PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XLVIII: “SCHEIRAZAR” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 21/03/2018 | História
DATA: 06.10.98, horário: 14:15 horas, “O Azar de Júlio”:
- Alô, Felipe sou eu, o Jorge.
- Sim.
- Tenho duas notícias tristes para ti.
- O que foi?
- A primeira é que estou com a listagem dos deputados aqui na mão com os partidos e estive vendo aquele Salvaro que está como primeiro suplente na verdade é do PFL.
- Pois é, eu achava que era, ele é lá de Criciúma.
- E a outra, é que na última hora apareceu na frente do Júlio um tal de Antonio que eu nunca ouvi falar, e que também é do PFL. (Jorge)
- Então o Júlio é o quinto suplente.
- Ficou muito difícil agora.
- Sim. É verdade.
- Tu vê que azar do Júlio que esses suplentes que estão na frente dele são quase todos do PFL, o Salvaro, Júlio Garcia, Antonio Ceron e Antonio Mauro Aguiar. O Altair Guidi que está atrás do Júlio na votação é o primeiro suplente do PPB e tem chances reais de ser chamado. Tu vê, esse Salvaro fez quase vinte e sete mil votos e ficou na suplência, é voto à beça.
- É verdade, mas, esperamos com certeza que o Júlio seja chamado, também tem o Guido Burigo.
- Ficou difícil, tu conseguiste falar com o Júlio?
- Não, Jorge. Está fora de área direto.
- E com o gabinete?
- Ainda não. Mas em seguida vou telefonar aí te dou um retorno.
- OK.
Horário: 15:30 horas, “O Coronel Cesar”:
Liguei para Tereza no Gabinete do Deputado Júlio Teixeira e senti fortemente no ar a leveza do seu espírito presente, como se fosse “Sherazade”. Também, não poderia passar despercebida a sua tristeza pelo “azar” do nosso candidato (e a sorte de Heitor Sché, especialmente, nas regiões de Rio do Sul e Capital), tudo bem distante daquele sentimento que Jorge tinha me repassado quanto a sua pessoa, mais parecia encarnar naquele instante assumir a figura de “Terazar”:
- Alô.
- Alô, quem fala?
- É Tereza.
- Oi Tereza, é Felipe Genovez.
- Oi Felipe.
- Escuta como estão as coisas por aí?
- Estamos todos ainda abalados.
- É mesmo né, imagina como não deve estar o Júlio.
- Ele está lá em Rio do Sul, ontem à noite eu ainda conversei com ele, está muito abalado.
- Sem comentários, numa hora dessas.
- Sim, é muita traição.
- Realmente, política é assim mesmo.
- Olha Felipe, as pessoas dizem uma coisa, é muita traição mesmo, gente que promete uma coisa e não cumpre.
- O Júlio ficou na quinta suplência, acho que a gente tem que procurar dar força para ele nesta hora.
- Ah, mas quanto a ele assumir uma cadeira aqui na Assembleia nem adianta alimentar ilusões, é muito difícil, tem que ser alguma coisa fora daqui.
- Tereza, quando o Heitor se lançou candidato a Deputado Estadual ele me convidou para ir lá na casa dele, eu fui lá e disse a ele que não poderia apoiá-lo porque já tinha compromisso anterior com Júlio, anteriormente ele era candidato a Deputado Federal, estava tudo bem, tinha dito a ele que ajudaria Júlio, mas como a sua candidatura era também a estadual não tive outra alternativa senão dizer a verdade e assim que eu sou, gosto de falar franco.
- Sim, mas o Heitor esteve aqui no Gabinete falando com o Júlio e pediu apoio para a candidatura dele a Deputado Federal, e o Júlio disse que o apoiaria, depois veio a surpresa.
- É, conversamos com o Gilmar Knaesel que foi muito bem votado e fizemos menção acerca do nosso “Plano” que ele subscreveu juntamente com o Júlio, falamos da necessidade de dar uma apoio a ele nesta hora.
- E ele precisa.
