Qual a identidade do professor coordenador pedagógico?

Por Carla maria Schuch | 06/08/2012 | Educação

Qual a Identidade do Professor Coordenador Pedagógico?

 

Carla Maria Schuch[*]

carlinhaschuch@hotmail.com

 

Resumo:

 

A visão da escola como espaço social em que ocorrem movimentos de aproximação e de afastamento, onde se produzem e reelaboram conhecimentos, valores e significados, vai exigir o rompimento com a visão de cotidiano estática, repetitiva, disforme, para considerá-lo, segundo Giroux (1986), um terreno cultural caracterizado por vários graus de acomodação, contestação e resistência, uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes. O cotidiano escolar aponta para um número variado de papéis assumidos por seus sujeitos, entre eles, o coordenador pedagógico, que na prática escolar deve levar em conta sua totalidade, através da reflexão constante da teoria, voltando a prática para transformá-la. A implementação de um “plano de trabalho” ou planejamento é o caminho possível para a ação, identificando no dia-a-dia quais aspectos devem ser melhorados, e o aperfeiçoamento das relações sociais/interpessoais valorizando o coletivo e pluricultural e a integração com o projeto político-pedagógico da escola.

 

Palavras-chave: Coordenador pedagógico – cotidiano escolar – identidade

 

Abstract:

 

The vision of the school as social space in that you/they happen approach movements and of removal, where they are produced and reelaboram knowledge, values and meanings, it will demand the breaking with the vision of daily static, repetitive, deformed, to consider him/it, according to Giroux (1986), a cultural land characterized by several accommodation degrees, reply and resistance, a plurality of languages and conflicting objectives. The daily scholar appears for a varied number of papers assumed by their subjects, among them, the pedagogic coordinator, that in practice scholar it should take in his/her bill totality, through the constant reflection of the theory, going back the practice to transform her. The implementation of a work" "plan or planning is the possible road for the action, identifying in the day by day which aspects should be gotten better, and the improvement of the relationships sociais/interpessoais valuing the bus and pluricultural and the integration with the political-pedagogic project of the school.

 

Key Words: Pedagogic coordinator - daily school - identity

Introdução

 

                   Nos últimos anos, a questão da profissionalização de professores, coordenadores, orientadores educacionais e de todos os atores envolvidos no processo escolar é tema de reflexões intensas, envolvendo a formação continuada, a valorização de seus saberes práticos e pedagógicos e a prática reflexiva, questões centrais quando se pensa em escola de qualidade, e em uma sociedade em que a mudança é a única característica permanente.

                   Cabe-nos questionar o quadro educacional desfavorável e os meios para combatê-los, fazendo-se necessário desenvolver um processo de ensino-aprendizagem de qualidade, concebido na dimensão de cidadania, com destaque a necessidade de formação continuada de coordenadores pedagógicos.

                   Qual a atribuição, qual o papel e aspectos com que contribui o coordenador pedagógico, para que sua prática se desenvolva de forma competente, produtiva e eficaz?

                   A escola é um espaço onde atuam sujeitos diversos, e o coordenador pedagógico deve imprimir uma direção, uma liderança, encontrando desafios, valorizando a pluralidade, uma visão multicultural no projeto educacional.

 

 

Desenvolvimento

 

                   O papel do professor coordenador pedagógico é o de dialogar, desafiar, registrar a realidade, recusando, criando, conflitando, racionalizando, conquistando e construindo sua territorialidade com equidade, com a função de definir a identidade nas relações travadas no dia-a-dia com base em significados históricos, ensaiando novas formas de ver e fazer, através de um movimento criativo, com singularidade.

                   A atribuição essencial do coordenador pedagógico está, sem dúvida, associada ao processo de formação em serviço dos professores, ou seja, a “educação continuada” que se faz necessária pela própria natureza do saber e do fazer humanos como práticas que se transformam constantemente.

