REFLEXÕES A RESPEITO DA FENÔMENOLOGIA E DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO

Por Roseli Gonçalves | 15/06/2010 | Filosofia

CONHECENDO A FENOMENOLOGIA


Primeiramente irei trazer a etimologia da palavra fenomenologia. Esta palavra tem origem grega que significa aquilo que se apresenta, ou se mostra. Afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos. Tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua significação Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos que chamamos de noesis e as entidades objetivas que correspondem a elas conhecidas como noema.
Segundo Bruyne (1982), fenomenologia constitui um processo epistemológico com o qual as ciências sociais deveriam esclarecer suas problemáticas; ultrapassa entretanto, como filosofia, as ambições estritamente cientificas.
Pode-se dizer que a Fenomenologia é um método, o que significa dizer que ela é o "caminho" da crítica do conhecimento universal das essências.

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* Pedagoga. Acadêmica do 8º semestre de Letras-hab. Língua Portuguesa, aluna do curso da especialização Filosofia da Educação e Psicipedagogia



O filósofo Edmund Husserl(1859-1938), matemático e lógico, professor em Göttingen e Freiburg enfrenta o Psicologismo e o Historicismo, e funda a fenomenologia. Contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, Husserl quis que a filosofia tivesse as bases e condições de uma ciência rigorosa. Para evitar que a verdade filosófica fosse provisória, a condição para o teórico é que ela deveria referir-se às coisas como se apresentam na experiência de consciência, estudadas em sua essenciais, em seus verdadeiros significados, de um modo livre de teorias e preposições, despidas de seus acidentes próprios do mundo real, do mundo empírico, objeto da ciência. Buscando restaurar a "lógica pura" e dar rigor à filosofia.
A fenomenologia, por sua vez, posiciona-se com uma atitude reflexiva, consciente dos limites epistemológicos de sua abordagem, rompendo com as pré-noções que povoam o senso-comum, realizando uma redução fenomenológica, a qual representa o engajamento no mundo objetivo a fim de ressaltar sua relação com este, objetivando a compreensão do objeto de pesquisa do cientista social.


"A reflexão fenomenológica guiará o pesquisador quando se tratar de colocar problemas, hipóteses, de destacar conceitos com vistas à elaboração teórica; ela poderá garantira fecundidade sempre renovada da pesquisa" (BRUYNE 1992 p. 79)


A Fenomenologia de Husserl é uma forma de idealismo, porque lida com objetos ideais, com ideias das coisas em sua essência, tal como os idealistas Platão, Hegel e outros. No início do século XX, com Edmund Husserl (1859-1938), conforme Dartigues (1992), a fenomenologia se consolida como uma linha de pensamento. A partir de Husserl, a expressão fenomenologia passou a ter um significado totalmente novo, e é com esse novo significado, que na época contemporânea este vocábulo é empregado. Segundo Dartigues (1992), Husserl define a fenomenologia como ciência dos fenômenos, sendo o fenômeno compreendido como aquilo que é imediatamente dado em si mesmo à consciência do homem. Para Husserl, a fenomenologia assume, principalmente, o papel de um método ou modo de ver a essência do mundo e de tudo quanto nele existe.
As coisas segundo Husserl, caracterizam-se pela sua não finalização devida, pela possibilidade de sempre serem visadas por noesis (atividade da consciência)novas que as enriquecem e as modificam. Para a Fenomenologia a relação de causa e efeito não é suficiente como verdade, pois nada encontramos entre a causa e o efeito.

O que é a redução fenomenológica?

A redução fenomenológica (epoché) é o processo pelo qual tudo é informado pelos sentidos e mudado em uma experiência de consciência, em um fenômeno se consiste em estar consciente de algo. Husserl propôs que, no estudo das nossas vivencias, dos nossos estados de consciências de algo, não devemos nos preocupar se ele corresponde ou não a objetos do mundo externo à nossa mente. O interesse para a Fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se dá, tem lugar, se realiza para cada pessoa. A redução fenomenológica significa requer a suspensão das atitudes, crenças, teorias e colocar em suspenso o conhecimento das coisas do mundo exterior e a fim de concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência em foco. Na redução fenomenológica, a noesia é o ato de perceber. Aquilo que é percebido, o objeto de percepção, é o noema. A coisa como fenômeno da consciência (noema) é a coisa que importa, ou seja, "a coisa em si mesma" que fizera Husserl.

