PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CXCVII - “CARVALHO PERDIDO E UMA QUESTÃO ÉTICA!”
Por Felipe Genovez | 23/04/2018 | HistóriaData: 27.05.99, horário: 09:00 horas – “Evaldo Moreto”:
Horário: 11:00 horas, “O visitante”:
Na medida em que fui descendo os degraus da escada, rumo ao andar térreo, quase como uma figura fantasmagórica, eis que visualizei o Secretário Carvalho chegando de gravata e com uma jaqueta de lã, parecia ficção encontrá-lo naquelas condições e cheguei a dar meia volta, mas ele sapateava de um lado para outro, como se quisesse chegar até o hall que dá acesso às salas existentes naquele local, seu andar era ereto, com as mãos no bolso da calça, seus braços colados ao corpo e em linha reta acompanhando o corpo. Pude ainda perceber um certo ar de curiosidade e ao mesmo tempo de desligamento. Na medida em que chegava aos últimos degraus notei que ele já estava consciente da minha presença e como retornou para o elevador, já que havia se equivocado com o andar, logo que me reconheceu:
- Oi!.
- Tudo bem Secretário?
- Tudo, e como é que está?
- Estamos indo, a portaria foi publicada, muitas reclamações?
- É, alguns estão reclamando, mas é assim mesmo..
- Sim, isso é natural, era previsível!.
- É verdade!.
- Mas tem um detalhe se alguém quiser discutir a edição da portaria na Justiça corre o risco de procrastinar todo o processo e retardar mais ainda as promoções.
- Sim...!
E o elevador chegou, mas acabou fechando a porta e subindo sem que ele tivesse tempo de entrar. Nisso Carvalho apertou novamente o botão parecendo tenso com a situação, aproveitamos para continuar nossa conversa:
- Depois tem outra, ficaram esse tempo todo sem se manifestar.
- É verdade, mas temos que agilizar o processo.
- Sim, mas isso é com as comissões.
- E como é que está?
- Não sei, é com as comissões Secretário!.
E naquele instante chegou definitivamente o elevador e Carvalho acessou o seu interior para subir mais um andar, quando poderia ter ido pela escada que estava ali bem ao seu lado. Logo percebi o efeito “neosaldina”, ele sofria de cefaleia nervosa, muito embora procurasse deixar transparecer essa sua vulnerabilidade:
- O Moretto é no quarto andar, né?
- Sim. É no quarto, mais um andar Secretário!
Horário: 11:05, “O sim e o não”:
Em seguida fui até o local onde Wilmar Domingues se encontrava (a sala que era de Osnelito):
“(...)
- Eu vim aqui te consultar, lembras daquele meu compromisso com o nosso grupo? Eu condicionei que somente aceitaria cargo comissionado se o pessoal não criasse objeção e isso se deve ao fato de ter lançado aquele nosso “Plano” de governo.
- Sim, doutor, claro que eu sei..
- Pois é, o Moreto me chamou lá em cima, renovou aquele convite para eu assumir o lugar do Braga na “Assistência Jurídica”, antes eu disse não porque o Braga estava lá e não queria melindrar um Delegado Especial, mas agora é diferente, o Braga foi para a Armas e Munições.
- Doutor, eu não vejo nenhum problema, até é normal isso, esse seria o procedimento correto, o amigo tem competência e conhece bem o serviço, além disso é um estudioso.
- Sim, mas o pessoal pode achar que eu estou sendo beneficiado, pelo contrário, preferiria ficar lá no “salão” escrevendo e também prestando assessoramento ao Delegado-Geral.
- Mas é natural a sua ida para lá, e assim eu posso ocupar o seu lugar lá no “salão”, vou para lá!
- Bom, quem sabe não vais para a “Assistência Jurídica” e aí eu vou te ajudar.
- Não, eu não tenho condições.
- Mas eu vou conversar com o Braga, com o Jorge, Garcez, Krieger, Cláudio... até para ouvir a opinião deles.
