QUEM NÃO SE OCUPA NÃO SE PREOCUPA

Por sebastião maciel costa | 29/09/2023 | Educação

Quem não se ocupa, não se preocupa.

         Há um relato de um idoso que, como que por acaso, encontrei a mãe de um pequeno e inteligente garoto que, acabando de completar os seus primeiros 10 anos de vida, mas não tinha recebido, sequer,  um presentinho de um amigo velho do seu condomínio. Ao longo dessa conversa o garoto se afastou dos adultos que aproveitaram para discutir o que melhor o faria feliz como presente de aniversário. A mãe do garoto começou a relatar sua sobrecarga enquanto mãe, dona de casa e responsável pelo acompanhamento dos estudos do seu amado filho.

       Em um determinado momento, ela demonstrou uma certa frustração no que diz respeito ao pouco tmpo que a mesma tinha para todas essas questões e que um dia, ela pediu para o garoto ajuda-la no que fosse possível, como dobrar o lençol, pela manhã, colocar a roupa suja no cesto, forrar a sua própria cama... O garoto hesitou, estranhou, mas pela facilidade de expressão respondeu: que o seu pai lhe dizia que quando crescesse, seriam iguais. Então, como ele, garoto, deveria fazer tais tarefas se, o pai dele nunca assim o agira? -Não, não vou fazer mãe, para isso tem a senhora. Isso é sua obrigação, pai falou.   O idoso, acabando de ouvir o desabafo daquela jovem e inexperiente mãe, deu por encerrado aquele encontro, se despediu a jovem mãe e procurou entender, analisar, refletir, pensar, para um possível julgamento de uma situação eu o chocou enquanto idoso, que já assistir a embates e conflitos entre gerações, em várias décadas, concluindo que a cada dia a distância entre as pessoas só aumenta e compromete quaisquer possibilidades de consenso.

         Ali, sozinho ele começou a levantar algumas hipóteses: Onde está posto que a criança tem apenas  um dever na vida, que é estudar? Por que ela não pode colaborar em casa com as tarefas domésticas? Como essa criança vai entender para que tudo esteja pronto em casa, na escola, no transporte, na rua... alguém se dedicou ou até mesmo se sacrificou para tanto? Como ela vai aprender a valorizar o que lhe cabe? Como essa criança vai desenvolver em suas expectativas de que todo mundo precisa se sentir importante e pertencente a algum núcleo de efetivo envolvimento? Como implantar nessa criança que esse espaço, esse universo é o núcleo familiar, e que, a ausência desse lastro pode sugerir que ela vá buscar em outros grupos, na rua, onde bem sabemos que é exatamente onde está o perigo?

        Existe uma velha fábula que conta sobre um cavalo que caiu num poço. Pela dificuldade em retirar o cavalo de lá, por ser muito fundo, apertado e o cavalo ser muito pesado, o fazendeiro acabou optando por sacrificar seu animal e decidiu que ele seria enterrado ali mesmo, no poço. Determinou então que todos os funcionários da fazenda trouxessem sacos de terra e os fossem despejando dentro do poço, sobre o cavalo. Ninguém esperava, mas à medida que a terra era despejada, o cavalo se sacudia e o poço ia ficando cada vez mais raso, até que foi possível o cavalo sair andando são e salvo, para o espanto de todos que em momento pensaram nesse desfecho.

         Aí vêm os primeiros questionamentos: o cavalo sabia o que, de fato, estava acontecendo? Os trabalhadores, ao longo do trabalho previram essa possibilidade? Fazendo uma analogia entre o contexto inicial onde a criança não se vê fazendo uma determinada tarefa por falta exemplo e o resgate natural do cavalo que caíra no fundo do poço confirma-se um temor: quem tem o poder do racional é a família ou cavalo no seu universo? Sim, a pergunta procede porque os pais devem sentir e saber que é preciso ensinar. É preciso dar exemplo. É preciso mostrar caminhos que os levem ao melhor horizonte.  Vive-se algo parecido. O mundo moderno, tentando sair do fundo do poço, faz todos se sacrificarem e tentarem se moldar às novas condições; menos as crianças. Aquelas que têm acesso a uma educação de qualidade e são egressas de nichos familiares que lhes moldaram para serem agentes do seu tempo e protagonistas de sua própria história têm todas as condições de se sacudirem para que os problemas caiam e sejam pisoteados, menos mal. Mas, e aquelas que não têm o lastro de formação familiar, tampouco uma escola capaz de fazer o papel das duas instituições, família e escola, terão resultados comprometedores.

