Psicologia da Maturidade: Idoso ser Desejante
Por Fabiane Regina da Silva Souza | 04/04/2013 | PsicologiaPsicologia da Maturidade: Idoso ser Desejante
Artigo: Fabiane Regina da Silva Souza
Resumo: Observação de um projeto que se possibilita a participação do idoso com um ser integrante na vida social e comunitária
Palavra Chave: Idoso, Projeção de Futuro, Ser Desejante, Comunidade, Terceira Idade, Centro Comunitário.
INTRODUÇÃO
Quando nascemos temos a certeza que iremos morrer, só não sabemos a hora o dia e o local.
Dentro dessa certeza passamos por um processo chamado ciclo da vida, onde passamos pelo período cronológico da infância, adolescência, fase adulta e velhice, isso se não ocorrer nenhuma fatalidade durante esse processo.
Dentro desses períodos irei destacar a velhice onde as limitações corporais e as consciências da temporalidade passam a ser uma variável com múltiplas representações seja pela singularidade pessoal ou pela maneira que outras pessoas enxergam o velho.
A velhice é acarretada de estereótipos sociais de deteriorização física, onde se associa á idéia da proximidade da morte alterando o lugar simbólico que o sujeito ocupa na familia e sociedade, abrindo janelas para instalações de conflitos entre as instancias psíquicas, que podem acarretar a super carga na suportabilidade, o que possibilita a eclosão da neurose.
Quando o velho passa viver privação de si mesmo por não enxergar um lugar em seu próprio corpo o mesmo inviabiliza uma articulação com a imagem e a fantasia que guardava de si e para si o eu ideal.
Será que todo investimento pessoal já foi feito entre a juventude e a fase adulta? o que nos resta é colher o fruto deste trabalho sendo uma fase sem saída e sem futuro, em fase dessa posição axial do idoso Joel Birmam esboça três formas paradigmáticas de ordenação psíquica do idoso, maneiras diversas desse lidar e maneja o impasse de sua condição trágica: a depressão a paranóia e a mania.
A observação de campo baseia-se no que Birmam chama de saídas das condições trágicas, onde procurarei apontar formas de ressignificação e substituição das perdas físicas e simbólicas tendo sua subjetividade reconhecida não perdendo sua condição de sujeito que vive somente do passado ou simplesmente de colher seus frutos, mas um ser desejante que consegue projetar um futuro.
Instituição
Identificação: Centro de Convivência Vivavida- Grupo Da Terceira Idade
Localização: Rua Dom Luiz Lasanha, 255
Coordenadora: Maria Idalina
Mantedora: Fundação Maria Auxilia do Ipiranga
Instituição: Privada
Publico Alvo: Idosos de ambos os sexos com idade igual ou acima de 60 anos de idade, maioria dos participantes são mulheres com 80% e 20% são homens.
Nível de Escolaridade dos Idosos: 20% Primeiro Grau completo, 40% curso universitário.
Historia
No ano de 2006 a Fundação Maria Auxiliadora do Ipiranga teve a iniciativa de oferecer trabalho direcionado para a terceira idade, pautado no convívio social e auto-estima. Propiciando qualidade de vida e fortalecimento nos vínculos familiares.
No principio eram 60 idosos participantes de oficinas de crochê, tear, memória, yoga e terapia em grupo ministrado por 4 voluntários.
Com o crescimento de interessados em participar do trabalho desenvolvido, percebeu-se a necessidade de ter um espaço próprio, pois as atividades eram realizadas em outras unidade da instituição, em 2008 foi inaugurado o Centro de Convivência VivaVida, com 350 idosos e 42 atividades diversificadas, desenvolvida por 40 voluntários.
Atualmente o Centro de Convivência encontra-se com 660 idosos participantes, e 53 oficinas onde 49 voluntários organizam e coordenam as atividades.
Contam também com a parceria da Unidade Básica de Saúde - São Vicente de Paula, e parceria com a Coordenadoria de Convivência, Participação e Empreendedorismo Social - CONPARES que trimestralmente disponibiliza 3 oficineiros.
