PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE XCIV: “O JOGO: PANCADAS – ENIGMAS – TRAIÇÕES –ESPÍRITOS VAGANTES” (Felipe Genovez)
Por Felipe Genovez | 01/04/2018 | HistóriaData: 29.10.98, 17:20 horas, “Nós e Eles”:
Estava na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral e o Delegado Braga veio para mais um bate-papo, com aquele seu estilo de entrada:
- Fala doutor Felipe, não esconde nada!
- Oi, tubo bem?
- Mas essa indefinição aí de quem vai ser o Secretário, heim? Eu acho que eles deveriam definir logo isso, até para evitar que a gente fique nessa indecisão.
- É verdade.
- Está no jornal de hoje, não sei se tu viu, o PFL vai ser reunir, o PSDB também.
- É, vai ficar lá para o final de novembro...
- Mas a reunião hoje, o que foi aquilo, heim?
- O quê?
- Esse negócio do Detran, o Backes já tinha falado sobre isso, no primeiro encontro que tivemos.
- Ah, sei, a tal da proposta de autarquização.
- Isso.
- Eu não concordo, tu vê eles ficam querendo discutir esse assunto, o Backes já foi diretor, conhece o assunto e está de olho..., especialmente, depois da Constituição Estadual que dispôs que a parte administrativa é da Polícia Civil, cresceu o olho por causa das taxas...
- É, o Detran é nosso. Eles querem discutir o que é da Polícia Civil, assim não dá.
- O Detran não é nosso Braga, pelo menos ainda não é.
- Sim, mas está vinculado a Secretaria de Segurança.
- Sei, tu queres falar sobre a autarquização, mas só faltava nós propormos a autarquização do “Corpo de Bombeiros”, dá licença.
- Pois é, vê se eles falam eu autarquizar a Polícia Rodoviária Estadual?
- Sim, era o que eu estava acabando de falar, vê se falam do “Corpo de Bombeiros”? Agora fica fácil falar do “Detran”...
(...)
“Saco de Pancadas":
- Exatamente. Mas Braga eu acho que se for para ser Delegado-Geral nessas condições, perder o fundo, o Detran virar autarquia, não se falar em isonomia..., eu sou um que estou fora.
- Não! Eu já estou com o tempo, não fico mesmo, para servir depois de saco de pancada, e com esse pessoal dizendo para resto da vida que nós é que fomos os traidores, os responsáveis por isso, não...!
(...)
“O Filme”:
- Nós já conhecemos o filme, erramos uma vez. Eu que era “Assistente Jurídico”, você que era Diretor..., na época do Pacheco deveríamos ter pego o pessoal, reunido e junto com o Jorge, todos deveríamos ter colocado nossos cargos à disposição... e não fizemos isso porque acreditávamos que o quadro poderia ter sido revertido, o que não ocorreu e sofremos um desgaste muito grande. De mais a mais, quando é que se ganha para ser Delegado-Geral? (Felipe)
- Nada! Que eu saiba, nada!
- Não é quinhentos, setecentos reais?
- Não. Com o teto não recebe nada.
- Então, só para colocar o quadro aí na galeria?
- Olha, sinceramente Felipe, se for para assumir o cargo de Delegado-Geral perdendo o Detran, sem isonomia... eu sou um que vou embora.
- Mas falando em Secretário, vamos ver se definem, o Heitor é muito difícil chegar?
- Dizem que o nome forte é o do Julio, está todos os dias nos jornais. Dizem que é por causa do Kleinubing.
- É, realmente parece que houve um compromisso ainda em vida.
- E, o Julio foi uma pessoa importante no episódio das letras.
- É, enquanto o Kleinubing batia em Brasília o Júlio batia aqui e, em razão disso parece que houve esse compromisso, nessas circunstâncias se ele for o Secretário..., pode até ser que eu aceite ser o Delegado-Geral, mas vai depender das condições, do nosso projeto, estou nisso tudo por ele.
- É, mas o teu nome é muito forte, pela competência.
- Não sei, como tu sabes eu gosto de escrever, pesquisar, estudar... , estou mais próximo da uma área jurídica. Mas há outros nomes.
- Quais?
