REFLEXÃO CRÍTICA DA SOCIEDADE VITORIANA SEGUNDO WILDE

Por Paulo Igor Xavier da Silva | 22/06/2017 | Literatura

Dedico este artigo a minha família e amigos, pelo incentivo e inspiração em todos os momentos da vida, e a minha namorada Kércia Maria,  por todo amor a mim dedicado.

AGRADECIMENTOS

A Deus e ao seu inspirado profeta seja Krishna, seja  Abraao, seja  Moises, seja Buda, seja Zoroastro, seja Jesus, seja Maomé, seja O Bad ou ainda Baha     ullah, pela inspiração e entendimento que nos proporcionam, pois sem Eles nada somos e nada conseguiríamos fazer.

A Maria, a quem dedico este trabalho, por toda a inspiracao.

Aos nossos colegas de classe que tanto nos motivaram nessa jornada estudantil, pelo apoio e motivação constantes, pois foram verdadeiros incentivadores para a continuação e conclusão do Curso.

“Nunca viajo sem o meu diário. E’ sempre preciso ter algo extraordinário para se ler no comboio”.

Oscar WILDE

 

REFLEXAO CRITICA DA SOCIEDADE VITORIANA SEGUNDO WILDE

Autor: DA SILVA, Paulo Igor Xavier

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo geral , expor alguns pontos de reflexão sobre a sociedade vitoriana sob a ótica de Oscar Wilde. E para atingir esse objetivo, optou-se por analisar a obra: The importance of being earnest, e demonstrar em suas entrelinhas, a genialidade de Wilde em atacar a própria sociedade a qual compunha. A metodologia desta pesquisa, configurou-se por uma revisão bibliográfica das obras de Oscar Wilde,  utilizando uma pesquisa de natureza qualitativa de caráter exclusivamente descritivo e explicativo. Ao concluir  este estudo, foi possível demonstrar, ao analisarmos apenas uma obra, a maestria de  Oscar Wilde em criticar fortemente a sociedade artificial, materialista e supérflua que era a sociedade Inglesa em meados do Sec. XIX sob a regência da Rainha Vitoria.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Inglesa. Era Vitoriana. Oscar Wilde.

1  INTRODUÇÃO

            A cultura inglesa, em seus primordios, era muito forte na tradição oral e a maioria dos trabalhos literários foram escritos para serem representados. Os poemas épicos eram excessivamente  populares, e muitos sobreviveram até aos dias de hoje entre as obras que constituem a literatura em Língua inglesa antiga. Mas é somente no início da Idade Média que aparecem as primeiras palavras em inglês, escritas em dialeto Anglo-Saxónico agora conhecido como inglês antigo.

            A Literatura Moderna ou Renascentista, inicia-se, com a poesia, drama e prosa produzidas no período da rainha Isabel I e o rei Jaime I, extreiando assim a literatura elisabetana. Na era elisabetana, como é chamada por muitos, a literatura  renasce, especialmente no campo do drama.

            Os anos turbulentos do meio do século XVII, durante o reinado de Charles I,  assistiu-se o florescimento da literatura política na Inglaterra.

            O período de 1689 - 1750 foi chamada de "a Idade Augustina" pelos críticos através do século XVIII, a literatura deste período é evidentemente política. Esta foi uma época de exuberância e escândalo, de enorme energia, criatividade e escândalo, que reflete uma era quando o povo da Inglaterra, Escócia, e Irlanda se encontravam em meio da uma expansão econômica  e  agitação da Revolução Industrial.

            A literatura inglesa, diferentemente da brasileira, se organiza de forma expressiva, baseada em influências de reinados. Assim esta pesquisa utilizou como recorte para estudo a era vitoriana, que teve influencias do reinado da rainha Vitória.          Foi na era Vitoriana (1837-1901) que o romance tornou-se a forma principal da Literatura Inglesa. A maioria dos escritores estava agora mais concentrada em agradar o gosto do publico leitor da classe média do que de seus patronos aristocratas.

