Reflexões sobre a atual conjuntura brasileira

Por João Silva Néto | 03/08/2010 | Política

Uma análise de conjuntura é um retrato dinâmico de uma realidade e permite compreender as relações entre as partes que formam o todo, pois a totalidade é um conjunto de múltiplas determinações.
A seguir, serão apresentadas sob o prisma do autor idéias sobre as variáveis que interferem na conjuntura atual do País.
Primeiramente, do ponto de vista político, várias situações ao longo dos últimos anos evidenciaram que o cenário brasileiro é marcado por grande instabilidade e escândalos envolvendo parlamentares de vários partidos, causando um enorme descrédito perante a sociedade brasileira, prejudicando a imagem de instituições políticas do País e motivando manifestações populares organizadas por diversos setores e segmentos sociais.
Também é possível afirmar que a grande divergência de idéias (ideologias) e de interesses partidários cria sérios atrasos no processo de votação de vários projetos de interesse nacional, colocando muitas vezes em dúvida o grau de comprometimento da classe política com os problemas e anseios dos brasileiros em geral.
Além disso, o desconhecimento das origens e do viés político dos partidos por parte da maior parte dos eleitores e a falta de cultura relativa às Ciências Políticas no Brasil criam condições favoráveis para que pessoas com pouca ou nenhuma qualificação intelectual/profissional nessa área do Conhecimento e sem visão de Estado ocupem posições de elevada representatividade, beneficiadas por tais deficiências e utilizando-se de discursos, projetos e promessas para atender e/ou melhorar as necessidades básicas da grande massa da população, as quais, quando realizadas, são consideradas como medidas paliativas para tais anseios.
Ainda neste contexto, tem sido levantada em várias situações onde são debatidos por especialistas assuntos referentes à Política Nacional a necessidade de uma Reforma Política no País, com o intuito de melhorar o sistema eleitoral nacional e proporcionar melhores condições à classe política em apontar e apresentar soluções para os problemas estratégicos nacionais.
Na área econômica, observa-se que o País tem realizado esforços para manter a moeda nacional estável, controlar a inflação, manter a Balança Comercial favorável (diferença entre exportações e importações) e evitar o aumento da dívida externa.
A descoberta de reservas de petróleo no pré-sal trouxe uma grande expectativa em relação à capacidade das reservas nacionais, podendo colocar o Brasil entre os seis maiores produtores mundiais.
Em relação ao crescimento econômico, pode ser afirmado que, mesmo após a crise financeira mundial de 2009, alguns setores como a indústria, o comércio (materiais de construção, de óleos e lubrificantes e de papelaria e publicações impressas) e a agropecuária tem apresentado novamente um bom desempenho.
No que diz respeito à distribuição da renda e melhoria do poder aquisitivo, a política de aumento real do salário mínimo, com reajustes anuais acima da inflação, tem sido um dos principais instrumentos para diminuir as desigualdades existentes.
Além dos fatores acima, estima-se que a taxa de desemprego no País em 2010 sofra uma pequena redução em relação ao ano anterior.
Em relação à expressão psicossocial, o País se caracteriza por possuir uma nítida diversidade racial, cultural e religiosa.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 foi levantado que o Brasil apresenta uma população de 192.304.735 habitantes, sendo assim a quinta nação mais populosa do planeta, ficando atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia, respectivamente.
Apesar de ser considerado um país populoso, sua densidade demográfica é baixa, tendo em vista sua enorme extensão territorial (8.514.876 Km2), apresentando aproximadamente 22 habitantes por Km2.
Tais dados permitem um melhor entendimento dos motivos da existência desigualdades sociais e regionais, sejam por questões ligadas ao desemprego, déficit habitacional, saneamento básico, saúde pública e educação.
Ainda assim, os esforços de sucessivos governos têm proporcionado uma pequena melhoria da qualidade de vida da classe mais pobre da população.
