Quero olhar a floresta novamente, sujar meus pés naquele mesmo barro com o som de meus sorrisos. Caminhar pela vida livre, de obrigações sem sentido pelas posses que escravizam.
Quero tudo que perdi. Exijo a vida de volta. Quero querer de novo. Desejar, sentir, olhar tocar...com vontade, nada mais por mera obrigação. Já senti a dor, já perdi e já ganhei tantas vezes, que já nem sei mais a diferença entre ambas as coisas.
A desolação da alma que expande o poeta, dói mais no vazio da solidão espiritual do adulto, que matou o menino para sobreviver.
Ou ele me enganou e não morreu?!
E nem sei se sou eu que quero este querer, pode apenas ser ele que grita em mim, desenhando momentos de insatisfação sem fim a estenderem-se pela linha do horizonte afora.
Talvez eu queira querer de novo, porque este deserto em mim não é apenas tétrico, é morto.
Desejo correr atrás da bola, apaixonar-me pela menina, ir pra escola!
Por quê as melhores coisas são tão simples, gratuitas e sempre passam desapercebidas, até serem reveladas pela inutilidade da saudade?
Quero querer de novo, sabendo o que tenho, o que toco, o que vejo. Navegar na consciência de poder falar com Deus novamente, como no tempo em que Ele me ouvia. Ou seria eu a ouvi-Lo?
Quero a mágica do não saber, para não perder nunca mais o encanto de estar vivo. A minha pretérita ignorância foi o maior dom que me veio com a vida e a destruí.
E não me tornei adulto, apenas adulterei a vida. Tem sido sempre assim: torno-me, a cada momento, o efeito colateral de mim mesmo, num círculo vicioso, ridículo e inútil.
Amo pelo avesso. Como um “Rei Midas” ao contrário, deteriorando tudo o que toco, como numa maldição.
Assim, na irreversibilidade do tempo, já não tenho prazo para andar sem caminhar, olhar sem ver, amar sem paixão e tocar sem sentir.
Quero querer de novo, apenas isso!
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