        Não bastasse esse descompasso entre esses dois tipos de crianças, a que está apta a aprender a ser e que pouco sabe e nada espera da vida surge a possibilidade de elas conviverem no mesmo espaço social. Cada grupo com os seus hábitos, sua forma de ser, seu vocabulário, suas crenças, suas regras e valores. Nesse “convívio” a lei natural é o que traz em si, comportamentos baseados em valores como família, respeito, igreja, trabalho e honra se encantar pela cultura dos hábitos adquiridos e postados na rua, nas redes sociais nas facilidades que a liberdade de quem não sabe onde chegar oferece. E quando a criança comete um erro, a alternativa dos pais á fazer o que é certo: reconhecer que quando o filho  erra existem muitas possibilidades de que o erro dele é a sua falha enquanto pai. Mas não se pode “assumir” o erro do filho, mesmo sendo reflexo de uma omissão do adulto. Cada um é único, individual, não se trata de se sentir culpado, mas responsável. Por que o erro dele não é o meu? Porque cada um responde pelos seus atos. O pai porque esperou que o filho soubesse como agir, sem ter aprendido; o filho por não saber que precisava aprender. O tempo passou e, a gora é a vez da criança e o professor. Novos personagens, novos ambientes, novas possibilidades, novos desafios, novos conflitos, novos parâmetros, novos agentes para uma mesma sociedade.

        Educar, tarefa de pais, nunca foi fácil, mas é preciso ter em mente que o diálogo deve sempre ser a base da relação entre os membros do núcleo familiar. Muitas sociedades se aniquilam por falta de boas condições de vida e trabalho para que as famílias possam se estruturar e, naturalmente criar os seus filhos com dignidade e respeito, pois a qualidade de vida influi bastante no tom das relações familiares. Nenhum pai se sente à vontade, vendo os seus filhos passando por privações e cerceamento de direitos e oportunidades. Quando não há compensação entre direitos e deveres, consequentemente nasce a intolerância, grande entrave para todas e quaisquer tentativas de solucionar problemas. Pais que não aprendem não ensinam; crianças que não sabem não podem dar conta. Têm pais que aprendem mas não ensinam, têm crianças que até sabem fazer, mas para elas, é melhor mostrar ao mundo que sabem mas não fazem, é mais “on” para o seu mundo. Os pais, como professores, aprendem quando mudam a forma de ensinar, quando se colocam numa atitude receptiva para entender as ideias, os pontos de vista dos filhos: essa mudança de atitude tem grandes consequências. Os professores, como os pais ensinam quando mudam a forma de ensinar, e se colocam o lugar do outro. Esse outro que, muitas vezes, de nada sabe, mesmo assim, planejam, preparam as atividades, porque se colocam no lugar do aluno, pensam como aluno, partindo desse referencial para introduzir o conhecimento, por meio  dos objetivos que devem ser claros.

       Não se trata de sobrecarregar uma criança com afazeres que possam comprometer sua qualidade de vida e atendimento às suas necessidades básicas inerentes à idade. Reclama-se a atitude de apontar, na prática como se constroem os elementos que comporão a vida maia tarde.  Muitas vezes, pode acontecer que pertencendo a uma classe social pertencente à elite financeira e social, não seja necessário se discutir centavos, salários, elementos que compõem a vida diária de milhões  de pais de famílias que precisam lutar muito para garantir moradia, alimentação, saúde e educação para os seus filhos. Nesses casos a pauta da família esta fundamentada nesse vocabulário, todas as crianças conhecem e convivem muito bem com suas limitações diárias. Mesmo assim, consta a necessidade de se discutir na fase de formação, as melhores formas de se obter subsistência, os meios de se obter trabalho e a forma de como tudo isso precisa estar formatado em um padrão de valores que desenham a honra e dignidade que definem  o perfil de cada um.

         Para aqueles que nascem “em berço esplêndido”, a responsabilidade da família aumenta pois é preciso transmitir às crianças o valor de cada centavo, de onde vem cada gota de suor que os trabalhadores vertem para se manterem vivos, como há sacrifícios para que as despesas da casa sejam cobertas. Como seria oportuno que todas as crianças assistissem o dia a dia dos pais trabalhadores para sustenta-las, manterem vestidas, alimentadas, saudáveis, em uma boa escola. Para os menos favorecidos, despertar a valorização dos pais, para oss mais abastados, entenderem que nem todos têm tudo o que precisam, e a todos a educação na valorização dos recursos materiais, naturais, ambientais e, nesse enfoque, o respeito pelo outro, pela vida, pelo trabalho, pelo estudo, pela vida. Afina, como saber onde chegar, se o caminhar não foi trabalhado passo a passo?.  

  • Sebastião Maciel Costa  
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