                   A relação teoria e prática no papel do coordenador pedagógico envolve professores que concebem a prática e coordenadores que pensam, ou seja, a teoria. Ambos levam à estudos para a desconstrução ou reconstrução, andando juntas a teoria e a prática, pressupondo a ação, crítica, reflexão e intenção em novas ações, que levam ao conhecimento e a geração de novas experiências.

                   O espaço de encontro entre coordenadores  e professores são as reuniões pedagógicas, espaço privilegiado nas ações partilhadas debruçando-se sobre questões que emergem da prática, refletindo sobre elas e buscando novas respostas e novos saberes.

                   Entretanto, criticadas e desacreditadas, elas vem mostrando um distanciamento entre o desejado e o real.

                   Essas reuniões devem ser vistas como espaço de reflexão, mas também estão sendo espaço para se dar avisos, distribuir materiais, informar diretrizes, discutir problemas de caráter geral, etc... concorrendo o administrativo e as demandas do dia-a-dia com o pedagógico. A interação é possível, abrangendo iniciativa ligada à resolução de problemas reais. O coordenador é como um técnico de  apoio aos professores. A problemática discutida com vista à busca de soluções não deve ser apoiada apenas no senso comum, mas, em reflexões sistematizadas.

                   O coordenador pedagógico aponta em relação ao seu desempenho a falta de tempo, às inúmeras demandas do cotidiano e a falta de clareza em relação ao seu papel. Essa preocupação é urgente, suas expectativas precisam ser confrontadas e ouvidas para a resolução do problema criando espaço para ações significativas e projetos coletivos.

                   As reuniões pedagógicas não devem ser vistas como instrumento limitado, mas sim, como espaço fundamental de encontro entre ao professores, Essas reuniões organizadas e preparadas, contém o envolvimento efetivo do coordenador. O papel do professor não é de passividade, expropriado do seu saber e nem o de delegar ao coordenador o papel de especialista, mas sim, um espaço de interações pessoais e cognitivas superando o cotidiano, fazendo da reunião pedagógica espaço de formação continuada dos educadores, espaço de encontro, com interesses individuais a serem compartilhados, espaço de exigências burocráticas, como recados, avisos, combinações e votações, e espaço pedagógico, com estudo de textos, decisões, ações e reflexão do fazer pedagógico, para enriquecer o processo ensino e aprendizagem.

                   O coordenador pedagógico marca sua presença no cotidiano escolar a partir de uma visão coletiva das práticas escolares, como ator inserido na pluralidade cultural de modo a,  em sua ação, poder valorizar e combater preconceitos contribuindo para o diálogo com as diferenças e para uma sociedade democrática.

                   Percebemos uma redefinição do papel do coordenador pedagógico, passando pela ação-reflexão-ação, sobre o cotidiano escolar, incidindo nos aspectos do currículo (vendo como podem ser trabalhados de forma a levar em conta a diversidade e não ficarem restritos a uma linguagem única, que muitos não compreendem); nos aspectos da avaliação (vendo como promover uma avaliação que reconheça as potencialidades dos alunos); nas relações interpessoais (analisando os intercâmbios entre os professores da equipe, entre gestores, alunos, comunidade e vendo ações para promover um ambiente de confiança, respeito e valorização da diversidade); no projeto político-pedagógico da escola ( ajudando a pensar e repensar sobre o mesmo) e assim por diante.

                   Conforme evidenciado por Penin ( apud Fernandes, 2004, p. 112):

 

“ O conhecimento do cotidiano escolar é necessário por duas razões: Primeiro, porque, sendo conhecido, é possível conquista-lo e planejar ações que permitam transforma-lo [...] Segundo, porque o cotidiano, sendo conhecido, pode fornecer informações... para facilitar o trabalho... e melhorar a qualidade de ensino aí realizado.”

