PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CLXXXI - “O HOMEM DO BIGODE”
Por Felipe Genovez | 19/04/2018 | HistóriaData: 20.04.99, “Turistas do Mercosul - Forças-Tarefas - Programa Avançado”:
Além de todo o processo de divulgação do plano “TZ”, o jornalista Moacir Pereira e outros jornais divulgam com manchetes a reunião de Carvalho com autoridades policiais, tendo como notícia a divulgação do ‘Tolerância Zero’...
Segurança
O secretário de Segurança Luiz Carlos Carvalho, reuniu ontem os 29 delegados regionais do Estado e todos os diretores da Polícia Civil para anunciar os planos para este ano. Entre os destaques, estão os projetos Rota Segura, que dará proteção aos turistas do Mercosul; Tóxicos, com forças-tarefas especiais nas delegacias; e Informatização, que prevê um programa avançado de banco de dados, de expedição de carteiras de identidade e fácil comunicação entre as autoridades policias de todo o Estado.
(‘A Notícia’, Moacir Pereira, 20.3.99, pág. A-3)
Data: 21.04.99, horário: 23:00 horas, “Delegado Natal”:
Delegado Natal, justamente no dia de Tiradentes, resolveu me ligar:
- E daí doutor já comprou a Pajero?
- Como é que é Natal?
- Já está com a Pajero?
- Ah, sim, Pajero? Que Pajero, não, não!
- Eu tive lá no “Passarinho”, fui no dia seguinte de manhã, mas estava fechado ainda, nem deu para voltar, depois falei com ele mas não sabia especificar o modelo, são muitos.
- Sim, é motor dois ponto cinco, a diesel.
- Mas tem vários modelos e eu não soube identificar, mas vai comprar mesmo?
- Não. Eu ti falei sobre aquela lá, mas não fiz negócio não.
- É, mas e daí quais são as novidades?
- Tudo velho Natal, eu estou por fora de tudo.
- Sim, mas já voltou a trabalhar?
- Sim. Faz tempo.
- Certo. Está aí na Delegacia-Geral?
- Sim. No lugar de sempre, aqui junto com os ex-Chefes e ex-Chefetes.
- Mas eu estou indo a Florianópolis para tratar da licença médica, estão me obrigando a passar pela junta aí na Capital, eu só quero saber se eles vão pagar a passagem, o que tu achas?
- É claro, pelo certo deveriam.
- Pois é, brincadeira, eu só quero saber se vão me reembolsar, não tem nada que disponha que devam pagar.
- É verdade, não há previsão legal.
- Esse bigode, esse que tá aí na Secretaria, brincadeira esse cara.
- Estais falando do Carvalho?
- Sim, como é que podem deixar um cara desses na Secretaria, um incompetente.
- Mas porque estais falando isso?
- Manter todos esses corruptos em cargos aí, isso é uma vergonha!
- Mas a quais corruptos que estais te referindo?
- Eu já te falei os nomes, não vou repetir por telefone.
- Tudo bem, tudo bem.
- Eu já te disse da outra vez, lembra.
E me lembrei que realmente Natal tinha feito referências a determinadas pessoas e fatos logo no início do mês de abril, quando por ocasião da Páscoa estive em Chapecó e conversei com ele pessoalmente em frente a boca do diabo (ponto de café e encontros no centro da cidade).
- Agora lembrei Natal.
- Será que esse homem vai ficar, um incompetente desses?
- Olha Natal eu acho que ele não é não...
- O quê? Até tu...
- Não é isso, eu agora entendo aquilo que o Julio tinha me dito logo que o nome dele foi anunciado no mês de dezembro, quando eu perguntei para quem era o Carvalho que eu já sabia tinha sido Secretário de Administração no Governo Kleinubing, e sabe o que ele me respondeu?
- Não.
- Disse que eu teria uma ‘agradável surpresa’, confesso que não tinha entendido nada, mas agora vejo o que o Julio quis dizer, pode ser que Carvalho venha mostrar que é inteligente e habilidoso. Ele sabe o que diz, tem foco, sabe priorizar, sabe com se movimentar e com quem deve contar.
- O quê? Quer dizer que até tu já te convertestes para o lado desse homem, aí é o fim, brincadeira!
- Não é isso, eu estou procurando reconstituir a arqueologia do poder na Segurança, a genealogia, na verdade ele chegou onde chegou não foi de graça e o Julio deve ter tido alguma participação nesse processo.
- Mas o Julio não manda nada, está lá pendurado como é mesmo o nome?
- Sei, como Adjunto dos Transportes.
- Isso. Não manda nada.
- Não é bem assim, veja eu sei que ele avalizou o nome do Redondo para o Detran, do Rachadel que havia sido indicado pelo Pedro Bittencourt, eu não sei se tu sabes, o irmão dele é vereador em Nova Trendo e cabo eleitoral do Pedrinho. E com eles veio também o Lipinzki, então o Julio claro que teve influência e o Heitor também, quem é que colocou o Maurício na DPI?
- Sim, eu falei com o Heitor e ele confirmou.
- Pessoalmente?
- Não por telefone.
- Pois é, mas o Heitor está na Assembleia, até que se deu bem porque não iria ter tanto cargo para dar para o seu pessoal, imagina, ele fez cerca de trinta mil votos, uns mil estavam esperando cargos, como é que poderia acomodar toda essa gente? Agora, indo para a Assembleia ele se deu bem. O “Pedrão” anda dizendo lá na Adepsc que ele é vítima, mas claro, existe outro discurso mais apropriado?
- O Heitor não se elege mais para nada.
- É Natal, é o que todo mundo está dizendo por aí depois que ele não foi o Secretário.
- Mas colocaram esse Alex aqui em Chapecó, como é que um bigode desses pode ficar na Secretaria?
- Olha Natal quem colocou o Alex foi o Maurício e quem colocou o Maurício foi o Heitor, então....
- Mas o Heitor....
- O Heitor não iria te dizer isso, o que tu achas? Certamente que ele lamenta não ter poder, não ter sido nomeado o Secretário de Segurança, não é?
- Sim.
- E no teu caso aí não há dúvida que iriam optar por alguém promissor, que tivesse raízes na cidade, patrimônio, influência, amigos, poder..., o que não é o teu caso.
- Mas isso não vai ficar assim!
- Mas eu vou estar a semana que vem por aí.
- Pois é, nós temos um grupo de Delegados que se encontra de vez enquanto, às terças, uma sim outra não, é à noite para um jantar e bate-papo e seria um prazer se tu fosses?
- Ôpa, claro que sim, quem são as pessoas?
- Eu, Jorge, Wilmar.
- Ôpa, os nomes são bons.
- Tem ainda o Krieger, Garcez.
- Com o Garcez eu tenho um bom relacionamento.
- Também o Cláudio, e o Braga foi convidado para o próximo encontro, só que não vai ser na terça, justamente porque é o aniversário da filha dele e vamos trocar a data para a quarta ou quinta.
- Se for na quarta eu dou uma esticada, vou ficar uns dois ou três dias por aí.
- Tudo bem, se quiseres ficar aqui em casa.
- Não. Obrigado. Agradeço, mas já tenho um lugar para ficar.
- Então quando chegares faça contado.
- Pode deixar!