“Maurício Eskudlark”:
- É, na verdade o Júlio foi fulminado, outro problema foi o apoio que dessa vez ele não recebeu como do Maurício Eskudlark. (Tereza)
- É, esse foi um que da vez passada apoiou o Júlio, ele sempre vinha aqui no gabinete e brincava com a gente, há alguns meses atrás eu encontrei ele lá fora no estacionamento da Assembleia e fui com um adesivo para colocar no carro dele, e quando cheguei mais perto percebi que já tinha um do Heitor Sché, ele olhou para mim e ficou todo sem jeito e eu também.
- Pois é, mas é assim mesmo.
- O Pacheco havia retirado a candidatura e telefonou para o Júlio prometendo que iria descarregar votos nele.
- Pois é, eu estava falando hoje com um Delegado muito ligado ao grupo do Heitor e e ele me disse que o Pacheco havia desistido da candidatura e telefonou para o Heitor acertando que descarregaria os votos nele. E no sábado à noite eu falei com o Júlio que tinha me dito que Pacheco tinha telefonado e feito a mesma proposta, inclusive, disse que o tal do policial Moreto teria ido à Araranguá e relatou que tinha uns trinta carros esperando por ele lá.
- Não sei se tu conheces aquele Coronel Cesar?
- Sim.
- Ele esteve pessoalmente aqui no Gabinete, conversou com a gente e se comprometeu, em nome do Pacheco, que três mil votos estariam garantidos para o Júlio, e...
- Tereza é assim mesmo, ainda bem que você está aí para ajudar a segurar essas barras, eu sei que você é muito importante nesse processo, imagino o quanto também sentisses esse momento, mas a tua presença aí pode ajudar muito, principalmente para dar força para o Júlio, não é hora de se criticar, seria muita mesquinhez, erros todos nós cometemos, acho que a gente tem que pensar em construir..
- Mas Felipe muito obrigada por essas tuas palavras, eu agradeço, é muito bom esse apoio.
- Tereza eu queria ver se conseguia o espelho de votação, para ver os votos do Júlio por região.
- Eu já tenho anotado dois pedidos, não me custa providenciar mais um, pode deixar que eu vou deixar reservado, o TRE deve enviar amanhã.
- Está ótimo Tereza. Eu apanho aí contigo até o final da semana e se tu falares com o Júlio transmita a ele a nossa solidariedade, que nós estamos como ele nessa hora e que tão logo ele esteja aqui nós vamos marcar um jantar e gostaríamos da presença dele.
- Ah, pode deixar que eu vou transmitir o recado.
- Eu agradeço, até mais Tereza.
- Tchau!
“Adeus às ilusões?
Ao desligar o telefone fiquei pensando na Tereza que voltou a transmitir aquele sua energia, pensei não são só nas suas palavras, a sentir toda a força dos seus sentimentos muito reveladores. Sei que estar próximo dela fazia bem, era como se luzes se acendessem, havia um despertar, uma força que emana e envolvia, tudo isso contribuía para uma tomada de consciência. Com o tempo ficamos mais abertos um com o outro, receptivos e, assim, ficou mais fácil confiar, sentir, captar sinais... E fiquei a pensar no que o Júlio Texeira, há algumas semanas atrás, tinha dito sobre a boataria que corria solto, que o PMDB, por meio do candidato Paulo Tatin, teria repassado dinheiro para Sché para ajudar na sua campanha (particularmente eu não acreditei naquela informação, mas em se tratando de política...). E, se não bastasse, neste dia Braga me disse que a Secretária Lúcia Stefanovich foi quem estimulou a candidatura a deputado estadual do Médico Legista Maurício Ortiga na região de Rio do Sul, considerando a sua ligação com os policiais civis (também não acreditava nisso, mas...). De qualquer maneira, tudo levava a crer que existia um mistério por trás, um desejo de vingança, poderia isso ter realmente o dedo de Lúcia e Lorival? (não poderia responder essa questão, e me recusava a acreditar em tamanha maldade, mas em se tratando de política, apesar de que a postura de Júlio Teixeira na Assembleia, quanto ao episódio das ‘Letras’ e que quase resultou no “impeachemant” de Paulo Afonso era algo imperdoável para os peemedebistas, era uma espinha na garganta de muita gente pelo desgaste político e, em se tratando de pessoas vingativas, rancorosas, tudo era possível, mas como disse me recusava a acreditar que fossem capaz!). Mas a verdade é que tanto as candidaturas de Sché como a de Ortiga prejudicaram irreversivelmente Júlio Teixeira, e fiquei pensando no comentário daquele dia, no jornal do almoço, quando o jornalista e comentarista político Paulo Alceu no jornal do almoço (RBS), onde mostrou-se bastante intrigado com um enigma, ou seja, justamente os deputados que negociaram com Paulo Afonso (Cirio Rosa, Onofre Agostini, Jaime Mantelli e Narcizo Parisotto) conseguiram facilmente a reeleição. Enquanto que Júlio Teixeira e Norberto Stroisch não? Realmente, se Amin e Jorge Bornhausen colocassem a mão na consciência deveriam considerar muito essa circunstância, só que em política quem não se reelege está morto. Aliás, interesses outros se erguem nessa hora e o importante é governar com apoio de deputados que têm mandato, há que se considerar os votos na Assembleia Legislativa e parece haver um cheiro de enxofre no ar, o jeito era continuar aguardando, ou melhor, não alimentar ilusões.