 

                   Dentre as principais atribuições do coordenador pedagógico, no contexto de uma escola de qualidade, multicultural e democrática destacam-se:

-         coordenar a construção do projeto político-pedagógico da escola;

-         orientar o conjunto de profissionais da escola ( e não apenas professores) nas questões pedagógicas;

-         atuar na formação continuada docente;

-         refletir sobre o trabalho em sala de aula e suas relações com o espaço coletivo da escola;

-         representar um importante articulador entre cultura, comunidade e escola.

                   Sendo assim, precisa estar atento às novas perspectivas em educação, ser um profissional pesquisador, que estuda permanentemente e associa teoria e prática.

                   Para que isso aconteça, a metodologia adequada é a  pesquisa-ação ou plano de trabalho, remetendo-nos a processos de criação e planejamento, para viabilizar as desejáveis transformações na escola, passando pela etapa do questionamento, diagnóstico, objetivos, critérios, ações, e assim desempenhar o papel de coordenador pedagógico atuando no sistema educacional em uma dimensão reflexiva, organizativa, avaliativa, interventiva, em uma perspectiva multicultural.

 

 

Considerações Finais

 

                   Sente-se a necessidade de definir a identidade do Professor Coordenador pedagógico cujo espaço parece não estar assegurado e ameaçado por outras formas de poder e necessidades. Existe um processo de conquista de uma “territorialidade” própria.

                   Discutir identidade significa rever posições, resgatar experiências, retomar conflitos, fazer opções, entrar em debate e enfrentar diferenças.

                   Não há uma tradição ou modelos que condicionem tais práticas. Elas estão se fazendo mediante um aprendizado local, com indagações e busca de respostas a problemas gerados no cotidiano escolar.

                   A busca de definição da função do Professor Coordenador Pedagógico se faz a partir e no interior das relações travadas no dia-a-dia da escola, caminhos e atalhos a serem construídos.

                   Certas normas e regras que limitam e burocratizam  nosso fazer pedagógico foram produzidas sob contingências determinadas e por sujeitos em luta.

                   A análise essencial está na importância das experiências que estão sendo geradas a partir das diferenças culturais, discussões, diálogos e solidariedade, momento rico de construção de uma territorialidade.

                   Toda reflexão pedagógica exige um horizonte, uma esperança. Nem tudo pode ser resolvido pela escola ou pelo coordenador pedagógico, gestor da escola. Nossa sociedade tem problemas estruturais sérios, que necessitam serem resolvidos. Reinventar a didática escolar, tentar pensar sobre a escola como espaço plural de trocas, para melhorar a vida de todos e contribuir para uma educação de qualidade.

                   Terminando com palavras de Paulo Freire (2000):

                   “ Os sonhos são projetos pelos quais se luta” (p.54).

 

REFERÊNCIAS

 

CANEN, A. & MOREIRA, A.F.B. Reflexos sobre multiculturalismo na escola e sua formação docente. In: Educação em Debate, ano 21, v.2, n.38, p. 12-23, 1999.

 

FERNANDES, M.M. A opção da supervisão diante da ambivalência. In: SILVA, JR.C.A. & RANGEL, M. (orgs.) Nove olhares sobre a supervisão.Campinas, SP: Papirus, 2004, p. 111-121.

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

 

GIROUX, H. Teoria crítica e resistência em educação. Petrópolis, Vozes, 1986.

 

PLACCO, Vera M.N. de S. & ALMEIDA, Laurinda R. de (orgs.) O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. Edições Loyola, São Paulo, 2003.

 

________________ O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. Edições Loyola, São Paulo, 2001.

 

________________ O coordenador pedagógico e a formação docente, Edições Loyola, São Paulo, 2000

 



[*] Graduada em História/UPF-RS, Especialista em Metodologia do Ensino de História/FACULDADE DE EDUCAÇÃO “SÃO LUIS”-SP, Especialista em Administração e Supervisão Escolar/UNIFIA-RJ, Especialista em Mídias na Educação/ MEC-UFMA, Mestranda em Ciências da Educação/ USAL-Universidade Del salvador/Buenos Aires-AR.