O Centro de Convivência têm como finalidade de proporcionar a permanência diurna do idoso, desenvolvendo atividades físicas, laborativas, culturais, associativo e de educação para a cidadania, embaseando suas propostas em oficinas que possibilitam implantação de projetos para trabalhar as questões educacionais, culturais, esportivas, de laser, de assistência social e de saúde, principalmente em seu caráter de prevenção e promoção á saúde.
Visa o fortalecimento dos vínculos familiares, prevenção do isolamento social, contribuindo para autonomia.
O objetivo do trabalho do Centro de Convivência VivaVida é desenvolver ações técnicas que apóie e colabore para efetivação Política Nacional do Idoso no sentido de promover e garantir aos idosos condições necessárias ao pleno exercício do direito e da cidadania.
A porta de entrada é feita através da publicidade boca-boca dos freqüentadores ou por divulgação das atividades do Centro de Convivência.
Os iniciantes preenchem uma lista de atividades a qual pretendem participar e formam turmas, após o fechamento de turmas é preenchido uma lista de espera onde atualmente tem 150 pessoas.
Segundo os dados de uma pesquisa feita quantitativamente na instituição percebeu-se que as mulheres têm o menor nível de escolaridade, buscam fazer parte das oficinas de alfabetização. A renda familiar varia de 1 a 6 salários mínimos, alem de ser verificado que 50% dos idosos mencionaram que tem a renda entre 1 e 3 salários mínimos, e 42% deste publico faz parte das oficinas de artesanatos e vendem os artesanatos confeccionados para complementar a renda da família.
Quanto ao estado civil, se encontra grande numero de mulheres viúvas, em seguida as casadas, sendo que algumas delas freqüentam o programa junto com os maridos, em relação á moradias 50% responderam que residem em moradia própria.
Informações fornecidas pela Auxiliar de Coordenação que nós mostrou os dados que foram colhidos dos questionários.
RELATÓRIO DESCRITIVO-ANALÍTICO DE OBSERVAÇÃO
O contato com o Centro VIVAVIDA se deu através de uma integrante do grupo que trabalho em outra unidade da instituição.
Justificativa
A escolha do Centro de Convivência foi por estar em busca de um projeto que se possibilita a participação do idoso com um ser integrante na vida social e comunitária onde não se oferece somente um lugar limpo de cuidados físicos, mas que realiza a promoção da saúde física e psíquica.
Observação
Fui a campo fazer o trabalho de observação para colher informações sobre o Centro de Convivência Vivavida, a visita ocorreu em uma segunda feira, visitei todo o complexo da unidade. O que chamou atenção primeiramente foi á não infantilização na comunicação de profissionais e idosos o não sentimento de coitadinhos e frágeis.
Na hora que cheguei a Instituição alguns idosos estavam entrando para as atividades, os mesmo se cumprimentaram entre si, como era segunda feira os idosos perguntavam uns para os outros como tinha sido o final de semana, alguns diziam o que fizeram - ficaram em casa, outros foram visitar seus filhos, foram no Shopping.
O que surpreendeu foi à fisionomia dos mesmos, todos sorridentes dinâmicos, pareciam que não viam a hora de estar ali.
Fiquei em uma sala com mesas em círculos e cadeiras onde todos se viam, na sala era ministrada a aula de artesanato com chinelos, havia 15 alunas todas mulheres.
Durante as atividades havia muita conversa entre os idosos, a professora tinha que chamar atenção algumas vezes.
Nesta primeira visita observei que os estereótipos de vó, velho, velhinho, coitadinhos e frágeis não é ocupado neste lugar, pois todos se tratam pelo nome dês dos funcionários até os idosos.
Percebi que é um ambiente onde a exclusão não tem lugar, pois não há ameaça da exigência do culto á juventude e sim um reconhecimento das transformações de um corpo envelhecendo.
Ligia Py quando destituímos a conotação negativa e incluímos o registro da diferença, recolocamos o sujeito num lugar de valor que o faça permanecer no circulo de desejo.
Dessa forma observei que o convívio e as atividades oferecidas fortalecem o surgimento e o desenvolvimento de novas aptidões, e oportunidades para que os idosos façam escolhas com autonomia, permite que o idoso continue na condição desejante, projetado ao futuro, aproximando as suas possibilidades inimagináveis de criação
( Ligia Py).
Observei também que o questionamento sobre a morte não fica oculto – escutei a conversa de duas senhoras que estavam sentadas na mesa fazendo bijuterias e uma delas perguntou para a outra- Quem morreu hoje? Falando das pessoas conhecidas que já morreram.
Antes de levar essa fala para supervisão, interpretei como inapropriada para aquele local por ser um ambiente descontraído e cheio de atividades que tomam todo o tempo dos pensamentos negativos segundo minha interpretação.
Ao expressar essa interpretação na supervisão a professora me levou a perceber que lá era o melhor lugar para se falar sobre a morte, pois ali se podem ouvir e trocar experiências dolorosas do confronto do idoso com os seus limites, propiciando possibilidades oferecidas no seu real que permitem um trabalho de substituição simbólica das perdas pelos ganhos possíveis em outras dimensões da existência ( Joel Birmam), ou seja com as trocas e os desabafos das perdas físicas ou afetivas promove um relacionamento de interesses, vivencias, desejos e possibilidades fechando o caminho para a depressão e a demência.
Algumas idosas reclamavam que não estavam na “melhor idade”, pois você fica doente, tem dores, fica lento até tem mais tempo mais as complicações também aumentam, porem toda essa fala acontecia na aula de dança, ou seja, percebi que á uma consciência de perdas físicas, mas que não os colocam em existência de perdedores ou muito menos de um fechamento existencial o futuro.
A fala é uma maneira de fazer luto da juventude das perdas, onde se reorganizam possibilidades de confrontar os limites do presente, para articular novas idéias e ações para o futuro.
Portanto, para isso é necessário um horizonte de futuro, para que as perdas possam ser metaforizadas no presente, pela rearticulação existencial e desejante do sujeito. (Joel Birmam).
Nos dois dias de observação pressupôs que alguns familiares participam indiretamente da vida do idoso no centro de convivência, vi alguns familiares deixando os mesmo no local e buscando, percebi que ocorre um fortalecimento nos vínculos familiares, apesar de que necessitaria de uma pesquisa nesse sentido.
Analise da Observação
O centro de Convivência VivaVida oferece um espaço de cultura apropriado para o desenvolvimento de oficinas de interesse dos idosos, garantindo acesso aos direitos e melhora na qualidade de vidas.
As atividades socioeducativas são oferecidos gratuitamente a todos inscritos, oportunizando o desenvolvimento humano e aprimoramento da cultura, criando melhoria na qualidade de vida.
O mais importante do Centro além das atividades é que previne o isolamento e promove a socialização, ajuda na prevenção de doenças que afetam o cognitivo, demência, neurose, depressão.
Nesse espaço percebe-se que á um estímulo no protagonismo dos idosos, onde os mesmo fortalecem as relações sociais e o convívio em grupo, tem acesso á rede socioassistencialista através da assistente social da instituição, atividades físicas, culturais, de lazer, de esportes e ocupacionais internas e externas relacionadas a interesses, vivencias, desejos do publico.
Além de ser um ambiente bem acolhedor e propicio a briga por causa de lugar, grupos panelinhas, fofocas e solidariedade; ajudar o outro com dificuldade em aprender, fazem com que o idoso sinta-se útil, visível e ativo dentro desse ambiente.
Á pratica associada permitiu que pensasse no ato de envelhecer não só como um fenômeno biológico decadente, mas um processo de aceitar e compreender, mudança em nosso corpo. Aceitar a idade, as limitações, não se prender ao que deixou de ser feito, mas o que poderá ser feito, através de contribuições que levem á um envelhecimento ativo, autônomo e saudável.
Entrevista com Assistente Social
Na terceira visita realizei uma entrevista com a Assistente Social diante de algumas questões:
Questões
- Há quanto tempo trabalha na Instituição?
Há três anos.
- Qual trabalho que desempenha?
Faço atendimento, visitas domiciliares, encaminhamentos e orientação aos idosos, usuários do equipamento.
- Teve alguma dificuldade ao desempenhar seu trabalho?Qual?