            Porém, a sociedade da era vitoriana estava cheia de moralismos e disciplina, com preconceitos rígidos e proibições severas. Os valores vitorianos podiam classificar-se como “puritanos”, com importância extrema da moral, dos deveres e da fé. Certas condições como a preguiça e o vício estavam vinculados à pobreza e o sexo era alvo de repulsa social, uma vez que era associado a paixões baixas e o seu caráter animalesco provinha da carne. Por estas razões, considerava-se que a castidade era uma virtude que devia ser protegida.

            É neste contexto de superficialidade, falsidade, crítica e preconceito da sociedade inglesa, aristocrática e burguesa, realidades predominantes e imperativas  do reinado da rainha Vitoria no final do Século XIX,  que se propõe uma reflexão crítica sobre a sociedade vitoriana  e os problemas que a cercavam.

            Assim o objetivo geral da pesquisa é expor alguns pontos de reflexão sobre a sociedade vitoriana sob a ótica de Oscar Wilde. E para atingir esse objetivo, optou-se por analisar a obra: The importance of being earnest, e demonstrar em suas entrelinhas, a genialidade de Wilde em atacar a própria sociedade a qual compunha.

            Dessa forma, a metodologia deste estudo configurou-se por uma revisão bibliográfica das obras de Oscar Wilde,  utilizando uma pesquisa de natureza qualitativa de caráter descritivo e explicativo.

2 ERA VITORIANA

 

O momento histórico inglês nomeado de Era ou Época Vitoriana, ocorreu no período entre os anos de 1837 e 1901,  em que a rainha Vitória governou a Inglaterra. Esse período foi marcado por grandes êxitos  nos campos político, intelectual e econômico.  Nesta época, a Inglaterra tornou-se o país mais rico e poderoso do mundo, por conta  do altíssimo  desenvolvimento econômico e industrial do país.        

          Na era vitoriana a Coroa Inglesa, restaurou seu prestígio e fortaleceu seu sistema colonialista, conquistando e explorando novas colônias na África, Ásia e Oceania. As principais características da era vitoriana foram:

-  Supremacia (domínio) política e econômica britânica no cenário mundial;

- Grande investimento em infra-estrutura (ferrovias, portos e instalação de telégrafos);

- Fortalecimento do sistema colonialista (neocolonialismo), conquistando e explorando novas colônias na África, Ásia e Oceania;

- Significativo crescimento demográfico da Inglaterra, sendo que a população do país quase duplicou;

- Amplo crescimento e desenvolvimento da burguesia industrial e comercial;

-  Fortalecimento do capitalismo liberal (liberalismo econômico);

-  Política social baseada na implantação de rígidos valores morais;

-  Repressão aos críticos das idéias vitorianas e àqueles que não seguiam os valores morais propostos pelo regime. Houve perseguição à escritores, homossexuais, políticos opositores e artistas;

              Apesar da censura e perseguição aos artistas que se opunham ao regime vitoriano, o período foi marcado por grande desenvolvimento artístico e cultural em várias esferas das artes (arquitetura, literatura, teatro e etc.). As artes buscavam satisfazer os anseios culturais de uma classe média ávida por cultura.

            Na arquitetura podemos destacar o movimento neogótico que buscou reavivar o estilo gótico medieval. Na literatura podemos destacar os romances, sendo que os escritores mais importantes do período foram Charles Dickens, George Eliot e Thomaz Hardy. No teatro, destacam-se as obras do dramaturgo Oscar Wilde.

Enquanto isto tudo acontecia na sociedade Estudiosos da época revelam que a sociedade sofria o medo da modernização, da alta tecnologia e as mudanças radicais que ela acarretava. Foi, portanto, uma época de transição, do novo abrindo espaço e enfrentando a resistência de uma sociedade extremamente tradicional. Era o término de um período crítico – o século XVIII com suas revoluções – portanto, as portas estavam abertas para o novo. Mas o novo também amedrontava.

Os filósofos ocupavam-se com importantes questões políticas. Um grande problema para os escritores da Época Vitoriana surgiu com o desafio que a nova ciência dirigiu à fé cristã. A teoria de Darwin, por exemplo, atingia o Livro do Gênesis. No ano de 1859, “A origem das espécies”, apresentava esta teoria revolucionária.

A Época Vitoriana tornou-se uma época de cruzados, reformadores e teóricos, já que em termos teve progressos, mas, também teve dúvidas. Havia muita pobreza, injustiça e pouca certeza sobre a fé ou a moral.Com todos os ideais, foi uma época puritana e assuntos como o sexo, eram tabus ( tudo envolto em discussões religiosas e libido reprimida).. Havia uma moralidade convencional, rígida e o caráter sagrado da vida em família, era devida ao exemplo da Rainha Vitória, e sua influência considerável sobre a Literatura e a vida social.

As virtudes no século XIX na Inglaterra eram a disciplina, a retidão, a limpeza, o trabalho árduo, a autoconfiança, o patriotismo... além da preocupação com questões de conotação sexual de castidade e fidelidade conjugal. Estas características unidas trazem à época vitoriana um conceito obsessivamente puritano.

Numa sociedade que se via com medo diante de novas tendências, os escritores eram vistos como profetas e guias desta sociedade. O estilo literário mais apreciado foi “novels” ( romance), publicada em fascículos. Estes textos em princípio, serviam de entretenimento nos serões de leitura das famílias e deviam prestar-se à valorização da moral.

Os editores, embora envergonhados, cuidavam para que nada que ferisse os princípios moralistas e que não pudesse ser lido em voz alta em qualquer ambiente familiar, fosse publicado. Diante de um cenário extremamente puritano , a arte dramática do teatro foi praticamente colocada à margem, por se caracterizar como vinculadora das expressões corporais, repletas de sensualidade. A espotaneidade do comportamento humano era considerada contrária ao puritanismo.

No período vitoriano cultivou-se a dramatização mais atenuada dos textos literários. Esta dramatização foi cultivada com maestria por Charles Dickens. Este grande literario costumava ler seus próprios textos para um público pagante. Esta pratica, arrancava lágrimas e aplausos do público.Esta foi uma forma de domesticar a arte dramática, provocando catarse de sentimentos reprimidos além de disseminar os valores vitorianos.

            A literatura vitoriana exerceu um papel social muito importante, já que a leitura em família era algo da maior importância, numa sociedade que possuía na família seus alicerces. Neste período surgiu a Literatura Pedagógica, que tinha por finalidade treinar as pessoas quanto aos mais variados assuntos, desde o comportamento das senhoritas até a educação dos filhos. Desejou-se na época, um caráter formador, moralista para as Artes e estes textos primavam pela ingenuidade em acreditar que era suficiente seguir aqueles moldes. Era necessário mostrar para a sociedade que o que ela exigia estava sendo cumprido, pouco se longe dos “olhos” dela, a realidade fosse outra.

[...] a Literatura, especialmente aquela denominada literatura pedagógica, com fins de aconselhamento, punha, por falta de senso crítico, as virtudes muito mais à mão das pessoas do que realmente estavam; tais textos ditavam normas e de comportamento como se fossem vestimentas fáceis de se adquirir e usar, para pessoas verdadeiramente sérias e honradas, para cidadãos de um império que estava acima dos demais. Aparentemente, a vida humana era conduzida apenas pela vontade consciente. Futuramente, estudos psicanalíticos e filosóficos, como os de Freud sobre o inconsciente e a sexualidade, negaram isto e obrigaram os seres humanos à humildade de suas almas (psiques) divididas e problemáticas( MORAIS, 2009, p. 32-33).

