Quando a vida ganha sentido?
Por Ciro Toaldo | 14/11/2011 | SociedadeQUANDO A VIDA GANHA SENTIDO?
Prof. Me. Ciro José Toaldo
Madre Teresa de Calcutá foi iluminada ao escrever: a vida é um mistério, descubra-o; a vida é tristeza, supere-a e a vida é uma luta, aceite-a. Viver é uma arte, mas a existência nos apronta muitas surpresas, especialmente quando é preciso enfrentar a ‘separação’ de quem tanto amamos. Contudo, ao mesmo tempo, a tristeza da solidão/separação é confortada pela fé que nos leva imaginar como deve ser a vida lá no céu: acredito que lá deve ser uma eterna festa e para essa festança, meu pai foi chamado, com seus oitenta anos, após padecer por vários dias na UTI.
Como afirma Madre Teresa, a vida só pode ganhar sentido quando enfrentada com entusiasmo, mesmo quando nem tudo seja flor, precisamos lutar e superar tristeza e solidão. Talvez muitos leitores não consigam compreender como é possível superar a perda de um ente com quem se conviveu por quase cinqüenta anos e, mesmo no sofrimento, com ele conseguimos aprender muito em seus últimos dias de vida.
Vivemos no mundo da aparência, da pompa e onde a posse é destaque. Será esse o sentido da vida? Creio que não! Quando fomos sepultar nosso pai, no decorrer de seu velório foi grande a emoção e naquele momento entendi que o sentido da vida só pode surgir quando se vive com intensidade cada momento. Posso dizer que meu pai foi um apaixonado pela vida e por sua terra natal: gostava do esporte, da boa música e da dança, fatores que o levaram a aproveitar os bons momentos da vida; ele foi um hábil político (exerceu por duas vezes o legislativo municipal); um líder nato e, como ninguém, sabia aconselhar quem estava ao seu redor; entusiasta do trabalho permaneceu por mais de cinqüenta anos dentro da mesma empresa e galgou a luta sindical.
Para a vida ganhar sentido, não se deve colocar em primeiro lugar cargo profissional, ganhos materiais ou a posição social, pois em nossa derradeira despedida apenas serão lembradas as boas ações feitas enquanto Deus permite que nessa terra fiquemos. Tenho certeza que esse foi o principal motivo que levou meu pai receber tantas homenagens, receber tantos amigos (as), tantas flores, emoções e manifestações de carinho em sua despedida.
Sabemos que as manifestações, especialmente as gratificantes, surgem se forem plantadas, por isso, um momento de tristeza, como em velório, pode se transformar num deleito para a alma, pois ali, os amigos expressam seus sentimentos e sua gratidão por aquele ente que partiu. Quantas criaturas faziam questão de dizer que meu pai foi um homem bom e que ajudou muitos semelhantes... Sinto um nó na garganta ao escrever isso, mas ao mesmo tempo, isso é estímulo para nunca deixar de ser uma criatura sensível e ajudar mais nosso próximo. O pai não foi o maior homem de sua terra, apenas viveu com entusiasmo e teve coragem em ajudar construir a história do lugar onde viveu por oitenta anos.
Nosso velho guerreiro que viveu seus últimos anos com depressão, problemas no coração, diabete e outras complicações, a última um câncer na garganta, você foi muito forte e lutou pela vida, mesmo em coma na UTI. Você nos deixou um grande legado: seus bons exemplos. Jamais esqueceremos que honestidade, bondade, humildade, apego à família, crença no trabalho e religião são os verdadeiros sentido da vida. Os desígnios de Deus não são os nossos, mas esse Deus da vida deseja que nunca percamos a esperança e o sentido da existência! Contudo, esses dias um jovem me falava que não estava suportando sua ‘carga’ e falava em suicido...
Não tenho palavras para escrever o quanto sou grato à comunidade naviraiense: quanta oração em favor de meu pai; quanta solidariedade para com esse que vos escreve. Os amigos se conhecem nas horas difíceis e quem perdeu um ente querido sabe o quanto é dolorido esse momento. Deus retribua em graças e bênçãos, tantos amigos e conhecidos que estiveram ao nosso, nunca esquecerei o fizeram.
E o cristão que sabe quando a vida ganha sentido, não esquece das palavras de Jesus Cristo ao alertar que o sentido da existência não termina nesse mundo: “Que em Mim crê, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25).