- Olha doutor eu acho que não deveria perguntar nada para ninguém, esse é um assunto seu, de mais a mais nós temos que ter uma função, e o amigo não vai ocupar cargo comissionado, eu particularmente não aceito qualquer cargo neste governo, podem me oferecer qualquer um, sem antes restabelecerem a hierarquia eu não aceito nada.
- Sim, mas essa sempre foi a minha postura também.
E nisso chegou Braga:
- Doutor Felipe! (Braga)
- Tá aí o homem! (Wilmar)
- Braga eu estava justamente falando para o Wilmar que iria te procurar agora, estava dizendo que o Moreto renovou o convite para eu assumir a “Assistência Jurídica”, como já te disse ele tinha me convidado antes. (Felipe)
- Que pena, deverias ter aceito, assim eu teria saído mais cedo de lá, estava pedindo para sair. (Braga)
- Sim, mas eu te falei que não aceitei porque estavas lá, tinha esse argumento, mas agora não estais mais e apesar de ficar na mesma situação que tu estavas, sem cargo comissionado, pode dar a impressão que tinha pedido para ir para lá, o que não é verdade. (Felipe)
- Eu sei... (Braga)
- E como eu havia me comprometido com o nosso grupo, estou perguntando para o pessoal mais chegado se há algum óbice de eu ir para lá? (Felipe)
- Não, da minha parte não, acho até que tu não tens que dar satisfação para ninguém, você é um estudioso, eu enquanto estive lá consegui trocar as mesas, computador, só não consegui livros, mas fiz bastante coisas e sei que tu tens condições de prestar bons serviços para a instituição. Olha só, no governo do PMDB a Lúcia não mandou um projeto de lei que favorecesse a Polícia Civil, nenhum! Sabe lá uma coisa dessas? (Braga)
- Olha Braga eu já fui mais vibrante com isso, acho que o tempo me ensinou, não que eu tenha perdido o entusiasmo, prova disso é o projeto que articulei de unificação de comandos das polícias, mas hoje estou mais com os pés no chão. (Felipe)
- Mas Felipe eu te desejo boa sorte. (Braga)
- Não é uma questão de boa sorte, só estou mudando de lugar, vou assumir a posição que tu estavas antes. (Felipe)
- Eu sei, mas sei que tu podes fazer um bom trabalho lá. (Braga)
- Sim, mas lembra que eu já estive lá duas vezes. (Felipe)
- Sei, mas não vejo nenhum problema de tu ires para lá novamente. (Braga)
- Então tá! (Felipe)
Pelo sim e pelo não achei que fiz a coisa certa, mesmo em não se tratando de cargo comissionado, estava se tratando de um convite para auxiliar uma pessoa amiga, além disso Braga não aguentava mais e pediu para ir para a Gerência de Armas e Munições, diferente de mim que não pedi nada.
Horário: 14:35 horas, “‘Garcezando”:
- Alo!
- É da residência do doutor Garcez?
- Sim.
- É a Zaira?
- Não. É a Laila.
- Sim. Laila já sabes quem está falando, não?
- Sim. Sei, claro!
- Chama o teu pai.
- Um momento.
Logo em seguida...:
- Alô!
- Tudo bem Garcez?
- Fala Felipe, eu estava querendo falar contigo, iria te procurar, na semana passada tinha planejado ir até a Delegacia-Geral, tu estais lá ainda?
- Sim, no mesmo lugar ainda, na “sala de reuniões” com os quadros dos ex-Chefes de Polícia lá... , mas to dando uma assistência ao Delegado-Geral.
- Eu sei, todo mundo sabe, naquele dia eu estive aí contigo e em dois momentos te procuraram, é até normal que seja assim.
- Pois é Garcez, justamente sobre isso que eu estou te telefonando, o Moreto renovou o convite para eu assumir a “Assistência Jurídica”, sem cargo comissionado, sabes que não aceito trabalhar para este governo, mas é no lugar do Braga. Como eu havia me comprometido com o pessoal do grupo que não aceitaria nada sem consultar o pessoal, mesmo não se tratando de cargo comissionado, mas em se tratando de um convite para trabalhar num setor como aquele e fazendo aquele tipo de serviço achei que seria justo mesmo assim consultar os amigos.
