PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por Lorivane Aparecida Meneguzzo | 29/04/2020 | Educação

PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

 

Lorivane Aparecida Meneguzzo[1]

 

Resumo: O estudo aqui apresentado tem por objetivo verificar a possibilidade da utilização da Psicomotricidade na Educação Infantil. A psicomotricidade ciência que promove o desenvolvimento humano tendo como base o corpo, o movimento, as relações consigo, com os outros e com o meio. A Educação Infantil primeira etapa da vida escolar da criança, tem como base a estimulação do movimento e da brincadeira, momento, o qual, é possível melhorar a estrutura psíquica, cognitiva, física e social. Portanto, a psicomotricidade deve iniciar nesta fase. A metodologia utilizada foi a bibliográfica, com pesquisa em livros, sites, materiais do curso, etc. os principais autores estudados: Costa, Santos, Kishimoto, Lapierre e Rossi.

Palavras-Chave: Movimento. Desenvolvimento. Estimulação.

INTRODUÇÃO

A Psicomotricidade tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento. Se constitui por um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo, com o mundo dos objetos e outros sujeitos. Também baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensório motoras e psíquicas na compreensão da capacidade de expressar-se, a partir do movimento em um contexto psicossocial. Ou seja, possui caráter “interdisciplinar em que a Psicopedagogia e a Psicomotricidade recebem as contribuições da psicanálise, que auxiliam o indivíduo na compreensão de si mesmo e do mundo que o cerca” (COSTA, 2011, p. 42). 

O desenvolvimento psicomotor estimula o ser humano, pois o corpo funciona como porta de entrada e saída da aprendizagem. Esse estímulo possibilita a criança utilizar seu corpo para explorar, manipular, sentir, perceber, criar, brincar, relacionar, imaginar, planejar e pensar, tornando-se um motivador da aprendizagem (GUAPINDAIA, 2019). 

A abordagem psicomotora estimula a criança a utilizar o corpo como instrumento na aquisição de conceitos, competências e habilidades, porém sempre respeitando as individualidades. Na Educação infantil inicia o processo de construção e aquisição de conceitos pela criança, portanto, nessa fase que se deve inserir a psicomotricidade no intuito de ampliar possibilidades de aprendizagem.

 

2 A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Psicomotricidade é a ciência que estuda a relação entre o pensamento e a ação, estuda o homem por meio do corpo em movimento. Na visão de Costa, “O corpo em seus movimentos transmite e capta. É o porta-voz de seu saber e conhecer, mas exige apenas um interlocutor que saiba eficazmente decodificar sua mensagem expressa numa linguagem sem sons verbalizados” (COSTA, 2011, p. 74). De acordo com o autor os estudos acerca do corpo indicam que técnicas de movimento aliadas a psicopedagogia contribuem para prevenção do fracasso escolar, na medida em que, concebe o sujeito como um todo, em que o corpo é instrumento nas relações de aprendizagem.

A Educação Infantil primeira etapa da educação básica, tem como base a estimulação e o desenvolvimento do esquema corporal através da brincadeira. Assim, educação psicomotora, deveria iniciar nesta fase e permanecer durante os primeiros anos do ensino fundamental. Dessa forma as crianças poderiam alcançar equilíbrio no seu desenvolvimento, através de trabalhos em grupo em que se privilegia a comunicação não-verbal, a Psicomotricidade estimula a criatividade; previne dificuldades na coordenação motora; facilita a integração social, aumenta a capacidade da criança de criar estratégias; melhora a afetividade e autoestima.

Ao interagir nas atividades de grupo, a criança encontra espaço para a sua própria expressão, permitindo transformações que resultam em uma maior flexibilidade na relação consigo mesma, com os amigos, os familiares e com os diversos grupos com os quais ela se relaciona (SANTOS; CAVALARI, 2010, apud GROMOWSKI, 2014).

Dessa forma a principal função da escola está em ampliar o conhecimento, ou seja, atuar para que a aprendizagem esteja em constante crescimento. Estudos comprovam que aprendizagem através do lúdico é significativa. 

 

O jogo é um instrumento pedagógico muito significativo. É de grande valor social, oferecendo inúmeras possibilidades educacionais, pois favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo, preparando a criança para viver em sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sociais tais como estão postos. (KISHIMOTO, 2000, p. 26).

 

De acordo com a autora acima citada, em que jogos e brincadeiras promovem a aprendizagem prazerosa, além de serem imprescindíveis para o desenvolvimento saudável da criança. Dentre as inúmeras necessidades do ser humano está o lúdico, independentemente da idade em que se encontra, o brincar e a ludicidade fazem parte de uma vida psíquica, social e emocional saudável. Na infância o brincar se configura como essência, pois permite a produção de conhecimentos, estimula a afetividade, a sociabilidade, e a resolução dos conflitos internos da criança.

