Qual O Papel Da Gramática No Ensino Da Língua Portuguesa

Por Rosangela Rigo | 16/01/2008 | Educação

QUAL O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA 1

Rosângela dos Santos Rigo

UNIDERP INTERATIVA

RESUMO

Para dominar a Língua Portuguesa são preciso anos de estudo além de uma dedicaçãoespecial. O professor de Língua Portuguesa deveria dispor, em sua Escola, tempo suficiente para sua atualização constante. Nosso País por sua extensão, diverge seu linguajar de acordo com a região, estado, etc. Podemos citar como exemplo as formas de expressões da Língua Portuguesa usadas na periferia, nas favelas, nos grupos de jovens, e até entre os nossos políticos, quantas palavras "novas". Deverá haver maior criatividade, principalmente, dos professores para despertar cedo no educando, o gosto pela boa leitura. O hábito de ler vai facilitar muito o ensino da gramática. As regras gramaticais são necessárias e indispensáveis. Como ler e escrever bem sem situar-se na nossa gramática? Não só o professor da Língua Portuguesa deverá se preocupar com a escrita correta, todos os mestres, de todas as disciplinas deverão fazer com que seus alunos se preocupem com a fala e a escrita. Com o conhecimento da gramática os alunos terão maior estrutura e segurança, para expressarem-se nas diversas situações de comunicação em seu meio social.

PALAVRAS-CHA VE

Língua Portuguesa; Gramática; Ensino; Tendências atuais.

O uso da gramática no ensino da Língua Portuguesa nas escolas, em geral, vem gerando polêmica no decorrer dos anos. Muitas vezes nos perguntamos: Devemos utilizar ou não gramática no ensino deLíngua Portuguesa? É claro que devemos utilizar a gramática, pois segundo Bagno: "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa" (BAGNO, 2000, p. 87)

Luft diz que a "língua deve ser vista, analisada e ensinada como entidade viva." A partir desta concepção, entendemos que a língua a todo momento está se modificando. Ela como objeto histórico está sujeita as variações lingüísticas e sofre mudanças tanto na escrita como na fala. Em constante evolução e empregando mecanismos de muita criatividade, uma língua não pára de anexar novos termos, enquanto outros caem no esquecimentoAs pessoas que a utilizam estão sempre "criando" situações que exigem inovações. Um exemplo nos dias atuais, é a palavra secutirização que foi "criada" para explicaralgo que significa (securities, inglês): àconversão de empréstimo bancário e outros ativos, em títulos para vendê-los a investidores.

No momento que os alunos entenderem que as regras cultas são variáveis e que o emprego de uma forma pode ser normal numa modalidade lingüística, raro em outra e que pode nem existir numa terceira modalidade, o seu rendimento escolar será eficiente. Para Possenti "o objetivo da escola é ensinar o Português padrão, ou talvez, mais exatamente, o de criar condições para que ele seja aprendido" (1996, p.17) sem deixar no entanto de discutir os diferentes conceitos de gramática: normativa, descritiva, internalizada. O aluno deve ser preparado para reconhecer e utilizar a língua de forma adequada a diferentes conceitos.

Porém, o que podemos observar hoje são professores de Língua Portuguesa sendo repetidores da doutrina gramatical normativa, que muitas vezes eles próprios não dominam integralmente. E a importância da Língua Portuguesa esta na competência do professor ao trabalhá-la em sala de aula, não priorizando conceitos, regrase nomenclaturas para que o aluno possa ter liberdade de pensamento e expressão verbal. Cabe ao professor protagonizar um aprendizado em Língua Portuguesa de maneiraespontânea. É no próprio professor que se vê começar a mudança de atitude, que irá gerar um ensino de língua mais eficaz e reflexivo. O plano de aula deve ser elaborado em função do conhecimento do aluno, mas na maioria das vezes é gasto tempo demais com assuntos como: gênero, números de substantivos, desfavorecendo assim, atividades como ler, expor e descobrir as variações da língua a partir de exemplos que osalunos trazem para sala de aula.

A escola, mais especificamente o professor de Língua Portuguesa, tem a responsabilidade de levar até ao educando dados novos que serão internalizados. Pois é o aluno que vai construir sua competência pela exposição e pelos dados lingüísticos variados. O aluno não deveria decorar o que é gramática, mas sim,ter um contato intimo com ela, visto que será ela, a gramática seu instrumento de aquisição de uma linguagem reflexiva e intercomunicativa na língua falada e escrita.

Possenti diz que "as informações técnicas lingüísticas ou não, são importantes como fonte de reflexão, mas a disposição para refletir sobre elas é ainda mais importante, e a disposição para aprender é pré-condição para ensinar" (1996, p. 39).O professor de Língua Portuguesa deve reconhecer que a língua é variável segundo as dimensões detempo, espaço geográfico e das divisões sociais.Para o professor que aceita essas variações há o reconhecimento que a gramática dos manuais mutila a realidade, no momento em que propõe como modelo a ser seguido uma língua artificial que na maioria das vezes, pouco tem a ver com os hábitos lingüísticos das pessoas cultas. Quando o professor recusa este reconhecimento de variedades lingüísticas, ele tende a encarar como erros as formas não padrão dos aprendizes, que muitas vezes são vistos como incapazes.