            Embora a leitura assumisse, em certa medida, uma função manipuladora, ela foi uma espécie de lenitivo para uma sociedade cercada por obrigações sobre humanas. Numa realidade que não conhecia o cinema, a televisão e outros meios de comunicação, a leitura foi uma forma de entretenimento, que gerou monumentos da literatura, como as Irmãs Brontë, por exemplo: Charlotte, Emily e Anne Brontë inventavam histórias para serem lidas á noite, povoando suas pacatas vidas.

            Os lares vitorianos, com seus serões de leitura, foram tecendo uma sociedade que apesar de todos os percalços, teve uma função sensibilizadora, numa época tomada pelo materialismo

           

3 OSCAR WILDE   

 

            Oscar Wilde era filho de um médico, Sir William Wilde e de uma escritora, Jane Francesca Elgee, defensora do movimento da Independência Irlandesa. Desde criança Oscar Wilde esteve sempre rodeado por grandes intelectuais. Criado no protestantismo, destacou-se nos estudos das obras clássicas gregas e no conhecimento dos idiomas.

            Em 1882, foi convidado para ir aos Estados Unidos para falar sobre o seu recém criado Movimento Estético, com as idéias de renovação moral. Defendia o "belo" como única solução contra tudo o que considerava denegrir a sociedade. Esse movimento visava transformar o tradicionalismo na época Vitoriana, dando um tom de vanguarda às artes.

            No ano seguinte foi para Paris, e, no contato com o mundo literário francês, seu movimento acabou por enfraquecer-se. Em seguida, retornou para a Inglaterra, onde se casou com Constance Lloyd e foi morar em Chelsea, um bairro de artistas. O casal teve dois filhos, mas mesmo após o casamento, Oscar continuou freqüentando todas as rodas literárias, espalhando glamour e comentários nos eventos sociais em que comparecia, sempre elegante e extravagante.
            Em 1880 lançou "Vera", um texto teatral bem sucedido. Chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses.Em seguida publicou uma coletânea de poemas. Em 1887 e 1888, seu período mais produtivo, lançou vários contos e novelas, como "O Príncipe Feliz", "O Fantasma de Canterville" e outras histórias.
            Em 1891, lançou sua obra prima, "O Retrato de Dorian Gray", que retrata a decadência moral humana. No entanto, no seu apogeu literário, começaram a surgir os problemas pessoais. O que antes eram boatos quanto a uma suposta vida irregular, passaram a se concretizar, dando início á decadência pessoal do escritor. Apareceram rumores sobre seu homossexualismo, (severamente condenado por lei na Inglaterra), que não puderam mais serem negados. Oscar se envolveu com Lord Alfred Douglas (ou Bosie), filho do Marquês de Queensberry, que sabendo do relacionamento, enviou uma carta a Oscar Wilde, no Albermale Club, onde o ofendia e recriminava já no sobrescrito: "A Oscar Wilde, conhecido Sodomita".
            O escritor decidiu processar o Marquês por difamação. Depois tentou desistir do processo, mas era tarde demais e as provas da sua vida sexual desregrada começam a aparecer. Um novo processo contra ele foi instaurado. Sua fama começou a desmoronar. Suas obras e livros foram recolhidos e suas comédias retiradas de cartaz. O que lhe restava foi leiloado para as despesas do processo judicial. Acabou passando dois anos na prisão, que lhe renderam obras comoventes como "A Balada do Cárcere de Reading" (1898) e "De Profundis", uma longa carta ao Lord Douglas.

            Ao sair da prisão, retirou-se para Paris, onde adotou o pseudônimo de Sebastian Melmouth e onde passou o resto dos seus dias, em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.

            Em toda a sua obra, Wilde perpassa um humor sarcástico, ferino e certeiro, que atingia em cheio os seus contemporâneos, pessoas poderosas que se sentiam desconfortáveis com suas criticas.O mesmo ciclo de pessoas que o aplaudiu , o desprezou logo apos sua prisão em 1885. Ate então, Wilde só ao sucesso conhecia, sucesso este que durara 10 anos. Talvez ele tenha sido condenado, não pela sua sexualidade, mas, por vingança da próprio sociedade em que ele ironizava, ou “adulava com uma mão e ironizava com outra, fazendo questão de expor as suas hipocrisias por ironizar a aristocracia britânica da época ” (CULT n.40. 2000: pag 52)

Personalidade sem igual, Wilde se destacava em vários gêneros, tais como: Oratória, Romance,Teatro,sendo também um excelente epistológrafo e autor de frases impactantes.

