PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XXVI: “PRINCIPES - GUARDIÃES E GUARDA-CHUVAS VELHOS” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 19/03/2018 | História
Data: 24.09.98, 20:00h, o “Guarda-chuva velho - I”:
De saída da Delegacia-Geral, isso por volta de vinte horas na portaria encontrei Walter com as mãos no bolso, de pé atrás do balcão, olhar perdido para o lado de fora, olhando por meio do vitral da grande porta, parecia mais uma espécie de guardião santo e profano... (tinha na aparência um comportamento “caxias” quanto ao horário, pois religiosamente chegava por volta da sete e trinta no prédio e saia britanicamente às vinte horas, se bem que durante o dia não era percebida a sua presença naquele no local conforme “Lito” já havia relatado):
- E daí Walter, como é que está a Casa?
A mania de usar o termo “Casa” foi adquirida quando passei pela direção da Penitenciária da Capital. Lá os servidores e presos costumavam utilizar o termo “Casa” sempre que se referiam ao estabelecimento: “A ‘Casa’ está bem”, “o Diretor está na Casa”. O termo já era conhecido e Walter reiterou:
- Tá uma merda, parece “guarda-chuva velho!”
E mais uma vez bati em retirada, sem fazer qualquer comentário.
Horário: 23:00 horas, “Guardiães: Um reino cabalístico com mistura de samba de crioulo doido”.
Resolvi telefonar para “Marquinhos” (Investigador Marcos Antonio Cordeiro que foi meu secretário quando passei pela presidência da Fecapoc), veterano já na Polícia Civil, nos conhecemos no ano de 1980 na antiga Delegacia de Acidentes de Trânsito, quando foi me substituir no setor de expedição de Certidões de Ocorrências. Depois, quando cheguei à presidência da Associação Catarinense dos Policiais Civis (Acapoc) no ano de 1987, quando o convidei para integrar a diretoria da entidade). O objetivo era convidá-lo para a festa do Júlio Teixeira no sábado, mas não havia como resistir às novidades que ele sempre trazia na ponta da língua felina, mas cheia de meias verdades:
“(...)
- Olha, soube da festa do pessoal do PMDB? (Marquinhos)
- Sim, eu soube que houve por esses dias, tu fostes?
- Sim, e eu iria perder? Todo mundo lá do prédio foi, de graça, o pessoal nessa fome, sem dinheiro. O pessoal do PMDB distribuiu convites, o pessoal não quer nem saber, foi todo mundo, parece que os comissionados deram o dinheiro para financiar.
- É mesmo Marquinhos?
- É uma vergonha, esse décimo terceiro salário atrasado, o salário atrasado, vai todo mundo votar contra, o pessoal foi lá comer e não quer nem saber.
- É, realmente com os salários atrasados fica muito difícil.
- Soube do que o Lorival (Delegado e Secretário Adjunto da Segurança Pública) aprontou?
- Não. O que aconteceu?
- Meu Deus, ele e o Paulo Afonso foram dançar música caipira, uma gozação, uma vergonha, todo mundo rindo da cara deles.
- Marquinhos tu estais falando que o Governador Paulo Afonso foi à festa e dançou com o Lorival?
- Dançou, e todo mundo ficou gozando, vão tudo votar contra, encheram a barriga.
Disse a Marquinhos que tive alguns atritos no passado com Lorival Mattos por conta do policial Sérgio Guiraldelli. Comentei que como presidente de órgão classista fui defender o o policial numa sindicância em que o Lorival havia determinado para apurar falta disciplinar e deu no que deu, mas, a verdade a coisa também tinha conotação política, remontava à época do Delegado Bado (ex-Superintendente da Polícia Civil – 1987 – 1989), em cuja época eu era filiado ao PFL (depois de uma campanha para Deputado Federal Constituinte) e fui ser Procurador Policial, tinha força política dentro do PMDB (era para ser candidato por esse partido, mas não tive espaços...), também o meu trabalho na Acapoc e depois Fecapoc representava liderança e poderia resultar num projeto político pessoal vitorioso...
O Celular - Festividades Ciganas – Candidatos:
“(...)
- Eu até gosto da doutora Lúcia (Secretária de Segurança Pública), mas ela me aprontou uma, eu tinha um amigo que queria vender um celular e ela soube, mandou me chamar e disse que também estava interessada no celular para sua filha, o rapaz entregou o aparelho e ela não transferiu e também não pagou as faturas. Quando vieram as primeiras cobranças ela simplesmente não pagou e a TELESC deu aviso para que esse meu amigo pagasse. Coitado, ele teve que procurar a doutora Lúcia seis vezes na Secretaria e eu já não aguentava mais, até que enfim ela resolveu pagar depois de muito custo, mas ela ainda não pagou o aparelho.
(...)