Rasga-se aqui um horizonte cognitivo notabilíssimo. A epoché fenomenológica reduz-me ao meu puro eu transcendental e, pelo menos no início, sou então, em certo sentido, solus ipse: não no sentido habitual, como seria o de um homem que, após um colapso cósmico, ficaria sozinho no mundo que continua ainda a existir.(HUSSERL, 1992, p. 19)


Após ter reconhecido o objeto ideal, ou seja o objeto de percepção o passo seguinte é sua redução eidética que significa idéia ou essência. Consiste em sua análise para encontrar o seu verdadeiro significado. Isto porque não podemos nos livrar da subjetividade e ver as coisas "como são". A redução eidética é necessária para preencher o requisito de uma ciência genuinamente rigorosa, requisito já antes mencionado por Descartes. Os objetos da ciência rigorosa têm que ser essenciais atemporais, cuja atemporalidade é garantida por sua idealidade, fora do mundo cambiável e transiente da ciência empírica.
Husserl faz a distinção entre a percepção e a intuição ( conhecimento direto e imediato, sem intermediário). Alguém pode perceber e estar consciente de algo, porém sem intuir seu significado. A intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido. Não podemos acreditar cegamente naquilo que o mundo nos oferece, No mundo as essências, estão acrescidas de acidentes enganosos, por isso, é preciso fazer variar imaginariamente os pontos de vistas sobre a essência para fazer aparecer o invariante que para Husserl é o algo idêntico que continuamente se mantém durante o processo de variação.
Em relação da redução transcendental, apesar de Husserl ter trabalhado e buscado sua definição até o final de sua vida, não chegou a uma conclusão clara. Basicamente seria a redução fenomenológica aplicada ao próprio sujeito, que então se ver não como um ser real, empírico, mas como uma consciência pura, transcendental, geradora de todo significado


Importa, pois, ter aqui em conta que a epoché transcendental quanto ao mundo existente com todos os objetos experimentados, percepcionados, recordados, pensados, judicativamente acreditados, nada altera no fato de o mundo e todos estes objetos enquanto fenômenos da experiência, mas também enquanto fenômenos puros, ou seja, como cogitata das respectivas cogitationes. (HUSSERL 1992, P. 22)



Influência do movimento fenomenológico

O movimento fenomenológico despertou interesse principalmente através dos 11 volumes da publicação Jahrbuch fur Philosophie und phanomenologische Forschung(Anuário de Filosofia e pesquisa fenomenológica).(1913-30), do qual Husserl foi o principal editor. Influenciou não somente filósofos, mas também sobre psicólogos, sociólogos, Pedagogos. Os existencialistas que o seguiram, principalmente Martins Heidegger, Jean-Paul Sartre que se intitularam fenomenólogos.
Heidegger dedicou uma de suas obras a Husserl titulada "O ser e o Tempo" (1988). Apesar de ser discípulos de Husserl, logo aparecerem suas diferenças. Discutir e absorver os trabalhos de importantes filósofos na história da metafísica era importante para Heidegger, uma tarefa indispensável, enquanto Husserl enfatizou a importância de um começo radicalmente novo para a filosofia e com poucas exceções como Descartes, Kant , o precursor da fenomenologia queria excluir, colocar em parênteses a história do pensamento filosófico.
A preocupação de Heidegger era que a fenomenologia se dedicar-se ao que está escondido na experiência do dia -a - dia. Ele tentou em "O Ser e o Tempo" descrever o que chamou de estrutura do cotidiano, ou, "o estar no mundo", contudo que isto implica quanto aos projetos pessoais, relacionamento e papeis sociais. Em sua critica Heidegger salientou que ser lançado no mundo entre coisas e na contingência de realizar projetos é um tipo de intencionalidade muito mais fundamental que a intencionalidade de meramente contemplar ou pensar objetos, e é aquela intencionalidade mais fundamental a causa e a razão desta última, da qual se ocupava Husserl
Já Sartre(1905-1980) segue estritamente o pensamento de Husserl na analise da consciência em seus primeiros trabalhos, nos quais faz a distinção entre a consciência perceptual e a consciência imaginativa aplicando o conceito de intencionalidade de Husserl. Baseado principalmente na fenomenologia de Husserl e em 'Ser e Tempo' de Heidegger, o existencialismo sartriano procura explicar todos os aspectos da experiência humana. A maior parte deste projeto está sistematizada em seus dois grandes livros filosóficos: O ser e o nada e Crítica da razão dialética.

