REFLETIR SOBRE EDUCAÇÃO INTEGRAL E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
Por Maria Sebastiana Alves dos Santos | 06/09/2012 | EducaçãoINTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo entender a educação integral como uma nova concepção de Instituição e suas funções na sociedade atual e contribuir com as discussões que permeiam a Escola de Tempo Integral enquanto formação do indivíduo na sua totalidade.
O conceito de Educação Integral surge na educação contemporânea, com a expectativa e desejo de oferecer um novo formato para a educação que possibilite tornar a condição humana mais independente, diante das novas conquistas científicas e tecnológicas. Ao longo da história da educação várias interpretações foram dadas a Educação Integral, e influencias de reformistas católicos a socialistas anticlericais em suas diferentes formas de pensar e agir sobre educação.
A Educação Integral compreendida enquanto formação integral é aquela que considera o sujeito em sua condição multidimensional, realçando a necessidade de desenvolvimento integrado de suas faculdades cognitivas, afetivas, corporais e espirituais.
A política da escola pública de período integral trata-se de uma tentativa do sistema educacional brasileiro de fortalecer as práticas educativas escolares e valorizar a formação de um cidadão mais consciente, crítico e participativo na sociedade.
Educadores situaram a educação como um meio específico, promovendo o desenvolvimento integral das crianças. A sugestão é pensar o projeto político de educação integral em íntima associação com a idéia de ambiente escolar, como um conjunto intuitivamente compartilhado de percepções sobre usos de espaços e tempos, para organizar os processos de ensino e orientar disposições psicológicas e valores. Esse conjunto pode ser mediado pela política institucional, quando os gestores procuram olhar nos olhos dos profissionais da educação, nas escolas. Assim pode fortalecer crenças para não desistir de repetir gestos de ternura, cuidado, gentileza e autoridade que fazem diferença. É possível organizar o projeto político pedagógico das escolas assentado nas demandas sociais e culturais de cada comunidade. A gestão democrática é um processo ainda em construção, necessitando de tempo e esforços para que de fato se consolide. A natureza fundamental dessa proposta é o acesso, permanência e sucesso de crianças e adolescentes nas escolas públicas e a melhoria da qualidade da aprendizagem. Esse aluno terá assistência integral em suas necessidades básicas e educacionais, melhorando o aprendizado escolar, aumentando a auto-estima e resgatando valores, reduzindo assim os índices de evasão, de repetência e de defasagem de ensino/aprendizagem.
A escola de tempo integral demonstra em primeiro lugar a exigência pela popularização da educação, no sentido de uma escola universal de qualidade que prepare o cidadão para a vida, com integração dos conhecimentos em abordagens interdisciplinares, transdisciplinares e transversais.
A proposta de educação integral demonstra a existência de uma preocupação com a garantia do direito à educação, possibilita o surgimento de uma escola verdadeiramente democrática, comprometida com a cidadania, a inclusão e a produção de saberes diversificados. Tal escola exige mais do que a renovação pura e simples das estratégias pedagógicas. É fundamental que todos os envolvidos se comprometam com a discussão de todos os seus aspectos, reflitam suas ações e compartilhem sucessos e fracassos.
Assim, trata-se de uma proposta, mais do que pedagógica, política, já que nenhum dos envolvidos pode, em momento algum, mostrar-se neutro diante do processo. Revela-se, nessa pratica, uma dimensão de educação como ato de humanização que demanda, ao mesmo tempo, conhecimento e criação: a educação como um ato político, de importância fundamental na formação de consciências. Isso não significa trabalhar apenas com o que querem aprender, e sim que aquilo que é proposto como conteúdo escolar, curricular, só poderá ser significativo se dialogar com os interesses do grupo, seus conhecimentos prévios, seus valores e seu cotidiano. Nesse sentido, somente o que se coloca como desafio, como inquietação para educadores e educandos, pode se transformar numa relação adequada de ensino-aprendizagem.
Fica incumbida, em geral, à escola a formação do cidadão, conferindo- lhe total responsabilidade pela educação, sobretudo nos primeiros anos de vida, já que é o lugar onde a criança e o jovem se desenvolvem, socializam-se e constroem sua identidade. Entretanto, embora seja a escola o espaço onde se dá a sistematização formal do conhecimento humano, a educação-formação do individuo acontece em muitos outros espaços onde ele realiza suas atividades sociais, não cabendo, exclusivamente, à escola a incumbência de fazê-lo. A escola também é o espaço onde a criança, ou jovem, pode exercer a autonomia e conviver com as diversidades culturais e étnicas, ações fundamentais para o reconhecimento dos direitos e deveres exigidos pela vida em sociedade.
Assim, define-se um dos fatores mais relevantes desse estudo: o “espaço” na educação integral é “qualquer” lugar onde se reconhecem possibilidades de novas e diferenciadas vivências pedagógicas, de socialização ou diálogo com a comunidade.
Outro fator relevante na compreensão da proposta de educação integral é o “tempo”. Não se trata apenas de ampliar os períodos em que a criança ou o jovem permanece na escola, mas de integrar atividades que se vinculam o processo formativo ( práticas culturais, lúdicas, esportivas, etc.) e ampliam as oportunidades de exercício de autonomia e os repertórios sócio-culturais. Parece óbvio que a integração de atividades tão diferenciadas, é necessária uma maior permanência na escola, mas esta não deve ser vista como período “complementar”.
A implantação da educação integral exige uma avaliação da realidade escolar de cada região, pois qualquer ação pedagógica merece e deve ser feita tendo-se em mente o contexto maior em que se insere. Devem ser consideradas, não somente as praticas pedagógicas ali desenvolvidas, mas também a gestão escolar, a formação e capacitação de professores e de outros profissionais envolvidos no processo, a infraestrutura, os recursos pedagógicos, entre outros. A reformulação da escola para a educação integral prevê a valorização da cultura local, considera a grande diversidade de saberes que compõem a realidade social. Na educação integral, a diversidade e os saberes desenvolvem condições de mútuas e negociações sucessivas entre escola e comunidade, que contemplam as dimensões efetiva ética, estética, social, cultural, política e cognitiva.