PROPOSTA DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS - CRIAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE POLÍCIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA – GOVERNO ESPERIDIÃO AMIM – 1998/2002 - PARTE LXXXVII: “O FATOR MP: KURTZ & KURTZ” (Felipe Genovez)

Por Felipe Genovez | 29/03/2018 | História

Data: 27.10.98, horário: 09:00 horas, “Sempre Kurtz”:

O Gerente OsnelitoLito veio bater o ponto na “sala de reuniões” da Delegacia-Geral. Logo que chegou, às pressas se dirigiu ao banheiro, antes, porém, deixou reverberando no ar o seu “bom dia” acanhado... Depois de alguns minutos, com uma calma bem diferente das outras vezes, veio para uma conversa à mesa como se quisesse comer e beber as novidades daquela manhã:

  • Fala Dom Lito?
  • A gente ainda não sabe quem vai ser o secretário, está todo mundo curioso.
  • É, tem os nomes que a gente já conhece circulando por aí.
  • O teu candidato é um dos prováveis.
  • Não sei, nada está definido.
  • Eu falo isso não só porque sou teu amigo, mas também porque me preocupo contigo.
  • Eu sei disso Lito.
  • O motorista do Secretário de Justiça disse que ouviu eles comentando no carro que o preferido de Amin é aquele Procurador.
  • Secretário de Justiça, não! Estais falando do Procurador-Geral de Justiça.
  • Isso. É esse aí.
  • Por acaso estais falando do Kurtz? O Braga já tinha citado o nome dele.
  • Sim.
  • Tu conheces o motorista, sabes o nome dele?
  • É o Maurício, é meu concunhado, irmão da Iziete. Ele disse que estava viajando com o Procurador-Geral e mais um outro Procurador e ouviu eles comentando que o preferido do Amin para ser o Secretário de Segurança é esse Kurtz.
  • Isso pode ser verdade Lito porque ele sempre foi muito ligado ao Jorge Bornhausen, isso é um “amor” muito antigo, vem desde a época do pai dele que foi prefeito de Caçador e era amigo do Irineu Bornhausen...
  • Poder ser não? Então  é verdade, esse Procurador-Geral não iria pedir para o motorista guardar segredo sobre um assunto desses, ainda mais em viagem onde eles falam de tudo dentro do carro.
  • Realmente.
  • Mas eu acho ainda que vai dar o Júlio. O Heitor é muito difícil, o Amin não vai chamá-lo para abrir para o Júlio Garcia que é o primeiro suplente,  parece que o Bornhausen não quer.
  • Olha Lito o Júlio Garcia não é o primeiro suplente, ele é o segundo e eu acho que não é bem isso não.
  • Bom eu estou falando essas coisas, estou fazendo até papel de bobo, tu sabes tudo, a diferença é que tu não te envolves em fofocas, como eu o Walter que ficamos especulando as coisas, e eu sei que tu sabes tudo e não vais falar nada.
  • Não Lito, não é bem assim, eu até falo o que sei, só que não tem nada definido ainda, essa é que é a verdade. Como tu sabes os nomes estão por circulando por aí, o Heitor, o Julio, o Macagnam, o Kurtz... e não tem nada definido, todos são bons nomes.
  • Eu acho que já tem sim.
  • Não sei, o que eu acho é que existem os mais prováveis.
  • Como assim?
  • Veja bem, olha a história do Julio, o Kleinubing enquanto bombardeava o escândalo das letras lá em Brasília.o Júlio fazia o mesmo trabalho aqui na Assembleia Legislativa. O Kleinubing sabia que o Júlio não voltaria atrás, que se deixaria corromper, não negociaria nada, então tu achas que isso não pesaria em favor dele nesta hora?
  • Sim, pesa muito.
  • Então, no dia dez de outubro pode ter acontecido do Kleinubing ter conversado com o Júlio e daí saído um compromisso entre eles. E pelo que se sabe os compromissos do ex-Senador serão respeitados, pelo menos foi o que o Vânio Bosle disse ontem no comentário dele ao meio-dia, ele disse  que nesta semana Amin e Jorge deveriam procurar a Vera Kleinubing para dizer a ela que todos os compromissos assumidos com o seu marido serão mantidos. Agora tu sabes Lito que em política a coisa não é bem assim, os compromissos de ontem não valem mais para hoje e pesa muito o cacife, o poder de fogo, os interesses ocultos, isto é, o pragmatismo. O Senador já morreu, deixou só história, não detém mais poder. Então, o que representa a Vera Keinubing neste cenário? E, de outra parte, olha o Heitor, foi eleito deputado, tem cacife, tem voto, tem passado, e tudo isso é importante também. Então, na verdade não tem nada definido e o jeito é aguardar.
  • É, para mim tanto o Julio como o Heitor são bons candidatos ao cargo, tanto faz ser um ou outro o Secretário.
  • Da minha parte a preferência é do Júlio, se não for possível, aí sim poderá ser o Heitor.

(...)

“Papai Noel”:

  • Soubeste que o pessoal está indo para o exterior, estiveram ontem reunidos na Secretaria de Segurança até às vinte duas horas tratando de uma viagem para a Inglaterra, parece que vão para a “Scothland Yart”, não sei fazer o quê num final de governo e o Estado desse jeito.
  • É, parece coisa de “Papai Noel”...
  •  

(...)”.

“Ministério da Fé”:

Acabei rememorando a estrela apagada do grande José Carlos Kurtz (a excelente "Dinha" foi sua secretária nos tempos de Empasc). Lembrei que ele Kurtz (irmão do João Carlos Kurtz) há alguns anos atrás tinha convidado os familiares e os amigos especialmente de Caçador para a sua posse na Secretaria da Agricultura, todo mundo trajado a rigor e uma hora antes da solenidade de posse um acordo de bastidores entre líderes políticos mudou tudo. Morada história: perdeu o cargo e ficou com o mico nas mãos, chegando a passar vergonha... Assim era a política... (Kurtz que foi um dos grandes idealizadores da Empasc, no governo Konder Reis e um dos homens poderosos e influentes durante vários anos. Atualmente, está hoje lotado na Epagri, constituindo-se numa estrela ignorada, vivendo de recordações, com seus cabelos grisalhos e muitas lições de vida, tipo: “...O que manda no poder público é o tamanho do cacife político...”. E eu adiciono a isso, também: “...O tempo é o maior consumidor de tudo...” (parafraseando meu avô)”, também: “... Não esquecer de viver e viver cada momento como se fosse único...(parafraseando N. Bobbio na sua idade avançada e depois de “buscar incessantemente o sentido da vida”)”; “... Não se iludir jamais com o poder...”; “...Procurar sempre fazer o bem e aprender a ser feliz, a começar com pequenas coisas simples...”.

Lembrei também da tia do “Zé Kurtz”, quando o mesmo morava com ela em seu apartamento e estudava no Rio de Janeiro. Como ela era aeromoça (da antiga Varig), fazia a rota diária para Buenos Aires (saia de manhã e já retornava no mesmo dia à tardinha)  trazendo sempre consigo “alimentos, especiarias e outras guloseimas” para suculentos jantares na sua companhia...  Do jeito que ele contava, com aquele seu brilho olhar, mais parecendo um adolescente, confesso que ficava viajando também, mas só que na minha imaginação.