A maior dificuldade de trabalhar com este público, pelo menos a que encontrei foi em dar maior atenção, geralmente são desconfiados e exigem muita atenção, pois vejo que suas emoções são fragilizadas. Por exemplo: Na questão de perdas físicas, falar da morte, e por esse motivo que vimos a necessidade de criar uma oficina que desse suporte a essa fragilidade, atualmente existe uma oficina chamada Arte de Envelhecer onde são trocadas experiências e informações o mais interessante é o caderno onde os usuários registram sua aflições onde é lido e discutido.
- Teve alguma realização neste trabalho?
Sim, me sinto muito realizada quando os usuários vêm me contar experiências que tiveram durante o período que freqüenta a instituição. Uma vez uma Sra. me disse que tinha conseguido fazer o que mais sonhava (pintura em tecido) e me disse o quanto isso era importante, ficou mais de três anos em casa achando que não havia mais utilidade para ela ,até que uma amiga falou da instituição e hoje pode fazer o que mais gostaria, o sentimento de realização que ela me transmitiu me fez sentir realizada com meu trabalho.
- Tem liberdade para efetuar seu trabalho ou tem algumas restrições?
Sim, tenho liberdade, sei não é total, pois não desempenho o trabalho de Coordenação, mas acredito que o meu trabalho ajuda no desenvolvimento de modo geral da Unidade. Desconheço as restrições.
- Realiza seu trabalho em equipe? De quantas pessoas?
Sim, tenho reuniões de equipe Assistente Social de outras Unidades e comentamos os casos e partilhamos de orientações. No total somos sete (uma para cada unidade) e nossa Superintendente que nos Coordena.
- Faz algum tipo de trabalho com funcionários e voluntários?
Não, geralmente a Coordenadora da Unidade conversa e administra os funcionários e voluntários.
- Participa das terapias em grupo? Por quê?
Não, porque geralmente é grupo fechado.
- Quanto ao trabalho dos psicólogos, colabora com o seu trabalho? Como? Por quê?
Bom, não tenho muito contato com os psicólogos que atuam na Unidade, seria bom se pudéssemos ter um espaço para conversarmos, mas geralmente não tenho tempo.
- Já presenciou casos de negligencia e/ou exploração ao idoso? Qual?
Felizmente acredito, até o momento não vivenciei este tipo de coisa, os casos mais delicados que temos é com relação ao idoso em situação de extrema pobreza. Oferecemos cesta básica, roupas e orientamos quanto aposentadoria, ajudando na administração do dinheiro.
Conclusão: O idoso que participa de atividades no Centro de Convivência não ocupa o lugar de idoso "doente" e fragilizado e por isso procura atividades como dança e oficinas ou esse tipo de olhar diferenciado da instituição muda a imagem do público em questão?
Em comparação com os asilos, onde a subjetividade é deixada de lado, só é tratada as "necessidades básicas", locais reservados para grupos e oficinas como o citado no trabalho seria um verdadeiro "Éden" ao pensarmos na importância do local em que é reservado para o idoso, pois lá ele escolhe o que quer fazer, é reconhecido pelo nome, tem voz, não sabemos ao certo escutam essa voz, mas tem a oportunidade de falar, de estar, se relacionar, para além da doença e fragilidade. É claro que temos que considerar as condições de saúdes, situação financeira e como se coloca no mundo, mas se pensarmos em atividades similares em asilos, por exemplo, a qualidade de vida que é mínima tornando-se um “depositário” de gente seria minimamente melhor.
Esse senso comum se baseia na supervisão feita com outro grupo que visitaram um asilo onde as idosas ficavam sentadas em frente à televisão, distante umas das outras muitas nem se conheciam, desenvolvendo um quadro melancólico e depressivo, diferente do Centro de Convivência onde os idosos são ativos e autônomos apesar das limitações físicas.
Referencial Teórico
Joel Birman- Futuro de Todos Nós: Temporalidade, Memória e Terceira Idade na Psicanálise.
Ligia PY- Envelhecimento e Subjetividade.
Raquel Fabiano Povoa - Centro de Convivência em Foco:Uma proposta de promoção do envelhecimento através do Lazer, da Participação Social e do Intercâmbio Geracional : web.intranet.ess.ufrj.br/monografias/102021605.pdf