplitude.

B3: Desde uma acuidade visual superior a 2/60 metros até 6/60 metros e/ou um campo visual de mais de 5º e menos de 20º de amplitude.

 A letra "B" refere-se ao tremo Blind, que significa cego, segundo a International Blind Sport Association (2005). São as classificações que permitem a elaboração de programas de atividades baseando-se nas características individuais dos alunos, isso vai resultar em um melhor aproveitamento por parte dos mesmos, permitindo a construção do seu desenvolvimento global


D- Classificação Educacional

  
  O instrumento padrão visual é a escala de Snellen, que consiste em fileiras de letras de tamanhos decrescentes que devem ser lidas a uma distância de 20 pés. Os escores são baseados na exatidão com que a pessoa com deficiência visual foi capaz de identificar as fileiras de letras utilizando um olho de cada vez.

TIPOS DE ATIVIDADES FÍSICAS PARA DEFICIENTES VISUAIS

Segundo ROSADAS, Sidney de Carvalho (1989) A atividade física para o deficiente visual deve ser baseada no processo de desenvolvimento do ser humano tendo em vista a identificação das necessidades e potencialidades de cada individuo, respeitando sempre oespaço físico, recursos materiais e modificações de regras.

Atividade de manutenção de equilíbrio – O equilíbrio é conseqüência de uma boa postura sendo que para mantermos o equilíbrio é necessário que a nossa linha de gravidade esteja sempre no meio de nossa base de sustentação.

Os exercícios de equilíbrio devem ser divididos por grau de dificuldade, tendo em vista a melhor adaptação do deficiente visual ao exercício proposto.

Alguns exercícios de manutenção de equilíbrio:

Caminhar sobre um banco ou uma linha em alto relevo.

Caminhar em linha reta intercalando com giros de 360º graus

Caminhar sobre a ponta dos pés

Caminhar sobre os calcanhares

Subir e descer escadas

Ficar apoiado em uma perna só por vários segundos

Atividade de marcha e coordenação – A marcha nada mais é do que uma sucessão de desequilíbrio, seguida de correções dos mesmos, sendo consideradas normais quando o corpo está alinhado aos eixos em que as passadas são proporcionais as pernas respeitando a seqüência da marcha que é: apoio, aceleração e impulsão.

Qualquer movimento fora destes padrões não é considerado correto podendo haver riscos de lesões.

Lembrando que os deficientes visuais congênitos tem maior dificuldade em realizar a marcha, pois carregam em seu deslocamento algumas inseguranças e restrições..

Alguns exercícios que podem auxiliar na marcha:

Palmas das mãos voltadas para baixo na frente dos quadris. O Aluno deveraelevar os joelhos até encostar os joelhos na palma das mãos.Este exercício deve ser realizado o mais naturalmente possível.

Elevar os joelhos alternando os braços.

Determinar o comprimento das passadas e demarcá-lasno solo, depois disto fazer o aluno pisar justamente aonde estava demarcado. Este exercício ira auxiliar o deficiente visual quanto a dimensão.

Corrida moderada sempre com o auxilio de um guia é essencial para a melhora da marcha.


 ESPORTES PRATICADOS PELOS DEFICIÊNTES VISUAIS


Segundo WINNICK, Joseph (2004) as organizações que trabalham com Atletas que possuem deficiência visual são:

United States Association for Blind Athlets ou Associação de Atletas Cegos dos Estados Unidos (USABA) ou a International Blind Sports and Recreation Association ou AssociaçãoInternacional de esportes para Cegos (IBSA). Estes órgãos têm por finalidade promover competições esportivas para atletas com deficiência visual no mundo Inteiro alem de mudar a atitude tomada em relação aos deficientes visuais.

Estes são alguns esportes praticados pelos deficientes visuais: Atletismo, Natação, Goalball, Judô entre outros

ATLETISMO - As provas do atletismo adaptado podem ser disputadas por atletas com qualquer grau de deficiência visual, pois os mesmo serão distribuídos em classificações b1, b2, b3, tanto na categoria feminina quanto na categoria masculina, competindo entre si nas provas de pista, de campo e na maratona.

No atletismo adaptado para atletas deficientes visuais os atletas B1 e B2 possuem por direito de correr em duas raias, unidos por uma guia de 5 a 50 cm, ao atleta-guia. O atleta-guia poderá passar instruções de colocação e posição nas raias para o atleta e estará impedido de dar orientações técnicas e de pronunciar palavras de motivação aos atletas. Nas provas de campo os atletasb1 e b2,tambémpoderão fazerusodoatleta-guiasendoque o mesmo passara instruções de localização de para onde e quando os atletas deverão arremessar ou saltar.Os atletas b3 não possuem o direito de usar o atleta-guia nem em provas de campo nem nas de pista, e o mesmo só poderão correr em uma raia, deferente dos atletas b1 e b2 que poderão correr em duas raias.

A pontuação será calculada através das tabelas de pontos da IAAF.

