PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XXIX: “FIASCOS E TOURINHOS” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 19/03/2018 | História

Data: 26.09.98, horário: 15:00 horas, deu na coluna do Paulo Alceu:

‘Caso de Polícia’

‘A luta por votos, de candidatos de olho na Secretaria de Segurança, se transformou em briga de verdade. Sexta-feira, depois de uma discussão em frente à 1a DP, na Capital, o ‘técnico criminalístico Francisco Gonzaga Prazeres agrediu com um soco sua colega Márcia Rejane Hendges. Francisco faz campanha para o candidato Heitor Sché (PFL). Márcia apoia o deputado Júlio Teixeira (PFL). Francisco estava inconformado, porque Márcia não vai votar em Sché. Ofendeu a colega chamando-a de vagabunda. Ela partiu para cima. Levou um soco na testa. O caso foi parar na Corregedoria da Polícia Civil’

(Diário Catarinense – Domingo, 27 de setembro de 1998, pág. 6).

Horário: 16:00 horas, enfim, “a carreata fiasquenta”:

Um pouco antes das dezesseis horas, a caminho do continente pelo Bairro Saco dos Limões, por onde achei que seria mais seguro, especialmente porque a carreata do Paulinho Bornhausen estava com toda a força circulando pelas redondezas, lembrei da Gilséia Helfenstein (Gilsa). Não resisti e parei em frente aquela pensão que cheirava a velho e sujeira, do imóvel locado pelo gaúcho com nome francês (Saint Clère), quando tocou o celular. Era Garcez querendo saber se eu já estaria me dirigindo para a carreata. Enquanto conversava com Garcez bati na porta da pensão  fazendo o possível para manter a conversação, como ninguém atendia resolvi abrir a porta e vi Gilsa de pé num canto da cozinha:

  • Tens algum compromisso para hoje a tarde?
  • Não. Eu não tenho.
  • Queres fazer um passeio?

Como já era costume, ela que ficava os finais de semana confinada naquela pensão sozinha, sem amigos, familiares, sem dinheiro. Gilsa imediatamente respondeu que sim e pediu alguns minutos para se arrumar. Depois, no trajeto expliquei que tipo de passeio nós iríamos fazer.

Por volta das 16:15 horas chegamos no Bairro Jardim Atlântico, com Tony no nosso encalço. Vi um bom número de carros estacionados na nova rodovia de integração entre os Bairros Estreito e Jardim Atlântico, enfileirados até próximo da Rua Felipe Neves. Era uma tarde de sol que se mostrava entre nuvens. Logo que fui manobrar o carro para estacionar no final da fila vi “Cesinha” fazendo sinal para que eu estacionasse atrás de seu veículo, percebendo que estava acompanhado de sua esposa Giza e sua filhinha.

Em seguida estacionou Tony (“Tony Ventania”, meu conhecido de anos, quando trabalhava na Empresa São Cristovão vendendo passagens de ônibus intermunicipais na Agência da Rua Josué de Bernardi, Bairro Campinas – São José), cerca de quarenta anos, ‘gorduchote’, de baixa estatura, barriga bem saliente, tipo leão de chácara, jaqueta de couro, pele oleosa e cabelos escuros, lisos e curtos, com sua moto de baixa cilindrada suja de barro – fiel escudeiro desde a  minha campanha à Câmara Federal no ano de 1986 e que até aqueles dias sempre se constitui verdadeiro parceiro, uma espécie de centurião dos pampas (fui ao seu casamento com uma “Japonesa”). Antes eu já tinha contatado ele solicitando que fosse também para o local da concentração e passou a se integrar na campanha de Júlio Teixeira.

Não passados alguns minutos chegaram Garcez com seu “fusca” amarelo e seu genro muito educado e bem comportado. Garcez em estado de graça e  agora parecendo descontraído e sempre sorridente, com bottons e adesivos para colocar no carro,  irradiava aquela energia de alma viva e que estava em paz. Seu genro ao me cumprimentar disse:

“(...)

  • Lá na casa do meu sogro falam muito no seu nome, e eu sempre tive curiosidade em conhecê-lo, é um prazer.
  • O que é isso, é que o Garcez é sempre muito lisonjeiro comigo.

(...)”.

Registrei a chegada de Jorge Xavier e o sogro (Sr. Wilson) que passaram inicialmente com o veículo Apolo placas MAR 6300. E em seguida aparece ele com uma pessoa de sua família segurando na mão bandeiras. Constatei que ele meio que intimidado porque estava sendo filmado (até hoje tenho as imagens daquela carreata...):

  • Não dá para falar com o Felipe.  (falou Jorge, em razão de estar sendo filmado)

E continuando a filmagem lancei esta:

  • Fala, pode falar.
  • Não dá. Não consigo. Tais que nem secretária eletrônica, você não está vendo ela, mas deixa o recado.
  • Vou desligar então.
  • Visse o Redondo por aí?
  • Está lá na frente. (Cesinha).

Mais a seguir chegaram também Marquinhos e Rita, os inseparáveis e grandes amigos de longa data, desde à época da Fecapoc, ambos da diretoria., dispensando apresentações... Marquinhos e Rita já se introduziram no grupo e lembrei do seu irmão com AIDS e uma irmã com câncer nos seios, mas sempre disposto e mantendo aquele seu rosto com certo ar inocente e a língua sempre pronta e afiada, talvez por sua condição de homossexualidade que lhe dava sete vidas, sem contar como conseguia lidar com dor e sofrimento se entretendo bastante em saber da vida alheia. Já Rita era uma lutadora (e a conhecia bem na intimidade por sua proximidade classista),  também carregada de problemas de família, o que fazia qualquer um se solidarizar,  havia me dito ao telefone que seus dois irmãos estavam se separando, outro com problemas financeiros, e ela com suas dificuldades, seu pai doente, mesmo assim segurava tudo e estava ali presente de corpo e alma. Com a máquina filmadora na mão conversei com o “casal”:

  • Olha, vocês estão sendo filmados, segura heim.
  • V o que vai fazer com esse filme aí, não vai entregar isso para a Dra. Lúcia que nós estaremos perdidos. (Rita aos risos)

(...)".

