Psicodiagnóstico Interventivo: Fundamentação Teórica, conceitos e Práticas.

Por Gilmara Dias Dos Santos | 04/09/2016 | Psicologia

RESUMO

O psicodiagnóstico interventivo é uma prática surgida no final dos anos noventa e vem crescendo substancialmente devido à procura humana de solucionar seus problemas psíquicos rapidamente.O presente artigo objetiva averiguar os conceitos, fundamentações teóricas e práticas do Psicodiagnóstico Interventivo. Efetuou-se uma busca sistematizada abrangendo artigos de periódicos indexados nas Bases de Dados: Scielo, Pepsic e Google Acadêmico.  Trata-se de uma revisão bibliográfica de cunho qualitativo.Constatou-se a existência de duas grandes abordagens da psicologia atuantes no Brasil, nas quais propõem práticas de psicodiagnóstico interventivos, sendo elas: o modelo psicanalítico e fenomenológico existencial. Tais conhecimentos são essenciais para prática clinica dos profissionais em psicologia.

INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva averiguar os conceitos, fundamentações teóricas e práticas do Psicodiagnóstico Interventivo.Percebe-se que o ser humano nessa era da globalização, encontra-se mais esclarecido sobre assuntos relacionados à saúde mental. Este vem se despindo de antigos preconceitos e buscando diversas formas de elucidar seus sofrimentos psíquicos, constata-se então a procura pela cura imediatista. Neste sentido a Psicologia Clinica vem sentindo necessidade de desenvolver pesquisas e técnicas de intervenções que possam compreender e amenizar os conflitos e tensões que assolam o homem e assim, de forma mais rápida e eficaz, contribuir para o bem estar do mesmo.

O psicodiagnóstico Tradicional com o intuito de diagnosticar e propor soluções rápidas se utiliza de técnicas e testes psicológicos, porém acontece com uma quantidade de sessões delimitadas e proporção de tempo relativamente pequena, se relacionado com outros tipos de práticas psicológicas da clinica. J. A. Cunha (2003, p. 26) caracteriza o psicodiagnóstico como: 

“Um processo científico, porque deve partir de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou infirmadas através de passos predeterminados e com objetivos precisos. Tal processo é limitado no tempo, baseado num contrato de trabalho entre paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de avaliação e, portanto, uma estimativa do tempo necessário (número aproximado de sessões de exame)” p. 26. 

Dentro do psicodiagnóstico surge uma nova prática, o psicodiagnóstico interventivo,este agrega dois processos, os avaliativos e o terapêutico. Sabe-se que durante a avaliação psicodiagnóstico surge uma gama de material psíquico e aspectos da personalidade implícitos do sujeito que não pode ser descartado, pelo contrário, podem ser utilizados a favor do autoconhecimento do examinando, possibilitando a resolução dos seus conflitos internos. Ou seja, reúne-se a vontade humana de solucionar seus conflitos com a praticidade de resolução de conflitos do psicodiagnóstico interventivo.

Em meio a atual demanda de buscar soluções rápidas para os sofrimentos psíquicos e a prática recente do psicodiagnóstico interventivo, surgemos seguintes questionamentos: Qual o conceito, referencial teórico e comofunciona oPsicodiagnóstico Interventivo? Diante desta pergunta e visto ainda a pequena quantidade de pesquisa envolvendo a temática apresentada, emerge o interesse de verificar as fundamentações, conceitos e práticas que permeia o psicodiagnóstico Interventivo. Os métodos utilizados foram pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo.

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

2. 1CONCEITOS E TEORIAS

O psicodiagnóstico é uma prática científica clínica, na qual possui tempo delimitado, e algumas regras que norteiam o trabalho do psicólogo. Os principais pensadores que embasam teoricamente tais atividades são: Ocampo et al., Cunha e Arzeno.  É fato que as aplicações realizadas na clinica ou em qualquer outro âmbito que o psicodiagnóstico tradicional venha a ser aplicado será de inestimável valor para o autoconhecimento e resolução de problemas e certamente trará benéficos para saúde mental humana.Cunha (2003, p. 24) conceitua o Psicodiagnóstico como: 

“Um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso.” (p. 24). 

Com a evolução das pesquisas e aumento substancial na demanda da sociedade atual, na qual busca soluções mais rápidas e eficazes para solucionar os seus problemas psíquicos, os profissionais da área de psicologia mais especificamente, os psicometrista, sentiram a necessidade de procurar soluções mais flexíveis e identidades próprias, buscando novas formas deatuações nas quais objetivam diagnosticar de forma mais compreensiva e dinâmica os seus pacientes. Tais inovações redefiniram o papel do psicólogo onde ente deixa de ser um sujeito passivo para ser ativo dentro do processo, introduzindo intervenções na avaliação.   Deste modo surgem outros modelos de psicodiagnósticos: O modelocompreensivo  embasado nas ideias de Trinca, nas quais trazem uma visão psicanalítica e o Modelo Fenomenológico- Existencial ancorado nos estudos de Ancona-Lopez,Cupertino, Yehia.