Horário: 17:00 horas, “A Luta Continua”:
De retorno à sala de Osnelito para usar o seu “telefone vermelho”:
- Alô Krieger, é o Felipe.
- Oi Felipe.
- E daí, como é que estais?
- Muito triste, muito triste com o nosso amigo lá.
- É, realmente foi forte.
- Ele ficou na terceira, né?
- Não, ele ficou como quinto suplente.
- É mesmo?
- Veja bem Krieger, ele teve um azar danado, justamente os suplentes mais votados que estão na frente dele são do PFL, pode?
- Eu sei, o Paulinho Bornhausen, Cesar Sousa...
- Não. Não é isso, eu estou falando dos suplentes, o Salvaro, Júlio Garcia, Antonio Ceron e Antonio Mauro Aguiar.
- Ah, entendi, entendi!
- Então, o Altair Guide que ficou atrás do Júlio é o primeiro suplente do PPB, certamente será chamado, é muito azar.
- É mesmo, mas eu estou muito abalado, acho que todos nós, todos os meus candidatos chegaram lá, só o Júlio que não.
- Krieger, o negócio é tentar reverter isso, sei que dá, é preciso que a gente se reúna e faço um balanço disso tudo, com a presença dele.
- Ah, sim. Eu conversei com o Dr. Jorge e falamos sobre isso, devemos marcar um jantar com o grupo, com a presença do Júlio para a gente fazer um balanço.
- Segundo a Tereza, lá do Gabinete, o Júlio está muito abalado, foram muitas traições.
- Tu falas lá na região dele?
- Sim, de todo o lado, não dá nem para falar nesse assunto por telefone.
- É, eu fui um que trabalhei para ele e arranjei alguns votinhos, fico preocupado com possíveis retrocessos na instituição, a gente que abraçou esta carreira.
- Krieger a luta continua, a gente vai tentar reverter isso, e junto com Júlio, vamos ver se conseguimos, voltamos a conversar, esperamos o jantar para a semana que vem.
- Certo. Vamos deixar passar uma semana para que tudo volte à normalidade e a gente volte a sorrir..
- Um abraço.
- Outro.
Horário; 19:00 horas, “O Projeto Garcez”:
Garcez telefonou pedindo que fosse cancelado o jantar porque tinha que levar aquela sobrinha dele que sofria de neuroses para tratamento. Como era só eu e ele, apesar de não ter revelado isso naquele momento, disse-lhe que não teria problema algum, estava cancelado. Na verdade eu queria conversar com ele para fazer uma avaliação a dois sobre as resultantes do processo eleitoral e sobre a possibilidade de ele realmente ser indicado para o cargo de Delegado Regional de São José. Naquela altura nada poderia ser descartado, além do espaço natural, havia o projeto “Cesinha”, ou seja, o preparo de seu nome para ser lançado à Câmara de Vereadores de São José, conforme já havia conversado com Geraldo (proprietário do Restaurante Candeias), mas isso por enquanto era outra história.