Nesse momento, enquanto “Marquinhos” falava, lembrei que a “Lena”, irmã de Lúcia era casada com meu primo Tadeu e que certa vez encontrei o Delegado Lorival, isso num posto de gasolina no trevo de acesso à cidade de Urubici – BR 282 ( “Janaína”), com o seu carro cheio de adesivos de propaganda de diversos candidatos. Nesse encontro comentei com Lourival que Lúcia era uma boa pessoa, na verdade uma lutadora que procurava como guerreira dar conta do sustento da família, do marido, tinha problemas, se endividava muito, além disso citei o fator “Sr. Stefanovich”. Cheguei a comentar que Lúcia seria a candidata ideal para concorrer a Deputada Federal e o Lorival chegou a concordar comigo, acrescentando que realmente o “Sr. Stefanovich” incomodava muito, mas que ela era uma guerreira, apesar de todos os problemas familiares, era o que externamente pensava naquele momento, isso apesar de nunca ter muita intimidade com ela, apenar encontros e conversas casuais, diferentemente de Jorge Xavier que sempre foi seu amigo, inclusive, seu compadre, segundo seus vários relatos (e de Leninha), chegavam a participar daquelas “festas de ciganos” que entravam na madrugada, mas isso era outra coisa.
(...)
- Marquinhos, na nossa época da Fecapoc quantas vezes tivemos que segurar os cheques dela em razão daqueles vales-refeições, chegamos a ter que esperar meses até que fosse acertado o pagamento, tu lembras disso?
- Mas ela que se cuide porque eu subo lá em cima, vou na sala dela e dou de dedo na cara dela, digo um monte de desaforos para ela.
- Marquinhos deixa para fazer isso depois.
- Ela é a Secretária de Segurança, deveria dar o exemplo...
- E me diz Marquinhos o pessoal da Fecapoc está apoiando quem?
- O Júlio.
- Mas tu não viste a matéria que eles publicaram ontem?
- Ah, eu vi sim.
- Pois é, eles estão apoiando todos os candidatos, nenhum em especial, mas acho que eles não deveriam se posicionar, estão usando o nosso dinheiro para fazer política, o próprio Batista tinha se lançado candidato a Deputado Federal, veiculou seu nome em publicações, viajou o Estado, reuniu o pessoal e nós financiando tudo isso, acho errado, na época em que fui presidente nós viajávamos o interior e muito gente dizia que eu estava criando a Federação com o objetivo de montar um esquema para depois sair candidato e eu dei a minha palavra para todos que enquanto fosse presidente não seria candidato a nada. Muitos duvidavam
(...)
Até pensei em relembrar a Marquinhos que em Lages, depois de uma das nossas assembleias com os policiais civis daquela região, a esposa do Delegado Carlos Dirceu, Vereador pelo PMDB e depois candidato a Deputado Estadual, me procurou quase que exigindo que eu fosse a um cartório com ela para passar uma declaração pública de que não seria candidato a nada para não atrapalhar seu marido. Respondi que não precisava nada daquilo, e que a minha palavra bastava. Depois de anos estava o tempo a meu favor, não fui candidato a nada, enquanto o marido dela foi candidato várias vezes. E, pensei: “mas aos diabos com tudo isso, deixa para lá”).
(...)”.
Macumbeiros:
- Olha o pessoal não quer saber do Feijó lá na Secretária (Gerente de Pessoal da SSP), ninguém gosta dele lá, ele é um falso, insuportável, é um macumbeiro, sabia que ele faz macumba? (Marquinhos)
- Pois é Marquinhos, mas justamente ele que foi um Comissário, passou por tantas, conhece a luta do pessoal de baixo.
- Ele é um espírito ruim.
- Pobre de espírito?
- É daqueles que tem espírito ruim, cruzes, é macumbeiro e também tem aquela Osvaldete (Gerência de Pessoal) que ninguém gosta dela, principalmente depois que assumiu a Gerência, é uma falsa, persegue o pessoal e também é uma macumbeira.
- A Osvaldete?
- O pessoal toda quer a cabeça desses dois., mas o pessoal está como medo desse Feijó porque entra governo e sai governo e ele continua por cima.
(...)
O príncipe das Trevas também é um cavalheiro (Shakespeare, Rei Leão, III, IV, 140):
(...)
- Marquinhos e o Figueiredo, o Ademir Figueiredo (Comissário de Polícia e ex-vice-presidente da Fecapoc na minha gestão – 1987 - 1991) está apoiando quem?
- Ele está trabalhando com o Pacheco (Cel Pacheco). Eu gosto do Pacheco, mas vou votar no Júlio, já falei com a Rita (Escrevente Policial – Cepol – SSP).
- Ah sim, eu já sabia.
- O pessoal está preocupado porque o Litoral (Diretor de Polícia do Litoral), como é bem o nome dele, é aquele que passou pelo Sistema Penitenciário?
