PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA (1998 – 2002) - PARTE CLXII: “ADPESC E FECAPOC: A ÚLTIMA FRONTEIRA”
Por Felipe Genovez | 16/04/2018 | HistóriaData: 30.12.98, horário: 17:15 horas:
E já recolhido na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral fui ler os jornais e me deparei com as seguintes notas publicadas:
Advogados
O novo secretário de Segurança Pública, Luiz Carlos Carvalho, marcou para o auditório da OAB-SC, a cerimônia de transmissão de cargo. A atual secretária Lúcia Stefanovich rejeitou a ideia. ‘Lá na Ordem dos Advogados eu não entro’, afirmou categórica. Carvalho evitou o conflito e optou pelo auditório do Palácio S. Catarina, onde a solenidade vai acontecer a partir das 17,00 horas.
(‘O Estado, Moacir Pereira, 30.12.98, pág. 02)
No jornal “O Estado” não dava para esquecer as palavras do Delegado Cláudio durante a nossa conversa no jantar da noite passada, especialmente quando me deparei com o Governador Paulo Afonso e a Secretária de Segurança Lúcia Stefanovich num registro memorável:
São José tem novas delegacias
A secretária da Segurança Pública, delegada Lúcia Maria Stefanovich, entregou ontem os novos prédios das delegacias de polícia de São José. Em cerimônia que contou com a presença do governador Paulo Afonso Vieira, a secretária inaugurou as novas sedes da 1a, 2a e 3a DPs de São José, e aproveitou para entregar os galpões destinados ao almoxarifado central da Polícia Civil, Depósito de Materiais Apreendidos e a Oficina de Manutenção dos Veículos.
No total a secretaria da Segurança Pública (SSP) investiu R$ 668 mil na construção das três delegacias. Os projetos seguiram o padrão da 5a DP da Trindade, considerada delegacia-modelo. São prédios de dois pavimentos, com gabinetes, comissariado, cartórios, carceragem e sala especial para reconhecimento de suspeitos.
Um dos mais empolgados com as novas obras era o secretário-adjunto da Segurança Pública, delegado Lourival Mattos. ‘Essas obras são motivo de orgulho para a comunidade de São José’, destacou Matos. Ele lembrou que quando estava lotado na 2a DP de São José era obrigado a trabalhar em ambientes insalubres, ‘verdadeiras pocilgas’, lembrou o delegado.
Já a secretária Lúcia Maria Stefanofich destacou o volume de obras na área da segurança pública durante os últimos quatro anos. ‘O governo Paulo Afonso investiu mais de R$ 40 milhões na Polícia Civil, seja na construção de novas delegacias, no reequipamento da Instituição, aquisição de armas e novas viaturas, e sem esquecer da valorização do nosso policial, declarou a titular da SSP.
Lúcia aproveitou para se despedir do cargo e lembrou que deixa para o seu sucessor, o promotor de justiça Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, 27 obras em andamento. ‘Espero que ele (Luiz Carlos) tenha a mesma preocupação com a Polícia Civil como a que foi demonstrada por este governo.
(...)
(‘O Estado, idem, pág. 14)
E no jornal “A Notícia”:
Qual mundo novo?
Luiz Felipe da Gama Lobo D’Eça
(...)
Por que não poupar o Judiciário do exame de questões de solução possível por pessoal de formação mais fácil?
Hoje, se o leitor for surpreendido pela invasão da propriedade por marginais, manipulados pelo PT, tem de recorrer a um juiz, quando o caso poderia ser resolvido por um cabo da polícia!
A agilização do Judiciário contribuiria para a salvaguarda dos direitos humanos e para o aperfeiçoamento da democracia, contribuindo obviamente para a redução dos custos de forma geral. E assim por diante! Já as soluções que impõem a cooperação internacional e um trabalho integrado e sobretudo, competente, poderiam esperar, proporcionando mais tempo aos construtores do futuro. Há que mudar até as formas de governo, inclusive as liberais, em muitos casos ainda muito lentas na gestão de questões muito dinâmicas, que caracterizam os novos tempos. Isolamento dos paralíticos, marajás e morte à imbecilidade, eis a questão’.
(‘A Notícia, 30.12.98, pág. 2)
“Auditorias?”
Secretariado e auditorias
Concluída a formação do secretariado do governador Esperidião Amin, realiza-se hoje, dia 30, a última reunião antes da posse, já com a presença do governador eleito, até então em viagem particular aos Estados Unidos.
(...)
Conhecido dos catarinenses pelo estilo direto e objetivo, o governador Amin terá difícil missão pela frente. O primeiro dos desafios, será justamente o de conhecer o verdadeiro estado interiro da máquina administrativa. Para tanto, os secretários já estão sendo orientados a promoverem, de imediato, auditorias em suas respectivas áreas, levantando a real situação de patrimônio, de pessoal, de atos administrativos.