O brincar torna-se conteúdo assumido, com a finalidade de desenvolver habilidades para resolução de problemas, possibilitando ao aluno a oportunidade de estabelecer planos de ação afim de atingir determinados objetivos. [...] “quando o professor utiliza o jogo como ferramenta de ensino ele contribui para que a criança relacione a aprendizagem a algo prazeroso e isso desperta o interesse da criança por aquilo que está sendo ensinado” (KISHIMOTO, 2000, p. 80).

Através do lúdico, a criança expressa, o que se passa no seu mundo interior, não necessitando de linguagem verbal, apenas a corporal. Dessa forma demonstra desejos, necessidades e dificuldades. O brincar é coisa séria, através dele que a criança estrutura o seu aparelho psíquico, brinca para aprender e a simbolizar, portanto, o brincar já é uma terapia, que a Psicomotricidade faz uso para, gerar estímulos e ajustar o positivo daqueles distúrbios comportamentais, sociais e cognitivos. Incentiva o aprendizado, melhorando a produtividade da criança, superando medos, prevenindo dificuldades, estimulando à criatividade, a atenção, resultando em mais desejo de aprender. Valorizando os aspectos positivos, buscando a superação das dificuldades, e a construção da autonomia.

O desenvolvimento e a aprendizagem estão interligados entre si, a partir do momento que a criança passa a compreender o mundo a sua volta, em contato com o mundo físico e social, se desenvolve de forma ampla e satisfatória. No decorrer do processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade, como: esquema corporal, espaço e lateralidade, são utilizados com frequência, sendo fundamentais para que a criança associe noções de tempo e espaço. Portanto a aprendizagem refere-se a uma mudança na capacidade do indivíduo executar uma tarefa, através da prática sendo entendida como uma melhoria das habilidades.

Eu tenho confiança na criança. Não quero destruir sistematicamente sua estrutura, não quero lhe dar outra. Somente quero ajudá-la a descobrir a sua, aquela que lhe permitirá se desembaraçar ao máximo de dependências e de conflitos neuróticos, de valorizar suas potencialidades, neste difícil equilíbrio entre a afirmação pessoal e o respeito aos outros (LAPIERRE, 2002, p. 85). 

A criança através da psicomotricidade desenvolverá a capacidade de compreender seu próprio corpo, e como agir e se expressar com o mesmo. Segundo Rossi (2012, p. 2) “a abordagem da psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio dele, localizando-se no tempo e no espaço”.

O desenvolvimento motor mal constituído poderá apresentar dificuldades na escrita, leitura, nos cálculos, na interpretação e organização de problemas.

 

A psicomotricidade aliada a educação infantil dispõe de atividades que atuam na aquisição do domínio corporal, definindo a lateralidade, a orientação espacial, desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e a flexibilidade; controle da inibição voluntária, melhorando, o nível de abstração, concentração, reconhecimento dos objetos através dos sentidos (auditivo, visual, etc.), desenvolvimento sócio afetivo, reforçando, companheirismo solidariedade (ROSSI, 2012, p. 8).

 

O trabalho psicomotor procura desenvolver as capacidades motoras, psicológicas e afetivas, através de jogos e brincadeiras, valorizando a ludicidade. Cabe a escola desde a educação infantil promover isso, afim de, facilitar a aquisição desses conceitos básicos fundamentais para aprendizagem da criança.

Através da psicomotricidade a criança não aprende somente as partes de seu corpo, mas aprende a conhecer seu corpo numa totalidade, usando-o como meio para sua relação com a realidade. Para Rossi (2012, p. 8) “quanto mais cedo a educação psicomotora for abordada no ambiente escolar mais os alunos poderão conhecer-se melhor, desenvolvendo a maturidade, a consciência e a inteligência apropriada aos seres humanos”.

A psicomotricidade e a brincadeira são aliados na educação infantil atuam como um elo favorecendo o desenvolvimento da aprendizagem, das relações sociais, culturais e pessoais, contribuindo para uma vida saudável tanto física como mental.

Segundo Lapierre, os problemas e dificuldades escolares tinham origem na primeira infância ou seja, nas primeiras experiências da criança.

 

Uma intervenção direta junto à criança é desejável e possível e tem por objetivo permitir que ela exprima suas carências e seus conflitos no plano relacional. Com efeito, à medida que descobre o mundo dos objetos, a criança descobre o mundo dos outros, com seus desejos, suas proibições, suas seduções, sua agressividade, seus próprios desejos, suas próprias ambivalências, podendo então estruturar pouco a pouco os modos de ação e de reação que lhe serão pessoais. Todas as crianças são confortadas com esse problema. Algumas o resolvem melhor que outras, o que faz com cada uma vá constituir uma personalidade mais ou menos normal ou mais ou menos patológica. Isto depende da qualidade e da clareza das relações que ela terá podido estabelecer com seu ambiente, seus pais e também todos os adultos com os quais vai ter uma relação contínua (LAPIERRE, 2002, p. 171).