 

4 ANALISE DA OBRA THE IMPORTANCE OF BEING EARNEST

 

A peça “The importance of beinh earnest” é um dos trabalhos de maior expressividade de Oscar Wilde e portanto tem sido considerada pela critica como uma das melhores peças do teatro Inglês. Nesta peça em analise, percebemos que o autor conhecia muito bem as fraquezas e hipocrisias da sociedade Vitoriana da época.

Com muita genialidade, Wilde já entretia  a platéia pelo uso da homofonia ( do grego antigo "mesmo som" literalmente significa "vozes semelhantes") entre o adjetivo “Earnest” em inglês, cuja significação em português é: honesto, íntegro, prudente; e o substantivo próprio “Ernest” (Ernesto, em português). Estas palavras repetem-se várias vezes na peça, sempre com muito humor.

 

4.1 ENREDO

O enredo da peca é quase um absurdo, uma vez que Jack Worthing, o  personagem principal, tem sua origem totalmente obscura, ele fora encontrado, dentro de uma maleta em Londres, por Thomas Cardew , uma pessoa de posição social elevada que o adota.

 No desenrolar do espetáculo, Jack Worthing torna-se tutor da neta de seu pai adotivo, uma jovem muito formosa, mas extremamente fútil com assuntos relacionados a cultura e educação. Esta jovem chama-se Cecily Cardew.

Jack sempre diz a Cecily que tem um irmão mais jovem de nome Ernest o qual é muito problemático e irresponsável, estando sempre em apuros e como conseqüência disso, precisando sempre de sua assistência. Com este pretexto, Jack justifica as suas constantes viagens a cidade (uma vez que reside no campo) e o fato de seu irmão permanecer “invisível”, nunca lhe sendo permitido visitar a sua família no campo, se justifica por ser problemático.

Quando Jack chega a Londres, ele assume uma outra identidade,torna-se Ernest Worthing.

Em uma de suas idas a Londres, Jack, quer dizer, Ernest, apaixona-se por Gwendolen Fairfax, filha de Lady Bracknell, prima do melhor amigo de Jack – Algernon Moncrief (ou simplesmente Algy).

 Algy, por meio do porta cigarros que Ernest esquecera em seu poder, descobre da existência de Cecily, ficando curiosa para conhecê-la .Logo depois que Algy questiona Ernest sobre Cecily, Jack Worthing revela que no campo é chamado assim, ao passo que na cidade é Ernest Worthing. Com isso, Algy decidi visitar Cecily no campo, passando-se por Ernest Worthing, o irmão mais novo e problemático de Jack Worthing.

Na ocasião em que Algy vai ao campo, Jack não estava presente pois tinha ido dar um fim ao suposto irmão e voltaria ao campo de luto por sua morte.

Como Jack e Algernon têm vida dupla com outros nomes, e o fato de haver um interesse matrimonial de Jack por Gwendolen e Algernon por Cecily, a situação fica extremamente engraçada pois as duas jovens têm  o mesmo sonho – o de casarem-se com um homem chamado Ernest.

Jack e Algy se defrontam e tudo se esclarece, inclusive a paixão de Gwendolen e Cecily por um homem de igual nome – Ernest.

 

4.2 PONTOS DE ANÁLISE

 

            Augusta Brecknell, mãe de Gwendolen, demonstra a superficialidade e a futilidade da sociedade em que vive em todas as suas falas. Em relação ao casamento, sua posição visa unicamente o interesse, dependendo dos bens materiais das partes envolvidas.