A orientação parte do secretário Celestino Secco, chefe da Casa Civil e um dos principais colaboradores de primeiro nível do novo governo, informando que será preciso realizar esta radiografia imediata das condições em que se instala o governo Amin.
Correta em todos os aspectos, a orientação contudo deveria estabelecer data para o encerramento das auditorias, a fim de que o governo tenha, em caráter oficial e preliminar, prazo definido para informar à sociedade catarinense como recebeu o Estado em 1° de janeiro de 1999.
(...)
Auditorias completas, com ampla e necessárias divulgação pelos meios de comunicação, constitui o primeiro passo de uma longa caminhada do governo Amin ...
(‘A Notícia, 30.12.98, pág. A-2)
“João Pessoa Machado”:
Hoje está fazendo um ano que perdemos João Pessoa Machado, que durante toda a vida, nos cargos que ocupou – de delegado regional de polícia a presidente da Câmara de Vereadores – tinha como preocupação ajudar as pessoas, principalmente as mais humildes. João era um ser muito especial e com certeza a amizade que espalhou com sua personalidade fraterna, cheia de empatia ainda toca e emociona uma legião de amigos que deixou.
(‘A Notícia’, Alça de Mira, Antonio Neves, 30.12.98, pág. A-6)
“Backes em ação”:
Esperando
O futuro comandante da Polícia Militar, coronel Walmor Backes, vai aguardar o parecer da Procuradoria –Geral do Estado para pronunciar-se quanto ao decreto n. 3530 do governador Paulo Afonso, de 15 de dezembro, que equiparou o salário dos oficiais da PM aos delegados da Polícia Civil. Os praças também tiveram um reajuste. Inferior. ‘Tudo que vier em benefício dos policiais militares o comandante apoia, mas é um momento delicado para aumentos. São três folhas em atraso. Vou esperar a manifestação do procurador Walter Ziguelli’.
(Diário Catarinense, Paulo Alceu, 30.12.98, pág. 8)
Horário: 19:00 horas:
Jorge telefonou de Brusque:
- Alô! Felipe..
- Oi!
- Alguma novidade, eu estou aqui em Brusque.
- Não. Nada. Dizem que saiu hoje um artigo no jornal dizendo que o Julio não seria mais o Adjunto.
- Eu li o jornal e não vi nada.
- Parece que foi no “O Estado” ’ou na “A Notícia”, mas eu comprei os jornais e não encontrei nada.
- Porque o Amin já retornou.
- Sim, mas até agora não decidiu nada.
- É, mas tá bom, mais tarde a gente conversa.
- Certo.
Horário: 20:10 Horas, “ADPESC: A última fronteira”:
Cheguei na residência de “Marquinhos” acompanhado de meu pai e lá estavam alguns amigos da antiga diretoria da Fecapoc: Arno e seus dois filhos (Wildemir e Wladimir), Osnelito, Rita, Marquinhos, Aguiar e esposa e mais alguns convidados. O nosso objetivo era celebrarmos os dez anos de criação da Federação e de confraternizarmos pela primeira vez com um grande grupo.
E sabendo que Wilder estava aguardando um retorno acerca da sua situação na Penitenciária lembrei de tentar novamente um contato com Mário Martins da ADPESC:
- Alô!
- Sim!
- Mário é o Felipe.
- Fala Felipe Genovez!
- Escuta, alguma novidade sobre aquele assunto lá do Kuster?
- Ah, eu fiz contato com a secretária dele, deixei recado, mas não consegui ainda, eu vou ver se falo com ele na posse dia primeiro.
- Ele vai estar na posse?
- Sim. Ele estará lá.
- Pois é, então tu poderias conversar com ele, eu te passo o nome do rapaz e tu preparas o campo, na semana que vem nós podemos procurá-lo pessoalmente.
- Sim, não tem problema, eu já tenho anotado o nome dele.
- Eu te dei?
- Sim, eu tenho aqui, pode deixar.
- Então tá, porque é uma questão de honra manter o Wilder lá, ele é um bom servidor, muito sério, bom para mim estar indicando ele.
- Eu sei Felipe, mas isso é fácil de resolver, é só falar com o Kuster e isso eu vou fazer, mas escuta tu tens acompanhado esse negócio aí, até pela tua condição de Delegado Especial, o pessoal tem feito contato contigo?
- Olha Mário é aquilo que eu já te falei, não sei se tu te lembras, uma vez eu disse para ti aí na Adpesc que só aceitaria cargo em comissão se mudassem as regras do jogo, não que eu seja radical, mas tem que haver critérios básicos como acontece em outras instituições e eu que trabalhei num projeto, sempre defendendo valores, princípios, a ética, não posso agora esquecer isso tudo por causa de um cargo, de jeito nenhum, prefiro ficar como estou.
