PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XXII: “VIA CRUCIS E AVE JULIUS”  (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 19/03/2018 | História

 

Data: 23.09.98, horário: 16:00 horas:

Continuam os telefonemas e a nossa “via crúcis”:

  • Alô! Júlio? (Felipe)
  • Não! É o  Carlos.
  • Ô Carlos, o Júlio está por aí?
  • Nós já estamos aqui em Santo Amaro. O Júlio se sentiu mal, quase desmaiou. Já  vomitou duas vezes, está muito ruim. A coisa está muito cansativa.
  • E como é que ele está agora?
  • Ele está numa farmácia tomando uma injeção de buscopan. Liga daqui uns vinte minutos, quem sabe...
  • Está certo. Eu ligo.

Horário: 16:30 horas - Ave Julius:

  • Alô! Júlio? (Felipe)
  • Sim, é ele!
  • É o Felipe.
  • Fala Felipe.
  • Como é, já estais ‘melhorzinho’?
  • Nem fala rapaz, estou mal.
  • Então eu vou ser breve. O Wanderley  falou contigo?
  • Sobre?
  • Sobre a festa.
  • Não sei.
  • A nosso festa seria na sexta-feira e no sábado tu tens aquela carreata que o Wanderley  preparou.
  • É verdade. Faz mais de um mês que o Wanderley  está me cobrando isso.
  • Pois é, só que ontem o nosso pessoal esteve reunido e eu expliquei uma coisa. Disse a eles que em razão da tua situação em Rio do Sul tu não poderia deixar a região. O pessoal entendeu e mesmo assim aceitaram a proposta de nós bancarmos a coisa sem a tua presença, só que com essa agora eles estão indignados. Não entendem como é que no sábado tu podes vir. Eu posso até entender pela tua situação, mas nós deixamos a data em aberto.
  • Felipe, eu acertei que só vou a carreata e em seguida eu volto.
  • Sim, por isso que o Wanderley  está propondo fazer a festa juntos.
  • Entendo. Fazer tudo no sábado, juntar os dois grupos É bom, acho que é por aí.
  • Da tua parte não há nenhum problema?
  • Não! Pode ser.
  • Então tá. Ficamos assim. Vou te deixar à vontade, a gente se vê.
  • Tá certo. Tchau, Felipe.

Horário: 16:40 horas

  • Alô! Jorge? (Felipe)
  •  Sim, eu estou aqui com o Geraldo. Estamos acertando o negócio e ele diz que não dá para se fazer churrasco para mais de trezentas pessoas.
  • É, mas e carreteiro?
  • Também não dá. Ele propõe ‘aperitivinho’ de filé.
  • Se é assim.
  • Lá cada um leva a sua esposa. Eu levo a Leninha.
  • Olha Jorge eu vou sozinho. A "Dinha" não gosta desses encontros. Não gosta de política. Ela é uma pessoa de esquerda. É anarquista. É uma pessoa muito fina e  não serve para esse tipo de ambiente. Vou poupá-la, mesmo porque se eu a convidasse ela certamente não aceitaria e se fosse seria um sacrifício muito grande. Ela só vai quando se trata de coisa de alto nível, não de política.
  • Está certo! Eu entendo, mas...
  • Não dá!

Jorge colocou seu ponto de vista dizendo que os duzentos reais do Redondo era muito pouco, e aproveitei para argumentar que o candidato Gervásio Silva iria no churrasco. Nesse caso já que o Geraldo tem contato com o mesmo, sugeri que poderia verificar a possibilidade de conseguir uma ajuda financeira. Depois, conversando com Wanderley Redondo soube que os duzentos reais que ele se propôs a ajudar nas despesas na verdade já era doação de Gervásio Silva e que ele ajudaria com mais cem reais do seu próprio bolso. O resto seria rateado entre nós. Ficou acertado ainda uma reunião para o dia seguinte para tratarmos do assunto reunindo o grupo. Wanderley  Redondo ficou de entregar um cheque de trezentos reais conforme prometido.

