QUEM AMA APRENDE: DA INFLUÊNCIA DA AFETIVADADE NA APRENDIZAGEM
Por Idanir Ecco | 31/08/2016 | EducaçãoIdanir Ecco[1]
A aprendizagem dos educandos tem a ver com a docência dos professores, com sua seriedade, com sua competência científica, com sua amorosidade, com seu humor, [...]
(Paulo Freire).
A aprendizagem é um temaação formal. Em vista disso e sem ressentimentos podemos muito bem parafrasear William Shakespeare (1564-1616), escritor, dramaturgo inglês e autor da famosa frase “Ser ou não ser, eis a questão”, afirmando: aprender ou não aprender, eis a questão.
Aprender, do verbo latino apprendere, em suma significa adquirir conhecimento, isto é, tomá-lo como posse, adonar-se, tornar-se proprietário do saber pretendido. Ora, em sã consciência, ninguém toma para si, a “sete-chaves” algo insignificante, sem sentido, não afeiçoado. Aliás, almeja-se adquirir saberes que possam provocar exclamações do tipo: isso é tudo de bom! Evidentemente, que essa inclinação por simpatia, nada mais é, do que a manifestação de afetividade para com o objeto cognoscível.
Primeiramente, há que se considerar o óbvio: a produção e a aquisição de saberes, não ocorrem de forma espontânea. É imprescindível poder e querer fazê-lo. Portanto, existem fatores que interferem no processo da aprendizagem, como por exemplo: razões motivacionais, elementos sociais e interpessoais, aspectos relacionados à estrutura cognitiva e à personalidade. E, neste lacônico texto, não pretendemos discorrer sobre fatores que interferem na aprendizagem, todavia, objetivamos reafirmar o que está anunciado na epígrafe desta redação, em que Paulo Freire (1921-1997) chama a atenção ao fato de que a aprendizagem dos educandos diz respeito à docência dos professores, isto é, para com seu nível de competência e de afetividade. Interessa-nos aqui, ao destacar reflexivamente o vínculo entre afetividade e aprendizagem, restringir o olhar para a relação professor-aluno.
Nas relações humanas o afeto tem importância primordial no estabelecimento de uma convivência agradável entre todos. E no contexto das práticas pedagógicas, pesquisas apontam que a afetividade influencia o processo de ensino-aprendizagem, pois demonstrações de afeto do preceptor agem no emocional do educando, porque revela dedicação, admiração, benquerença, estima, zelo. Aprendemos, também, com Jean Piaget (1896-1980), epistemólogo suíço, que a vida afetiva e a vida intelectual são interdependentes. Logo não é possível suprimir o vínculo entre ambas considerando os atos de aprender e de ensinar, que por sua vez, da mesma forma, fundem-se quando processados.
O vínculo afetivo, na atividade educacional, é um elemento catalizador, pois tem o poder de estimular, fomentar, incentivar o processo de ensinagem. Por via de regra, ser professor é estimular e ampliar o desejo de conhecer de seus pupilos, eternos aprendizes. Assim, reforçamos a observação de Rubem Alves (1993-1914), redigida no prefácio da obra Quem educa marca o corpo do outro, de Fátima Freire Dowbor, (2008, p. 17): “O desejo de aprender, no aluno, brota de sua relação afetiva com a professora ou professor: o aluno deseja ‘apropriar-se’ daquela imagem a que ele está ligado afetivamente.”
Para aprender é preciso que o educando sinta-se identificado com seu educador. Logo, não se aprender com qualquer um. Aprende-se com quem é possível interagir, conviver, porque, além do encantamento, existe empenho, permutação, diálogo.
A qualidade da relação professor-aluno pode ser determinante na concretização do objetivo docente que consiste em tutelar, em cuidar para que o aluno aprenda. Verdade seja dita: o cuidado requer laços de afetuosidade! Logo, a amorosidade é um dos ingredientes essenciais no processo de aprendizagem, pois possibilita elementos pedagógicos motivadores para aprender, ao contrário do medo, da humilhação, do castigo, próprios do modelo tradicional de educação.
[1] Mestre em Educação UPF/RS, Professor da URI Erechim/RS, Membro da Academia Erechinense de Letras. idanir@uri.com.br,