A função da gramática no ensino de Língua Portuguesa é ampliar a capacidade do aluno usar a sua língua, desenvolvendo competência comunicativa por meio de atividades com textos utilizados nas diferentes situaçõesde interação comunicativa, pois nossos alunos irão se deparar ao longo de suas atividades acadêmicas, sociais ou profissionais com situações de comunicação as mais diferentes possíveis. Os níveis e registros serão múltiplos e não há modeloa ser seguido, nem mesmo a ser condicionado.

Reafirmamos que, a gramática normativa tem a sua razão de ser. Não se pode ignorá-la em nome de "uma nova teoria lingüística". O que é preciso é saber onde, como, porque e com quem usá-la.O que deve ser enfatizado é a forma de trabalhar a gramática na escola. Parece oportuno fazer uma mudança adequadano modo de ensiná-la. O estudo da gramática deveria ser transformado de um trabalho mecânico e teórico em um processo de reflexão que levasse à melhor compreensão de fatos lingüísticos encontrados no texto. Para que aconteça essa compreensão é preciso que o estudo gramatical seja feito através de uma metodologia surgida da próprianatureza da língua. No forum "Ensino de Língua ou Ensino de Gramática?"da UNIDERP Interativa, a professora Katiane I. R. Araújoconcorda comesta mudança afirmando que:

Às vezes, apenas modificar o modo de apresentar um conteúdo ao aluno já faz toda a diferença. Por isso, acredito que essa mudança, além de oportuna, em muitos casos é necessária! Essa reflexão sobre o que ensinamos, e como ensinamos é de fundamental importância para amadurecermos nossa atuação enquanto profissionais da educação, e das Letras.

Para escrever e falar com eficácia e beleza, precisamos saber. Saber saboroso, de quem assimilouaquilo que torna um texto agradável ao leitor e um discurso agradável ao ouvinte.

Qualquer falante do português sabe, por exemplo, que frases como "Ele lembrou-se dos amigos da infância" ou "Ele alembrou dos amigo da infância" são frases do português e não do espanhol, do inglês, ou de outra língua qualquer. Nesse sentido, tais construções trazem em si o conjunto de regras instituídas pelo sujeito que a produz, contendo, portanto, a sua gramática. Em outros termos, "dada a maneira constante – isto é, que se repete – através da qual as pessoas identificam seqüências sonoras com determinadas características, é lícito supor que há em sua mente conhecimentos de um tipo específico, que garantem esta estabilidade." (POSSENTI, 1996, p.69).

Uma boa aula de gramática será aquela em que o sujeito não se torna objeto, em que nós não precisamos nos sujeitar aos bons conselhos e, também muitas vezes,aos caprichos da gramática para comunicar, com toda a riqueza expressiva do idioma, nossas idéias e sentimentos.

O que queremos salientar é que, atualmente, faz-senecessário o ensino de gramática, justo para munir os alunos de um instrumento de luta para inserir-se de modo mais efetivo e eficaz na sociedade: o uso da linguagem adequado às mais diversas situações comunicativas em que eles estiverem inseridos, que vão além das situações escolares e se estendem para quaisquer situações de sua vivência no meio social (SOARES, 1988, p. 45). O ensino de gramática, contudo, não deve permanecer na base da regra pela regra, explicada e exercitada com palavras e frases soltas. Não adianta também utilizar textos apenas como pretextos, ou seja, apenas retirando-se deles palavras ou frases e continuando-se com um ensino meramente normativo e classificatório. "É preciso atentar para que esse ensino mais sistematizado da gramática seja visto em uso e para o uso, constatando-se sua funcionalidade e procurando-se inseri-lo em situações reais ou que se aproximem o máximo possível dessa realidade" (PRESTES, 1996, p. 52).

Resumindo, aquilo que o aluno sabe reflete a gramática internalizada; a comparação, sem preconceito, das formas possíveis de serem produzidas é tarefa da gramática descritiva; e a explicitação da aceitabilidade ou rejeição de tais formas, bem como o domínio da adequação de uso dessas formas na escrita é tarefa da gramática normativa.

Para tal, é preciso superar a visão do ensino da língua como sendo ensino da gramática, e do ensino de gramática como ensino de regras. Há que se acrescentar aí algo novo: "ensinar gramática é ensinar a língua em todas as suas variedades de uso, e ensinar regras é ensinar o domínio do uso" (POSSENTI, 1996, p. 86).

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Loyola, 2000.

_________. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo: Nacional, 1982.

CUNHA, Celso; Cintra, Luís F. Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

LUFT,Celso Pedro.Língua e liberdade. 5. ed. São Paulo: Atica 1997.

PCN e ENSINO DE PORTUGUES: DA GRAMATICA AO TEXTO E DO TEXTO A GRAMATICA. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Campus de Três Lagoas.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: ALB: Mercado de Letras, 1996. Coleção Leituras no Brasil.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Ensino de português como elemento consciente de interação social: uma proposta de atividade com texto. Ciências & Letras. Porto Alegre: FAPA, n. 17, p.189-198, 1996.



1 Artigo apresentado à disciplina "Língua Portuguesa I", ministrada pela Profa. Me. Katiane Iglesias Rocha Araújo, como requisito parcial à obtenção de nota na Graduação em Letras / UNIDERP INTERATIVA, 2. sem. de 2006. Artigo publicadono sitewww.zemoleza.com.br no ano 2006 e no site http://recantodasletras.uol.com.br/autores/romasari em outubro de 2007.