 

A Psicomotricidade tem como foco proporcionar meios para a criança manifestar seus conflitos através do simbolismo, assim, vivencia-los e supera-los, tendo primeiramente a atuação preventiva, porém a intervenção terapêutica atua diante de problemas de comunicação, de relacionamento com os outros e com a sociedade, buscando resolver frustrações precoces, principal causa de dificuldades no desenvolvimento psíquico, social e emocional da criança. Segundo o Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação e Grupo de Atividades Especializadas, “Psicomotricidade é uma neurociência que transforma o pensamento em ato motor harmônico. É a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifesta em conhecimento e aprendizado” (ISPE-GAE, 2007, apud GUAPINDAIA, 2019).

A psicomotricidade deve ser aplicada por um especialista da área, um psicomotricista, que cuide do processo de afetividade, pensamento, motricidade e linguagem, onde a dinâmica psicomotora auxilia no potencial de relação pela via do movimento, incentiva o brincar e amplia a possibilidade de comunicação (SANTOS; CAVALARI, 2010, apud GROMOWSKI, 2014).

Esse profissional, necessita ter habilidade de: conduzir a sessão, dar limites, proteger e transmitir: a segurança de uma presença adulta, a ordem tranquilizadora e a confiabilidade na situação do jogo espontâneo; tudo isso com afeto e carinho. Já que para a criança, ele é a representação do parceiro de jogos e brincadeiras, e também, a lei e a ordem.

Com a atuação desse profissional a criança interage e articula no decorrer das atividades em grupo, expressando seus desejos e necessidades, proporcionando transformações em seus pensamentos resultando em ampliação nas relações sociais, familiares e principalmente consigo mesma. A psicomotricidade baseia-se no brincar espontâneo, que através das intervenções a criança decodifica os atos vivenciados no dia a dia, os internaliza e os transforma em aprendizado. Tem como finalidade a ação preventiva, dentro de uma perspectiva que visa potencializar o equilíbrio emocional, a socialização, o desenvolvimento motor e cognitivo.

 

3 CONSIDERAÇÕES GERAIS 

 

Este estudo apontou que a Psicomotricidade é a ciência que estuda o corpo através do movimento, tem como meta a contribuição para a formação e a estruturação do esquema corporal, estimulando a função do movimento nas diversas etapas da vida da criança. Para que, a educação psicomotora atinja seus objetivos precisa ter início na Educação Infantil, pois é nessa fase que a criança passa a conhecer a si, seu corpo, constrói conceitos, enfim, torna-se um ser consciente.

Tendo sua inserção nos primeiros anos da vida escolar, a psicomotricidade estimula a aquisição dos conceitos fundamentais no processo de aprendizagem, como a lateralidade, fundamentais para aquisição da escrita, do conceito de número, entre outros. Cabe ao profissional psicomotricista oferecer atividades, as quais proporcionem na criança a confiança na capacidade de seu próprio corpo em realizar os movimentos, ou seja, o desenvolvimento motor, testando habilidades e competências. Vale ressaltar, a necessidade desse profissional estar presente no dia-a-dia escolar para que, possa conhecer às características, as necessidades e os interesses de cada faixa etária das crianças. Somente de posse desse conhecimento prévio é que poderá elaborar atividades adequadas a seus alunos contribuindo para seu desenvolvimento psicomotor.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

 

ABP – Associação Brasileira de Psicomotricidade. O que é Psicomotricidade. Disponível em: <https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/>. Acesso em mar. de 2020.

COSTA, Auredite Cardoso.  Psicopedagogia e Psicomotricidade: pontos de intersecção nas dificuldades de aprendizagem.  Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

GROMOWSKI, Vanderleia. SILVA, Jayme Ayres da. A Psicomotricidade na Educação Infantil. 2014. Disponível em:

<https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-escolar/psicomotricidade-na-educacao-infantil>. Aceso em mar. de 2020.

GUAPINDAIA, Liliane Teles. A Psicomotricidade como Facilitadora no Processo de Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil. 2019. Disponível: < https://psicologado.com.br/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/a-psicomotricidade-como-facilitadora-no-processo-de-ensino-e-aprendizagem-na-educacao-infantil>. Acesso em mar. 2020.    

KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeiras e a educação. São Paulo, Editora Cortez: 2000.

LAPIERRE, André; LAPIERRE, Anne. Trad. PEREIRA, M. E. O Adulto Diante da Criança de 0 a 3 anos – Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade. Curitiba: UFPR: CIAR. 2002.  

ROSSI, Francieli dos Santos. Considerações sobre a Psicomotricidade na Educação Infantil.  2012. Disponível em:< http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-a-Psicomotricidade-na-Educa%C3%A7%C3%A3o-Infantil.pdf>. Acesso em: mar. de 2020.

 

 

 

[1] Mestra em Educação pela UCS – Universidade de Caxias do Sul. Especialização em Psicopedagogia Institucional pela UNICID. Graduada em Pedagogia Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Bacharel em Serviço Social, 7º semestre (em curso), UNOPAR.

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