Qual política para qual proteção e para quais gentes...
Por Estela Márcia Rondina Scandola | 05/11/2012 | PolíticaQual política para qual proteção e para quais gentes – em busca de compreender conceitos a partir do welfare state e as algumas discussões sobre o modelo social europeu e a crise endo-exógena.
Estela Márcia Rondina Scandola
Ensaio apresentado à Unidade Curricular Políticas Públicas de Proteção Social, do doutoramento em Serviço Social do ISCTE-IUL.
Professor Doutor Pedro Adão e Silva
Fevereiro, 2011
1 Da intenção e do lugar de produção deste trabalho
A dúvida em começar um trabalho é exatamente a primeira linha. Por isso talvez o tardar do envio desses escritos. Como sendo latinoamericana e tendo estudado e sido formada compreendendo a Europa como longe e perto – longe na perspectiva da vivência cotidiana e perto nos legados deixados tatuados no território vivenciado – a fronteira Brasil/Paraguai – podia escrever sobre algo que não havia vivido nem um bocadinho? uma estudante com tão pouco tempo de estar fisicamente neste local, falar deste mundo com seriedade e respeito ao povo daqui e de lá, sem conversar com as pessoas?
Despetalar e re-compor conceitos não é um ato mecânico, simples. É, sobretudo, compreendê-los no seu contexto e, escolher autores para ir-se descobrindo é também colocar a pêlo tanto a estudante quanto o estudado. Por isso, há que se valer exatamente dos conflitos entre eles, não para fazer crescer a importância da autora do trabalho, mas para aproximar das contradições existentes, sendo estas tão caras ao Serviço Social. Exatamente esta realidade nos permite ir, ao mesmo tempo em que, nos aproximamos dela, desvelá-la e sermos mudados por ela.
Este trabalho resulta dos cinco meses de convivência: com os demais estudantes do doutoramento em Serviço Social no ISCTE-IUL e do mestrado em sociologia; os professores das disciplinas; os diferentes eventos de formação sistematizada, a cultura, as manifestações políticas, sobretudo o convívio com gentes de diferentes lugares e saberes que compõem meu grupo de relacionamento em Portugal. Não, não são estes citados, os meus objetos de pesquisa, mas são partícipes ao lançarem luzes para que eu pudesse compreender autores, textos e seus códigos, buscando o significado cotidiano destes. Sem esta nova rede do viver, o texto que segue teria sido apenas uma revisão bibliográfica – o que é muito importante no doutoramento – mas não teria o significado que se constituiu no meu aprendizado.
Duas dificuldades importantes na minha estada em Portugal precisam ser colocadas para se compreender, entre tantas outras, a dificuldade de produção teórica: o frio e a língua. A primeira, de ordem física me impedia de ler e escrever mas não de conversar, sendo esta atividade propiciadora de grandes descobertas teóricas e vivenciais que, posteriormente precisavam ser transcritas, o que de novo levava longo tempo devido ao próprio frio; a segunda, esta numa dimensão não mais importante, mas mais complexa. A língua portuguesa falada e escrita no Brasil e em Portugal pode parecer semelhante, mas não o é. Os textos precisam de esmero para que não se compreenda equivocadamente os conceitos e, o sotaque – embora seja prazerosa a melodia - ainda se constitui numa barreira de compreensão dos conteúdos e é possível que constrangimentos tenham acontecido nos relacionamentos acadêmicos, pessoais e, inclusive neste texto.
Por isso, o caminho percorrido é o conhecimento dos autores e suas abordagens. Não é pretensão desvelar todos os conceitos, mas apresentá-los de forma didática, visando apoiar aos estudos que deverão ser realizados para a tese do doutoramento. Há, pois, desta forma, imprecisões importantes que podem estar neste texto que necessitarão ser corrigidas e, outras que, por certo, causarão novas discussões e descobertas teóricas e da vida. Portanto, é este trabalho um ensaio, não ainda na precisão textual dos ensaístas acadêmicos, mas a busca de ao colocar nuamente a possibilidade de equívocos, abrir-se ao desejo de continuar aprendendo...