- Eu sei, é o Sala (Delegado Sala), conheço muito bem.
- É esse mesmo, dizem que ele mandou filmar e fotografar todo o pessoal que está indo no comitê de campanha do Heitor Sché.
- Será? Eu não acredito que tenha feito isso...
- É o que o pessoal toda está dizendo.
- Olha Marquinhos ele é amigo da Secretária, está lá pelas mãos dela.
(...)
Lembrei que numa certa oportunidade, quando estava na direção da Penitenciária da Capital o Delegado Sala havia me dito pessoalmente que se fosse exonerado do cargo de Diretor de Administração Penal (Deap) assumiria imediatamente um cargo em comissão no Gabinete da Secretária de Segurança. Na época cheguei em silêncio a duvidar – sem entender - havia dito para ele que isso seria difícil porque os cargos estavam todos ocupados, também havia o fato de que ele nunca tinha ainda atuado na Polícia Civil, desde a sua nomeação (1989) e se fosse exonerado teria que assumir a comarca de terceira entrância - Campos Novos, local de sua última lotação, mas Sala teria insistido e disse que não precisaria assumir. Na época cheguei a não dar muito crédito o que tinha acabado de ouvir, porém, depois vi que ele havia falado a verdade, saiu o “Deap” e foi ser Diretor de Polícia do Litoral e comandar todos os Delegados sem nunca ter passado por uma Delegacia de Polícia. Depois veio à mente que o Delegado Natal de Chapecó havia me dito em sua residência que na campanha para Governo do Estado em 1994 o Delegado Sala tinha trabalhado abertamente para a candidata Ângela Amin, o que resultou nas resistências do PMDB a seu nome para continuar na direção da Penitenciária de Chapecó, apesar disso conseguiu a direção da Penitenciária de Curitibanos, não sei se pelas mãos de seu amigo Deputado João Henrique Blasi, enfim, muitas dúvidas...
- Se saísse o décimo terceiro salário e os atrasados eu acho que teria segundo turno, mas do jeito que está acho que o Pedro Ivo foi um bom governador, não achas?
- Marquinhos, certamente, mas você está falando do PMDB histórico, esse praticamente não existe mais, o que existe agora são esses neo peemedebistas que tomaram conta do partido, e a coisa está desse jeito, o Amin vai pegar o Estado com no mínimo três folhas para pagar, de qualquer maneira nós temos que pensar que todos os governos passam e nós é que ficamos, sempre com as sobras da politicagem barata, do assalto aos cofres públicos!
(...)”.
E pensei no “Príncipe”, agora sob a ótica “Sheikespiriana”, não aquele a que se referiu Maquiavel, feito para os “Médicis” (Lourenço) de Florença no início do século XVI, e sua relação entre os enigmas tratados no ‘Pêndulo de Foucault’ (Umberto Eco, escritor e professor de Simiótica em Bolonha - Itália), o mundo pouco visível dos segredos que nos cercam e que podem levar à ascensão pelo ocultismo. E isso se resolveria talvez por meio daquela fórmula mística programada em ‘basic’ – (linguagem de programação há muito superada) e que certamente conduz a uma palavra com quatro letras que serve de resposta final, cuja fórmula é do autor desse mesmo livro (emprestado da amiga Cilene Meirelles que ainda consegui terminar a sua leitura...):
10 REM anagrama
20 IMPUT L$(1), L$(2), L$(3), L$(4)
30 PRINT
40 FOR I1=1 TO 4
50 FOR I2=1 TO 4
60 IF I2= I1 THEN 130
70 FOR I3= 1 TO 4
80 IF I3= I1 THEN 120
90 IF I3=12 THEN 120
100 LET I4=10- (I1+I2+I3)
110 LPRINT L$(I1); L$(I3); L$(I4)
120 NEXT 13
130 NEXT 12
140 NEXT I1
150 END
RESULTADO (antidote contra o “Príncipe das Trevas”):
(???)
- Mas Marquinhos eu estou telefonando mesmo é para convidar tu e a Rita para a festa de sábado que nós vamos fazer para o Júlio.
- Pois é, a Rita estava aguardando o contato, ela achava que era nesta sexta e eu disse que não porque do contrário o Genovez teria telefonado, mas então vai ser neste sábado?
- Sim, e vai ter uma carreata às dezesseis horas, gostaria que vocês estivessem lá, temos que ajudar o Júlio.
- Eu vou conversar com a Rita, ela está de plantão lá no Cepol, telefona para lá.
- Puxa eu saí de lá às oito da noite, se soubesse teria conversado com ela, mas vocês vão lá?
- Sim, eu vou, posso levar mais pessoas comigo?
- Não tem problema, só que aquela festa para o nosso pessoal da federação (Fecapoc) a gente faz noutro dia porque vai ter mais de trezentas pessoas e tu sabes como é.
(...)”.