Contudo, a problemática das tensões sociais no Brasil envolve diversos fatores, como a ausência do Estado em algumas áreas críticas, a luta pela terra, as questões indígenas e quilombola, os problemas ligados à violência urbana (Direitos Humanos), o crescimento desordenado das grandes cidades e a questão da segurança alimentar, ocasionando o surgimento de vários movimentos organizados que algumas vezes comprometem a Ordem Pública.
Além dos aspectos acima destacados, cabe mencionar que alguns segmentos da sociedade brasileira enfrentam uma crescente crise moral com desprezo por aqueles e outros valores morais e éticos, disseminando uma sensação de impunidade e desrespeito ao princípio da autoridade, afetando com isso a coesão nacional.
No campo militar, é importante destacar que o Brasil é um país de dimensões continentais e é considerado no âmbito global como uma potência regional. Neste sentido, tem sido destacada a necessidade do País manter suas Forças Armadas capazes de projetar poderio militar num espaço maior do que a sua própria base territorial com oportunidade e eficiência para a conquista dos Objetivos Nacionais.
Recentemente, foi elaborada a Estratégia Nacional de Defesa para tentar ajustar em médio e longo prazo o seu Poder Militar à sua estatura política e econômica e ao seu nível de influência no atual cenário global.
A atual política externa brasileira vem tentando, através de suas Relações Internacionais, possibilitar que o País participe de maneira mais significativa na elaboração da agenda internacional, o que é caracterizado pelo pleito por uma posição de membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a busca de acordos com blocos econômicos e grupos de países.
Para que sejam alcançadas tais metas, o Brasil precisará dispor de Poder Militar para respaldar suas posturas e com capacidade de neutralizar pressões internas e externas contrárias aos interesses nacionais.
Neste sentido, pode-se observar que debates e estudos sobre a necessidade de reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras e fortalecimento da estrutura nacional de defesa têm aos poucos ocupado espaço e obtendo relevância em diversos níveis da sociedade.
O atual esforço para se desenvolver uma mentalidade de defesa no Brasil tem possibilitado a discussão de diferentes assuntos relativos a este campo do poder, tais como reconhecimento externo do poder nacional brasileiro, neutralização das pressões internacionais sobre a Amazônia brasileira, interesses estrangeiros em áreas estratégicas do Brasil, possibilidade de ocorrência de conflitos na América do Sul, participação das Forças Armadas na solução para o agravamento da questão ambiental, problemática da segurança pública, ocorrência de atividades terroristas no País, fortalecimento da indústria bélica nacional, dentre outros.
Ainda assim, uma parcela considerável das lideranças e formadores de opinião do País atribui pouca importância ao assunto e a grande massa da sociedade tem dificuldade em perceber as ameaças embutidas nos interesses internacionais, o que é refletido pela baixa prioridade conferida ao setor de defesa do País na distribuição dos recursos orçamentários, os quais vêm sendo seguidamente reduzidos e contingenciados nos últimos anos, causando sérios prejuízos ao preparo das Forças Armadas e consequentemente, aos anseios da política nacional.
No que diz respeito à Ciência e Tecnologia, pode-se afirmar que está ocorrendo no País um aumento nos investimentos em diversas áreas relacionadas ao tema, tendo em vista que as mesmas são muito importantes para o desenvolvimento político, econômico, social e militar.
Além disso, debates para formulação de políticas visando reduzir o hiato tecnológico em relação às grandes potências e a dependência de tecnologias de ponta têm sido realizados em diversos setores da sociedade com participação de integrantes dos principais centros e instituições de estímulo à pesquisa do País.
Atualmente, o Brasil é referência mundial em pesquisas e estudos sobre desenvolvimento sustentável de energias alternativas a partir de biomassa vegetal (etanol), Medicina Nuclear, Energia Nuclear (enriquecimento de urânio), exploração de petróleo em águas profundas, vacinas e doenças tropicais, construção de usinas hidrelétricas, pesquisas agropecuárias (EMBRAPA), estudos sobre o DNA, estudos aeronáuticos (ITA e EMBRAER), entre outras.
Enfim, o País vem buscando sua inserção no cenário internacional como um ator global de primeira linha, desenvolvendo suas capacidades para fazer valer suas decisões nas diferentes expressões do Poder.