Psicologia Cognitiva e suas barreiras profissionais

Por Felipe Carazza Silva | 26/01/2017 | Psicologia

O Plantão Psicológico surge como uma modalidade alternativa de atendimento psicológico, de caráter breve e individual que visa, orientar e auxiliar na resolução de dificuldades focadas em questões emergenciais e que nem sempre precisam de acompanhamento prolongado. O caráter imediato de atendimento permite uma construção do conceito de plantão na qual se destina a atender somente pacientes com crises emocionais agudas e quadros psiquiátricos graves. Contudo a discussão não é “um serviço para emergências psiquiátricas, mas sim uma escuta imediata, recebendo a pessoa no momento da dificuldade, sem que necessariamente a intensidade desta dificuldade tivesse atingido um ponto crítico que representasse ameaça iminente à sua integridade ou a de outros.” (ROSEENTHAL, p. 19, 1999).

Um outro ponto importante no conceito de plantão psicológico é que não tem a pretensão de uma única sessão que seja capaz de resolver sérios problemas emocionais ou promover resultados reconstitutivos da personalidade. Para estes casos, o cliente é encaminhado para uma terapia contínua, podendo ser uma psicoterapia cognitiva.

A idéia central em um primeiro momento é apresentar uma modalidade de atendimento na qual tem como objetivo oferecer ao paciente uma possibilidade de ser ouvida e acolhida. Com essa escuta as questões emergenciais poderão ser trabalhadas de forma subjetiva. “Ouvir pode sugerir uma atitude passiva, mas não é. Ouvir implica acompanhar, estar atento, presente. Presença inteira”. (ROSENTHAL, in Mahfoud, p. 27, 1999).

Entendendo emergência, como algo que emerge ou situação crítica. As pessoas que procuram plantão estão vivendo questões e problemas que surgiram naquele momento como algo que chegou ao limite e precisa de cuidado, ou ainda estão passando por mudanças drásticas e procuram orientação e o reencontro com seu equilíbrio anterior. Responder a toda a demanda com psicoterapia, nem sempre é viável e aceitável pelas pessoas, o plantão entra, portanto neste vácuo, onde o que configurará o atendimento ou encontro é o próprio cliente, de acordo com sua necessidade emergencial.

Tentamos definir em poucas palavras o conceito do plantão psicológico sem delimitar a base teórica. O trabalho proposto é conseguir discutir o plantão psicológico em cognitiva, após uma pesquisa rápida e um levantamento breve em sites e alguns contatos com profissionais da área. Constamos uma ausência de atendimento em plantão psicológico na abordagem cognitiva no Brasil. Essa carência de profissionais nessa área, trouxe um incomodo e um questionamento, em que proporcionou um estudo sobre esse acontecimento.

A Terapia Cognitiva é uma das abordagens de psicoterapia que tem demonstrado grande êxito pelos resultados obtidos no tratamento dos mais variados transtornos e patologias clinicas. Tem como alicerce básico a compreensão dos processos cognitivos e sua rede de significados que são estabelecidos através da percepção, seleção e significação das informações provenientes do meio externo. Assim temos indivíduos que percebem o mundo de forma singular, ou seja, cada individuo possui uma visão e uma interpretação sobre o seu mundo exterior possibilitando construir valores e crenças do decorrer da sua vida.

Sob esta condição podemos concluir que a concepção cognitivista torna-se possível somente após a apresentação de ferramentas de ajustes cognitivos, como os ‘registros de pensamentos disfuncionais’ (J. Beck, 1997) e toda variedade que sustentam a prática da correção ou de substituição dos padrões disfuncionais por padrões mais funcionais do pensamento. Nessa perceptiva surgem manuais e livros que dão suporte teórico e ao mesmo tempo técnico ao psicoterapeuta cognitivo. O objetivo da Terapia Cognitiva não é o de interpretar ou de tentar criar uma teoria de leis gerais sobre o funcionamento da psique humana, mas sim, o de levantar hipóteses gerais acerca de como cada indivíduo construiu a sua realidade e analisar assim os padrões de pensamento gerados por estas crenças, que, sendo inadequadas ou disfuncionais, podem vir a criar conflitos e sofrimento para a pessoa. Através das técnicas cognitivas propõe-se, então, a mudança dessas crenças e, consequentemente, o alivio do sofrimento emocional.

A Terapia Cognitiva adota técnicas que na contemporaneidade são utilizadas de maneira inadequadas. Segundo A. Beck, “a terapia cognitiva é uma abordagem estruturada, diretiva, ativa, de prazo limitado...” o terapeuta cognitivo na maioria das vezes fica preso a esses conceitos não conseguindo trabalhar num atendimento em plantão psicológico.  

 Um ponto importante é que a terapia cognitiva desenvolve seu trabalho focalizando um diagnóstico, na qual dará sustentação ao modelo cognitivo. Segundo Judith Beck, “...um Diagrama de Conceituação Cognitiva... provê um mapa cognitivo da psicopatologia do paciente...” num plantão psicológico o trabalho de diagnóstico pode vim a ser algo impossível, uma vez que a situação, do inesperado e das emergências, não permite atuar com modelos pré-definidos, pois a atuação será desenhada à partir do próprio cliente.

Mudando o enfoque que até agora apresentamos a teorização da cognitiva, para o profissional da área. O psicólogo cognitivo não possui uma formação adequada devido a carência de disciplina na academia e até mesmo estágio voltado para a área em questão. Nesse início de século observamos que as faculdades de psicologia estão preocupadas com a formação na área cognitiva e realizam alterações na grade curricular do curso de graduação. O movimento de alteração somente poderá ser notado a longo prazo, esperamos que profissionais cognitivos conseguem desprender dos manuais e livros. Caso esse movimento ocorra poderemos no futuro ter profissionais atuando em plantão psicológico com habilidades de defrontar com não planejado e com a possibilidade de que o encontro com o paciente seja único, enfocar a experiência do cliente ao invés do seu problema e ter empatia durante a psicoterapia.

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