Que é o silêncio

Por Custódio Grenho | 07/02/2025 | Filosofia

Não digo que o silêncio seja motivado por falta de argumentação nem por preguicite ideológica, mas o recurso a um argumento de emergência quando não encontramos palavras que defendam as nossas teses ou que de qualquer forma possível nos sejam favoráveis na argumentação; Quando a resposta que encontramos não apresenta a consistência nem a solidez necessária para sustentar um discurso verdadeiro fundamentado e credível, mas pelo contrário,  é fraca ou inadequada e não nos dá razão. Nesse caso, responder não respondendo é sem dúvida a forma mais sábia de responder.
Mas... Já pensaram o que acontecerá quando um dia procurarem respostas e tiverem que recorrer à interpretação do silêncio?

Será que encontram o que procuram quando tiverem que interpretar o que não vos disseram? Ou ficarão para sempre sem saber se a resposta que encontraram tem alguma correspondência com a verdade?

As razões pelas quais não respondemos ou respondemos não respondendo, podem ser várias, na verdade só nós sabemos se o fazemos por inércia, por desconhecimento ou por conveniência.
Quando o fazemos, só nós sabemos, ou talvez até nem nós saibamos a razão porque não respondemos, ou como vós dizeis: Talvez o façamos usando a mais sábia das respostas, pois na verdade, por vezes acaba por ser isso mesmo... Não porque responder com silêncio seja em si mesmo uma resposta sábia, mas apenas por não dispormos de outra, e nesse caso, dou-vos razão, pois não havendo outra ela será não só a mais sábia mas (acrescento eu) também a única.
Eu apenas sei que o silêncio nem sempre é a reposta mais sábia e direi mesmo que quase sempre que acontece seja a única possível, visto que não nos ocorre nenhuma outra nesse momento. Por outras palavras:

Acontece apenas na falta do argumento ou dos argumentos que ainda não encontrámos. É por isso que vos recomendo que tenhais cuidado, pois agora já sabeis que quando disserdes que o silêncio é a mais sábia das respostas, os que vos ouvirem também saberão que essa é uma argumentação que pode ser falaciosa e que como tal a deveis banir do vosso discurso, ou no mínimo; usá-la com muito cuidado e moderação.

Recomendo igualmente que procureis as vossa respostas antes de vos escudardes no silêncio, pois agora sabeis que eu sei que o podeis fazer como recurso, sempre que não encontrardes soluções para o que procurais, e lembrai-vos que se nem sempre encontramos o que nos convém, poderá ser apenas por não estarmos sempre do lado certo da barricada. Porque na verdade e por muito que não queiramos acreditar nem sempre temos razão. E por vezes quando isso acontece ficamos sem palavras e consequentemente em silêncio.

Já que nada mais posso fazer resta-me desejar que Deus vos ilumine, pois bem poderão precisar dessa luz divina se um dia tiverem que recorrer à interpretação do silêncio para nele encontrarem as respostas que procuram.

O silêncio cria fossos, aumenta distâncias, ergue barreiras e gera dificuldades. Não promove nem facilita o entendimento. Não cria pontes e em vez disso destrói as existentes.
O silêncio não nos dá as respostas que procuramos obrigando-nos muitas vezes a especulações fora do contexto.

É o diálogo e a discussão que trazem a luz. Quem se silencia nega essa abertura.

É preciso desmistificar para valorizar de facto!

Concordo com o silêncio em condições particulares, controladas. Acredito e afirmo que é fundamental no processo do entendimento:
Devemos escutar atentamente para entender e isso faz-se melhor em silêncio, mas é apenas uma parte do processo e nunca uma resposta. É benéfico enquanto instrumento  que foque a nossa atenção para ajudar a perceber... E perceber nada mais é que receber e analisar convenientemente a perceção. É uma condição necessária e imprescindível ao entendimento, cuja função é preparar as condições à obtenção de respostas aos estímulos causados pelas perceções recebidas.

O silêncio é parte do processo... Não o processo... E como sabemos há uma diferença abissal entre ser uma coisa e fazer parte dela, tal como os pedais não são a bicicleta, mas uma parte da mesma sem a qual ela não seria o que é.

Há silêncios que não nos incomodam e pelos quais até  ficamos gratos, mas há outros que nos preocupam, que nos aborrecem e dececionam tremendamente.

É errado pensar que o silêncio é a melhor resposta, pois se assim fosse, bastaria não respondermos para que a tivéssemos assegurada... O que todos sabemos não ser verdade! Uma boa resposta dá trabalho, não surge instantaneamente do nada, carece de preparação alicerçada num estudo cuidado e aprofundado sobre a questão que nos é posta, (o tema em apreço) e nem isso nos garante que a encontremos.

Se apenas ficarmos em silêncio e não a procuramos jamais a encontraremos. Se o silêncio nos propicia as condições ideais para que a procuremos há que fazê-lo e não ficar retido na primeira fase.
Há muitos tipos de silêncio. Para perceber de que silêncio se trata, é preciso ter em conta se o fazemos porque ainda não  temos a resposta, ou se simplesmente não queremos responder.

Uma coisa é certa: Quando nos silenciamos, forçamos os outros a procurar as respostas que lhes negámos e que poderiam ser esclarecedoras, ou pelo menos um contributo se discutidas. O silêncio origina sempre um corte radical no entendimento. É uma pena que seja utilizado de forma leviana e irresponsável; Seja por birra, por capricho ou como desculpa de ser a melhor  resposta.
O silêncio que valorizo é a pausa que antecede o acontecimento e o torna importante. O seu momento mais alto é a possibilidade de criar as condições ideais à meditação e ao desenvolvimento de reações e respostas excecionais.
A apoteose do silêncio é sempre o que vem a seguir.
O que se lhe segue.
O prenúncio, e não o ato em si mesmo.

Não devemos confundir os meios com os fins.
Reconheço no silêncio um poço de virtudes. E afirmo que a sua pior utilização consiste em usá-lo como se fosse a melhor resposta.
O silêncio em si mesmo pode ser o prenúncio de algo extraordinário e até apoteótico.
Proporciona de facto os melhores momentos para a reflexão. Dá-nos as melhores condições para pensar e organizar uma resposta, mas em si não responde seja ao que for.
A sua função não é responder, mas criar as melhores condições para a organização de respostas.
Curiosamente tem muitas virtudes que o podem glorificar, mas que raramente são apontadas como tal, e no entanto é idolatrada a sua utilização como resposta e tida como sendo a sua maior virtude, o que em nada o glorifica e em vez disso o desvirtua.

Descobrem-se coisas fabulosas no silêncio.
Proporciona momentos únicos. Meditações fantásticas. E por vezes, desvela verdades  que a serem divulgadas provocariam convulsões perigosas.
Ensina a prudência e o bom senso que como tudo o que é poderoso, a verdade deve ser manuseada com cuidado.
Meditar, pode trazer-nos à consciência verdades que deverão permanecer ocultas, longe da vocalização das palavras e consentidas apenas na intimidade do pensamento.
 

 

 

 

Artigo completo: