PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XLIV: “BARQUEIROS” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 21/03/2018 | História

DATA: 04.10.98, horário: 16:15 horas, “O Gordo e o Magro”:

Cheguei na Delegacia-Geral e notei uma certa movimentação, diferentemente dos outros dias, quando tudo parecia estar com um certo ar de deserto, evidentemente, que depois que “Guinevere” chegou foram implementadas várias mudanças funcionais e radicais considerando o “estilo Lito” de administrar. Porém, naquele dia estava diferente, pessoas conversavam, cochichavam algo, se olhavam, o falante Walter estava louco para explodir não sei por quê, mas parecia se conter. No momento que passei pela portaria do prédio pude observar que Walter me fitava nos olhos dando a impressão que queria comunicar alguma coisa. Aliás, lembrei que de manhã já tinha sido assim e logo próximo da escada encontrei o veterano Delegado Aldo Prates que ao me avistar abriu um sorriso e me deu um leve cutucão no ombro, de maneira amistosa comigo, o que não era costume, vindo a exclamar:

  • Como estais magro.
  • É.

Depois, subindo a escada ao primeiro andar ainda ouvi Prates completar:

  • Invejo essa magreza.

Horário: 16:20 horas, “Depois da Bagunça Vem a Tempestade”:

Ao chegar na “sala de reuniões”, constatei que andaram limpando o local e as garrafas de café e copos estavam à vista num canto, pressuponho que em seguida deveria  haver reunião. Desci até o gabinete do Osnelito para apanhar meu contracheque e, em seguida, dirigir-me para a Biblioteca Pública. Antes, porém, perguntei para Osnelito:

  • Como é que está indo o negócio?
  • Olha depois da bagunça, veio a tempestade, e está todo mundo agora tentando juntar os cacos. (Osnelito)
  • Espera aí, deixa eu repetir, “depois da bagunça, veio a tempestade...”, é isso mesmo?
  • É, bem isso aí, e não adianta eles agora ficarem pelos cantos tristes. (Osnelito)
  • Pois é Lito, mas isso tudo era esperado, as pesquisas noticiavam, eu acho que o pessoal não queria acreditar, esperavam um milagre talvez.
  • Olha, eu por mim está tudo bem, essa cambada aí pode ir embora, não valem nada, não me importo mesmo, só espero que não saiam eles e retornem um pessoal ainda pior. (Osnelito)
  • Osnelito, a gente nunca sabe o que vem depois, pode ser pior ou melhor, é lidar com o desconhecido.
  • É isso aí, espero que não sejam piores. (Osnelito)

Horário: 17:40 horas,  “Sem Fôlego”:

  • Alô, Felipe soubestes de mais alguma coisa? (Jorge)
  • Não. Não consegui falar com o Júlio no celular.
  • Não telefonaste lá para o gabinete dele?
  • Também não.
  • Nem adianta.
  • Como é que está indo?
  • O Gilmar é que está bem, está com trinta e dois mil votos, é o terceiro mais votado.
  • Que bom! E o Júlio?
  • O Júlio está com um pouco mais de dezessete mil votos, mas está difícil, tem muitos na frente dele, tu vê, aquele Júlio Garcia está com vinte mil votos e tem ainda quatro na frente dele.
  • E o Heitor?
  • O Heitor está com vinte e quatro mil votos. (Jorge)
  • Está eleito.
  • Sim, a essas alturas, faltam só doze por cento para terminar a apuração, mas  Felipe, tu vê se consegue falar com o pessoal do gabinete dele, vê se consegues alguma informação. (Jorge)
  • Está certo.

Horário: 17:45 horas, “O Fim das Esperanças”:

  • Alô! Ângela?
  • Sim.
  • Ângela, é o Felipe.
  • Fala Felipe.
  • Alguma novidade, como é que está a contagem?
  • Olha, o Júlio acabou de ligar lá de Rio do Sul,  ele está com dezessete mil, cento e setenta e cinco votos, acabou de chegar mais cento e poucos votos de Campo Erê, já apuraram oitenta e oito por cento.
  • E o Júlio o que acha, há esperança ainda?
  • Ele espera receber mais uns quatro mil votos ainda. (Ângela)
  • Bom, com isso ele poderá ir para uns vinte e dois mil votos.
  • Não. Acho que por volta de vinte mil votos. (Ângela)
  • Quem sabe uma suplência?
  • É. Mas vocês têm que ajudar ele a pegar alguma coisa aí, fora da Assembleia,  ele vai precisar de vocês. (Ângela)
  • Certamente, mas vamos aguardar o resultado final da contagem dos votos.
  • Certo. (Ângela)
  • Um abraço Ângela.
  • Outro.

Horário: 17:50 Horas:

  • Alô, Jorge?
  • Sim. Fala Felipe.
  • Olha, acabei de conversar com a Ângela no Gabinete do Júlio.

E passei a narrar o que conversamos. Finalmente fiquei de passar mais tarde na casa do Jorge.

Horário: 18:15 horas, “A Barca da Marinha”:

De saída da Delegacia-Geral encontrei Walter que me disse que Heitor deveria  chegar aos vinte e nove ou trinta mil votos. Lembrei que Braga tinha feito também esse prognóstico e que batia com as informações repassadas pelo comitê. Perguntei:

  • Como é que está o clima por aí?
  • Vai dar tudo certo. (Walter)
  • Mas aqui embaixo todo mundo votou no Heitor.
  • Não. Tenho anotado no caderno o nome de todos que votaram nele. (Walter)
  • É mesmo?
  • Tem que mandar preparar a barca da Marinha, sabe, daquelas da Marinha.
  • Tchau!

Horário: 20:15 horas, “Radinho de Pilha”:

Cheguei na residência de Jorge Xavier e o encontrei na cozinha com o seu “radinho de pilha” sintonizado na CBN-Diário, ouvindo Marcelo Fernandes e outros repórteres que davam  os resultados do pleito em Santa Catarina. Em cima da mesa folhas de papel com anotações e referências diversas,  nomes, estatísticas, enfim,  o sobe e desce na corrida por uma vaga à Assembleia Legislativa.

Segundo as últimas informações de Jorge, o Heitor estava com vinte e sete mil votos. Já o Júlio estava com um pouco mais de dezessete mil. Comentei que segundo  Ângela do gabinete de Júlio Teixeira, a estimativa era de que nosso candidato fizesse  mais uns quatro mil votos, chegando a quase vinte e um mil sufrágios.

Se isso viesse a se confirmar provavelmente conseguiria uma suplência, talvez a terceira. De qualquer maneira nosso projeto estava altamente comprometido dentro dessa realidade eleitoral e teríamos que aguardar para ver como é que as coisas iriam ficar. Lembramos a expressiva votação de Gilmar Knaesel, terceiro colocado até então e de que o projeto não foi só subscrito por Júlio, mas, também, por Gilmar, sendo assim nem tudo estaria perdido, havia uma ponta de esperança e o negócio era esperar.

Quanto ao nosso grupo, ficou acertado que iríamos aguardar para fazermos um jantar, convidando o Júlio Teixeira para participar e assim fazermos uma avaliação.

Finalmente, “Leninha” ainda veio a me dar os pêsames quanto a não eleição do nosso candidato, aproveitei para dizer a ela quem nem tudo estava perdido.