A minha preocupação passou a ser óbvia: numa situação dessas o pessoal não está presente e acaba tudo sobrando para dois (Jorge Xavier e eu), sempre com aquela desculpa: “porque não me avisaram”. Difícil suportar esse tipo de coisa, mas naquela altura dos fatos a saída mais rápida era: “deixem as pedras rolarem”.

Horário: 17:45 horas:

  • Alô, Felipe?
  • Sim, fala Jorge.
  • Eu já acertei com o Krieger para nos reunirmos amanhã às quatorze horas, no restaurante do Geraldo.
  • Está certo.
  • Mas sabe por que do horário? Para evitar abusos, assim todo mundo chega lá já almoçado.
  • Ah, Jorge não é por isso, a gente poderia pagar o almoço.
  • Não adianta, ele não vai querer cobrar.
  • O que é isso?
  • Mas tu faz contato com o Redondo e com o Garcez para estarem presentes na reunião.
  • Sim, só eu não sei se o Garcez não está de plantão, já sabes como é.
  • Não tem problema, avisa o Redondo e pega os trinta reais com o Garcez se ele não puder ir.
  • Está certo.
  • Mas não te esquece, faz contato com eles.
  • É, inclusive com o Wilmar Domingues.
  • O quê? Mas será que não vai ficar chato convidá-lo?
  • O que é isso Jorge, eu não acredito em nada do que foi dito pelo Wanderley, dá licença.
  • Pois é, isso foi coisa antiga, dos anos setenta.
  • O que tu disse dos anos setenta?
  • Esse negócio do Wilmar!
  • Mas houve alguma coisa com ele?
  • Sim, parece que ele teve algum envolvimento, mas já faz tempo, isso foi no início dos anos setenta, mas já sei, isso agora pode ser “briga de praça”.
  • “Briga de praça”?
  • É, eles estão brigando.
  • Não sei, não consigo acreditar, mas deixa que eu faço os contatos, inclusive com o Wilmar.
  • Está certo, então até amanhã, só que na hora de falar com o “assador” do Geraldo nós temos que fazer de conta que ele vai ser pago.
  • Certo.

Horário: 18:30 horas

Lacaios,  Cornos  e engravatados numa visão transcendental?

Como fazia nos últimos tempos, depois das dezoito horas estava entre me dirigir para a Biblioteca Pública do Estado ou encerrava o expediente. Mas, neste dia foi demais para mim, e ao descer do primeiro andar, logo na portaria da Delegacia-Geral,  encontrei Walter da portaria, com seu jeito de sempre, quase murmura em voz ininteligível, como já vinha fazendo há alguns meses:

  • Faltam três meses e seis dias.
  • O quê?
  • É isso aí, faltam só três meses e seis dias.
  • Há sim.

Como Walter foi atender o telefone na central telefônica da Delegacia-Geral, me dirigi até próximo da máquina de xerox para aquele cafezinho. Lá da central surgiu um brado:

  • Tem café quente na garrafa de trás. (Walter)
  • Essa daqui? (apontei para a garrafa pequena)
  • Sim é essa aí.

Logo em seguida aquele rosto já envelhecido com “roupagem” de infante, cabelos de índio Peri (José de Alencar) ou Aritana, desbotado, camisa aberta no peito onde mostrava uma corrente grossa dourada, e a pela dava a impressão que era mistura de sangue espanhol. Depois de atender a ligação Walter veio ao meu encontro:

