Qual a relação entre a gestão escolar, a política de resultados e a aprendizagem real dos alunos?

Por Clecivane Oliveira Albuquerque | 30/03/2012 | Educação

QUAL A RELAÇÃO ENTRE A GESTÃO ESCOLAR, A POLÍTICA DE RESULTADOS E A APRENDIZAGEM REAL DOS ALUNOS?

Clecivane Oliveira Albuquerque[1]

INTRODUÇÃO

            A proposta deste ensaio é mostrar qual é o real sentido da aprovação automática. O que vale mais? Ajudar na evasão escolar, isto é, diminuir o índice de alunos fora de sala de aula que abandonam a escola por causa da reprovação ou a formação de cidadãos conscientes e críticos? Aprovar alunos que não tiveram rendimento durante todo o ano é um crime, como se sabe, o ensino é um processo contínuo. Como um aluno vai conseguir acompanhar um ritmo de uma turma se nem ao menos aprendeu o que foi exposto no ano anterior? Essa história de não reprovar alunos porque estes abandonam a escola e ficam nas ruas expostos a vários perigos ou que contribui para a diminuição da sua auto-estima, é farsa! É esconder a real situação das escolas: salas superlotadas, falta de estrutura, desmotivação por parte dos profissionais em termos se salário e recursos em geral, isso sim é desestimulante para o aluno. Escola não é abrigo para evitar que alunos fiquem sujeitos as mazelas da vida, mas um lugar em que as pessoas vão para aprender. É investir na educação, motivar todos os envolvidos, professor, aluno, funcionários em geral, assim teremos uma educação de qualidade e alunos na escola.

APROVAÇÃO AUTOMÁTICA

            Hoje as crianças e adolescentes se envolvem com diversas opções de atrativos e acabam se esquecendo das obrigações escolares. Quando as obrigações escolares não são cumpridas, o aluno compromete sua aprendizagem não conseguindo atingir uma média para passar de ano e no final é reprovado. Muitas são as explicações para justificar que a reprovação não é o melhor caminho.  É revoltante, principalmente os alunos de ensino público não atingir a média é 6 (seis), o professor durante todo o bimestre, explica, passa exercícios e trabalhos extra-classe, dar pontos de participação tudo em prol de uma aprendizagem e fazer com que os alunos atinjam pelo menos a média. E mesmo assim, temos alunos que chegam ao final do bimestre e nada tem feito. Diante disso, tentar justificar a irresponsabilidade dos alunos ao dizer que a reprovação não surte efeito porque rever os mesmos assuntos é desestimulante, assim não havendo tanto proveito, é uma grande bobagem. Se durante todo o ano o aluno não conseguiu atingir os 24 pontos, isso prova que ele não teve um rendimento escolar, não aprendeu o que foi exposto, não é querendo avaliar o aluno pela a nota que tira, mas a média é resultado dos seus esforços, é fruto do seu trabalho durante todo o ano.

            Querer mascarar a irresponsabilidade dos alunos é querer formar uma sociedade com mais violência e criminalidade que assola o cotidiano dos brasileiros. Dizer que a educação é o melhor antídoto contra a criminalidade, como se não temos uma educação de qualidade, que não oferece oportunidades de todos aprenderem, que tenta encobrir o erro dos alunos, quando reprova a reprovação. Futuramente será muito mais frustrante para um aluno que não foi reprovado na escola e ser reprovado na “escola da vida”. Alunos aprovados automaticamente não terão condições de fazer um vestibular ou enfrentar a competição do mercado de trabalho.

            "Educai as crianças e não será necessário punir os adultos!" disse Pitágoras. Essa frase justifica bem o foi dito, é educar primeiramente. A escola é o espaço de transformação, ela tanto pode formar grandes cidadãos, como também futuros marginais. A aprovação automática, como o próprio nome sugere é uma aprovação sem esforços, sem avaliação, ou melhor, são empurrados para o ano posterior e isso não é aprendizagem, não é a melhor forma de educar.

A VISÃO DOS PROFESSORES SOBRE APROVAÇÃO AUTOMÁTICA

            Diante dessa nova proposta de educação, está cada vez mais difícil ser professor, principalmente por causa do aumento da indisciplina em sala de aula agregado a essa ideia de aprovação automática. Como o aluno já sabe que vai ser aprovado de qualquer jeito, não se interessa em participar das aulas e, consequentemente, a desocupação leva à baderna.  

            Essa nova política educacional, já uma realidade das escolas. Tal realidade pôde constatar na escola do município de Coreaú. Durante as pesquisas, incluindo entrevista com professores, a uma professora de língua portuguesa foi solicitado para falar sobre reprovação, se na escola existia aprovação automática e ela comentou: “A reprovação só existe quando todos os professores entram em consenso e realmente decidem que aquele aluno não tem a menor condição de ir para o ano posterior”. E acrescentou: “Aprovação automática acontece quando o aluno não atinge em algumas disciplinas, uma somatória de pontos que lhe permita ir para o ano seguinte, a secretária liga para os professores dessas disciplinas e pergunta se pode passá-lo”. A professora entrevistada passou por tal situação e justificou que quando isso acontece, ela acaba cedendo, já que os restantes dos colegas de trabalho aceitaram o pedido.

            “Esses alunos que foram empurrados de ano continuam desinteressados”, disse a professora de matemática. O que prova que a aprovação automática não é a melhor solução a ser tomada.

            “A reprovação só terá sentido, quando vista de maneira positiva pelos alunos , se repensarem o ano “perdido” como forma de encorajá-los e se esforçarem para que isso não aconteça de novo”, comentou a professora de língua inglesa.

            As entrevistas feitas aos professores, ninguém concordou com essa nova política de se fazer educação.  Uma vez que essa nova visão só vem a agravar o número de analfabetos funcionais, apesar do aumento do grau de escolaridade. Isso é um indicativo de que medidas como essas não visam melhorar a qualidade do ensino.      

GESTÃO ESCOLAR

            Segunda a coordenadora da escola, o projeto Político Pedagógico foi realizado mediante os déficits da escola, pelos os professores, gestores e a comunidade escolar. O PPP desta escola busca um instrumento teórico-metodológico com o intuito de dar uma educação não só a base de conteúdos programáticos, mas também de formação da pessoa humana, através do qual as pessoas se inserem na sociedade, transformando-se e transformando a sua realidade. E também é uma proposta de articulação da escola com a família e a comunidade.

            A gestão da escola é composta por grandes profissionais desde a sua formação a sua firmeza com que dirigem a escola. E para o melhoramento da qualidade de ensino é feito reuniões mensalmente com pais e mestres, é feito projetos envolvendo não só a escola como também a comunidade, inclusive recentemente foi feito a semana da dengue, onde ouve paralisação na cidade. Para evitar transtornos no intervalo, à gestão circula pela escola com o intuito de barrar qualquer atividade que possa ser prejudicial ao aluno, para isso, eles são proibidos de correr. A relação entre todos que fazem a escola é harmoniosa, cada um respeita sua função. Percebe-se o grande respeito que os alunos têm para com a gestão, ao diretor principalmente, porque este sempre se mostra uma pessoa algoz, para não ter que perder o respeito dos alunos, mas uma pessoa admirável e humana fora de suas funções.

            Como toda escola, essa não poderia ser diferente, a indisciplina dos alunos é sinônimo de desrespeito ao professor, porque quando ele tem esse tipo de comportamento, muitas vezes, é porque não está prestando atenção à aula ou não deixa o professor dar aula, com isso impede que os colegas aprendam. Esse tipo de relação é muito comum nas escolas, alunos que não veem mais o professor com reverência. Quando o professor não consegue mais tolerar esse aluno, o põe para fora de sala de aula ou chama a direção, que se encarrega de tomar decisões cabíveis, chama os pais, dar suspensões, vai depender da situação.

            A metodologia utilizada pela escola com relação às avaliações é bem parecida nos conceitos de Amélia Hamze[2], quando ela diz:

“O termo avaliar tem sido associado a fazer prova, fazer exame, atribuir notas, repetir ou passar de ano. Nela a educação é imaginada como simples transmissão e memorização de informações prontas e o educando é visto como um ser paciente e receptivo. Em uma concepção pedagógica mais moderna, a educação é concebida como experiência de vivências múltiplas, agregando o desenvolvimento total do educando. Nessa abordagem o educando é um ser ativo e dinâmico, que participa da construção de seu próprio conhecimento. Nesse ponto de vista, a avaliação admite um significado orientador e cooperativo. A avaliação do processo de ensino e aprendizagem, é realizada de forma contínua, acumulativa, com o objetivo de diagnosticar a situação de aprendizagem de cada aluno, em relação à programação curricular. A avaliação não deve priorizar apenas o resultado ou o processo, mas deve como prática de investigação, interrogar a relação ensino aprendizagem e buscar identificar os conhecimentos construídos e as dificuldades de uma forma dialógica.”

            Avaliação feita pelos professores, não resultado só de uma prova no final do bimestre, mas uma avaliação realizada diariamente, como participação, entrega de exercício e trabalhos extra-classe, emissões de opiniões, etc.

A POLÍTICA DE RESULTADOS E A APRENDIZAGEM REAL DOS ALUNOS

         Avaliação encarada pela escola analisada, como foi dito é algo diário, não é sé através da nota da prova. Avaliar um aluno pela nota que tirou não é correto, porque ninguém sabe do seu estado emocional durante prova. Isso não quer dizer que todos os alunos que não se deram bem na prova estavam com algum transtorno, por isso que é importante a avaliação contínua e acumulativa, se o aluno tem um bom desempenho durante as aulas e não conseguiu atingir a media na prova é que algo esta errado, mas se o professor vê que o aluno é aquele que faz baderna, não presta atenção nas aulas, então aquela nota baixa é resultado do seu rendimento escolar.

            Alunos que passam todo o ano tirando notas abaixo da média, pode até ser que tenha aprendido e que pelo nervosismo não foi bem na prova, se ele for participativo nas aulas, cumpri com seus deveres e passa de ano, isso não é uma aprovação automática, porque o professor ver que o aluno tem bagagem para passar para o ano posterior, ao invés, de alunos que além de tirar notas abaixo da média, só atrapalha, não mostra nenhum rendimento e este passa, agora estamos falando de aprovação automática, ou seja, uma política de resultados que não condiz com a aprendizagem real dos alunos. As consequências da aprovação automática sentiram, quando chegarem ao ensino médio e verem que não tem condições de passar no vestibular e cursar uma faculdade.

            Fazer com que o aluno seja obrigado a rever todo o conteúdo de um ano escolar - ou seja, a reprovação - pode não ser a melhor opção para enfrentar o problema de estudantes com desempenho fraco, como também não é a melhor forma de educá-los. Rever o mesmo conteúdo é chato, essa é uma das justificativas do governo para implantar essa nova proposta, mas pensa-se que se o aluno foi reprovado subtende-se que ele não obteve aprendizagem suficiente, se isso aconteceu, talvez porque ele não prestou atenção nas aulas, reprovação é resultado falta de conteúdo, conteúdo que ele nem se lembra mais. Então, essa não é uma justificativa convincente. O que importa para o governo não se o aluno vai se sentir desestimulado, isso é só um pretexto para encobrir o real motivo do apoio as aprovação automáticas, o contábil. É mais fácil e mais barato aprovar os alunos do que investir na qualidade do ensino, contratando bons professores, pagando salários justos, pensando a educação como prioridade neste país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Pretendeu-se neste trabalho uma discussão sobre a aprovação automática fundamentada na pesquisa da escola do município de Coreaú, onde se pôde avaliar a gestão e como ela lida com o assunto em questão.  

            De acordo com a pesquisa, tanto os professores como a gestão, não aprovam a aprovação automática, uma vez que, só trará prejuízo ao aluno. Como é possível que um aluno que não aprendeu o que foi ensinado no ano anterior, possa se sair bem no seguinte, se os ensinamentos do currículo seguem uma sequencia de caráter acumulativo?

            Em todas as escolas, existem alunos melhores e outros, piores. Professores, coordenadores e diretores têm a missão de garantir que todos avancem. Em muitos países, esse caminho inclui reforço, aulas de recuperação e treinamento para professores. No Brasil há muitos anos a solução passa pela repetência.

            A reprovação pode ser a causa de muitos alunos saírem das escolas, da baixa auto-estima dos alunos por cursarem o mesmo ano, pode até não garantir um aprendizado adequado. Por isso se faz necessário uma reprovação bem aplicada, que possa exercer efeito positivo e levá-lo a recomeçar com mais empenho, apesar do desconforto nos primeiros dias de aula, ao longo do ano ele resgata aquilo que lhe faltava.

            Jovens que vão progredindo de ano após ano, sem terem dominado os conteúdos dos anos anteriores, são ridicularizados pelos colegas como "os burros". Do que adianta aluno está na mesma sala de aula, com a mesma faixa etária se os níveis de desenvolvimento intelectual são tão diferentes.

            Se a reprovação tem um alto custo educacional, a aprovação dos que não alcançaram os objetivos previstos para aquele ano tem um alto custo para a sociedade. Cidadãos sem sucesso profissional, que se sentem inferiores e o resultado disso é crianças e jovens entrando cada vez mais no mundo do crime, além do status, tem o respeito dos demais.

            A solução para um ensino eficaz não está na aprovação automática como também pode não está na repetição dos conteúdos, mas na obrigação que a escola tem de oferecer sem discriminação aprendizado a cada aluno e para isso deve-se investir desde a sua infra-estrutura a profissional de qualidade e só assim podemos formar cidadãos competentes e preparados para o mercado de trabalho.



[1]  Graduada no 8º período do curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UEVA. Sobral/CE, e-mail: klecivany@hotmail.com.

 

[2] Profª. Amélia Hamze de Castro, formada em Pedagogia é responsável pela seção de Pedagogia no portal educacional Brasil escola .