PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XCVIII: “AMIN E KLEINUBING: PALAVRA EMPENHADA E A SORTE LANÇADA?” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 01/04/2018 | História

Data: 04.11.98, horário: 09:30 horas, “Heitor Sché e Sidney Pacheco”:

Estava na “sala de reuniões” e naquela manhã Osnelito saiu do banheiro deixando para trás aquele ar carregado, mais parecia uma maldição de encomenda, mas não havia como impedi-lo daquele seu hábito e o seu local preferido para despejar seus dejetos pessoais, ainda mais considerando a nossa amizade antiga, desde os tempos de Fecapoc, das nossas assembleias, viagens pelo interior do Estado:

  • Fala grande Lito!
  • Tá tudo bem?
  • Sim. Só estamos aguardando por novidades.
  • É, está todo mundo assim.
  • É verdade. Mas eu creio que nos próximos dez ou quinze dias teremos alguma coisa.
  • Bom, novidade? A última que eu soube...
  • Já sei, sei, é aquele do teu parente que é motorista do Procurador?
  • Não, já é uma outra, um outro parente meu, o Mauro, ele é engenheiro da Prefeitura e é muito amigo do Paulinho Bornhausem, ele comentou que conversaram e que já está certo, o Heitor vai ser mesmo o Secretário de Segurança e o Pacheco o Diretor do Detran.
  • É, até pode ser, o Heitor tem cacife e o Pacheco agora é do PPB. Era para ter sido candidato a Deputado, parece que apoiou o Heitor na última hora, não o Julio..., mas como é mesmo o nome desse teu primo?
  • Mauro.
  • É Lito, veja bem, o que vai mandar mesmo é o partido, se o PFL e o Amin decidirem que o cargo de Secretário de Segurança é do Heitor, ninguém segura. Em política é assim mesmo que se raciocina. O Heitor tem a força do mandato e isso é o que importa no momento. O Júlio não se elegeu e tem apenas o passado dele que em política perdeu a validade, e agora de nada adianta mais a palavra empenhada de Amin com o Kleinubing no leito de morte. Em política não existe a honra da palavra, é tudo uma encenação, um faz de conta, não existem compromissos e sim interesses, o que vale é o peso da ação. Quem já morreu, morreu! Não tem mais peso algum.  O PFL vai querer abrir vaga na Assembleia para suplente, o primeiro é aquele Deputado lá do sul, o Julio Garcia, já o Pacheco tem interesses no Detran, tem aquela empresa de guincho do filho dele..., além disso ele tem muita ligação com despachantes e depois podem acertar uma situação favorável para o Júlio Teixeira e assim fica todo mundo bem, enquanto que  nós aqui assistindo a tudo como pinguins.
  • É verdade, é verdade!
  • E política é isso mesmo, é como se os homens colocasse uma máscara para ir a um baile, depois tudo que passou, passou! O passado passa a ser indiferente. Olha bem para esses ex-Chefes de Polícia aí na parede, todos eles agiram assim, colocaram suas máscaras para poder gerir uma máquina. Quando eles foram nomeados procuraram agradar os governos para quem serviam e a tua situação não é diferente Lito, você que ocupa um cargo de confiança está na mesma situação que eles todos, vê se você tem coragem de levantar alguma bandeira contra este Governo?

“François-Marie Arouet”:

  • É.
  • ... Aquele filósofo já dizia que “o povo precisava ser enganado...” para se conseguir governar e assim sempre aconteceu na história da humanidade,  as pessoas sempre se voltando para a satisfação de seus interesses imediatos, não importando os outros, e é para isso que existe o processo de massificação, consumismo, doutrinação...
  • Pois é, mas esse filósofo aí que tu falasses já dizia isso e muito antes já era assim, como na época do Império Romano, com um polegar o povo decidia o destino da vida de quem tivesse na arena.
  • Exatamente, o povo sempre fazendo o papel de protagonista, como hoje ocorre com o “voto”, na verdade o povo faz papel de... Lembra Osnelito quando o décimo terceiro salário estava atrasado, logo no início do ano e eu perguntei para ti o que achavas disso e tu respondestes que isso era normal, lembra?
  • Eu tinha falado aquilo da boca para fora, não veio do interior.
  • Sei, mas dissestes e eu até entendo, justamente porque tu estais ocupando um cargo de confiança.  Eu recordo a época do Governo Kleinubing, ele atrasou por cerca de nove a dez meses os nossos salários que era para ser pago até o último dia útil do mês. Ele estava pagando com cerca de cinco dias de atraso, depois essa situação se normalizou. Pois é, naquela época a Lúcia e o Lourival foram para a Adpesc e colocaram uma espada na garganta do Alberto Freitas, exigindo uma posição contra o governador, diziam que aquilo era uma vergonha, uma afronta  e houve tantas pressões, mobilizações de policiais contra aquele governo. E, nós que na época estávamos na direção da Polícia Civil sentimos de maneira muito veemente essa oposição e hoje o que a gente vê? Estamos sobrevivendo com o salário de agosto e ninguém sabe se vamos receber alguma coisa em novembro.
  • É mesmo, o salário é de agosto, mas parece que a Justiça e o Legislativo conseguiram garantir os salários dos seus servidores, não foi?
  • Sim Lito. Mas olha só, a Justiça e o Legislativo vêm recebendo seus salários em dia, esse pedido de liminar que conseguiram no STF foi para assegurar os salários de outubro, novembro e dezembro e mais o décimo terceiro salário de 1998, mas eles estão noutro mundo. É por isso que na Justiça as decisões contra o governo não acontecem, ou se acontecem é de um jeito bem diferente, tudo é negociado...
  • Enquanto nós do Executivo...
  • É que ao Judiciário compete julgar as ações contra o Governo e eles represam tudo, seguram até os pedidos de impedimento do governador,  não vê essas ações que deram entrada no Tribunal de Justiça questionando o último concurso realizado pela Polícia Civil que fim levaram? Sem contar as ações de servidores públicos e mandados de segurança. Por que a OAB pede um levantamento sobre isso no nosso Judiciário, ninguém faz... e o Legislativo poderia bloquear as contas do governo, o Tribunal de Contas..., tudo dominado. E o Executivo pode o quê? Fica de joelhos...

(...)

Um Sete Um?

  • Mas essa Lúcia é uma s. olha eu nunca vi uma mulher assim,  sinceramente, que mulher... (Osnelito)
  • Lito, tu estais falando dela ser..  é isso aí que tu queres dizer?
  • ... Mas tem uma coisa nela que eu realmente admiro, ah isso ela tem.
  • O quê?
  • A maneira como ela conversa, como ela discursa, ela sabe falar, sabe convencer,  tem uma oratória...
  • Realmente Lito, ela sabe ser elegante, usa joias, se veste bem, sempre com  roupas bastante coloridas..., essa é a Lúcia.
  • Aquilo é roupa de c.

(...)

“Idiossincrasias”:

  • Pois é Lito,  mas tu vens aqui e criticas tanto esse pessoal aí, a Lúcia..., mas na verdade essa tua revolta é porque tu gostarias de estar no mesmo nível deles e como não conseguistes neste governo. Então tu ficas criticando, eu sei que isso é uma forma de tu descarregares a tua raiva aqui comigo, mas tem um fundo de verdade nisso que estou te dizendo.
  • Sim, eu venho aqui chamo todo mundo de cretino, safados, mas é até uma forma de depois eu conseguir sair daqui mais  tranquilo.
  • Isso, é mais uma forma de desabafar. Talvez depois tu nem te lembras mais do que dissestes e ainda bem que é assim, já pensou se depois tu lembrasse de tudo?
  • É verdade, mas eu lembro muito bem do que eu passei há uns trinta dias atrás...
  • Sim, mas de três anos atrás..., é bem provável que não, não é? E assim são nossos políticos, nossos ex-Chefes de Polícia e até você Lito. Isso faz parte do homem: a inveja, o ódio, a ganância...
  • Mas sempre foi assim,isso significa que o homem sempre foi assim, pode vir a tecnologia e o que vier ele continua assim.
  • É, são as idiossincrasias...

(...)

E acabei interrompendo a conversa, convidando a visita para tomar um cafezinho lá na sua sala... quando ele me disse que estava entrando de férias a partir da próxima segunda-feira e que Guinivere estaria assumindo a sua Gerência interinamente.