- Que é isso Felipe, eu acho que tu não tens que consultar ninguém, é uma decisão tua.
- Olha Garcez não é bem assim, eu trabalhei num projeto, como tu sabes e não quero jamais dar a impressão de que o fiz para me beneficiar.
- Eu sei, não vejo nenhum problema.
- Alem do mais como Delegado Especial eu teria que trabalhar em algum lugar da Delegacia-Geral, é por isso que se vocês concordarem eu estou disposto a aceitar.
- Sim, não vejo problemas não, o Krieger também tentou pegar um cargo e não conseguiu.
- Garcez, a situação do Krieger é bem diferente da minha, ele não é Delegado Especial, ele buscou um cargo comissionado, mas não tinha compromissos com o grupo, não assinou nada, é bem diferente. Eu gostaria de ouvir a tua opinião sincera, pois se fosses tu que estivesse na minha situação certamente que eu te diria o que penso.
- Olha Felipe é uma questão de foro íntimo, cada um sabe de si, se tu achas que deves “colaborar” com este governo então...
- Garcez, eu como Delegado Especial tenho que ter uma atividade na Delegacia-Geral, lá é a minha lotação. Não é uma questão de colaborar, não vou ficar lá sem ter uma atividade. O Moreto está propondo tão somente para eu ir trabalhar noutro setor, sem cargo em comissão, então , ao invés de eu estar no “salão” vou para o lugar do Braga que tá saindo de lá, certo!.
- Sim, entendo, é verdade, olha eu não vejo nenhum problema, só de vez em quando vou te procurar para me inteirar das novidades, das leis, como aquela que fez a equiparação da carreira de Delegados com a Magistratura, no dia que eu estive aí contigo tu me passastes, eu não estava sabendo, certas coisas me passam desapercebidas.
- Sei, estais falando da lei complementar cento e cinquenta e quatro.
- Isso, vou precisar de ti, até é bom para nós que tu estejas lá.
- Sim, de mais a mais eu tenho que ajudar a nossa instituição de alguma maneira, estando em algum lugar lá na Delegacia-Geral.
- Sim, mas Felipe eu não sei se tu recebestes a circular da Adpesc, dando o prazo até o dia trinta agora para apresentar emendas ao estatuto?
- Sim, agora lembro da circular, recebi sim.
- Pois é a gente poderia se reunir e apresentar emendas, podemos fazer a quatro mãos, acho que tudo começa por aí.
- Sim, mas o prazo está quase encima.
- Sim.
- Que dia que cai o dia trinta?
- Deixa eu ver, cai no sábado.
- Pois é.
- Poderíamos nos reunir no sábado e falar com o Mário e entregar na segunda-feira, o que tu achas?
- Sim, por mim tudo bem. Bom se tu quiseres estou à disposição, me telefona, olha Garcez eu tenho que pegar o ônibus no terminal, vou ter que sair correndo, mas se tu quiseres se reunir comigo me telefona. Certo?
- Certo!. Então tá!
- Garcez não fala mais, vou ter que ir, se não vou perder o meu ônibus.
- Certo. Depois a gente conversa.
- Certo!.
E fui para o terminal pensando naqueles encontros do grupo, no manifesto, tudo ficou para trás, certamente esse encontro para tratar do estatuto da Adpesc também ficará..., não por falta de boa vontade, aliás, de bem intencionados....
E lembrei que ainda tinha que conversar com o Jorge, Krieger, aliás, por pensar neles, onde será que andavam? Já tinha dado o meu sim para Moreto, mas se qualquer dos membros do grupo fosse contra eu teria que rever meu aceite e tinha certeza que Moreto iria saber entender, só não saberia dizer qual seria o meu destino? Não iria ficar eternamente sozinho naquela "sala de reuniões"...