Entretanto, as possibilidades de intervenções no psicodiagnóstico foram citadas inicialmente por Ocampo e Arzeno (1995) e Verthelyi (1993), estes mesmos autores asseguram que na entrevista devolutiva como um momento de discussão dos resultados que mobiliza mudanças internas. Essas intervenções visavam a alguma mudança de postura, interna ou externa, por parte do paciente com a finalidade de facilitar a reintrojeção dos resultados.Paulo, 2006cita em seus estudos algumas práticas interventivas como: 

“Ancona-Lopez (1995) destacou o processo de intervenção a partir da reestruturação o atendimento em clínica escola e criou as primeiras triagens grupais, seguidas dos grupos de espera em psicodiagnóstico e de sensibilização a pais e crianças encaminhados para psicoterapia. Barbieri (2002) investigou a eficiência do método diagnóstico/terapêutico com crianças com queixas de transtorno de conduta, utilizando a Consulta Terapêutica, a Entrevista Familiar, a Bateria de Hammer e o CAT num enfoque interventivo”. (Paulo, 2006). 

A mesma autora ainda cita contribuições de Trinca e Tardivo no processo de desenvolvimento e estudos voltados para prática do psicodiagnóstico interventivo. 

“Trinca (2002) avaliou a possibilidade de intervenção com o procedimento de Desenho-Estória em estudo com crianças em situação pré-cirúrgica. Tardivo (2004) apresentou um trabalho de intervenção com adolescentes a partir de desenhos temáticos. Ou seja, percebe-se uma grande demanda deste modelo nas clinicas de psicologia da historia recente da psicologia.”(Paulo, 2006). 

 Arzeno, 1995 conceitua o Psicodiagnóstico Interventivo como um procedimento clínico que consiste em efetuar intervenções já no momento da realização de entrevistas e aplicação de testes, oferecendo ao paciente, devoluções durante todo o processo avaliativo e não somente ao seu final. Já Paulo, 2004, idealiza Psicodiagnóstico Interventivo como: 

“Uma forma de avaliação psicológica, subordinada ao pensamento clínico, para apreensão da dinâmica intrapsíquica, compreensão da problemática do indivíduo e intervenção nos aspectos emergentes, relevantes e/ou determinantes dos desajustamentos responsáveis por seu sofrimento psíquico e que, ao mesmo tempo, e por isso, permite uma intervenção eficaz”. (Paulo, 2004) 

Vale lembrar que com a evolução alguns estudiosos desenvolvendo novas pesquisas nas áreas do psicodiagnóstico interventivos, manifesta-sealgumas vertentes, ou seja, os modelos: compreensivo fundamentado pelos pilares Psicanalíticos e o Fenomenológico- existencial tais modelos serão explanados a seguir.

2.2 O MODELO COMPREENSIVO  E SUA PRÁTICA 

O modelo compreensivo ancora-se em uma visão psicanalítica, onde o paciente deve-se ser analisado de uma forma global com ajuda de técnicas projetivas, na qual se pode observar o ser em sua plenitude elevando o nívelde compreensão da estrutura psíquica do indivíduo.

 “O psicodiagnóstico do tipo compreensivo, objetiva uma análise psicológica globalizada do paciente com ênfase no julgamento clínico, obtido com o auxílio de instrumentos disponíveis: entrevistas, observações, testes psicológicos e exames complementares”. Trinca (1983). 

O próprio Freud (1912/1976) afirmou que uma análise, além de operação terapêutica, é um empreendimento científico, ou seja, pesquisa e tratamento podem andar juntos no processo de avaliação. Contudo, entre as técnicas sugeridas por Trinca (1983) estão: 

“A anamnese e a exploração clínica da personalidade são os instrumentos fundamentais, que levam às conclusões sobre a dinâmica intrapsíquica, interpessoal e sociocultural, cuja interação resulta nos desajustamentos individuais. Assim, baseada principalmente no raciocínio clínico, a avaliação psicológica passa a ser um processo de tipo compreensivo, que visa a uma compreensão psicodinâmica do indivíduo e de suas dificuldades, sendo os instrumentos psicológicos e as técnicas projetivas meios auxiliares na investigação da personalidade, em que prevalece a busca de compreensão da vida psíquica e não a submissão a padrões estabelecidos por teorias”. (Trinca, 1984). 

O mesmo autor ainda sugere que o profissional não seja rígido em sua prática de psicodiagnóstico interventivo, afim de capitar e observar fatores relevantes para o processo terapêutico. 

“A abordagem do diagnóstico compreensivo é dinâmica e implica subordinar a avaliação psicológica ao pensamento clínico. Significa um trabalho flexível e não uniforme e imutável, para enfocar as situações mentais emergentes que estruturam o processo. Trata-se de um trabalho dinâmico que vai ser elaborado em função dos fatores emergentes e relevantes da situação e é único para cada caso clínico”. (Trinca 1984). 

Sobre a abrangência do psicodiagnóstico interventivo, vale ressaltar que: 

“Abrange as dinâmicas intrapsíquicas, intrafamiliares e socioculturais como forças em interação, formando uma teia que pode resultar em sofrimento e desajuste. Essa trama conferiria um significado idiossincrático para a experiência do indivíduo e para o seu sintoma”. (W. Trinca, 1984)

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