Horário: 14:45 horas, “Sabe Aquela Piada...”:

Jorge ao telefone querendo saber das novidades:

  • Alo!
  • Sim.
  • Felipe, sou eu Jorge, é rápido, como é que ficou o jantar com o nosso amigo?
  • Oi?
  • Alguma novidade lá do Júlio, ele está aqui? Pelo menos hoje ele está, é o que  saiu no jornal que ele vai apresentar um projeto.
  • Sim. Eu falei com ele. Iria te ligar, mas tu falasses projeto, que projeto?
  • Um projeto relativo à indicação do novo Conselheiro à vaga do Tribunal de Contas, não estais sabendo?
  • Ah, sei. Com relação ao jantar ele evitou, disse que ainda não poderia ir o nosso jantar porque não tem nada definitivo para nos apresentar. Ele acha que se for vai ficar mal. Ele quer se reunir conosco com uma coisa mais concreta porque se por um acaso não vier ser o Secretário não quer fazer papel de bobo.
  • Entendo, ele não quer  criar expectativas.
  • É isso mesmo Jorge.

(...)

Fiz um relato sucinto para Jorge Xavier sobre o conteúdo da conversa que tive com o Júlio Teixeira no dia anterior:

  • Ele falou alguma coisa sobre o compromisso do Kleinubing? (Jorge)
  • Sim. Ele disse que naquela sexta-feira foi também para o Hospital de Caridade e lá se encontrou novamente com o Amin que disse a ele que há uns dez dias atrás o Kleinubing fez ele prometer que o Júlio seria o Secretário de Segurança...
  • Esse “seria” aí é que é fogo!
  • É, é verdade Jorge, esse é que é o problema, o turco é fogo...

(...)

E relatei também a conversa que tive com Osnelito de manhã acerca do possível comentário do  Engenheiro Mauro feito aquelas considerações acerca de Heitor e Pacheco:

  • Esse tipo de informação além de não poder ser subestimada merece uma reflexão mais profunda porque se fosse só o Heitor tudo bem, mas o Pacheco para o Detran? Aí a coisa muda porque ele tem interesses e eu te contei que o Braga havia dito que cerca de três dias antes das eleições o Pacheco fez contato com o Heitor para descarregar votos. (Felipe)
  • Nem me fala nesse nome.
  • Mas Jorge, isso pode fazer sentido, quem é que sabe se não é verdade? Veja bem, o PFL precisa abrir vaga para suplente, há pressões, o que é natural... E segundo consta o Heitor quer ser Secretário de Segurança,  tem cacife para isso, já o Pacheco está filiado ao PPB, tem amizades, e o Júlio poderia ter entrado num esquema para acertar tudo isso, não achas?
  • É, depois do que tu dissestes, como é que foi o termo que o Kleinubing usou mesmo?
  • Qual?
  • Aquela expressão que tu usasses antes?
  • Ah, que ele “seria”, pois é, a esta altura do campeonato e depois por quê o Júlio evitou participar do nosso jantar? Foi um convite informal apenas para um jantar de confraternização, não teria nada de mais, não precisaria se comprometer com nada vezes nada. Mas eu vou ver se falo com ele ainda hoje.
  • Ele pode ter declinado.
  • Sim, é o que eu falei, pode ter havido uma negociação e já que houve um compromisso do Kleinubing,  somente o Júlio é quem poderia abrir mão desse compromisso, eu acredito que o Amin não deixaria de honrar a sua palavra, retroceder a esta altura Jorge, diante de um amigo como o Kleinubing, eu cheguei até a duvidar...
  • É, como naquela piada.
  • Sim, exatamente, aquela que eu te contei outro dia.
  • É, depois tu me dá um retorno, vai cair...

(...)

Depois de cair a nossa ligação Jorge Xavier retornou quase que imediatamente:

  • Oi, mas vê o que ele diz a respeito dessa informação. (Jorge)
  • Com certeza. Tchal!
  • OK!

Horário: 18:15 horas:

Encontrei Lucinéia, a telefonista da Delegacia-Geral na escada que estava  esperando o seu esposo:

  • Oi doutor Felipe!
  • Oi Lucinéia, e daí como estão as coisas?
  • Está todo mundo esperando a barca passar.
  • Ah, sim. O pessoal está aguardando por mudanças, muitos nomes cogitados?
  • O seu nome é que está bem cogitado.
  • Não, não querida, não é bem assim, tenho muito interesse Lucinéia, mas  depende de muita coisa...

E logo em seguida estacionou um fusca branco ou beje e Lucineia embarcou rapidamente, deixando para trás palavras no ar:

  • Tchal doutor Felipe, boa sorte!
  • Tchal!