O MÉTODO FENOMENOLÓGICO

O metodo fenomenologico consiste em mostrar consiste em mostrar o que apresentado e esclarecer este fenômeno. Para a fenomenologia o objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado como tal, como é para o sujeito e sem interferencia de qualquer regra de observação cabendo a abstração da realidade e perda de parte que é real, pois tendo como objeto de estudo o fenomeno em si, estuda-se literalmente, o que aparece.
O método fenomenologico é como atitude intelectual: a atitude especificamente filosofica, a filosofia como método de elucidação do próprio ser que é o homem-no-mundo. Para Masini(1982) não existe ou um método, mas uma postura /atitude fenomenológica, uma abertura ( no sentido de estar livre de conceitos e definições aprioristicas) do ser humano para compreender o que se mostra. Os seres humanos não são objetos e suas atividades não simples reações a relação básica neste método fenomenológico a relação é de sujeito-sujeito.
a postura do pesquisador implica na recusa dos mitos da neutralidade e da objetividade. Obriga o pesquisador assumir plenamente à vontade e a intencionalidade de rever os próprios valores e atitudes.
Para Boss(1979) O método fenomenológico caracteriza-se pela ênfase ao "mundo da vida cotidiano" esse método possui uma abordagem que não se apega tão somente as coisas factuais observáveis, mas visa a" penetrar seu significado e contexto com um refinamento e previsão sempre maiores. Este método utiliza-se do procedimento que levam a uma compreensão do fenômeno por meios de relatos descritivos da vida social Este enfoque deve ser desenvolvido dentro de uma postura filosófica ?critica: operar intencionalmente e não excluir a valoração do objeto de investigação.
Segundo Martins e Bicudo(1989), os fenômenos que não prestam a uma fácil quantificação são os mais apropriados para serem analisados pelo método e procedimentos da pesquisa qualitativa, pois busca uma compreensão particular daquilo que estuda, ela não se preocupa com generalizações, princípios e leis, o foco da atenção é centralizado no especifico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão. Dentro das ações metodológicas disponíveis o enfoque fenomenológico ?hermenêutico constitui uma adequada alternativa à discussão dos pressupostos tidos como naturais, óbvios na ação humana.


CONCLUSÃO

Entendi a partir do estudo realizado que a fenomenologia é um método para o próprio esclarecimento do ser humano na história. E isto significa que ela, além de ter que levar em conta o já instituído de forma ampla e criteriosa, deve também saber investigar as condições de possibilidade do ser que, independente das vontades alheias, permanece sendo o instituinte de todo o vir-a-ser, isto é, o sentido e a finalidade permanentemente presentes na própria ausência de acabamento do ser-do-homem-no-mundo.
Como pesquisadora acredito que, enquanto projeto, a fenomenologia torna- se um concreto e eficaz instrumento de ação para a transformação do processo humano, o que apenas enfatiza a grande possibilidade que se descortina quando assumimos a nossa própria condição de liberdade partilhada. Isso afirma a nossa peculiar transcendência, o que na verdade apenas confirma nossa condição histórica de seres no mundo.
Cabe ao pesquisador buscar conhecer a fenomenologia para adequada ao tipo de questões que estão sendo pesquisada, acreditando também que os fenômenos nos quais se pode geralmente utilizar-se desta abordagem são fenômenos que podem ser aplicados métodos qualitativos em detrimento do quantitativo.
Somente o ser humano pode decidir de que forma pretende estar-no-mundo, sobretudo quando aprender a se dar conta de que ele está aberto no mundo, e de que o "mundo" são todas as possibilidades. E é diante delas que os seres humanos são ou deixam de ser, se tornam e se transformam, exercem seus sonhos e desejos, vivem ou desistem de viver.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques e SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: Os pólos da prática metodológica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Parte I. Tradução:Márcia de Sá Cavalcante. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1988.

HUSSERL, Edmundo. Conferência de Paris. Rio de Janeiro: Edições 70, 1992.

LÉVY, Bernard Henri. O Século de Sartre (Tradução de Jorge Bastos). Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001

MARTINS, Joel e BICUDO,, Maria, A. V. A pesquisa Qualitativa em psicologia. Fundamentos e recursos básicos. São Paulo: EDUC/ Morais, 1989.

MASINI, Elsie F.S. O enfoque fenomenológico de pesquisa na educação. In: FAZENDA, Ivani(org) Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo:Cortez, 1982.