- Sim, eu entendo, mas tu há de convir comigo que isso sempre foi assim.
- Sim, mas temos que mudar, é hora de se fazer alguma coisa, de se tomar uma postura, é uma vergonha o que nossos Delegados estão fazendo, onde já se viu correrem atrás de políticos para conseguirem indicações para cargos, só mesmo na Polícia Civil, era só o que faltava abrir mão de meus ideais para aceitar uma situação funcional que eu sei que envergonha a nossa classe, a nossa instituição.
- Realmente, eu concordo contigo.
- Prefiro ficar como estou, não estou pleiteando cargo nenhum nessas condições, não fizeram contato comigo e eu não vou atrás, como tu sabes existe uma diferença muito grande entre ser convidado e se convidar...
- Ah, é!
- Então, você acha que eu iria concordar com o Lipinski, delegado de terceira entrância na Corregedoria-Geral, não senhor, isso não tem explicação, é uma vergonha, nada contra ele como pessoa, mas sim pela questão funcional, pelos nossos princípios, valores, eles colocam tudo no lixo na hora de disputarem cargos.
- Felipe eu conheço o Lipinski muito bem, talvez você não saiba, já moramos juntos e ele veio falar comigo e me perguntou porque que eu estava boicotando a ida dele para a Corregedoria-Geral? Agora você imagina isso, ele veio me questionar e eu respondi dizendo que ele tinha que separar o Mário Delegado e amigo dele do Mário presidente da Adpesc.
- Eu não sei, mas o Maurício e o Redondo devem estar dando as cartas, o Secretário deve estar perdido, fizeram um círculo e ele está no meio, não deixam mais ninguém chegar perto, os nomes que constam da tal lista do Secretário são aqueles que eles querem e a coisa está preta.
- O secretário está muito mal assessorado...
- Isso é verdade, e depois isso tudo vai respingar em ti. Escuta teve alguma reunião hoje aí para tratar de cargos? Tu tinhas falado...
- Sim, o Secretário inclusive me pediu a sede da Adpesc para fazer as reuniões para tratar sobre o preenchimento de cargos.
- Ah, é, e tu concordastes?
- Sim, eu disse a ele que tinha café e secretária para o que ele precisasse e enquanto fazem a reunião eu caio fora, não vou ficar por ali, tu não achas?
- Pois é, agora você vê como é perigoso isso, esse teu envolvimento com a futura cúpula e que pode amanhã se virar contra nós, especialmente se tu tiveres que adotar uma postura firme contra a administração, estou falando isso para o teu bem.
- Sim, por isso que nos horários das reuniões eu saio, não faço nenhuma questão de participar. Mas dentro disso Felipe tu poderias até escrever algum artigo, com muito mais propriedade e embasamento, a respeito dos cargos de Delegado-Geral, Corregedor Geral e outros cargos de direção da Polícia Civil serem ocupados por Delegados Especiais.
- Sim, pode contar comigo.
- Vê se providencia um artigo nesse sentido, eu vou precisar de ti.
- É, eu acho que a Adpesc que se constitui a nossa “última fronteira” é a nossa última esperança e para tanto isso exige uma posição firme, sem vinculação com o governo porque depois vêm os resultados, os julgamentos.
(...)”.
Depois de encerrar a ligação me voltei para os acontecimentos na casa de “Marquinhos”. Passei a conversar com Arno Vieira – grande companheiro de lutas no passado que assistia as filmagens que foram feitas há dez anos atrás, a nossa assembleia de criação da Fecapoc, coisas que marcaram para sempre nossas vidas. Era bom reencontrar aqueles amigos que já se foram como Mário Moretto, José Telles..., além da busca por uma nova consciência, por uma ruptura com o passado, quando nossas lideranças classistas estavam perdidas,. sem rumo, instrumentalizadas para servir aos governos e a nossa frustração em vermos que depois da nossa saída, apesar da estrutura material que deixamos, tudo parece que ficou comprometido em termos de continuidade da nossa luta na defesa dos policiais civis. Entretanto, nosso saldo foi significativo, foram quatro anos (1987/1991) que valeram e isso ninguém poderia mais nos tirar, enfim, estavam ali os membros da grande equipe que criei e cumpriu seu desafio histórico (Arno Vieira, Marcos Antonio Cordeiro – “Marquinhos”, Rita de Cássia Adriano, Osnelito Sousa Filho – “Lito”, Ademir Figueiredo, Alfredo Aguiar, José Guaianaz de Lima, Acy Evaldo Coelho, Acione Souza Filho, Sonia Maria Vieira...).