NATAÇÃO - Poucas regras foram adaptadas para a prática de deficientes visuais. Elas se baseiam nas normas da FINA - Federação Internacional de Natação - e as provas disputadas são as mesmas: livre, costas, peito e borboleta, divididas por categorias de classificação oftalmológica B1, B2 e B3, sendo que cada uma disputa entre si. No início da década de 1980 foi introduzido o tapper nas provas para atletas B1 e B2. O tapper nada mais é do que um técnico que fica à beira da piscina segurando um bastão com uma bola de tênis na ponta, que serve para tocar nas costas do atleta para que ele saiba a hora exata da virada. Para os nadadores B1 é obrigatório o uso de uma venda totalmente opaca.Foi apenas em 1988, nas Paraolimpíadas de Seul, que a natação para deficientes passou a fazer parte do quadro paraolímpico.

GOALBALL - Esta modalidade foi criada especialmente para os deficientes visuais, ao contrário de outras, que foram adaptadas. O Goalball é um esporte coletivo, onde participam duas equipes de três jogadores, com no máximo, mais três atletas reservas. Competem, na mesma classe, atletas classificados como B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da International Blind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculinas e femininas.
O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajetória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade de orientação espacial do jogador para saber onde está localizada. Por isso o silêncio absoluto é muito importante para o desenvolvimento da partida.
O principal objetivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de gols em dois tempos de 10 minutos jogados. Os três jogadores atacam e defendem.

O local de competição deve ser um ginásio com uma quadra retangular, dividida em duas metades por uma linha central, com um gol (de 9 metros de largura e 1,3 de altura) em cada extremo. Não é permitido o uso de próteses, óculos ou mesmo lentes de contato. Todo jogador deve usar vendas de pano totalmente opacas (ou óculos opacos de esqui), de modo que aquele que possui visão residual não possa obter vantagem sobre um companheiro totalmente cego.

JUDÔ - Judô é a única arte marcial dos Jogos Paraolímpicos. Essa modalidade se tornou paraolímpica em Seul, 1988. A estréia das mulheres foi feita em 2004, nos

Jogos de Atenas.

Com a filosofia de ética, respeito ao oponente e às regras, o esporte dá ao atleta um grande aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico, fundamentais no cotidiano dos deficientes visuais. Aprender a cair é também muito importante para dar segurança ao judoca. Insegurança gera tensão muscular, o que atrapalha os movimentos.
As principais competições internacionais são as Paraolimpíadas, Jogos Mundiais da IBSA,  Campeonato Mundial,  Campeonatos Continentais e a Copa Mundial.

Judocas das três categorias oftalmológicas, B1, B2 e B3, lutam entre si e o atleta cego (B1) é identificado com um círculo vermelho em cada ombro do quimono. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Judô - I.J.F., com as seguintes adaptações:

A luta é interrompida quando os competidores perdem contato;

Os judocas não são punidos quando saem da área de combate;


ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS


Segundo GHORAYEB, Nabil. (2004) Ao acompanhar o deficiente visual deixe que ele sempre segure em seu braço e não você segurar no braço dele, pois isto trás uma sensação de desconforto para o deficiente.

Ao se dirigir ao deficiente visual não precisa gritar com ele, basta se dirigir com o tom de voz normal, pois ele é "cego" e não surdo.

Fornecer instruções básicas para o reconhecimento do ambiente.

Usar comunicação verbal e o tato.

Usar formação em roda ao aplicar uma atividade para melhor segurança.

Se possível adaptar o local em que será feito a atividade.

Evitar a mudança de lugares.

Evitar comentários maldosos ou piadas que façam com que o deficiente visual se sinta mal ou constrangido em determinada situação. (Importantíssimo)

Adaptar matérias para melhor rendimento

Avisar quando chegar perto ou se afastar do aluno.

Incentivar o deficiente durante o processo de aprendizagem.

Procurar desenvolver o espaço – temporal do portador de deficiência visual

Nunca deixar de perguntar se o deficiente visual quer ajuda.

Estimular a integração quando possível.


CONCLUSÃO

Este Trabalho procurou demonstrar de uma maneira simples e objetiva que o deficiente visual tem totais condições de realizar atividades físicas ou praticar esportes tão bem quanto uma pessoa não deficiente, bastando apenas pequenas modificações no que diz respeito às regras e adaptação dos locais em que as atividades deveram ser realizadas, sendo que o conhecimento do próprio corpo está intimamente vinculado ao desenvolvimento geral do deficiente visual. Portanto podemos dizerque a relação existente entre a deficiência visual e a pratica de atividades físicas e esportivas é justamente a evolução do deficiente visual, enfocando também aspectos como a autoconfiança, o sentimento de mais valia, o sentido de cooperação, o prazer de poder fazer e as interfaces dessas valências afetivas com o seu cotidiano na família, na escola e na sociedade. A atividade física assim cumprirá sua função de importante elemento facilitador no caminhar do deficiente visual rumo à sua emancipação social, possibilitando-lhe condições básicas que o capacitem futuramente a praticar esportes e a superar as barreiras, de diversos tipos e intensidades, que certamente lhe serão impostas durante sua vida.