Reflexão Ambiental.
Por Luana Caroline Künast Polon | 27/09/2010 | GeografiaReflexão Ambiental.
As questões ambientais estão tomando conta das mais diversas ciências, dentre elas a ciência geográfica. Na Geografia essa abordagem das questões referentes ao meio está fazendo com que haja um ressurgimento das discussões sobre a síntese da relação entre homem e natureza.
É comum vermos a divisão entre o natural e o social nos trabalhos acadêmicos e nas discussões da academia. A ciência humana e a física tomaram caminhos diferentes, mas a Geografia não se enquadrou exclusivamente em apenas uma, e continua na ambigüidade.
As questões ambientais exigem uma nova forma de pensar já que nesses estudos não se pode separar homem e natureza, torná-los desvinculados, afinal, eles se relacionam e é essa relação que as questões ambientais abordam. Ao tratarmos homem e natureza em sua relação, sabendo que o homem é parte desse meio natural, deixaremos de ver a natureza como mera fonte de recursos a disposição do homem.
Ao abordar as questões ambientais na Geografia devemos ter em mente a escala que estaremos adotando, existem problemas que são locais e precisam ser tratados no local, e existem problemas que são locais, mas que atingem o global, as conseqüências expandem e prejudicam outras áreas do globo.
Outra questão a ser pensada é a escala temporal do problema, o espaço guarda em si as marcas de tempos diversos, das sociedades que se fizeram neste local e de como elas utilizavam os recursos disponíveis, são as relações de poder e os interesses econômicos e sociais de cada lugar que vão determinar o uso que será feito dos recursos, a exploração ou preservação do meio natural.
A ocupação de territórios é tema comum na Geografia, uma sociedade não apenas ocupa um determinado lugar, mas ela o cria. Através das ações, de como se dará a ocupação e organização do território e o uso dos recursos, dessa forma o território vai se moldando a sociedade que faz uso dele, os problemas ambientais são marcas deixadas pela sociedade na natureza.
No Brasil a exploração dos recursos já começou com a chegada dos colonizadores, um país com uma rica biodiversidade ocasionada pelo clima tropical atraiu os olhares dos estrangeiros, o primeiro produto a ser explorado no país foi o Pau-Brasil, espécie que era abundante neste território, mas que hoje está em extinção. O Pau-Brasil era retirado e enviado para a Europa, devido à coloração avermelhada da madeira, ela era utilizada para fabricação de tinturas.
Posteriormente, as amplas terras brasileiras foram utilizadas para a plantação da cana-de-açúcar, produto também para a exportação, sendo que o clima e os solos férteis favoreceram esse cultivo.
A exploração e o uso dos recursos eram feitos sem grandes cuidados com a preservação, o fator mais importante era produzir mais para lucrar mais, os solos foram empobrecendo e a biodiversidade sendo esgotada, enquanto a natureza sofria com as conseqüências, uma pequena parcela da população enriquecia sobre isso.
Outro grande problema foi o trato com os índios que ocupavam essas terras, foram praticamente todos eliminados, pois não traziam qualquer beneficio. Em 1850 com a Lei de Terras, as terras não poderiam mais ser doadas, mas somente compradas, assim a terra deixou de ser um recurso natural e se tornou uma mercadoria, alvo de disputas diversas.
Sem falar na exploração das pessoas nas plantações de cana, os escravos trazidos da África para trabalhar no Brasil, e quando deixaram de ser escravos, ainda assim permanecem presos aos seus senhores, e vivendo as margens da sociedade vigente.
A década de 50 foi o princípio do modelo de desenvolvimento brasileiro tal qual o vemos hoje, lembrando-se ainda da crise de 29/30 com a constituição de uma política de industrialização. Os recursos foram centralizados nas mãos do Estado que propiciou a abertura de estradas, a criação de infra-estrutura e demais ações e projetos para permitir o desenvolvimento do país.