            Ela não aceita o casamento de sua filha Gwendolen com Jack, por causa de sua origem, mas apóia o casamento de Algy com Cecily, por ela ser herdeira de grande fortuna.

            Ao saber da origem de Jack Worthing, que foi encontrado ainda bebê, dentro de uma maleta de mão, na estação Vitória na linha de Brigton, faz o seguinte comentário:

A linha não tem importância, Sr Worthing, confesso que me sinto um tanto perturbada pelo que o senhor acaba de me dizer. Nascer, ou pelo menos ter sido criado numa maleta, com alças ou sem alças, parece revelar tal desprezo pelas ordinárias decências  da vida familiar, que nos lembra os piores excessos da Revolução Francesa. E presumo que o Senhor não ignore o fim que teve desgraçado movimento. Quanto ao local em que foi encontrada a maleta – um vestiário de estação ferroviária -, poderia muito bem servir para ocultar uma inconveniência social. E não teria sido a primeira vez que esse local foi utilizado para tal fim. Mas dificilmente poderia considerar-se como uma base segura, para cimentar uma posição na boa sociedade  (WILDE, 1998,p.39) .

Nesta fala de Lady Bracknell, retrata a sua posição em relação a família e a sociedade que estão ligadas ao humor advindo de suas considerações absurdas sobre a Revolucào Francesa, a que ela se refere como “aquele infeliz  movimento ”.

Lady Brecknell retrata, portanto, o autoritarismo, a futilidade e a capacidade de armazenar conhecimentos inúteis em pessoa. Um exemplo vívido deste retrato  se dá, quando ela entrevista Jack Worthing, como pretendente de Gwendolen e descobre o seu endereço na cidade (149, Belgrave Square) e o diz como sendo fora do lado “fashion” / chique da cidade, no ato I da peca.

Entretanto, Jack,como tutor de Cecily, nega seu consentimento ao casamento da Jovem com Algy, a menos que lhe seja permitido casar-se com Gwendolen. Meio a esta problemática que ocorre na casa de campo de Jack, descobre-se por meio de Miss Prism (Professora de Gwendolen e amiga de tempos antigos de Lady Brecknell) que Jack é na verdade irmão mais novo de Algy, que fora colocado por engano na maleta e que seu verdadeiro nome é Ernest.

Ao saber que o amigo veio a Londres com intenção de pedir Gwendolen em casamento, Algy replica: “eu pensei que você tivesse vindo se divertir! ... Isso para mim é um negócio” (WILDE,1998,p.23)

Temos também um forte ataque sobre os lutos longos e os falsos sentimentos das viúvas, pelas palavras de Lady Bracknell a respeito de uma amiga que perdeu o marido: “nunca vi uma mulher tão mudada; ela parece uns vinte anos mais jovem... parece que só vive para se divertir” (WILDE, 1998,p. 31).

A este comentário, Algy replica de modo igualmente ferino: “ouvi dizer que o cabelo dela ficou completamente louro de tanto sofrimento” (WILDE,1998,p.32)

As metáforas tornam-se irônicas dentro do contexto conforme aparecem nas palavras de Ms. Prism: “o que está maduro merece crédito. As mulheres jovens são verdes.” (WILDE,1998.p.54).

Lady Bracknell é extrema no uso da ironia e afirma: “a ignorância é como flor exótica: murcha ao primeiro contato” e completa toda essa afirmação com um ataque: “toda a teoria da educação moderna está radicalmente errada. Em todo caso, na Inglaterra pelo menos, a educação não produz efeito algum.” (WILDE,1998.p.37)

Wilde critica as inversões de valor na sociedade londrina, onde, paradoxalmente, a sinceridade pode ser considerada hipocrisia, presentes nas falas de Lady Bracknell, citada anteriormente e nas de Celily.

Cecily esperava encontrar algo diferente no irmão de seu tutor e, quando recebe uma visita de Algy que se faz passar por Ernest Worthing, mostra-se desapontada pois ele não parece ser um mau caráter. Assim se manifesta: “se não é, tem-nos estado certamente enganando, duma maneira muito imperdoável. Espero que não tenha estado levando uma vida dupla, fingindo ser mau e sendo na realidade bom todo o tempo, Isto seria hipocrisia” (WILDE,1998.p.67).

A discrepância da ironia surge ainda em outra afirmação de Cecily: “Em assuntos graves o estilo, e não a sinceridade, é o ponto vital” (WILDE,1998.p.80).

Assim, a ironia principalmente a sarcástica está presente sempre nas falas de Lady Bracknell. O fato dela não gostar de noivados demorados é por que segundo ela “dão as pessoas a chance de descobrir o caráter uma da outra antes do casamento” (WILDE,1998.p.85).

A sátira tem sempre o intuito de denegrir, por isso, toma por comparação, muitas vezes o feio ou o repulsivo. Jack compara Lady Bracknell a um monstro, talvez Medusa ao dizer: “Nunca vi tamanha megera... não sei bem como é uma megera, mas tenho certeza de que Lady Bracknell é uma delas. Seja como for, é um monstro sem ser mito” (WILDE,1998.p.40,41).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Dentro desta trama absurda é importante ressaltar a sátira feita aquela sociedade vazia e superficial que se preocupava com um nome mais ou menos elegante, com origens e os bens materiais das pessoas .

A sátira é sempre muito consciente, pois Wilde aproveita as diferenças entre a aparência e a realidade, expondo assim a hipocrisia.

A ironia é também uma forma de critica através do desvio da linearidade do significado e da oscilação da verdade, pois diz uma coisa querendo dizer outra.  Requer sutileza e inteligência para tocar com tato, mas, atingindo ao alvo e, como a sátira,necessita de dois elementos essenciais a sua existência,a saber: a graça e o objeto de ataque.

Assim, a sátira e a ironia vão aparecendo em toda a peca, explorando as diferenças entre aparência e a realidade e expondo os valores distorcidos daquela sociedade.

O paradoxo, recurso estilístico usado por Wilde, provoca muitos efeitos irônicos, visto na maneira como são tratadas coisas sérias, como a instituição do casamento, faz parte do questionamento irônico encontrável várias vezes na peça.

A falsidade é uma constante na sociedade vitoriana e esta característica sempre incomodou Oscar Wilde. Na cena final da peca, a critica surge através das palavras de Jack e Gwendolen,quando Miss Prism revela a verdadeira identidade de Jack,que de fato chama-se Ernest. Jack pede desculpas por ter falado a verdade: Jack:” Gwendolen,, é uma coisa terrível para um homem descobrir de repente que, durante toda a sua vida, não fez mais do que dizer a verdade.

Poderá você perdoar-me?” Gwendolen: “Posso. Porque estou certa de que você haverá de mudar” (WILDE,1998.p.94). Com este comentário de Gwendolen, vemos que em algum momento a verdade era a base dos discursos.

Finalizamos por afirmar que, ao examinarmos a peça, vemos de forma evidente, fala a fala, que a irônica e a sátira são evidenciadas com muita freqüência. Wilde, rompe com o óbvio da linguagem convencional e faz-nos ver além do que está representado no signo lingüístico, mostrando ao espectador/leitor qual o seu julgamento real da sociedade Vitoriana da época.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANDIDO, O. Literatura e Sociedade. Editora Companhia Nacional, 2000.

MUHLSTEIN, Anka. Vitoria. Sao Paulo: Schwarcz, 1999.

WILDE, Oscar. A Importancia de ser prudente. 2.ed. Rio de janeiro: Civilizacao Brasileira 1998

WILDE, Oscar. The Importance of being Earnest. 1996

MORAIS,Flavia D.C.  A Evolucao da modernidade na filosofia e na literatura Vitoriana como tradução moralizante no ensino de uma época. Campinas, 1999. 145 p. Dissertacao de mestrado (Filosofia e Historia da Educacao) – UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.