Quando Olhamos Para Uma Pessoa

Por Sérgio Lisboa | 01/03/2008 | Crônicas

Não conhecemos as pessoas como elas são. Quando olhamos para elas, vemos apenas o reflexo de nossa própria avaliação. Com a aproximação, com a convivência, começamos, então, a dar uma chance para que elas se apresentem, mostrem suas verdadeiras características, mas mesmo assim, deixamos interferir a nossa leitura no que é apresentado.


Não são raras as situações em que, quando, finalmente conhecemos determinada pessoa e, conversando um pouco mais, ou até com o passar dos dias, somos obrigados a dizer que tínhamos outra opinião a respeito dela, normalmente dizendo que a achava antipática, arrogante ou metida, muitas vezes só porque a pessoa passava por nós e não nos olhava e nem falava nada.

O pior é quando a pessoa falha conosco, por um detalhe qualquer, daí vem o veredito :"Eu não falei para vocês que ela não prestava!"

O pré-julgamento é algo que faz parte de nós, mas é preciso termos muita cautela, até porque o contrário também acontece, e também podemos ser julgados (Fernando Collor já dizia isso).

Não podemos nos esquecer que tem, também, a expectativa inversa, ou seja, desenharmos um quadro maravilhoso de alguém, de longe e, quando nos aproximamos, temos uma verdadeira decepção.

Pelo menos no que diz respeito às regras das boas relações, não cabe dizer que imaginava uma coisa boa e viu que não era nada daquilo. O melhor é ir se afastando e não falar nada.

Falando em pré-julgamento, existe um pequeno teste para identificarmos o que as pessoas carregam no inconsciente, projetando nos outros suas visões, e que acabam sendo determinantes para as avaliações que fazem para as condutas dos outros.

Vamos imaginar duas pessoas caminhando pelo centro da cidade, à noite, e no alto de um edifício, no último andar, somente uma luz acesa, em um escritório comercial. Normalmente as pessoas tendem a definir o que está ocorrendo naquela sala, baseadas em suas próprias experiências, ou em suas próprias fixações:

O sexo-maníaco, diria:"Devem estar transando lá em cima".

O corno: "E a mulher deve ser casada".

O amigo do alheio:" É alguma maracutaia e só podem estar roubando".

A tarada: "Devem estar fazendo um sexo oral de enlouquecer".

O brocha: "Tão perdendo tempo".

O viciado: "Prá mim tão é fumando um baseado e não querem repartir".

O mais estranho é quando alguém diz: "Devem estar transando mesmo, e eu acho que são dois homens".

Ninguém diz que eles ou elas devem estar trabalhando até tarde para sustentar a família.

Eu vou confessar para vocês o que eu diria: "Deve ser alguém indignado, procurando na internet, uma crônica melhor para ler".

Sérgio Lisboa.