Foi também na década de 50 que a medida da substituição de importações, que visava uma maior produção interna para evitar as importações, começou a apresentar alguma dificuldade, sendo que houve a abertura para o mercado externo. Essa medida foi um marco no desenvolvimento econômico do país, sendo que houve uma busca intensa por progresso, como mostra posteriormente a meta de JK de fazer um crescimento no Brasil de 50 anos em apenas 5.
As novas medidas de desenvolvimento adotadas no país, os novos padrões tendo como base o consumo exacerbado, típico do primeiro mundo, foram as bases para o período do milagre econômico brasileiro, mesmo com as diversas dificuldades e desigualdades pelas quais passavam a classe baixa do país.
Não havia grandes preocupações com as questões ambientais, o interesse era o progresso do país, a miséria era considerada como a principal poluição que deveria acabar. As políticas e movimentos que visavam o cuidado com os recursos naturais eram tidas como contrárias ao progresso, e eram assim reprimidas.
A natureza nunca foi preocupação para aqueles que detinham o poder em suas mãos, as bases do desenvolvimento foram a propriedade privada e a natureza transformada em mercadoria, os bens naturais tornaram-se comercializáveis e a tudo foi atribuído um valor.
Na década de 60 e a partir daí se intensificam os investimentos em infra-estrutura no país, criação de mais estradas e mais condições para os investidores, ainda são criados projetos governamentais para desenvolver as áreas do país que não haviam recebido investimentos industriais, com o intuito de promover uma descentralização e uma maior integração no território nacional.
Porém mesmo com esses incentivos a descentralização, o poder econômico continua se mantendo no mesmo lugar, o Sudeste continua sendo o pólo industrial brasileiro. Essa concentração faz com que muitas pessoas busquem ali melhor qualidade de vida, aumentando a densidade demográfica da região e trazendo assim diversos problemas sociais e ambientais.
A crescente urbanização exige mais espaços para se construir as moradias, e quando não há este espaço as pessoas acabam por optar viver em áreas de risco, tanto para elas quanto para a natureza. Há uma maior necessidade de meios de locomoção, uma maior produção de bens, a poluição dessas áreas urbanizadas tente a aumentar e outros problemas diversos que são derivados da urbanização descontrolada no Brasil.
Os problemas no campo brasileiro são vários também, as pessoas estão deixando as áreas rurais para buscar uma vida mais confortável nas cidades, tendo que dessa forma comprar seus alimentos e aquilo que necessitam, quando antes podiam produzir para sobreviver.
Outra questão são os latifúndios que tem como base a plantação para exportação de produtos e ainda as extensas áreas de criação de gado, que exploram a terra ao máximo, deixando muitas áreas totalmente inférteis. Lembrando ainda dos desmatamentos e queimadas, poluição dos elementos naturais com o uso de agrotóxicos e demais elementos químicos.
Existem discussões ainda sobre a relação entre o crescimento populacional e a exploração dos recursos naturais, mas na verdade é o sistema de produção, ou seja, o sistema econômico que exige mais dos recursos, já que existem países muito populosos e que não agridem tanto o meio ambiente quando outros do mesmo porte populacional, mas que tem um sistema econômico baseado na exploração dos bens naturais.
Os países menos desenvolvidos tomam como exemplo de desenvolvimento os países de primeiro mundo, aqueles onde as pessoas são totalmente submissas ao mercado, o consumismo sem limites é o que rege as relações sociais, a exploração da natureza é a base para o crescimento econômico.
Mas sabemos que os recursos não sobreviverão se continuarmos neste ritmo, muitos elementos naturais já estão escassos e tendo que ser substituídos por outros, muitas espécies deixaram de existir, muitas áreas apresentam altos níveis de poluição e degradação ambiental. Enfim, temos em mente que esse sistema é simplesmente insustentável.
Isso nos faz pensar que ainda é tempo de reverter essa situação e que devemos ter em mente quais são os limites para a exploração dos recursos, levando em consideração o fato de que somos todos acima de tudo parte deste meio natural, sofreremos com as conseqüências que nossas ações causarem.