PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CLXXXIX - “SEGURANÇA PÚBLICA E A REDE DE INTRIGAS”.
Por Felipe Genovez | 20/04/2018 | HistóriaData: 06.05. 99, horário: 11:00 horas – “A Agenda Positiva”:
Kátia, psicóloga do Setor de Recursos Humanos vem me avisar que o doutor Cid, Consultor Jurídico estava tentando falar comigo via telefone... Realmente o aparelho do Salão está com defeito... E fui até o local atender a chamada...
- Alô!
- Genovez é o Cid.
- Oi.
- Genovez eu repassei aquela proposta de portaria para o Secretário, com algumas alterações. Ele suprimiu aquele considerando que trata sobre os salários atrasados e inseriu mais um item no final dispondo sobre o prazo de dez dias para que o Delegado-Geral inicie o processo de promoções de todas as carreiras.
- Sei, mas esse item seria desnecessário porque a Lei de Promoções dispõe que as comissões são permanentes, os trabalhos das três comissões são ininterruptos, eu acho desnecessário, mas...
- Mas o Secretário comentou que estava assinando a portaria só com coisa ruim e teria que colocar alguma coisa para equilibrar um pouco, entendes? Só ficar com o ônus não dá!
- Entendo.
- O que tu achas?
- Tudo bem, é uma medida simpática, podemos chamar de agenda positiva.
- Sim, é isso aí!
- Não vejo problema algum, apesar de achar desnecessário. Mas se ele quer já propor alguma coisa positiva, tudo bem!
- Genovez eu te mando a minuta da portaria agora.
- Não precisa isso Cid, prá quê?
- Tu achas mesmo, não queres?
- Não precisa.
- Sabes como é esse negócio de propriedade intelectual.
- Deixa para lá, eu fui chamado para colaborar e o que fiz foi apresentar uma proposta, só isso.
- Certo, certo. Mas então tá. Um abraço para o amigo.
- Outro.
Realmente, era muita gentileza do “Cid” em me telefonar para dar uma satisfação e, também, ponto para o Secretário Carvalho que praticamente acatou a minha proposta (baseada na proposta do Delegado Thomé e da Adpesc). Certamente que não precisava nada disso, mas foi bom do ponto de vista da amizade das antigas.
Horário: 17:00 horas – “Rede de entrigas?”
Braga entrou na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral e me participou que o Secretário teria feito algumas alterações na Portaria, tendo aproveitado para fazer uma quase advertência:
“(...)
- Cuidado! Tens que tomar cuidado, tu ficas aí fazendo esses trabalhos para o Secretário e daqui a pouco vão de crucificar, vão começar a dizer que tu és puxa-saco dele. E tu sabes que na Polícia Civil não se diz a verdade, a verdade é sempre escamoteada, vão trocar tudo e dizer que tu andas atrás de cargo.
- Olha Braga, impossível o pessoal dizer isso porque eu não tenho cargo em comissão, não pedi e continuo aqui no mesmo lugar que me colocaram anteriormente, neste “salão vermelho”, cheio de ex-Chefes de Polícia me vigiando, isso me deixa muito tranquilo, tem um monte de gente me vigiando.
- É, é, não sei, cuidado, tu já sofrestes muito!
- É, acho que tu tens razão, irei tomar mais cuidado, chega de levar, já fiz muito pela instituição e só levei, mas faz parte, leva quem faz, não é?
(...)
E em determinado momento Braga virou-se para a galeria dos ex-Delegados Gerais e repetiu uma frase que já tinha ouvido várias vezes antes:
“Para mim o Jorge foi o melhor Delegado-Geral que a Polícia Civil já teve!”
Concordei em parte, porque pelo apoio que recebi para criar a Fecapoc, desenvolver atividades voltadas à criação de diversas associações regionais de policiais, realizar promoções, empreender viagens semestrais por todo o Estado, liderar policiais, construir sede balneária, adquirir apartamentos no centro da Capital e investir em construção de sedes regionais em quatro anos, para mim, sem dúvida, foi Abelardo Bado o melhor, mas não quis fazer comentário algum. Braga continuou:
- Só não posso entender o Oscar e o Ademar, justamente os dois que articularam a queda do Jorge e acabaram tomando o lugar dele, sinceramente, até hoje não entendi!
(...)”.
“Delegado-Geral?”
Depois que Braga retornou para a Assistência Jurídica para imprimir um parecer para o Conselho Superior, aproveitei que ele estava sozinho (Myriam, como de costume, além ter a jornada de trabalho reduzida, sempre chegava mais tarde e isso lhe irritava porque se sentia impotente para adotar alguma providência, e Jô na faculdade:
(...)