  • É Walter como é que está a campanha do Heitor? (Felipe)
  • Está boa, ele vai ser um dos mais votados, depois do Paulinho Bornhausen.
  • Há sim, a expectativa é que o Paulinho e o César Souza sejam os mais votados.
  • E o Júlio como é que está?
  • Está bem, saiu agora a última pesquisa e ele está em primeiro lugar na região de Rio do Sul, deve fazer cerca de vinte e cinco mil votos só em Rio do Sul, sem contar a região que possui cerca de cento e quarenta mil eleitores.
  • O quê? Se for assim ele vai ser um dos mais votados mesmo,  mas acho difícil.
  • Não! E ainda existe as outras regiões, você vê aqui em Florianópolis nós estamos trabalhando para ele fazer entre mil e dois mil votos no mínimo e sabes quantos votos ele fez na última eleição?
  • Não, não sei. Mas isso é porque ele só foi candidato uma única vez.
  • Não. Essa é a segunda.
  • Que eu saiba este é o primeiro mandato dele.
  • Não. Na primeira eleição ele fez cerca de dezesseis mil votos e na segunda vinte mil. A tendência é ele fazer muito mais agora e o Heitor na pesquisa está em quinto lugar, mas agora ele pega votos em todo o Estado, todas as regiões vão trabalhar para ele e deve estar eleito.

Após esse primeiro contato, sabedor que Walter era ferrenho cabo eleitoral de Heitor Sché, deixei o assunto político e descambei para outro lado:

  • E a galega aí como é que está?
  • Cruzes, ou ela é uma lacaia ou uma otária da Ana e do Trilha lá em cima.
  • Como é que é?
  • É isso aí, ela faz tudo que eles querem, trabalha por seis aqui dentro.
  • Mas ela parece ser muito eficiente e se trabalha por seis, eu tenho notado ela trabalhar muito, toda hora está na máquina, de um lado para outro.
  • Isso não pode acontecer, se ela é uma otária ela vai ver, o governo vai mudar e ela só está se queimando.
  • Mas parece ser uma pessoa consciente, fina.
  • Ela é casada com um Promotor e o problema dela é o filho que é toxicômano.
  • O quê?
  • É, ela se incomoda com o filho que é viciado em drogas.
  • Mas que pena, parece ser uma pessoa tão consciente, é muito azar, mas ela já tem filho grande?
  • Tem, ela deve ter uns trinta e quatro ou trinta e cinco anos e o filho deve ter uns quatorze ou quinze anos.
  • Mas se ela trabalha por seis então tem um problema aqui, falta funcionários.
  • O que é isso, todo o pessoal que colocaram aqui não vale nada, é uma vergonha,  a Janice no início até que era boazinha, era uma das únicas que trabalhava,  depois ficou uma porcaria.
  • Quem é a Janice?
  • É uma galeguinha que senta ali no canto, ela foi amante do Optemar e do Trilha,  agora vive com o irmão daquele Delegado lá de Joinville, administrador do Presídio.
  • Ah, Comissário (Juarez)?
  • É esse mesmo, mas tu vê quando ela terminou o caso com o Trilha a Lúcia chamou ela e deu um esporro, “onde é que já se viu Janice você trocar o doutor  Trilha por um policial qualquer”. Eu sei que a Lúcia encheu a paciência dela porque abandonou o Trilha.
  • Mas Walter que época foi isso, é recente?
  • Não. Isso foi na época que a Lúcia era Superintendente, o Trilha era Corregedor.
  • Então já faz tempo, mas como é que tu sabes que isso é verdade?
  • Todo mundo ouviu, a Lúcia chamou a Janice lá em cima e falava em voz alta, e todos nós escutamos.
  • Será Walter?
  • Rapaz, esse Trilha aí era casado com uma alta funcionária da Caixa Econômica Federal, a mulher colocou c. nele com o porteiro do edifício, todo mundo sabe disso.
  • O quê Walter? Não, eu não acredito,  como é que você sabe disso?
  • Tudo mundo sabe disso, o próprio Trilha diz para todo mundo que é um ‘c.’ e que a mulher traiu ele,  nunca ouvisse ele dizer isso por aí?

Pensei comigo que já havia escutado várias vezes esse comentário (mas lembrei Inspetor Jociane Guedes da “Assistência Jurídica” sobre o episódio dentro do elevador...), mas preferia continuar a  não acreditar nessas fofocas, e eu completei batendo em retirada:

- Olha Walter com essa eu vou embora, por hoje já foi demais!

