Reconsiderando 'A História Repensada' de Keith Jenkins
Por Luciano Agra | 03/11/2008 | HistóriaRESENHA CRÍTICA
JENKINS, K. A História
repensada. Tradução de Mario Vilela.
Revisão Técnica de Margareth Rago. São
Paulo: Contexto, 2001.
Luciano Bezerra Agra Filho
Para Jenkis, a história constitui um dentre uma
série de discursos a respeito do mundo. Muito embora esses
discursos não criem o mundo(o autor refere-se à
questão física), eles se apropriam do mundo e lhe
dão todo o significado que têm. E o que se
pretende com a história é investigar parte do
todo que constitui o mundo, ou seja, o passado, já que
passado é história são coisas
diferentes. No entanto, o passado e a história
não estão unidos um ao outro de tal maneira que
se possa ter uma, e apenas uma leitura histórica passado.
Eles existem livres um do outro, cada uma com suas particularidades
são importantes objetos de
investigação.
A história, embora
seja um discurso sobre o passado, está inserida numa
categoria diferente dele. Isso talvez soe estranho, por não
estarmos habituados com tais distinções,
portanto, uma das razões que explicam tais
diferenças é o fato de tendermos a perder de
vista que realmente existe essa distinção entre a
história entendida como o que foi escrito/registrado sobre o
passado - e o próprio passado, pois a palavra
“história” cobre indistintamente ambas
as coisas.
Precisamos entender que o passado e a
história não estão unidos um ao outro
de tal modo que se possa ter apenas uma leitura de qualquer
fenômeno; que o mesmo objeto de
investigação é passível de
diferentes interpretações por diferentes
discursos; e que, até no âmbito de cada um desses
discursos, há interpretações que
variam e diferem no espaço e no tempo. No importando o
quanto a história seja autenticada, amplamente aceita ou
verificável, ela está fadada a ser um constructo
pessoal, uma manifestação da perspectiva do
historiador como narrador. Ao contrário da
memória direta, a história depende dos olhos e da
voz de outrem.
No entanto, o ponto de vista e as
predileções do historiador ainda moldam a escolha
do material, e nossos próprios constructos pessoais
determinam como os interpretamos. O passado que conhecemos é
sempre condicionado por nossas próprias visões,
nosso próprio presente. Assim como somos produtos do
passado, assim também o passado conhecido(a
história) é um artefato nosso.
Ninguém, ao importando quão imerso esteja do
passado, consegue despojar-se dos seus conhecimentos e de suas
pré-posições.
A
história é um discurso em constante
transformação construído pelos
historiadores e que da existência do passado não
de deduz uma interpretação única: Mude
o olhar, desloque a perspectiva, e surgirão novas
interpretações. No entanto, embora os
historiadores saibam de todas essas coisas, a memória parece
desconsiderá-las de caso pensado e se empenha em
alcançar a objetividade e a verdade mesmo assim. E essa
busca pela verdade transcende posições
ideológicas e/ou medotológicas.
É
enganoso falar do método como marinho para a verdade.
Há uma ampla gama de métodos, sem que exista
nenhum critério consensual para escolhermos dentre eles.
Doravante, pessoas como o historiador Marwick argumenta que
é trabalho dos historiadores desenvolver severas regras
metodológicas, pelas quais eles possam reduzir suas
intervenções morais. Para esse historiador,
portanto, o conhecimento e a legitimidade advêm de regras e
procedimentos metodológicos rígidos. É
isso que limita a liberdade interpretativa dos historiadores.
Não obstante todas as diferenças
metodológicas entre empiricistas e estruturalistas(por
exemplo), eles estão de acordo no fundamental. O fato de os
estruturalistas chegarem a extremos para explicar com muita
minúcia que não são empiricistas -mais
o fato de terem formulado suas abordagens específicas
justamente para diferenciar-se de todo mundo – parece ter
sido um tanto desconsiderado por Marwick.
Em todos os tipos de
história, deparamos continuamente com os supostos conceitos
históricos, que segundo Jenkins, por não serem
denominados conceitos de historiadores, eles parecem impessoais e
objetos, como se pertencessem a uma história que, de alguns
modo, surgiu por geração espontânea. E
não é só isso: com bastante
regularidade, tais conceitos são chamados os
“alicerces” da história.
Percebemos
que os significados dados ás histórias de todo o
tipo são necessariamente significados que vêm de
fora. Não significados intrínsecos do passado,
mas significados dado ao passado por agentes externos. A
história nunca se basta; ela sempre se destina a
alguém.
O fato de que a história propriamente
dita seja um constructo ideológico significa que ela
está sendo constantemente retrabalhada e reordenada por
todos aqueles que, em diferentes graus, são afetados pelas
relações de poder pois os dominados, tanto quanto
os dominantes, têm suas próprias
versões do passado pra legitimar suas perspectivas
práticas, versões que precisam ser tachadas de
impróprias e assim excluídas de qualquer
posição no projeto do discurso dominante.
Portanto, a essa altura já nos é
possível entender á pergunta “o que
é a história?” ou para quem
é a história? Ao fazermos isso, vemos que a
história está fadada a ser
problemática, pois se trata de um termo e um discurso em
dependência com diferentes significados para diferentes
grupos. Uns querem a história asséptica, da qual
o conflito e a angustia esteja ausente; outros, que a
história leve á passivamente; uns querem que ela
expresse um vigoroso individualismo; outros, que proporcionem
estratégias e táticas para a
revolução. O que almejados realmente é
entender que aspecto teria uma história com que todos
pudessem concordar de uma vez por todas.
A história
é a maneira pela qual as pessoas criam, e suas identidades.
Ela é muito mais de que um módulo no
currículo escolar ou acadêmico, embora possamos
ver que ocorre nesses espaços educacionais tem
importância crucial para todas aquelas partes diversamente
interessadas.