- Felipe o Secretário quer esvaziar a Polícia Civil, olha o que ele tem feito...!
- É, existe um choque ideológico entre nós e os Promotores, tu visse o que o Krieger falou lá no nosso jantar.
- Sim.
- A gente vê que os cargos estão sendo ainda ocupados todos politicamente, e nós que trabalhamos num projeto justamente para acabar com isso acabamos ficando de fora. O Secretário está usando Delegados com o perfil de Redondo, Lipinski e Rachadel..., são todos operacionais e subservientes, é esse o perfil que eles querem...
(...)”.
Data: 10.05.99, “Longe, muito longe desta Polícia”:
Para pensar e repensar as Polícias, a partir de velhas práticas e de novos planos operacionais que eram apresentados quase sempre como formas triunfais de conter a criminalidade, como panaceia para se resolver os problemas afetos à segurança pública, agradar os donos do poder que nomeavam e mantinham as cúpulas das polícias, surgiu mais uma visão crítica, pelo menos era o que se traduzia do que escreveu o jornalista Fernando Rodrigues da “Folha de São Paulo”, dando sinais que deveriam ser seguidos em termos de formação de uma nova mentalidade policial:
Brasil, o paraíso da abulia
Fernando Rodrigues
Brasília – O que mais chama a atenção no governo FHC não são os escândalos. É a falta de reação a eles. Não é necessária pensar no que aconteceria se alguns fatos recentes tivessem ocorrido na Suécia ou nos Estados Unidos. Basta o leitor imaginar a repercussão que teriam os seguintes desmandos nos governos Sarney ou Itamar, aqui mesmo no Brasil: 1) caso Clóvis Carvalho – um ministro vai passear em Fernando de Noronha, leva a família e agregados, usa um avião da FAB. Depois de alguma pressão, esse ministro paga um valor completamente incompatível com o que lhe seria cobrado no mercado. Em seguida, descobre-se que esse ministro e outros já foram outras vezes veranear em Fernando de Noronha. Ninguém paga. O governo se cala; 2) caso Lampreia – um ministro vive 34 meses sem pagar aluguel de sua casa ao governo. Depois de ser cobrado, concorda em pagar um valor irrisório pela mordomia. Tudo parcelado em 24 meses, sem juros nem correção. O ministro se cala. O governo, idem. Não há reação. 3) dossiê Caribe – aparecem suspeitas sobre uma conta secreta do presidente no exterior. Ninguém tem obrigação de provar que uma denúncia contra si é falsa, mas bastaria ir ao banco e pedir uma declaração de que ali não tem nem nunca teve conta. Mas o presidente e sua Policia Federal enrolam meses. Decidem processar algumas pessoas sem provas. E quebrar o sigilo telefônico de um jornal, ferindo um direito constitucional. 5) compra de votos – a Constituição é emendada com votos comprados a R$ 200 mil a cabeça para permitir a reeleição de FHC. O dinheiro vai para os deputados dentro de um saquinho. Ninguém fala nada. Dois deputados renunciam. Só; 6) desvalorização – bancos lucram R$ 10,1 bilhões com a desvalorização da moeda. O governo se cala. Uma CPI é criada. Daí o governo fala: foram só R$ 5,2 bilhões de lucros. E ninguém diz nada. Não há reação. FHC aperfeiçoou a alienação do Brasil a um nível nunca imaginado. A abulia nacional é sua grande obra. Parabéns, FHC.
(Folha de São Paulo, Segunda-feira, 10.05.99, pág. 1-2, Opinião)
“Vermelhões”:
Em seguida passei a ler a coluna de Carlos Heitor Cony, no mesmo jornal e página citada anteriormente, cuja crônica era: “Vermelho de rabo aberto” e que na sua introdução registrava que”: “Rio de Janeiro – Editorial do último Sábado, aqui na Folha, classificou de ‘inexplicável’ o atraso com que FHC decidiu mandar a PF investigar o caso das contas de altos funcionários no paraíso fiscal de Cayman...”.
E lembrei que não havia nenhuma referência a Geraldo Brindeiro, “Gran Chefe do Ministério Público Federal” que aproveitou as mordomias do cargo e do dinheiro público para passar dias com a família na ilha de caras, digo, no Arquipélago Fernando Rodrigues, digo, Noronha, onde deve ter muito vermelho de rabo aberto (Cony terminou sua coluna fazendo referência ao título de seu artigo: “... PS – Não estranhem o ‘vermelho de rabo aberto’ aí de cima. Tomei conhecimento desse maravilhoso eixo na carta que ACM publicou na Folha, desancando o Waldir Pires. Deve ser uma iguaria finíssima”).