- O Ademar Grubba, o Renato Ribas, por exemplo.
(...)
“O enígma 'Moretto'”:
- O Renato Ribas sim, mas o Grubba não, ele sempre foi do PMDB, se bem que está aí o Moretto como exemplo, no início do governo Paulo Afonso ele era tido como o grande traidor do PMDB. O Lourival não podia nem ouvir falar nele, não aceitava que ele fosse o Delegado-Geral e ele acabou sendo. (Braga)
- É, tu já tinhas me contado isso, parece que esse é o teu enigma, até hoje tu queres saber como é que ele conseguiu chegar ao cargo de Delegado-Geral te dando uma rasteira?
- Sim, esse é um dos meus enigmas.
- Falando nisso o Ademar Rezende está sempre por aí, ontem ainda ele esteve aqui, me cumprimentou, o que isso? Será que ele está pleiteando alguma coisa?
- Sim, o Ademar está sempre pleiteando, ele é uma pessoa perigosa, tu poder ver, a gente fala com ele e nunca sabe o que ele está pensando, é pegajoso.
- É, porque eu não sei se ele está querendo alguma coisa, será?
- Mas Felipe eu queria pedir para ti ver aquele negócio que eu te falei hoje de manhã lá na reunião, lembra?
- Sim, da Polícia Militar.
- Isso, sobre a “Operação Veraneio”, o pessoal da PM que participa da operação tem assegurado por lei receber o auxílio alimentação em cheques, totaliza vinte se reais por dia, dez dias..., imagina..., isso iria facilitar um monte para a gente.
- Vou ver sim.
- Mas o teu nome, o meu o do Wilmar são os credenciados para ser Delegado-Geral. Eu não vejo outros.
- Olha Braga, se o Júlio vier a ser o Secretário certamente que tanto você como o Wilmar serão bem aproveitados, não se preocupe.
(...)
“Tudo é força, só Deus é poder”:
- Dizem que a Lúcia foi lotada na Quinta Delegacia, dizem que já saiu no Diário Oficial. (Braga)
- O que adianta, se eu for o Delegado-Geral não vou aceitar que nenhum Delegado Especial trabalhe em Delegacia, salvo raras exceções...
- Mas ela tem lotação antes da lei, não podem mexer nela.
- O quê? Ela pode ter lotação lá, mas o poder convocatório é do Delegado-Geral, ninguém estará suprimindo o seu direito.
- Mas ela não pode ser convocada assim, não tem amparo legal.
- Mas claro que tem, o poder convocatório está, inclusive, previsto no decreto quatro mil cento e noventa e seis de noventa e quatro.
- Bom, não sei, ela não tem tempo, depois convocar ela para fazer o quê aqui?
- Não precisa ser aqui, existem vários órgãos em que ela poderá atuar.
(...)
“Espíritos Vagantes":
- Tu vê, eles não estão mandando nada para mim ali na Assistência Jurídica, chamam direto a “Jô” e os mandados de segurança do concurso é o Ademar que está respondendo.
- O quê? Mas isso é uma afronta, o Ademar já está exonerado, você um Delegado Especial, dá licença Braga.
- É.., tá certo que eu não gosto daquilo ali, mas eu poderia ir fazendo e aprendendo, mas até entendo, esse último concurso aí teve... , eles não querem que eu esteja sabendo de nada, bom tu sabes..., todo mundo fala desse concurso...
- Olha Braga eu acho humilhante esse tratamento dispensado a alguns Delegados Especiais, é impossível isso ficar assim e ninguém fazer nada...
- Mas eu estou fazendo como tu, aprendi contigo, faço de conta que não vejo nada, não sei de nada, fico na minha...
- Como é que é?
- Tu não disseste naquele caso do Thomé, lembras, quando ele pediu para o Trilha informar sobre o que nós estávamos fazendo? Pois é, tu mesmo orientasse nós que não devêssemos dar importância para o assunto, que devíamos esquecer e seguir em frente, que tudo iria passar e que assim seria melhor do que ficar dando importância.
- Sim, lembro.
- Então, aprendi contigo, vou fazer vistas grossas e deixa eles falarem!
(...)”.