Deixei a Delegacia-Geral e no caminho comecei a buscar os pontos de contatos entre “Litão” e “Walter – Guarda-Chuva Velho”,  parece que comecei a descobrir que os dois tinham muito em comum, uma revolta muito grande resultado de uma trajetória profissional pouco sustentável e lembrei que quando cheguei por volta das dezessete horas encontrei na portaria o motorista do Delegado Trilha de gravata (lembrei daquelas palavras do Delegado Krieger no jantar sobre os alunos da Academia,  todos de terno e gravata, dando ênfase a uma nova Polícia depois das leis... e pensei em mim que raramente usava gravata,  sempre com calça e camisa jeans, preocupado com o conteúdo interior, será que me renderei a essa lavagem, a essa onda de visibilidade, nada contra o traje em si, mas o problema é de ordem ideológica, de uma polícia tupiniquim).

Já no carro,  ouvindo “Confidential” do velho CD da Tina Turner, aproveitei o relax para estabelecer uma relação entre a ruiva Inspetora Myriam que trabalhou comigo na “Assistência Jurídica” no início dos anos noventa e a “Galega” Guinivere, ambas começaram como boas servidoras, empolgadas, interessadas, só que aquela conforme constatei pessoalmente que com o tempo não podia mais ouvir a palavra “polícia” que já tinha pesadelos de tanto que se sentiu frustrada, desprezada pela instituição nos últimos anos, bem diferente da “sonhadora” do início dos seus tempos. Myrian, depois de algum tempo demonstrou estar completamente detonada, desmotivada, assustada, desestimulada, fugidia... Já “Guinivere” (Escrevente Policial Rosângela), ao que tudo indicava, talvez estivesse ainda na primeira fase... Fiz uma figa virtual para que ela jamais caísse como a primeira, não importando as circunstâncias, uma instituição não poderia matar sonhos, ideais, utopias,  convicções, pessoas, os exemplos para os novos..., mesmo porque seria muito difícil a volta e, afinal, todos perdem com uma instituição povoada de mentes doentes.E mais uma vez lembrei do nosso “Plano”, o quanto poderíamos mudar as coisas, mas a hora da verdade ainda está por vir, por enquanto tínhamos que confiar em Júlio Teixeira, no pessoal do nosso grupo, na nossa capacidade de mobilização, nos policiais, na sociedade...

E, por último, ainda no trajeto para casa, ao som da veterana Tina que apregoava: “... o tempo deixa a dor para trás...” pensei: serão esses os inimigos que ficavam orbitando o imaginário do Delegado Trilha e que numa noutra oportunidade que tivemos juntos ele quis ser referir, acho que começo a entender...?!?!

Horário: 23:00 horas – um telefonema para a residência do Delegado Garcez:

  • Alô!
  • Alô, é a Laila?  (filha de Garcez)
  • Sim!
  • Ô Laila, o Dr. Garcez está?
  • Sim. Vou chamá-lo, um instante.
  • Alô, Felipe, eu iria ligar para ti agora, que coincidência, mas fiquei vendo televisão,  estava jantando e acabei deixando para depois.
  • Tudo bem, mas eu liguei.
  • Certo, e como é que foi a reunião lá, eu estive pensando, fazer a festa sem a presença do deputado fica difícil, como é que a gente vai explicar para o nosso pessoal?
  • A reunião transcorreu bem.
  • Mas quem é que foi?
  • Eu, Jorge, Krieger, Cláudio, Wilmar, só faltou você.
  • E o Osteto também foi, era para ter ido na última reunião e não veio.
  • Sim, mas como não veio não foi convidado mais, depois Garcez ele é aposentado, eu acho que temos que dar vez para gente nova, esse pessoal que já teve oportunidade no passado, dá licença, vamos investir nesse pessoal novo que temos, à exceção do Jorge que é parte histórica de todo nosso Projeto, ele integra todo o nosso trabalho,  mas não podemos querer trazer gente que já teve o seu tempo.
  • Eu concordo, realmente não dá, temos que mudar.
  • É o teu caso Garcez, nunca tivesse uma oportunidade, e por quê?
  • Realmente, a gente se preocupa com o futuro da instituição, isso certamente terá reflexos no nosso futuro, nos nossos salários, de repente ter uma Polícia desacreditada, sem força, eu estive lá na OAB e comecei a ver a revista deles,  que coisa, que organização, eles tem até ambulância, queria ver como eles estão.
  • A OAB é uma potência.
  • Realmente, e a gente vê a nosso Polícia nesse estágio, tanto por se fazer, e depois aposentado se corre o risco de ter os nossos salários defasados por conta de um pessoal que não saiba conduzir nossos destinos, a gente sabe que Polícia é importante e que também a sociedade sabe disso, ela não pode viver sem a instituição policial.
  • Pois é Garcez, é por isso que nós temos que ocupar espaços, já imaginou se a gente não estivesse nessa linha de frente, tentando chegar, se não tivéssemos um Plano, o Júlio é o único candidato que tem um projeto.
  • Mas Felipe, quanto a festa fica difícil se o Júlio não for, como é que...
  • Garcez, a festa passou para o sábado e o Júlio vai, às dezesseis horas vai ter uma carreata.
  • O Júlio então vai? Aí então tá, agora sim, mas tu falaste numa carreata?
  • Isso. Vai sair ali do Jardim Atlântico, daquela nova rodovia,  mas a gente se fala,  tu vais?
  • Sim. Eu levo o meu genro,  mas é onde mesmo?
  • Bom,  eu te explico novamente...
  • Garcez, amanhã às quatorze horas vai ter uma reunião lá no restaurante Candeias, vamos discutir a festa, precisamos da tua presença.
  • Sim. Eu vou, apesar que tenho que estar às dezoito horas na CPP.
  • Dá tempo, depois eu te dou uma carona para o centro.
  • Pois é, mas eu gostaria de voltar em casa.
  • Como é que você vai voltar? Logo em seguida tens plantão.
  • Mas não precisa, é mesmo, de lá eu vou direto para a Delegacia.
  • Isso. Nós te aguardamos, certo?
  • Certo.  Até lá.

Ao desligar o telefone fiz um balanço rápido do dia e conclui que as palavras de Garcez – como sempre - foram bastante coerentes, tirando aquele seu sangue quixotesco espanhol irascível e aquela sua teimosia inabalável (que já foi maior no passado...), compensada por sua pureza, uma espécie de quase ingenuidade,  sinceridade, franqueza, gentileza, sublimação e que lembravam o épico Sir Lancelot, sinalizaram para uma ponta de esperança e acabei lembrando quem poderia ser a Guinevere, tão real (Zanza? Taí a ligação com Garcez, ainda bem que não estou delirando, só associando coisas para tentar compreender nosso universo caótico,  o passado, o presente e o futuro que nos espera... tudo realmente muito interligado - e como - é o tempo na História, a Escrita da História... fazendo uma inferência ao historiador Phillipe Aryés).

Mais tarde – já no aconchego do lar – "Dinha", já  sabendo da carreata daquele  sábado,  pediu para que eu não usasse o seu carro:

  • Você vai com o seu carro?
  • Mas por quê, não entendi, qual o problema de usar o meu carro?.
  • Ora já se viu, todo mundo vai ver, “lá vai o Felipe”.
  • Tudo bem!
  • Não sei, depois a gente vê.
  • Eu coloco uns adesivos do Júlio no para-brisa.

(...)

  • Ah meu Deus, eu estou preocupada com estes próximos quatro anos, sem horário para chegar, dormir, já vi esse filme antes,  onde estará  o meu Felipe?
  • Tudo vai depender do nosso projeto, não vou perder o bonde da história, estou comprometido com isso até o pescoço, qualquer coisa eu volto para a Assistência Jurídica ou fico nas minhas pesquisas.
  • Tu achas que ‘eles’ vão deixar?
  • “Eles”? Não sei.

(...)”