E me dirigindo ao Marquinhos:

  • Cadê o coisa ruim?
  • Não vou dar entrevistas, fico nervoso. (Marquinhos)
  • E esse sorriso angelical?
  • Sorriso angelical? É de terrível! (risos)

E pedi ao Marquinhos que fosse até o início da carreata e filmasse o pessoal todo:

  • Marquinhos pega a câmera e vai você filmando até lá na frente, só cuidado com aquele seu dedinho quando tu segurares a máquina.

Enquanto proferia essa frase apontava o dedo mínimo da minha mão esquerda, e todos riram com meu gesto  (sempre fazia aquela brincadeira com ele, desde os idos da Fecapoc, em nossas inúmeras viagens pelo interior do Estado, nos cafés e cafezinhos ele costuma segurar a xícara com aquele dedinho mindinho ereto...). Evidentemente que ele escapou, não quis assumir aquele encargo, mesmo porque não levava jeito.

Resolvi, então, pedir para “Cesinha” que fizesse a filmagem da carreada desde o início.

Depois, retornaram Marquinhos e Rita que aproveitaram para dar umas voltas e fazer um reconhecimento do pessoal estacionado.

  • Olha tem um monte de espião da Lúcia aí,, até gente do P2 da PM estão aí misturados. (Marquinhos)

Então foi entendi que tinha sido por aquele motivo que o casal tinha desaparecido. Finalmente, surgiu Jorge Xavier sem perder seu formalismo, porém, apropriado para o momento:

  • Não dá para falar contigo, trouxeste isso aí,  mas tu viste, falei com a Tereza sobre a decoração lá no ginásio, não colocaram nada, ela disse para mim falar com o Redondo, o pessoal vai chegar lá e não tem nada.

Por volta de 17:00 horas, depois de um foguetório breve na parte da frente da carreata, Jorge Xavier já mostrava sinais de preocupação (nós estávamos dispersos,  enquanto que Wanderley Redondo malandramente falando já havia se colocado estrategicamente na frente da carreata para obter maior visibilidade. Dentro de mim corria uma dualidade entre o querer está longe daquilo e ao mesmo tempo a obrigação de se fazer presente, primeiro, pelo nosso “projeto” e, por segundo, em solidariedade aos amigos que estavam ali presentes, o que foi se dissipando na medida em que fui me incorporando ao pessoal e fazendo minhas leituras, se bem que ao meu estilo (mantendo sempre uma certa discrição e nunca me deixando levar pela empolgação, preferindo a condição de observador e analista...).

Ao longe consegui ver um Ford Escort conversível liderando a carreata pela outra pista de rolamento e em movimento, porém, em sentido contrário e passando bem ao nosso lado. Estranhei esse fato porque o certo não era fazer o retorno e sim seguirem com destino ao Bairro Estreito, mas quem estaria liderando a carreata? Deveria saber quem eram os primeiros da fila, o que despertou minha curiosidade até porque estávamos no meio (bom, depois descobri que foi um vexame, o motorista foi por dentro do Bairro Capoeiras com destino a Campinas e, depois, Bairro Kobrasol, totalmente perdido, sem um planejamento, uma estratégia...). E logo enxerguei o “torinho” Júlio Teixeira (de pé passa, lembrando aqueles Generais Romanos miúdos que vinham de suas “vitorinhas”, só que aqui seriam, digamos, “campanhinhas”...), passou por nós e tão logo percebeu nossa presença fez um aceno (muitos se perderam em razão da desorganização, inclusive nós, “Cesinha” e tantos outros,  como o Marquinhos e a Rita naquele Fiesta com cor esquisita, simplesmente desapareceram, não vi mais o Comissário Arno Vieira e seu filho Wildemir e seu irmão Wlade, também estranhei porque não seguiram pelas principais ruas da cidade, se bem que depois o motorista – Comissário Rogério da Quarta Delegacia de Coqueiros justificou dizendo que foi a pedido do próprio Júlio que não foram para o Centro da cidade porque poderiam encontrar a turma do Paulinho Bornhausen e isso geraria conflitos de área eleitoral já que Júlio é de outra região e seria considerado um invasor ou traidor, o que certamente resultaria em cortes de verbas para custear a campanha). Júlio de pé no carro, quando passou por nós lançou esta (com os punhos das mãos serrados):

  • E daí, Felipe!

Levantei o braço direito para retribuir o sinal de força, no que fui imitado, era o sinal da nossa presença, mas aquela desorganização poderia ter vários sentidos?!?!

Foquei meus pensamentos no momento, e me deparei na minha frente com “Cesinha”,  luz alerta ligado, adesivos colocados no seu carro  antes da saída, os “buzinaços” de lá e de cá, e acabei invocando meus pensamentos e parafraseando aquele do livro de Othon Gama D’Eça: “À Cassol Confinados” (nada haver com os espanhóis, mas sim o encontros e desencontros com os pretensos futuros possíveis e impossíveis Chefes de Polícia representantes de dois “estados” ou mais, ou melhor dizendo, de duas facções, todos também “tourinhos”...?).